Pertencente ao gênero Rogue-lite (variação de Rogue-like e uma subcategoria dos RPGs), Rogue Legacy é um jogo que herda muitos elementos de clássicos do passado. É um jogo de aventura 2D, sidescroller, com gráficos típicos dos sistemas 16 bits. A primeira impressão é de que o jogo se apropria de diversos aspectos da série Castlevania e do gênero metroidvlania, combinado ao sistema de “falso permadeath” e de cenários gerados aleatoriamente (típico do Rogue).
Falso permadeath pois a cada vez que o jogador morre, ele é obrigado a recomeçar a trajetória das dungeons do zero. No entanto, não se perde tudo, os descendentes de seu personagem carregam os upgrades que você conquistou anteriormente, tornando a jornada mais fácil com o passar das tentativas.
A forma como o jogo introduz este sistema de descendentes é genial e bem humorada. Assim que seu personagem morre, o jogo volta pro menu inicial rapidamente e uma nova campanha pode ser iniciada, oferecendo três filhos com qualidades distintas. Estas qualidades podem variar na classe, na magia/arma extra disponível ou em peculiaridades da pessoa.
As classes são variadas e desempenham um papel importante na progressão do jogo, algumas tem vantagens claras contra determinados chefes. Entre as disponíveis no jogo, estão knight, paladin, shinobi, Knave, archmage, spellsword, barbarian, lich, entre algumas outras surpresas.
Outra característica importante e divertida são os traços do personagem. Estas peculiaridades podem ser úteis, mas na grande maioria são perfurmarias inúteis mas bastante cômicas. Se a sua sorte não anda muito boa, é possível que o jogo gere personagens com acromatopsia (cegueira de cor), gases, miopia, dislexia, alzheimer entre outras deficiências que podem ter um impacto direto no gameplay. Se você escolher alguém com cegueira de cor, o jogo ficará preto e branco até o término da jornada de seu personagem ou se escolher um guerreiro com alzheimer, ele não lembrará de nada do mapa da dungeon.
O jogo é fácil de se jogar, com comandos descomplicados e uma história simples mas boa, que se desenrola lentamente a medida que você explora o jogo. Diversos diários presentes no mapa explicam a trajetória do primeiro antepassado de sua linhagem, mas a história só fica clara nos momentos finais do game.
Seu objetivo é simples – vencer os chefes das quatro áreas do jogo, mas isso vai demandar muito esforço e habilidade do jogador. Rogue Legacy é bastante difícil, no entanto a dificuldade do jogo pode ser contornada pela força bruta. Não existem limites de descendentes e, portanto, o jogador pode passar muito tempo melhorando os status de sua família de guerreiros, até resolver encarar um chefe.
A cada vez que seu personagem morre, você volta para a área de fora do castelo onde tem acesso a mansão da família, ao ferreiro e a feiticeira. Tudo isso são maneiras de fazer upgrades em seu personagem.
Na mansão você libera novas classes, melhora status como HP, força, dano crítico, magia, entre outros extras. A medida que você coleta novos designs de armas e equipamentos em baús, o ferreiro venderá tais itens para seu personagem. Já a feiticeira vende runas que lhe garantem novas habilidades e algumas vantagens na hora de se aventurar em dungeons. Existe também o arquiteto, que a custo de limitadas recompensas durante uma jornada, garante que o layout do castelo permaneça o mesmo do seu descendente direto – servindo para diversos fins, mas principalmente para recuperar baús perdidos.
Apesar de todas as possibilidades de customização e de contornar a dificuldade com paciência e muita evolução, o jogo estabelece alguns desafios extremamente cruéis para os caçadores de troféus. A versão PlayStation de Rogue Legacy inclui todos os conteúdos adicionais da versão PC e isto inclui os absurdos e frustrantes Neo Bosses, porém totalmente opcionais. Há quem diga que estes chefes são desequilibrados ou “broken”, pois são muito apeladores e o jogo só permite que você os enfrentes com personagens pré-selecionados, ignorando todos os upgrades que você acumulou. Contudo, só basta ter (bastante) habilidade para contornar a dificuldade destes chefes.
Rogue Legacy ainda conta com um troféu insano, o thanatophobia – exigindo que o jogador finalize o game com menos de 15 descendentes. É fácil notar que a dificuldade alta é uma das características principais do jogo, mas também a sua maior qualidade. Vencer os desafios impostos pelo game é sempre muito recompensador, semelhante a sensação proporcionada pelos jogos da série “Souls”.
O maior defeito do jogo está relacionado a repetitividade. Apesar do cenário ser gerado sempre aleatoriamente, com o passar do tempo é possível observar padrões iguais. Até dominar o jogo, é natural que o jogador morra bastante e passe pelo castelo e outras áreas diversas vezes, causando um certo desgaste e cansaço de visitar locais semelhantes.
A repetição é agravada pela razoável variedade de inimigos, sendo que muitos deles são reciclados com cores e tamanhos diferentes, apesar de conterem novos padrões de ataques. A trilha sonora não é ruim, mas também cansa pela reincidência das mesmas composições. Apesar deste problema, é preciso notar que o jogo tem bastante mérito ao proporcionar eventos aleatórios raríssimos, que mesmo depois de dezenas de horas de jogo, podem surpreender o jogador.
Veredito
Rogue Legacy é viciante, divertido e obrigatório aos jogadores old school e aos adoradores de desafio. Pessoalmente, está no topo dos meus indies favoritos, ao lado de jóias como Spelunky e Terraria. É mais um daqueles jogos nostálgicos executados de forma brilhante, que agregam bastante conteúdo e jogabilidade refinada.
Jogo analisado com código fornecido pela Cellar Door Games.