Horror de sobrevivência significa atravessar os perigos mais perturbadores, passar por sustos, medos, reviravoltas, mudanças e, sobretudo, persistir. Ir em frente e mostrar seu valor. A série Resident Evil começou desta forma. E mudou. O nome “Resident Evil”, no quarto título da série, trazia ares novos, sobrevivendo mediante competência e polêmica, afinal, fora um divisor de águas para a franquia, trazendo novos fãs e irritando alguns que nutriam simpatia intensa por seu estilo clássico, renegado completamente pelos posteriores Resident Evil 5 e Resident Evil 6.
A Capcom, perdida, precisava de uma prova para saber se a fórmula clássica poderia sobreviver nos dias de hoje. E nada melhor que fazer isto da forma como tudo começou, democratizando o acesso ao remake do primeiro jogo da série, agora em versão remasterizada.
Ainda que este risco venha com timidez – afinal, as novidades são mínimas e a disponibilidade se dá somente em formato digital por estas bandas, “REmake” está aí. Questões de quebra de exclusividade à parte, o remake do primeiro Resident Evil necessitava deste relançamento para que mais pessoas pudessem revisitar a famosa mansão e seus arredores na busca de respostas para o grande mal que assolara, de início, a região montanhosa de Arklay, e também vivenciar os esforços para o resgate da equipe Bravo, que inicialmente estava a cargo de investigar estranhos casos de morte naquele lugar.
Para auxiliar a equipe Bravo, que fazia parte da força tática da polícia de Racoon City, fora designada a equipe Alpha, capitaneada por Albert Wesker e que tinha como integrantes Chris Redfield e Jill Valentine, personagens principais e jogáveis do primeiro título da série. Em “REmake”, já nas cenas iniciais, somos brindados com as mudanças que o jogo teria. As famosas cenas de filmagem B foram substituídas por cutscenes em computação gráfica, algo que seria a porta de entrada não somente para a icônica mansão, mas para os benefícios da evolução gráfica nos jogos tridimensionais relativos à franquia.
Mesmo que se trate de um jogo de 2001, “REmake” impressiona bastante e a remasterização trouxe poucos avanços significativos nesta área. Resoluções adaptáveis à era da alta definição e em formato widescreen tornam o jogo bastante bonito, de fato. Entretanto, os belos cenários pré-renderizados e os efeitos de luz e sombra, que conferiam uma evolução (de 2001) da imersão vista em 1996, não tiveram uma melhora significativa para a nova geração.
Houve uma melhora tímida nas texturas dos personagens, fazendo com que estes não se sintam tão deslocados dos belos cenários quando o jogo está em curso. Em contrapartida, há alguns problemas de colisão entre objetos diferentes dos cenários, algo sentido, por exemplo, quando se está controlando Jill ou Chris e estes esbarram em alguma parede ou um item qualquer de alguma localidade. Contudo, no geral, não é nada muito alarmante, e este tipo de detalhe passará despercebido diante da ambientação assustadora.
Não menos importante, temos um trabalho sonoro ótimo, com as músicas conferindo a tensão na medida certa, além de alguns efeitos de sonoridade bem postos, os quais apresentam uma certa melhora com o suporte, nesta versão remaster, ao som surround 5.1.
Imersão em Resident Evil significa (ou significava) trazer uma sintonia entre sobrevivência e exploração em seu aspecto máximo. Encontrar aquele “file” se torna vital, não somente para fins de entendimento da história, como também para fins de correlação à narrativa, quando o conteúdo do documento estava conectado com algum item ou dava dicas sobre determinada área ou, ainda, para fins de resolução dos puzzles. Puzzles, chaves, itens diversos, tudo corroborava para criar a identidade entre jogador e cenário, construindo, pouco a pouco, a natureza intrincada da mansão, junto a seus corredores ameaçadores, em que janelas ameaçavam ser quebradas por cachorros famintos e hunters apareciam do nada para complicar ainda mais as coisas.
Para quem jogou apenas o original de PSX, “REmake” parecerá um jogo quase novo. Novas áreas, novos inimigos, novos finais, novos itens, novos puzzles, porém o velho Resident Evil de sempre. Nesta versão remasterizada há algumas adições de perfumaria, como trajes novos e níveis de dificuldade facilitadores. Iniciar no Very Easy é quase um atentado ao propósito da série. Itens de munição, ervas que curam os danos e ink ribbons (para salvar o progresso) se encontram em demasia, fazendo do jogo um passeio no parque, destreinando o jogador a racionar suprimentos e fugir das investidas dos zumbis e de outros adversários, mesmo que o adversário maior de Resident Evil seja outro. Iniciar no modo Normal é a melhor escolha, no caso. E depois, claro, desfrutar de níveis de dificuldades mais insanos, em que os baús mágicos têm um comportamento mais realista, dentre outros obstáculos.
Muitas pessoas que rejeitavam a série criticam a jogabilidade tanque, assim carinhosamente apelidado o modo travado com que os personagens jogáveis se locomoviam. Se comparado ao original de 1996, “REmake” teve mudanças significativas que deram certa dinâmica ao caminhar de Chris e Jill. A movimentação ainda era travada, mas não tanto quanto antes. Para subir escadas, por exemplo, não era mais necessário apertar um botão, dando fluidez a este tipo de ação. O giro em 180 graus proporcionava uma mudança de direção mais ágil. E nesta versão remasterizada há algumas poucas alterações também.
A maior destas alterações, certamente, é a possibilidade de correr com o personagem somente com a movimentação do analógico esquerdo, não nos deixando dependentes de um botão para isto. Mesmo sendo opcional, usá-la, de forma alguma, fará o jogador ser menos purista, e até o ajudará em certos momentos. Contudo, devido à sensibilidade do analógico, caminhar mais lentamente se torna uma tarefa ingrata e, caso o jogador queira um controle menos automatizado, poderá retornar às configurações originais. Itens de defesa, uma novidade em relação ao jogo de 1996, podem ser ativados de maneira automática, algo talvez dispensável, afinal a sensação de participar de forma ativa num primeiro contato com um zumbi, por exemplo, é indescritível.
Veredito
Confusa quanto aos rumos da série Resident Evil, a Capcom mostra a versão remake do primeiro jogo em versão HD para as novas gerações e, claro, para os antigos que não puderam desfrutar desta obra-prima, até então exclusiva das plataformas da Nintendo. A versão remaster trouxe poucas novidades, porém tudo parece novidade. Uma novidade antiga e esquecida pela própria Capcom, que ainda luta para descobrir qual rumo dar para a sobrevivência de Resident Evil junto a sua base de fãs tão diversificada.
Jogo analisado com código fornecido pela Capcom.