Desde o momento em que liguei Hotline Miami pela primeira vez e vi o seu menu principal totalmente psicodélico eu já imaginei que ia gostar desse jogo. O que eu não imaginava é o que ele seria um jogo tão interessante, tão profundo e tão sutil na sua temática, e um jogo tão absurdamente violento e divertido que me fez desconfiar do meu próprio bom senso por gostar dessa violência.
Hotline Miami (HM) é um jogo de ação com visão superior (pense em Zelda do Nintendinho) no qual você controla um personagem sem nome (apelidado de Jacket pela comunidade em torno do jogo) que começa a receber uma série de ligações misteriosas e se vê no meio de uma série de chacinas brutais envolvendo a máfia russa. Essa é a premissa básica do jogo, mas muitos eventos ao longo dele farão você questionar o que realmente está acontecendo.
As mecânicas de jogo são simples: você controla o personagem como em um shooter dual-stick (analógico esquerdo para andar e direito para mirar) e pode usar diversas armas para matar os inimigos. Há desde armas brancas como facas e pés-de-cabra, que são silenciosas e não chamam a atenção, até espingardas e rifles de assalto que são mais letais mas atraem inimigos próximos. Também é possível jogar as armas e usar as portas encontradas nas fases para atordoar os inimigos. Você também pode usar seus punhos para matar os inimigos ou para finalizá-los quando estiverem atordoados no chão.
O jogo é composto de fases curtas, que não duram mais de alguns minutos, e você não possui uma barra de vida: qualquer golpe ou bala te mata na hora, e isso faz com que HM seja um jogo extremamente estratégico, que exige muita paciência e tentativa-e-erro. É um jogo difícil, mas é o tipo de dificuldade recompensadora: se você morrer, a culpa é única e exclusivamente sua. Você vai aos poucos aprendendo como o jogo funciona, como os inimigos se comportam, e conforme progride irá ficar mais fácil e mais rápido matar todo mundo em uma fase.
No jogo há máscaras de animais que podem ser usadas para modificar a jogabilidade nas fases. Inicialmente você só possui uma máscara, mas conforme avança e cumpre certos objetivos novas são habilitadas. Uma permite você andar mais rápido, outra faz com que seus socos matem os inimigos com apenas um golpe, outras lhe dão armas logo no começo da fase, e assim por diante. Algumas até mudam o visual do jogo, e uma máscara exclusiva das versões de PS3 e Vita deixam o jogo com um visual inspirado no filme Touro Indomável.
Visualmente, HM exala estilo e personalidade em todos os aspectos. Os gráficos são pixelados e muito bem animados, sempre caracterizando bem os personagens e os cenários. As cores são fortes e vibrantes, invocando o melhor estilo anos 80 possível. Na verdade, HM é uma bela homenagem a todo o clima dos anos 80 e remete a jogos como GTA: Vice City e a filmes como o excelente Drive, do diretor Nicolas Winding Refn (que inclusive é agradecido nos créditos do jogo).
Mas o belo visual não seria nada sem uma boa música, e Hotline Miami possui uma trilha sonora simplesmente perfeita. Sim, perfeita, pois eu não mudaria nada nela e ela não poderia ser mais adequada ao jogo do que é. Todas as músicas são excelentes, das mais esquisitas que tocam no menu do jogo até as mais empolgantes que tocam durante as fases. É uma trilha sonora para se escutar fora do jogo o dia inteiro, e você pode fazer isso no SoundCloud cortesia da própria produtora do jogo. Recomendo as músicas Hydrogen, Knock Knock e Miami Disco para começar.
A história do jogo gira em torno da violência e ela é realmente muito brutal aqui. Você irá cortar a garganta dos inimigos com a faca, irá usar uma espada samurai para cortá-los em dois e uma espingarda para distribuir pedaços deles para todos os lados. A violência, mesmo pixelada, é totalmente visceral e primitiva; matar os inimigos tão violentamente é quase uma catarse, algo que faz você se esquecer da realidade e aproveitar o momento. Você se sente muito recompensado quando consegue matar diversos inimigos em um combo, e o jogo premia você por isso. O sangue aqui é abundante e ao terminar uma fase, será difícil não tê-lo espalhado por todas as salas.
O jogo também possui colecionáveis além das máscaras: espalhadas por algumas fases estão letras, que devem ser agrupadas em um puzzle disponível no menu de pausa do jogo. Ao completar esse puzzle um novo final é habilitado, então há ainda mais incentivo para jogar novamente todas as fases do jogo.
HM não é isento de falhas, mas no contexto geral elas são problemas menores. Em algumas missões, antes de começar a jogar você deve passar por alguns diálogos, e mesmo sendo possível acelerá-los você ainda perde alguns preciosos segundos. Em fases em que você morre 10, 20, 30 vezes ou mais (aconteceu comigo), ter que esperar esses diálogos cansa. Dada a estrutura do jogo, esses diálogos não deveriam aparecer depois da primeira tentativa na fase.
O jogo possui alguns bugs, como um que deixou a tela totalmente preta ao terminar uma missão e só a música continuava tocando; eu nem conseguia sair para a XMB, e só desligando o console da tomada consegui resolver. Alguns troféus também não são destravados mesmo cumprindo os seus objetivos, e isso pode ser frustrante para alguns. A desenvolvedora está ciente disso, mas ainda não corrigiu os erros quando essa análise foi escrita.
Mesmo com esses poréns, faltam elogios para descrever a experiência inigualável que é jogar Hotline Miami. O desafio de passar cada fase, morrendo muito e aprendendo com os seus erros, a matança ultraviolenta ao som de músicas maravilhosas e a história que se desenrola de forma inusitada fazem com que esse seja um jogo indispensável para qualquer um. Você tem a obrigação moral de experimentar esse jogo, que é sem dúvidas um dos melhores jogos disponíveis para o PS3 e para o Vita.
— Resumo —
+ Visual impactante
+ Trilha sonora maravilhosa
+ Jogabilidade e mecânicas de jogo
+ Difícil e recompensador
+ Violência catártica
+ Máscaras
– Alguns bugs
– Repetir alguns diálogos fica cansativo
Jogo analisado com código fornecido pela produtora.
Veredito
98