O que aconteceria se pegássemos a ambientação e clima da série Deus Ex e a colocássemos em cenários 2D, com vários dos elementos que esperamos encontrar nos bons e velhos “metroidvanias”? É de esperar que o resultado seja algo muito semelhante ao que vemos em Dex, um Action RPG 2D que busca misturar os elementos citados.
O jogo produzido pela Dreadlocks foi financiado em 2013 através do Kickstarter e lançado em 2015 para PC, chegando agora ao PS4 em uma versão aprimorada graças à Badland Indie.
Se passando em um futuro distópico cyberpunk, em que megacorporações são controladas por uma autoridade conhecida simplesmente como The Complex, o jogador assume o controle da personagem do título, Dex: uma jovem mulher que vive na cidade de Harbor Prime e que, da noite para o dia, se vê obrigada a fugir de assassinos enviados por The Complex.
O resto da ambientação é o que se espera: Dex se vê envolvida numa guerra entre hackers que lutam para manter os resquícios de liberdade que a humanidade ainda tem, enquanto The Complex luta para estabelecer absoluto controle sobre todos, inclusive se utilizando de aprimoramentos cibernéticos para isso.
Não há nada na história ou na ambientação do jogo que não tenhamos visto em filmes ou nas principais séries sci-fi dos videogames, como Shadowrun ou o já citado Deus Ex. Alguns dos dilemas que vemos nessas séries, inclusive, se repetem aqui, desde as discussões sobre o quão ainda se é humano quando a maior parte do corpo da pessoa é cheio de implantes e aprimoramentos mecânicos ou a ética por trás destes implantes.
Não há nada de muito profundo nos diálogos e é quase frustrante o quanto Dex traz essas discussões para, logo depois, forçar o jogador a se utilizar desses aprimoramentos para avançar no jogo. Ainda assim, seu grande charme é o quão bem amarrada a narrativa é e as árvores de diálogo acrescentam uma profundidade satisfatória aos diversos encontros do jogo. Dex possui um mapa amplo e vários locais a explorar, mantendo um charme em cada conversa.
Infelizmente, no que tange as suas mecânicas, Dex acaba sendo bastante problemático. O primeiro e mais incômodo problema é o quão ruim é navegar pelo jogo, já que em diversas situações é exigida precisão e a falta de responsividade dos comandos atrapalha bastante, principalmente no combate. As batalhas em si são, em sua maioria, bem repetitivas, se focando principalmente no combate corpo-a-corpo já que, mesmo que existam armas, elas são raras ou caras demais para o jogador usar.
Os principais problemas do combate estão na maneira como o jogo os coloca. Os inimigos simplesmente se afastam o minimo possível e os controles não ajudam o jogador se reposicionar da maneira correta, fazendo com que Dex sofra dano desnecessário. Na maior parte do tempo, tudo acaba se limitando a bloquear ataques (quando possível, já que alguns inimigos possuem habilidades indefensáveis) e atacar, ficando extremamente repetitivo depois de algum tempo, melhorando apenas momentaneamente com os aprimoramentos mecânicos e as habilidades destravadas com a evolução da personagem.
É possível ainda usar stealth no jogo, mas a capacidade sobrenatural dos inimigos de perceber sua presença e a grande quantidade deles que simplesmente são imunes a ataques stealth (além de possuírem rifles) tornem essa aproximação praticamente desnecessária. Além disso, há um mini-game de hacking, por meio do qual é possível roubar dinheiro e informações do The Complex, mas ele é longo demais e cansativo, chegando ao ponto de ser chato depois das 2 ou 3 primeiras vezes.
Por fim, um dos maiores charmes de Dex é o seu visual. Apesar de exagerar nos tons de cinza e nos clichês, com direito a esgotos aonde vive a população mais pobre, os apartamentos de luxo, os bares aonde se reúnem as pessoas mais mal-encaradas Harbor Prime e por aí vai (tudo com muito neon). Felizmente, a boa escrita, a ótima dublagem e o ótimo sentido de estilo que o jogo tem tornam isso tudo só um detalhe.
Mesmo com o quanto o seu combate e suas mecânicas acabam frustrando, Dex entrega uma boa história, com nuances e reviravoltas que, apesar de serem um pouco previsíveis, são muito bem construídas. É uma pena que o jogo como um todo acabe parecendo um pouco raso quando se percebe o quão pouco alguns dos sistemas são desenvolvidos.
Veredito
Dex é um jogo que se aproveita de diversos conceitos pré-estabelecidos do gênero cyberpunk para entregar uma boa história com um jogo não tão refinado assim. Apesar de frustrante em diversos momentos, é uma história que deve agradar aos que gostam do gênero.
Jogo analisado com código fornecido pela Badland Indie.