A desenvolvedora japonesa Nippon Ichi (Disgaea, Labyrinth of Galleria, Yomawari) vem criando visual novels há mais de duas décadas, porém sua notoriedade veio com seus RPGs, principalmente da franquia Disgaea. Na década de 2000, a empresa fundou a NIS America, sua correspondente no Ocidente, responsável por traduzir e publicar seus jogos para novos mercados.
Mesmo assim, duas coisas não mudaram: a Nippon Ichi continuou desenvolvendo visual novels para o seu mercado principal que era o Japão, e a NIS America continuou focando nos RPGs de sua matriz. A única visual novel desenvolvida pela Nippon Ichi que a NIS America decidiu localizar para o mercado ocidental foi justamente uma baseada no universo de Disgaea, chamada Disgaea Infinite.
Esse prefácio todo foi escrito para ilustrar como o lançamento de Process of Elimination no Ocidente é algo a se celebrar. Não apenas a NIS America não tem o costume de localizar visual novels, com exceção do sucesso estrondoso da franquia Danganronpa, que nos últimos anos foi revertida para sua dona, Spike Chunsoft, como sempre teve à sua disposição dezenas de visual novels desenvolvidas pela sua empresa matriz, porém apenas uma vez decidiu trazer uma para o Ocidente.
Process of Elimination é uma visual novel, desenvolvida pela Nippon Ichi e publicada no Japão em 2021 para várias plataformas, que quase dois anos depois chega ao Ocidente pelas mãos da NIS America, com direito à edições limitadas e demos disponibilizados online.
Process of Elimination começa com a história de Wato Hojo, um jovem estudante e aspirante a detetive, que consegue um bico numa pequena empresa de detetives para seguir seu sonho de se tornar um grande detetive e desvendar os maiores mistérios.
Durante a investigação do sumiço de animais na vizinhança, Wato se depara com o possível suspeito dos desaparecimentos, até se surpreender com a revelação de que estava perseguindo um dos maiores detetives do Japão, o Senior Detective (detetive sênior). Tudo não passava de um teste para verificar as habilidades de Wato, que pouco tempo depois foi incapacitado e raptado pelo grande detetive.
Acordando em uma ilha aparentemente deserta, Wato recebe orientações do detetive que o raptou para ir até uma mansão no topo da ilha. O jovem, apesar de confuso e desorientado, logo se anima com a ideia de ter sido recrutado para a Aliança de Detetives, um grupo renomado de 100 dos melhores detetives do Japão, o sonho de qualquer aspirante a detetive.
Ao chegar na mansão e entrar, o jovem é atingido pelo lustre do hall e mais uma vez fica inconsciente. Ele então é acordado por alguns integrantes da Aliança de Detetives e imobilizado, já que naquele momento, grande parte desse grupo havia sido convocado para ilha para desvendar o maior e mais perigoso mistério da modernidade: os assassinatos em série do “Quartering Duke”.
Os assassinatos em série orquestrados pelo “Quartering Duke” já tomaram mais de cem vidas no Japão, criando um caos generalizado, toques de recolher e uma grande desconfiança da população. Sem saber o que fazer, o governo do país decide contratar a Aliança de Detetives para desvendar logo o mistério – ou tomar a culpa pela demora na solução.
Wato, por ser um desconhecido encontrado na ilha-sede da Aliança, logo encabeça a lista de suspeito número 1. Após alguns momentos, o mal-entendido é esclarecido, apenas para ser substituído por outro grande problema: um membro da Aliança é encontrado assassinado na mansão, envolvendo um complexo esquema de esquartejamento.
Este assassinato é apenas o começo de uma série de crimes e desastres que aguardam Wato e os demais detetives presos na ilha, todos nas mãos do genial e maquiavélico “Quartering Duke”, pronto para dar um fim nas mentes mais brilhantes da Aliança e continuar com a sua onda de assassinatos sem dimensão.
Process of Elimination, em seu cerne, é uma visual novel. A história é contada através de longas cenas de exposição e diálogos entre os personagens, porém com direito a algumas seções de gameplay, que tentam diferenciar o jogo das demais visual novels, principalmente do gênero de mistério.
Durante algumas cenas do jogo, você precisará responder perguntas específicas sobre o mistério ou assassinato, tendo pontos descontados caso erre, correndo risco inclusive de ocasionar em um “game over”. Não apenas as perguntas, como a investigação dos mistérios também se dá numa espécie de tabuleiro.
Nesse tabuleiro, o jogador irá controlar e movimentar os detetives para interagir com objetos, inferir pontos-chave ou ainda analisar itens encontrados no mapa. Cada detetive pode receber uma diretriz por turno, e cada caso conta com turnos limitados, em que o jogador deve chegar ao final da investigação até lá ou receber um “game over”, devendo recomeçar a investigação e cumprir com o limite de turnos.
No início, apesar da explicação do jogo, tudo ainda fica um pouco confuso. A diferença entre inspecionar e inferir não fica muito clara, a importância de analisar todos os itens encontrados não é frisada, entre outros pontos, mas com o andar dos capítulos, a exploração fica bastante intuitiva e ainda interessante.
A história do jogo em si, dadas as proporções, dá pro gasto. A premissa e inclusive as denominações dos personagens – cada detetive recebe um título de acordo com suas especialidades, como Workaholic Detective, Techie Detective e Bookworm Detective – deixa claro que o jogo foi inspirado em outros, especialmente na franquia Danganronpa.
Não há nada contra um jogo ser desenvolvido com suas inspirações, desde que faça algo diferente ou supere a premissa de sua inspiração de alguma forma. O gameplay de Process of Elimination certamente traz algo bastante único à mesa, mas a história em si deixa muito a desejar, principalmente se for comparar diretamente com sua inspiração.
A arte do jogo, apesar de bastante convencional, tem seus momentos de destaque, principalmente nas esparsas CGs distribuídas em momentos-chave da história. Cada personagem tem seu estilo distinto para demonstrar o estereótipo que encorpa, como a Bookworm Detective (detetive rato de biblioteca) está sempre segurando um livro e com visual introvertido.
A trilha sonora do jogo faz seu papel, principalmente nas cenas de embate entre os personagens ou momentos de tensão. O jogo é inteiramente dublado em japonês (e apenas em japonês), com a opção de idioma apenas em inglês. Não há qualquer suporte ao português, o que é de se esperar em jogos de um gênero tão nicho.
Após algumas vinte a trinta horas de jogo e vários capítulos resolvendo vários puzzles e assassinatos, é possível chegar ao final do jogo. A revelação final, o ápice do jogo, é bastante interessante e resolve qualquer fio solto que a história possa ter largado até aquele ponto.
A forma como o jogo lida com a revelação final, porém, é bastante “convencional” e “safe”, se não também caricata demais para jogos japoneses. Depois de algumas décadas jogando todo tipo de jogo, o final em que o “poder do bem” supera o “mal” não causa mais o mesmo efeito.
Logo, Process of Elimination é uma visual novel decente, principalmente para um ano relativamente tranquilo para os lançamentos do gênero nos consoles. Serve para passar o tempo para quem é fã do gênero, e até serviria para quem gostaria de arriscar jogar algo que não seja apenas texto o tempo inteiro, mas comparando à biblioteca existente, talvez a NIS America poderia escolhido outro jogo da Nippon Ichi para quebrar seu jejum.
Jogo analisado no PS4 com código fornecido pela NIS America.
Veredito
Se inspirando em títulos mais estabelecidos no mercado, Process of Elimination entrega uma experiência adequada, com uma premissa bem conhecida do público, porém com uma complexidade aquém de suas inspirações.
Veredict
Inspired by more established titles in the market, Process of Elimination delivers a suitable experience, with a premise well known to the public, but with a complexity below of that from its inspirations.