Expectativas não atingidas. Essa é a melhor forma de descrever Prince of Persia: The Forgotten Sands. Depois da relativa decepção com as vendas da reinvenção da franquia, lançada em 2008, a Ubisoft decidiu abrir a trilogia de Sands of Time para introduzir um novo jogo. Não por coincidência, este novo título seria lançado junto a estreia do filme baseado no mesmo universo.
Desde seu anúncio, este novo título sempre foi promovido como um interlúdio entre Sands of Time e Warrior Within, porém não é exatamente isso que vemos no produto final. Obviamente, seria impossível introduzir elementos novos entre dois títulos sem criar inúmeras rupturas na continuidade. O personagem, que felizmente não recebeu o nome de Dastan no jogo, até mesmo demonstra uma sensação de surpresa ao utilizar o poder de manipulação do tempo pela primeira vez – coisa que não teria acontecido se de fato fosse uma continuação de Sands of Time. Outra notável inclusão é Malik, irmão mais velho do príncipe. Além das breves aparições do Rei Sharaman no primeiro jogo da trilogia, nunca houve outra referência a família nos jogos.
A história que se desenvolve em The Forgotten Sands põe em foco a libertação do exército do rei Salomão. “Tantos soldados quantos são os grãos de areia do deserto” é o que reza a lenda, e também o principal interesse de Malik para defender seu reino de uma invasão. Malik esperava que o exército lutasse por ele, não contra ele, assim arruinando o que restou de seu reino e transformando todos seus soldados em meras estátuas de areia. Sempre em caminhos separados, o príncipe acaba encontrando uma entidade ancestral, uma rainha Djinn, que lhe concede poderes para selar o exército novamente, tarefa que acaba não sendo tão fácil quanto parece.
Como um jogo individual, a história funciona – até certo ponto. Existe todo um trabalho ao redor dos Djinn, incluindo um templo específico onde Razia, a rainha que auxilia o príncipe, explica a história de seu povo e o porque decidiu não seguir o mesmo destino que os outros. Porém, por se tratar de um jogo que supostamente se encaixa entre dois outros títulos, muitas inclusões causam conflito. A maior delas é, sem dúvida, a capacidade de controle dos elementos da natureza.
Ao longo da jornada, Razia concede poderes utilizados especificamente para sequências de plataforma. Embora seja interessante e permite momentos únicos, acaba causando um abuso que confere pouca credibilidade ao jogo. Por exemplo, são poucas as barras paralelas que você encontra no jogo, muitas delas foram substituídas por esguichos de água. Voar de um abutre para o próximo para atravessar áreas sem chão também é um exagero desnecessário. Também não fica clara a questão da continuidade, afinal em Warrior Within nenhum desses elementos estavam presentes.
Perceba que coisas assim são perfeitamente plausíveis em jogos de plataforma. Porém, parecem ser conceitos que se encaixariam muito melhor na interface gráfica artística e colorida do título de 2008. The Forgotten Sands prima por gráficos foto-realistas, como um todo não faz feio mas certamente não pode ser tomado como referência. Algumas das animações parecem travadas, quebrando toda a fluidez pela qual a série ficou conhecida com o advento de Sands of Time. A tempestade de areia no final permite momentos memoráveis – mesmo que pouco convincentes.
Além dos poderes para navegação citados acima, existe um novo sistema de melhorias que permite que o jogador compre poderes para utilizar durante os inúmeros combates – acrescendo alguns ataques ao repertório do personagem. O sistema de combates também foi recriado. Esqueça os combates singulares do título de 2008 – mas não espere ver uma versão aprimorada do excelente sistema introduzido em Warrior Within (comparativamente, seria algo similar ao visto em Batman: Arkham Asylum). Não, o que você recebe aqui é quantidade. Normalmente você enfrenta hordas de demônios de areia de uma vez só. Além do combo básico da espada com a possibilidade de carregar os golpes, você pode saltar sobre os ombros de seus inimigos e também derrubá-los com um ataque corporal. O problema é que não existe muita variedade, e você sequer tem um botão de defesa, dependendo apenas da capacidade de rolar para escapar das investidas inimigas.
O sistema de combate também nos leva a outro ponto onde The Forgotten Sands deixa a desejar. Uma das maiores promessas era de que os controles seriam naturais para quem estivesse habituado a jogar a trilogia original. Ledo engano: os controles nem sempre são precisos, e algumas diferenças – especificamente relacionadas às mecânicas de escalada – podem causar diversos suicídios acidentais.
A parte sonora, curiosamente, sofre de problemas similares que afetaram os jogos de Playstation 2: efeitos sonoros ocasionalmente não são emitidos, e embora seja algo insignificante, não passa despercebido. As músicas são pouco variadas, mas caem como uma luva aos cenários, auxiliando bastante a manter a atmosfera constante.
Após finalizar a campanha, que dura cerca de 8 horas, os jogadores tem à disposição o “Challenge Mode”. Existem dois tipos de desafios, em um deles você enfrenta oito ondas de inimigos, com dificuldade crescente, e no outro você tem um tempo determinado para eliminar todos os inimigos. A diferença entre os dois modos é mínima, e como o sistema de combate não é particularmente impressionante, esse é um modo que normalmente só será acessado em prol dos troféus a ele relacionados.
Sem a menor intenção de desmerecer o trabalho investido neste título, não é difícil notar que trata-se de um lançamento para aproveitar o embalo do filme – que pode acabar sendo uma experiência muito mais agradável aos fãs. A Ubisoft precisa decidir muito bem o próximo passo para a franquia Prince of Persia, ao mesmo tempo que precisa evitar saturar seu outro carro-chefe, Assassin’s Creed, nesse período.
Apesar do nome que carrega, The Forgotten Sands é passável. Alugue-o se tiver curiosidade; definitivamente vale a pena para os fãs ávidos da série ou até mesmo de jogos de plataforma em geral, porém esteja preparado para possíveis decepções.