Pool Party – Review

Em tempos onde jogar com outras pessoas significa conectar seu console ou PC à internet e encontrar salas do seu jogo favorito disponíveis, há toda uma parcela do público que implora pelo retorno glorioso das experiências compartilhadas ali, na sala de casa, com parentes, amigos e aquela visita no pós churrascão de domingo. Gente que jogou tempos atrás em telas de 14, 20 polegadas divididas ao meio, quiçá em quatro, sem enxergar muito bem detalhes, em favor de uma diversão multiplayer old school.

Os chamados Party Games, território conhecido e praticamente estabelecido pela Nintendo, sempre foram um verdadeiro oásis que pareciam remar contra a maré do mercado moderno, já que mesmo games de menor investimento, incluindo toda a indústria independente, parecia se focar na permanente conectividade on-line que se tornou possível na geração Dreamcast/PS2, presente na seguinte e a regra depois disso. Não é surpreendente, portanto, olhar para uma proposta absolutamente offline, como é o caso do objeto desta análise, e não se surpreender.

Pool Party

Estabelecendo-se, assim, como um jogo estritamente local, Pool Party coloca até quatro jogadores para uma série de competições livremente inspiradas em modalidades esportivas comuns, como futebol, tênis e sumô, dentre outras, que irão definir o rei da festa. Nossos avatares neste mundo são nada mais que bolas de bilhar (ou sinuca, se você preferir) que se enfrentam individualmente ou em times de dois contra dois com objetivos distintos, mas facilmente reconhecíveis pela popularidade de cada esporte ali representado. Ou seja, em termos mais diretos, você é uma bolinha que enfrenta outras até que uma se saia vencedora.

Essas metas são dedutíveis e constantemente relembradas, então não há muito o que se questionar em relação a elas. No futebol ou no tênis, ganha o time que fizer mais pontos no tempo regressivo de cada partida. No bilhar, quem encaçapar mais bolas da sua cor se sai vencedor, enquanto no modo Sobrevivência, vence quem jogar os adversários no buraco antes que eles o façam. Já no Agouro, que funciona como uma espécie de pega-pega, é eliminado quem estiver com o encosto (sobrenatural) no corpo quando o contador chegar a zero. No Sumô, sai vitorioso quem restar por último na arena enquanto derruba os adversários da borda.

Pool Party

Seja qual for a categoria, Pool Party se apoia em um sistema de jogabilidade muito simples: além de se movimentar livremente pelo cenário, o jogador pode rolar (de forma simples ou carregada) e chutar (que também pode ser potencializado) o que quer que seja, como bolas extras espalhadas pelo campo ou mesmo inimigos. Tirando uma das modalidades, todas as demais se adaptam a esses dois comandos principais, que combinados com o sistema básico de física que emula uma mesa de sinuca, permite uma verdadeira bagunça em tela, demandando ação e estratégia em níveis bastante descompromissados, mas ainda assim intensos.

Você pode, por exemplo, focar em atrapalhar seus adversários jogando eles mesmos na caçapa, ou ainda afastando-os de seus objetivos, ou pode esquecer deles enquanto se detém em suas próprias tarefas. Pode ser mais agressivo para fazer com que percam pontos ou tem a opção de escolher subir sua própria contagem para além do que o inimigo pode atingir. Pode jogar sujo enviando armadilhas ou ser o mais isento possível, tudo isso de uma forma leve e se aproveitando das regras mais simples que um bom jogo de família pode oferecer. Esse é, teoricamente, uma boa opção para se aproveitar mesmo com pessoas pouco adeptas de uma jogatina virtual.

Pool Party

Obviamente que aqueles mais competitivos saberão manipular as variáveis a seu favor, porque há pouquíssimos elementos baseados na aleatoriedade no jogo. A distribuição de pontos de interesse, talvez, ou ainda o comportamento da IA quando a partida é preenchida por bots, mas nada parecido com dados, cartas sorteadas ou algo do tipo, como a maior referência do gênero, Super Mario Party, usa e abusa. Se isso valoriza a destreza e competência, algo que pode ser muito valioso para jogadores mais competitivos, certamente elimina o fator caótico imprevisível que equilibra partidas entre iniciados e iniciantes.

O maior problema de Pool Party, porém, está na sua oferta baixíssima de conteúdo para potencializar sua vida útil. É um jogo bastante simples, com meia dúzia de modalidades sem quaisquer aspectos de variedade ou efeitos de novidade para além do que se vê na primeira partida em cada uma delas. Não há diversificação sequer na parte estética, sem mapas ou skins diferentes para os cenários, por exemplo. O vídeo que abre esta análise, a caráter de exemplo, passa, em 30 minutos, por todo o conteúdo do jogo, em seus dois modos, três ou quatro vezes cada.

Pool Party

Por outro lado, o jogador solo pode gastar algumas boas horas na repetição, seja buscando as conquistas, já que para platinar basta conseguir fazer uma quantidade significativa de pontos em cada uma das modalidades; seja aumentando gradativamente a dificuldade, que varia entre os três níveis clássicos. Já quando acompanhado, há o elemento da diversão emergente, que surge não da novidade e da criatividade cíclica do game, mas dos novos significados atribuídos à repetição pelos próprios players. Jogar de novo, jogar mais uma vez, mudando de times, aprendendo novos truques para pontuar mais, ou sempre trazendo pessoas novas para a equação, por exemplo. Em palavras mais simples, sabendo fazer uma limonada com alguns poucos limões.

Também é notável a limitação técnica audiovisual do projeto, não por se basear em personagens com formas geométricas das mais básicas, como esferas com pés, mas principalmente pela escassez artística da obra. Os cenários são pouco preenchidos, com alguns extras aqui e ali que, no final, pouco importam. O campo de batalha, seja qual for, mantém um design limpo e inspirado nas suas referências, mas com texturas rasas, com pouca profundidade de tela e um sistema de iluminação global que se limita ao pouco escuro e ao exageradamente claro.

Pool Party

Com isso, a saturação de tudo o que vemos em tela é sempre alta, com um brilho intenso que pode até cansar olhos mais desacostumados. Não há muitos efeitos de partícula que valham a pena se destacar. O mesmo vale para canções repetitivas e animadas que empolgam nas primeiras partidas, mas que se tornam um lugar comum sem brilho em instantes. Sem muito o que trabalhar em ambientação ou efeitos e ruídos, todo o aspecto sonoro do jogo, tal como o visual, é suficiente para a proposta minimalista de Pool Party, mas extremamente pobre em quaisquer tentativas de se destacar diante outros jogos do gênero.

Nada disso, entretanto, decepciona mais do que aqueles que deveriam ser o ponto central de carisma de um game como esse: os avatares. As artes promocionais do jogo me fizeram lembrar das capas dos anos 1990 – lembram das do Megaman? –  que pareciam muito sofisticadas para um produto final bem mais simples. Em Pool Party, podemos escolher uma dentre poucas cores que lembram o bilhar de mesa, e podemos customizá-las com alguns detalhes. Se o corpo e os braços ainda têm meia dúzia de variações, as pernas são uma verdadeira lástima, com faixinhas que seria melhor não ter, tamanha a falta de inspiração das duas opções possíveis. Aqui é onde se detecta algo que independe de investimento ou capacidade técnica, que é uma falta de cuidado e interesse em tornar aquilo um pouco mais agradável.

Pool Party

Esse tema é um pouco mais delicado neste tipo de jogo, uma vez que a customização, para além de um detalhe de personalização que todo jogador gosta, também é útil para identificarmos o nosso boneco em meio aos demais. Adicionar detalhes quase indetectáveis no ponto de vista isométrico do jogo é algo que não passa despercebido. Pior ainda é que no momento em que a câmera se aproxima, ou ainda na apoteose da vitória, as animações lembram melancolicamente uma versão piorada do Dollynho. Por mais boa vontade que tenhamos em achar a carência técnica algo charmoso, infelizmente tudo o que sobra aqui é uma vergonha alheia por algo tão precário.

Pool Party é, antes de mais nada, uma proposta ingênua, provando que atender a uma demanda de mercado, como jogos para se jogar no sofá de casa, pode não ser o suficiente para agradar aquele nicho. É um jogo baseado em mecânicas extremamente simples, o que é uma virtude dada a sua proposta, mas apoiado em uma estrutura paupérrima que não tem muito o que oferecer. Com dois modos praticamente idênticos cuja diferença é permitir ou não que pessoas reais assumam uma das quatro vagas possíveis em disputa, ambos dão a possibilidade de partidas variadas ou focadas numa única modalidade, mas seja qual for a escolha, não há muito o que se aproveitar para além dos primeiros instantes.

Pool Party

Seu potencial, está, portanto, quando não for levado a sério pelos jogadores, que podem encontrar uma diversão autêntica em uma competição honesta e sem muito apego, pelo menos por alguns minutos. Estar disponível em português, além de outros idiomas, não chega a ser uma surpresa já que há pouco o que se traduzir, e esse aspecto parece resumir bem a sensação que tenho com o jogo, depois de jogar algo em torno de uma dezena de horas sozinho e acompanhado: tudo o que temos aqui é pouco, muito pouco. Não que conceitos menos rebuscados sejam, por si, insuficientes. Mas quando o simples se torna simplório, a leveza de uma ideia se prova só um vazio de conteúdo.

Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Mindscape.

Veredito

Pool Party faz da sua aparente inocência uma muleta para a pobreza de ideias e, principalmente, pela falta de carinho em sua implementação. É até possível se divertir por alguns instantes, mas só quando os jogadores se permitirem suspender o senso crítico em favor de uma bagunça descompromissada em família.

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Pool Party

Fabricante: Lakeview Games

Plataforma: PS4 / PS5

Gênero: Party Game

Distribuidora: Mindscape

Lançamento: 16/05/2024

Dublado: Não

Legendado: Sim

Troféus: Sim (inclusive Platina)

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Veredict

Pool Party uses its apparent innocence as a crutch for its poor ideas and, above all, for the lack of care in its implementation. It’s even possible to have fun for a few moments, but only when players allow themselves to suspend their critical sense in favor of an uncompromising family mess.