Ainda que o gênero de simulação seja bastante difundido, ele talvez esteja entre os menos acessíveis para novos jogadores. As mecânicas de construção muitas vezes complexas e as funções de gestão que são capazes de transformar boa parte da diversão em tarefas cansativas são os principais fatores que acabam afastando uma parcela dos interessados.
Apesar disso, de vez em quando, aparecem alguns simuladores com propostas divertidas, que conseguem furar essa bolha e atrair um público maior. Um bom exemplo é a série de jogos Planet, desenvolvida pela Frontier Developments, que costuma simular o gerenciamento de atrações populares, como os zoológicos e os parques de diversão.
Neste cenário, a desenvolvedora britânica lança agora Planet Coaster 2, um título que chega como uma evolução de seu antecessor, prometendo entregar melhores ferramentas de construção e de administração, além de abrir um leque de possibilidades com a adição de parques aquáticos. E mesmo que o processo de aprendizado do jogo demande muita paciência para lidar com os menus nada intuitivos, a experiência de criar sua própria versão de um parque temático é bastante divertida.
Com certeza, a curva de aprendizado longa é a grande barreira a ser superada pelos menos experientes no gênero. Para facilitar a adaptação, o modo Carreira funciona como um longo tutorial introduzindo as principais mecânicas de jogabilidade através de uma história dividida em quatro capítulos.
Para avançar por cada um deles, é necessário obter um número mínimo de medalhas completando as mais variadas tarefas de gestão e construção. Essas medalhas possuem níveis de dificuldades, mas concluir todos os objetivos não é um requisito para progredir pela história.
Os capítulos são compostos por cenários representando diferentes parques temáticos ao redor do mundo. A narrativa é bastante simples e coloca você no papel de um funcionário recém-contratado por uma fundação que atua na pesquisa, recuperação e construção de novas tecnologias em parques temáticos. Ao longo de sua carreira, serão apresentadas diversas situações através de diálogos com os personagens que fazem parte da empresa.
Para aliviar um pouco a tensão diante da enorme quantidade de mecânicas apresentadas durante a história, os diálogos entre os personagens possuem um tom mais satírico. Por mais que essa proposta seja boa, confesso que acompanhar as discussões entre os irmãos Newton ao longo das 20 horas que passei na campanha, produziu em mim um resultado diferente do almejado.
Felizmente, todo o conteúdo é legendado em português brasileiro e a adaptação das piadas foi bem-feita para que elas não perdessem o sentido. Há até algumas referências a termos populares de nosso idioma, algo que considero uma boa sacada da equipe responsável pela localização.
O maior atrativo da campanha está nas diversas situações apresentadas em cada parque. Apesar da maior parte dos objetivos cair em repetição com o passar do tempo, alguns cenários apresentam histórias interessantes. É caso da fazenda comprada pela companhia para investir em tecnologia de energia alternativa, ou de um parque localizado no topo de dois morros separados por um desfiladeiro e que precisam ser ligados por uma estação de monotrilho. Inclusive, todos esses cenários podem ser exportados para o modo livre para servirem como base de construção. Você também pode retornar aos parques mesmo após concluir a campanha, caso queira conquistar as medalhas faltantes.
Só que o modo Carreira peca ao deixar o jogador muitas vezes de mãos atadas diante das muitas mecânicas de construção e administração que não são explicadas. Além disso, concluir alguns objetivos demanda atingir critérios específicos, como um número grande de visitantes ou um montante de dinheiro ganho ao longo do dia. Por muitas vezes, essas exigências quebram o ritmo do jogo, principalmente por fazerem com que você tenha que esperar o tempo suficiente para superá-las.
Mas o maior problema de Planet Coaster 2 está em sua interface confusa. Todos os menus para construção, gerenciamento, análise de comportamento, dentre tantas outras funções, são compostos por diversos submenus repletos de informações. Isso faz com que alguns processos exijam horas de dedicação até que você se familiarize com a localização e a função de cada um deles. E se levarmos em conta que as adaptações feitas para a versão de console tornam a navegação ainda mais confusa, isso pode causar uma enorme frustração.
Para circular entre os diversos itens e selecionar as caixas correspondentes ao comando pretendido, é necessário passar por cada sessão de menus alternando com o R1 e o L1 ou com o direcional. Claro que há maneiras para acelerar algumas tarefas através dos projetos prontos e dos atalhos que podem ser criados para seus itens favoritos. Mas isso limita a criatividade e não alivia o fato de que será fundamental conferir o estado dos brinquedos, as escalas de trabalho dos funcionários, o humor dos visitantes, dentre tantas outras necessidades de gerenciamento que o jogo possui.
Outro problema que torna tudo ainda mais cansativo é que muitos brinquedos e estações instaladas deverão ser testadas e abertas manualmente para o público, alimentadas por geradores ou energia solar e ter um funcionário atribuído para cada tarefa. Além disso, as atrações apresentarão defeitos ao longo do dia, os visitantes expressarão insatisfação pela falta de lojas ou pelo preço dos ingressos, dentre outros detalhes que você deverá prestar atenção. Esse processo que, por si só, já seria árduo, se torna bem pior quando executado através do controle.
A construção de caminhos também está na lista de dificuldades que o jogador pode enfrentar. Por mais que a desenvolvedora tenha dito que essa função seria melhorada em relação ao primeiro jogo, na prática não é bem assim. Toda vez que tiver que criar uma rampa de acesso ou ligar um caminho de pedestres, será necessário encontrar a melhor posição dentre as funções disponíveis e indicar o percurso pretendido com o analógico. Isso é ainda mais complicado ao lidar com terrenos íngremes, por exigirem uma precisão na inclinação que não é facilmente conseguida com o DualSense 5.
O mesmo tipo de frustração também ocorre ao tentar movimentar os objetos nos eixos angulares. Tanto para acessar os planos quanto para executar o deslocamento, deve-se altenar entre os menus e movimentar o analógico com uma precisão muitas vezes cirúrgica. Isso se torna bem mais evidente no modo de construção livre, pois cada objeto deverá ser editado e posicionado individualmente através deste sistema.
Diante de todas essas adversidades, mesmo não sendo um jogador frequente de PC, decidi realizar um teste conectando o mouse e o teclado no PS5. A agilidade para executar os comandos, movimentar os objetos e alternar entre os menus foi tão notória, que optei por permanecer usando os periféricos até a conclusão desta análise. Claro que, como apontei anteriormente, a prática é fundamental para tirar o melhor proveito de Planet Coaster 2, mas ainda acho que muitas mecânicas deveriam ter sido melhor implementadas para os consoles.
Claro que muitos dos empecilhos destacados não são novidades dentro do gênero de simulação, portanto não prejudicam a experiência de Planet Coaster 2 de forma geral. Quem persistir por algumas horas da campanha, ou estiver mais familiarizado com a interface, poderá partir para aquele que considero ser o grande celeiro criativo do jogo: o modo Sandbox.
Nele, você pode escolher entre quatro tipos de mapas para iniciar um parque do zero. As opções de ajustes na dificuldade permitem buscar uma experiência mais leve, sem se preocupar com o limite de dinheiro ou com a gestão de fucionários, de visitantes e de recursos. Há ainda o modo clássico, cuja proposta é oferecer uma dificuldade mais equilibrada. Já o desafio, provoca os jogadores mais experientes a encarar todos os processos de gestão do jogo, que, diga-se de passagem, não são poucos.
As possibilidades no modo Sandbox são infinitas. Embora haja projetos de construção prontos para agilizar sua vida, todos os objetos podem ser combinados de forma livre para criar sua própria versão de brinquedos e de customização das atrações. Isso envolve atribuir o preço, colocar efeitos especiais e decorações, limitar o número de visitantes e muito mais.
Assim como os brinquedos, os visitantes também possuem suas necessidades, então lanchonetes, banheiros e muitas outras facilidades devem ser construídos para que eles não fiquem insatisfeitos e deixem o parque. O mesmo vale para os funcionários, que precisam descansar e revesar em turnos para que não abandonem o trabalho por questões de estafa. A verdade é que, caso queira mergulhar fundo no que o jogo oferece, há muito mais do que um simulador de construção de montanhas-russas.
Apesar disso, é impossível dizer que elas não continuam sendo o grande atrativo do jogo. Só que, dessa vez, dividem parte da atenção com os toboáguas e os demais equipamentos aquáticos. As alternativas de construção são imensuráveis. Sempre que construir um novo brinquedo, você deverá se atentar aos níveis de náusea e de medo que eles causam. As atrações mais desafiadoras podem atrair menos visitantes. Após finalizar uma construção, é possível testá-la através de uma câmera em primeira pessoa, uma ótima função para os amantes da adrenalina.
Uma das boas novidades de Planet Coaster 2 é o modo Franquia. Através dele, o jogador pode abrir seu parque temático e disponibilizá-lo para que amigos ou membros da comunidade online contribuam com novas construções ou cuidando da administração dos funcionários e das benfeitorias. O acesso às funções de edição pode ser limitado através de convites e permissões.
Outra função que conta com a participação da comunidade é a oficina. Ela é como uma grande biblioteca de blocos em que as criações de jogadores ao redor de todo mundo podem ser disponibilizadas para que sejam adicionadas ao seu conjunto de construção. Essa é uma maneira interessante para você não ficar restrito aos planos e às decorações predeterminados, caso não queira dedicar horas de sua vida à modalidade livre.
Os gráficos no console são dignos de elogios. E mesmo o movimento da água — um dos grandes desafios trazidos pela introdução de elementos de parques aquáticos —, ficou dentro do que considero agradável. Os efeitos de iluminação tanto durante o dia quanto à noite proporcionam visuais incríveis.
No entanto, há problemas de performance em ocasiões em que o parque estiver próximo de sua lotação máxima ou que um grande número de visitantes se concentrar em apenas uma região. Além disso, a taxa de atualização do jogo é limitada aos 30 quadros por segundo no PS5 (testado apenas na versão padrão do console).
Alguns problemas de colisão foram percebidos, com os visitantes passando por dentro de objetos ou as construções se sobrepondo umas às outras sem que houvesse maiores consequências para seu funcionamento. Os caminhos também são parte desses problemas, já que, por muitas vezes, mesmo com a junção perfeita entre eles, os visitantes parecem ignorá-los por algum motivo. Se há um defeito que os impeça de acessar uma via, ele não é apontado de maneira clara em algumas circunstâncias.
Já a trilha sonora do jogo contribui para deixar as longas sessões de construção mais leves com canções animadas que, ao mesmo tempo, são relaxantes. Muito bons também são os efeitos sonoros. Desde os estalos e demais barulhos das engrenagens dos brinquedos, até os gritos de empolgação dos visitantes, tudo funciona na mais perfeita harmonia para criar uma ótima ambientação. Para colaborar ainda mais, caixas de som podem ser instaladas nos parques para reproduzir efeitos sonoros dos mais variados temas.
Em suma, por mais que não esteja livre de problemas, o grande objetivo de Planet Coaster 2 de proporcionar que você crie sua própria diversão ainda é alcançado com maestria. Mesmo que para extrair seu verdadeiro potencial seja necessário investir boas horas para dominar a maioria de suas mecânicas, os que persistirem estarão diante de um ótimo jogo.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Frontier Developments.
Veredito
Planet Coaster 2 é uma evolução natural do jogo de simulação de construção de parques temáticos em muitos aspectos. Com infinitas possibilidades para despertar sua criatividade e a adição dos parques aquáticos, ele é a melhor alternativa para criar sua própria experiência de diversão. O lado ruim é que bugs, uma interface pouco intuitiva e comandos mal adaptados na versão para os consoles podem desmotivar os jogadores menos pacientes.
Veredict
Planet Coaster 2 is a natural evolution of the theme park building simulation game in many ways. With endless possibilities to spark your creativity and the addition of water parks, it is the best alternative to create your own fun experience. The downside is that bugs, an unintuitive interface and poorly adapted commands in the console version may discourage less patient players.