Poucos nomes indicam qualidade tanto quanto o da série XCOM. Sejam os títulos originais produzidos pela Mythos Games ou o reboot desenvolvido pela Firaxis Games, ela facilmente se tornou uma das mais influentes e importantes criações dos anos 90, com vários e vários jogos de estratégia bebendo da fonte de ideias inovadoras vistas ali.
Mas o que esperar então quando o homem por trás da ideia original resolve voltar à receita original e criar um novo prato? Um sucessor espiritual que promete trazer novos elementos e entregar um jogo digno de competir com as produções recentes da Firaxis? Phoenix Point é o que acontece.
Desenvolvido pela Snapshot Games, estúdio fundado por Julian Gollop, criador de XCOM. Enquanto Gollop se manteve na indústria trabalhando em diferentes jogos de estratégia, com maior e menor sucesso ao longo dos anos, Phoenix Point é a tentativa mais clara de reinventar a fórmula que tornou os irmãos Gollop tão conhecidos.
A versão que agora chega ao PS4, chamada de Phoenix Point: Behemoth Edition, traz não só o jogo-base lançado para PC em 2019, mas todo o conteúdo que o jogo recebeu via DLC até aqui, incluindo novas campanhas. Teoricamente, esse tempo todo até o lançamento para consoles serviu para ajudar a refinar a experiência e entregar um produto melhor.
Essa demora, no entanto, acabou não servindo para isso. É importante tirar logo do caminho que o maior problema de Phoenix Point é a sua péssima performance, mesmo no PS5. O jogo conta com loadings gigantescos, bugs nas animações, péssimo reconhecimento dos comandos e vários crashes que te farão perder boa parte do seu progresso quando você menos espera.
Os problemas técnicos são especialmente frustrantes pois há um jogo divertido e interessante tentando ser jogado ali. Para os fãs de longa data da série XCOM, você vai saber exatamente o que te espera por aqui, mas o jogo consegue evitar a sensação de ser apenas uma “cópia barata” da franquia que ela se propõe a suceder.
Como já era de se esperar, o jogador assume o controle de uma força paramilitar que há anos atua nas sombras e cujo papel agora é proteger o que resta da humanidade durante uma ameaça alienígena. Dessa vez, ela se chama The Phoenix Project e seus soldados são os únicos capazes de ajudar as facções de sobreviventes a lutarem contra as forças Pandorianas.
Existem algumas pequenas diferenças na ambientação e que acabam dando uma identidade distinta ao jogo. As forças que você precisa combater são frutos de um vírus alienígena chamado pandoravirus (e sim, o jogo foi lançado antes da pandemia), capaz de infectar e controlar seres humanos e transformá-los em crustáceos grotescos que, em dado dia, se levantaram do mar e começaram a destruir a humanidade.
Além disso, o Phoenix Project não é a única facção tentando salvar a humanidade. Três diferentes facções tentaram criar sua própria ordem dentro do caos instaurado ao redor do planeta, chamadas Disciples of Anu, New Jericho e Synedrion. Ao longo do jogo você precisará trabalhar em conjunto e lutar contra forças dessas facções, precisando equilibrar o relacionamento com elas para ter acesso à diferentes tecnologias que podem ser a diferença entre o sucesso e o seu fracasso.
Isso faz com que, embora a estrutura geral de Phoenix Point seja parecida, ele comece a se diferenciar do seu predecessor. Você ainda precisa lidar com todas as questões envolvendo o gerenciamento da sua base, missões e estratégia em escala global com limites de tempo, desenvolvimento de pesquisas e criação de itens, tudo enquanto precisa lidar com esses aspectos relacionados ao relacionamento com facções e suas bases (chamadas de Havens).
Não há muito a se falar sobre história aqui, salvo pelas linhas gerais da ambientação e algumas cutscenes com os acontecimentos que vão rolando à medida que você avança pela campanha. Ainda assim, o universo de Phoenix Point tem bastante personalidade graças ao quão bem escritas e definidas são as facções, que ajudam a mostrar a forma como os seres humanos se organizaram e sobreviveram nessa Terra pós-apocalíptica.
Há, inclusive, um sistema de escolhas no jogo, através do qual você precisará escolher suas respostas em determinados momentos e que podem tanto te dar acesso a novas missões quanto alterar os rumos da sua relação com as facções, o que influencia nos diferentes finais do jogo.
Não é nada muito profundo, mas ajuda a estabelecer o quanto você é capaz de impactar o destino da humanidade aqui. Não há muito com o que se preocupar, no entanto, já que manter um bom relacionamento com as facções é até bem fácil e te trará benefícios importantes para terminar o jogo.
O combate também é aquilo que você já espera ao ler as várias comparações com a série criada pelo Gollop. Phoenix Point é um jogo de estratégia por turnos no qual o jogador e os inimigos alternam turnos movendo seus soldados pelo mapa e realizando diferentes ações através do uso de Action Points.
Aqui o uso de cobertura também é uma parte importante do jogo, com determinadas partes do mapa oferecendo cobertura parcial ou completa e te ajudando a se proteger de tiros inimigos. Inimigos também fazem uso dela, mas o jogo introduz uma nova possibilidade pensada exatamente para tentar te ajudar em situações como essa: Free Aim.
Free Aim permite ao jogador mirar exatamente onde ele quer que o tiro seja dado. Para isso, você verá dois círculos indicando qual a área na qual o tiro será dado, o que te permite planejar melhor como atacar. Isso vai se tornando cada vez mais importante à medida que avançar pelo jogo, já que novas mutações vão surgindo o tempo todo e algumas delas possuem pontos fracos específicos que precisam ser explorados para otimizar a sua eficiência em combate.
Um ponto que se torna bem claro à medida que você vai gastando mais tempo com a campanha é a vasta quantidade de inimigos existentes no jogo. No começo, você verá larvas e pequenos monstros e gradualmente mutações com escudos, metralhadoras embutidas ou capazes de invocar outros inimigos vão surgindo.
A introdução desses novos inimigos é feita de forma bem gradativa, mas o jogo conta com um problema sério de balanceamento nos seus pulos de dificuldade. Até mesmo para veteranos do gênero, ele costuma colocar alguns objetivos desproporcionais ou criar situações em que não há estratégia a ser usada e você acaba sendo derrotado exclusivamente porque o jogo resolve lançar horda após horda de inimigos contra ti para te punir.
Um outro problema que precisa ser apontado é a baixa variedade de missões que o jogo apresenta. Quase tudo se resume a destruir todas as unidades inimigas, alcançar certos pontos no mapa, proteger unidades/prédios ou recolher recursos específicos. Isso não seria tão notório se o jogo não criasse tantos pontos de exploração, o que acaba tornando a experiência um pouco monótona com o tempo.
Dito isso, a maior parte dos elementos desafiadores vistos em outros jogos do gênero estão presentes aqui, como a presença de permadeath, necessidade de gerenciar vida/stamina dos seus soldados, gerenciamento de recursos e tempo para conseguir dar conta das suas missões e tudo mais. São coisas pequenas no cenário geral, mas que ajudam a criar o clima de tensão sempre presente e que ajuda a dar um peso maior para cada decisão tomada por você.
É uma pena, então, que o jogo sofra tanto com problemas de balanceamento e problemas técnicos. Phoenix Point é um jogo que demonstra muito potencial em tudo que ele te apresenta, mas há sempre algo que poderia ter sido feito para tornar aquele elemento melhor ou mais justo.
Existem vários e vários momentos em que a frustração não veio de uma decisão errada minha, mas do jogo burlando as próprias regras para afetar a jogatina ou meu progresso sendo perdido por um crash aleatório (o jogo só possui auto-save antes de entrar em batalha, por ex.) São coisas que seriam facilmente perdoáveis se o jogo não tivesse tido tanto tempo para preparar as versões para console e o resultado não fosse tão decepcionante.
Tudo faz com que Phoenix Point seja um jogo com ótimas ideias, mas uma execução marcada por problemas ou inconsistências muito frustrantes. É um jogo que por mais que eu queira gostar ainda mais dele, a própria experiência parecia ativamente lutar para que, no fim das contas, eu ficasse mais interessado em procurar o produto original.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Snapshot Games.
Veredito
Phoenix Point é um bom jogo, mas marcado por uma série de problemas que acabam limitando a sua qualidade. Os problemas técnicos também evitam que até mesmo o fã mais hardcore consiga aproveitar as várias boas ideias contidas ali.
Veredict
Phoenix Point is a good game, but marked by a series of issues that truly limit its quality. The technical issues make it so even the most hardcore fan has a hard time enjoying the many good ideas it has.