Persona 5 Strikers – Review

Ao longo dos últimos anos escrevendo para o PSX Brasil, uma dos principais mitos que eu venho tentando desmistificar são os que giram em torno do “gênero” musou. Mais especificamente, sobre os jogos desenvolvidos pela Omega Force, a responsável pela criação dessa reinterpretação moderna dos hack ‘n’ slashes.

Musou é o nome original em japonês dos jogos da Omega Force, sendo o equivalente ao Warriors no Ocidente como em Sangoku Musou/Dynasty Warriors e Sengoku Musou/Samurai Warriors. E enquanto os jogos principais deles têm tido seus percalços até recentemente (vide o fracasso de Dynasty Warriors 9), as parcerias feitas pelo estúdio com outras publishers tem ajudado a tirar um pouco das ideias pré-concebidas que as pessoas tinham com eles.

O trabalho em conjunto com outras IPs para gerar jogos distintos dos musous mais tradicionais não é algo totalmente novo, mas parece ter se tornado mais comum e bem-visto, principalmente por estas bandas, desde o lançamento de Hyrule Warriors, Fire Emblem Warriors e Dragon Quest Heroes.

Esse último em especial provou que não só de ação descerebrada vive a série, provando que a Omega Force é capaz de mesclar elementos de RPG com um ótimo jogo de ação na mesma veia dos seus outros produtos. E, buscando se provar mais uma vez para quem duvida dos seus talentos, agora chega às mãos dos jogadores mais um crossover muito bem-vindo: Persona 5 Strikers.

Desde que a popularidade da sub-série Persona começou a crescer após o lançamento de Persona 4 Golden para o PS Vita, a Atlus tem investido cada vez mais em spin-offs da franquia. E, enquanto muitos fãs seguem clamando por um retorno de Devil Summoner, a Atlus preferiu casar o seu jogo de maior sucesso até aqui com um gênero que há algum tempo ela não visitava, entregando um ótimo RPG de Ação que busca casar o que Persona e musous tem de melhor.

Uma coisa que fica claro logo no começo: fora a enorme quantidade de inimigos na tela a cada dado momento e o sistema de combos, Persona 5 Strikers é, sim, um RPG de Ação e não um jogo de Ação Hack’n Slash, raramente passando a sensação de se jogar um tradicional título da OF. Esse é um título com a marca e estilo de um jogo da Atlus e isso transparece a cada segundo.

Persona 5 Strikers é uma sequência direta dos eventos da versão original de Persona 5, sendo extremamente recomendado que você tenha jogado ele para entender os eventos daqui (ou jogado Persona 5 Royal. Honestamente, não faz diferença). O jogo se passa alguns meses após a conclusão da primeira aventura dos Phantom Thieves e vê o grupo se reunindo para aproveitar as férias de verão juntos.

É claro, como todo bom RPG, os planos do jovem grupo de heróis vão por água abaixo após uma série de eventos confusos. Primeiro, por um completo acidente, Joker, Ryuji e Morgana se veem presos em uma nova variação do metaverso chamado de Jails (e onde eles conhecem a nova personagem Sophia), muito parecidos com os Palaces do jogo original. A diferença é que, dessa vez, eles não sabem o que está causando esses fenômenos ou o porquê pessoas normais também estão sendo levadas para lá.

E quando uma série de figuras públicas passam a sofrer “mudanças de coração” ao redor de todo o Japão, de forma bastante parecida com os eventos do ano anterior, o que faz com que eles acabem se tornando o principal alvo da polícia. O problema? Essas mudanças não têm sido causadas pelos Phantom Thieves.

Como bons heróis que são, Joker e sua turma partem em uma jornada ao redor de todo o país para desvendar o mistério por trás desses acontecimentos, limpar os próprios nomes e ajudar a polícia a encontrar o verdadeiro culpado pelos crimes. Isso dá ao jogo um ar de “filme de viagem”, além de servir como uma desculpa para explicar o porquê a estrutura rígida de P5 com a obrigação de ir à escola e outros elementos parecidos não estão presentes.

A exploração e movimentação pelas cidades presentes em Persona 5 Strikers é relativamente restrita e focada principalmente em conversar com os personagens espalhados pelo mundo e desvendar os mistérios por trás dos incidentes. Quase sempre eles se resumem a investigar locais onde Sophia sente a presença de uma Jail, tentando descobrir como proceder para resolvê-las.

Cada uma dessas áreas possui suas próprias missões secundárias por tempo limitado (chamadas de requests), lojas, restaurantes e outros pontos de interesse. A única ausência talvez seja de lojas, mas isso é suprido pela loja online da Sophia. Os recursos ainda são relativamente limitados, então é preciso ter bastante cuidado com sua vida e SP na exploração das dungeons do jogo.

Sua opinião da história de Persona 5 Strikers provavelmente vai ser similar a que você tem sobre o jogo original. Se você, como eu, teve problemas com ela ou não teve a mesma paixão que outros jogadores têm por certos personagens, não vai ser P5S que vai mudar isso.

A jornada como um todo é muito boa e o plot, por mais previsível que seja, funciona muito bem dentro daquilo que ele se propõe a ser. A polícia é extremamente inepta, enquanto os Phantom Thieves, do alto da sua bondade e dedicação, ainda são alguns dos personagens mais burros já vistos na história dos JRPGs, ainda que todo o carisma que os ajudou a se tornarem verdadeiros fenômenos na cultura pop esteja presente aqui.

Ainda assim, alguns dos problemas mais claros, como o fato de todos os personagens só existirem em função do Joker, são amenizados, com a interação entre todos sendo muito mais natural e trazendo muito mais para a experiência do que em P5, personagens “ignorados” recebendo muito mais atenção aqui, o que causa uma sensação de “camaradagem” entre o grupo muito maior.

Os eventos entre os personagens também são muito mais interessantes (ainda que algumas das piadas mais bobas se repitam à exaustão) e a inclusão de um sistema de “Bonding” para substituir os Social Links funciona bem. A diferença fica pelo fato de que, ganhar Bond Points te permite melhorar seus stats, ganhos em dungeons e outras melhorias. Um outro destaque fica por conta dos novos personagens que trazem bastante a experiência e ajudam a tornar a história distinta o suficiente de P5.

Alguns dos elementos mais bem-vindos em Persona 5 Strikers ficam por conta de todo o esforço da Omega Force em replicar a experiência do jogo original. Isso vai desde trazer o mesmo estilo para os menus de P5S, que faz com que tudo tenha uma identidade visual bem marcante e bonita, à fantástica trilha sonora e o mesmo estilo gráfico adotado no primeiro título.

Onde Persona 5 Strikers realmente brilha não é no que ele reproduz do jogo da P-Studio, mas sim onde ele injeta o seu próprio DNA. Os botões são, essencialmente, os mesmos à disposição do jogador em outros jogos da OF: Dodge, Jump, Attack e Special estão presentes, com a diferença ficando por conta de um ataque com a sua arma de longa distância (substituindo os ataques pesados nos combos) e um botão dedicado para invocar sua persona.

Pode parecer pouco à primeira vista, mas há uma vasta gama de opções postas à disposição do jogador ao combinar os ataques. Entre eles estão a possibilidade de pulo duplo ou dash no ar, encaixar as magias da sua persona no meio de um combo para potencializar o dano, a arma servindo tanto para explorar fraquezas (e ter acesso aos All-Out Attacks e One More/Baton Pass) quanto como um poderoso golpe para encerrar combos ou saber usar as habilidades especiais únicas do seu personagem para realizar poderosos ataques ao final de cada combo.

Saber explorar fraquezas, mudar constantemente de personagem e usar buffs e debuffs ainda é tão importante quanto em Persona 5, com a diferença ficando por conta apenas do quão frenética a ação consegue se tornar em determinados momentos. Algo bem-vindo é que, quando se segura o botão para usar uma das magias da sua persona, o jogo para e te deixa decidir com tranquilidade o próximo passo a ser adotado.

Jogar bem, realizar combos maiores e causar mais dano vai aos poucos preenchendo uma barra chamada “Showtime” e que  lhe dará acesso a um ataque especial ainda mais poderoso do seu personagem e que causa uma quantidade imensa de dano. É claro, os inimigos farão o possível para te derrotar (e a IA é surpreendentemente decente para um jogo da OF), então é importante sempre estar atento, ainda que o jogo não seja tão difícil assim.

À medida que você avança no jogo e vai evoluindo os seus personagens, você terá acesso também à “Master Arts”, habilidades passivas que mudam um pouco o combate e te dão acesso a novas formas de lidar com as situações que o jogo vai apresentando. Cada uma delas é específica de cada personagem e, felizmente, todos eles tem seu próprio estilo de jogo, sendo bem distintos entre si.

Essa distinção entre os vários membros do seu grupo é muito bem-vinda e serve como mais um incentivo para constantemente alternar entre os quatro personagens (Joker e mais três) que costumam estar à sua disposição. Sophia também é uma personagem bem única e traz suas próprias características ao jogo, sendo bem divertido jogar com ela, o deverá impedir que ela fique para escanteio em relação aos demais Phantom Thieves.

Por fim, como todo bom Shin Megami Tensei, Persona 5 Strikers não poderia deixar de te dar a opção de capturar outras Personas/Demônios. Ao contrário do tradicional sistema de negociação que SMT usa, P5S opta por algo muito mais simples: inimigos derrotados deixam máscaras aleatoriamente, bastando pegar a máscara para adquirir o inimigo derrotado como uma Persona que pode ser equipada pelo Joker, com suas próprias características.

É claro, não basta capturá-las para ter acesso as personas mais fortes e, para isso, a Velvet Room também retorna (ainda que uma versão bem mais vazia dela). Aqui, Joker pode fundir as Personas para criar novas e usar os Persona points adquiridos com máscaras duplicadas para tornar as suas Personas mais fortes e assim ter acesso a todas as suas habilidades (algo importante antes de fundí-las).

Todos esses elementos se combinam para fazer de Persona 5 Strikers um jogo incrível. Ele não irá mudar sua opinião sobre o elenco, mas traz uma história a par com o original, mas é uma bela adição ao crescente portfólio de spin-offs do mais recente título da franquia e mais uma prova do que a Omega Force é capaz de fazer com um bom orçamento e um elenco de personagens digno de um fantástico RPG de Ação.