Algo que sempre me pergunto é quanto tempo uma ideia consolidada pode durar sem começar a falhar na execução. Pensando que mesmo algumas das franquias de maiores sucesso na história precisaram de alguma reinvenção para se manterem relevantes com o tempo, como Assassin’s Creed e God of War, ao jogar PAYDAY 3 só consegui ver que chegou o momento de algo assim acontecer e de uma maneira drástica caso ainda haja intenção de continuar com a série.
PAYDAY se tornou uma franquia que apelou para partidas cooperativas que deixam a decisão por conta dos jogadores de como realizar diversos assaltos e roubos. Vai roubar um banco? Sem problemas, mas cada decisão de como isso vai acontecer impacta diretamente no resultado final do seu saque. O primeiro jogo acabou tendo sucesso relativo não só pela proposta, mas também por priorizar um cooperativo coordenado em equipe que praticamente muda o jogo.
Após um primeiro sucesso, uma sequência era esperada pelas mãos da Starbreeze e que logo chegou para sanar o desejo de diversos fãs. Sem muitas novidades e apostando no que realmente funcionava, PAYDAY 2 trazia uma quantidade de conteúdo ainda maior e algumas melhorias esperadas pela comunidade de jogadores. Já com foco na parte cosmética e monetização em cima disso, quando o produto começou a saturar era de se imaginar alguma novidade para o futuro da franquia.
PAYDAY 3 então deveria ser algo para reformular um pouco o estilo, design e evoluir no loop de gameplay que começava a dar sinais de cansaço. Apesar de alguns poréns, idas e vindas de ser anunciado e tudo mais, o título acabou chegando em setembro e não foi exatamente o que era esperado.
A princípio, o jogo repete sua fórmula consagrada de forma ainda extremamente similar aos títulos anteriores. Na tentativa de contar uma história através de vídeos com imagens estáticas e áudio de fundo sem muita pretensão, o jogador volta aos saques em diversos novos lugares de New York e com os integrantes clássicos da gangue. Dallas, Hoxton, Chains e Wolf ganham a companhia de outros parceiros e seguem em busca de dólares, ouro, diamantes, bens de valores e muito mais.
Roube um banco, assalte um caminhão blindado, tente furtar o acesso a uma carteira de criptomoedas ou obras de arte, mas caso os objetivos principais falhem se prepare para levar o que tiver no caminho para não sair de mãos abanando. As novidades sempre vão ficar pelos novos roubos e localizações, mecânicas únicas de saques extras em cada lugar e como evitar ser percebido transformando os golpes em ações furtivas e não em campos de batalha.
Até 4 jogadores se unem e tentam realizar cada missão da forma que possa ser mais lucrativa ou, mediante os percalços no caminho, apenas terminar para sair vivo. Encontre os objetivos de cada mapa na surdina ou força bruta, tentando os melhores meios para arrecadar ainda mais. Evite o combate direto com a polícia ou tente sair sem que sua equipe jamais seja percebida. De toda forma, prepare seu arsenal e esteja pronto para tudo.
O grande problema aqui é que a fórmula se engessou e praticamente não tem novidades. Não existem meios de criar o inesperado em situações absurdas como acontecem em cada missão. Acionar alarme de incêndio, explodir paredes de forma aleatória, criar caminhos ou acessos de formas diferentes e muito mais deveriam ser opções para aumentar a dinâmica das partidas. Tudo em cada mapa é apenas linhas scriptadas que precisam ser seguidas para realizar as missões de forma sorrateira ou enfrentar dezenas de policiais que parecem tão incompetentes quanto os de filmes de comédia.
Apesar de novos mapas e assaltos mais criativos na premissa, a execução em cada um é de uma simplicidade preguiçosa e desinteressada, com uma jogabilidade enferrujada e não muito divertida, se sustentando mais pelo cooperativo para ser atrativo de alguma forma.
Quase todo o sistema de evolução de PAYDAY 3 é focado na parte cosmética, usando o resultado dos saques para aquisição, mas não consiste num progresso relativo ao jogo. Destrave roupas, máscaras e outros para participar de seus golpes no melhor estilo fashion week. O restante do progresso fica atrelado aos armamentos e seus acessórios, dispositivos e aparelhos para o uso nas missões. Além disso, ainda há a moeda via microtransações para acelerar o processo de liberação e compra dessas opções.
O que falta a PAYDAY 3 é a atualização de sua essência para uma forma mais abrangente, com mais liberdade ao jogador e na criação de situações e partidas com foco na diversão e não atacando dezenas de policiais com IA ridícula. As melhorias que o jogo recebeu nessa última versão são mais ajustes em animações, mecânicas básicas, melhorias do sistema de tiro e outras que sempre foram problemas nos jogos anteriores. Mesmo assim temos algumas falhas que começam a ser inadmissíveis, como a total falta de ajuste na zona morta do controle no ato de mirar, seja no ADS ou livre.
Por fim, o jogo continua se baseando no erro de faltar com conteúdo suficiente para manter uma comunidade presa no pós jogo. A única variação de verdade é a dificuldade overkill e a tentativa dos jogadores de tentarem completar as missões nesse nível de forma rápida e sorrateira, já que qualquer tentativa de combate deixa de existir aqui.
PAYDAY 3 paga pela falta de inovação na franquia e se torna um título obsoleto na própria fórmula usada antes. A falta de criatividade e uma execução medíocre, junto com os problemas de conexão e/ou necessidade permanente de conexão que atrapalharam nessas primeiras semanas transformam o lançamento do jogo como o pior de toda a franquia. Obviamente melhores devem vir com o tempo, mas talvez não seja o suficiente para reparar o estrago já feito.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela PLAION.
Veredito
Pobremente executado, sem criatividade, com progresso restrito e diversão fundamentada apenas pelo cooperativo, PAYDAY 3 é uma difícil recomendação mesmo para os fãs da franquia.
PAYDAY 3
Fabricante: Starbreeze
Plataforma: PS5
Gênero: Tiro em Primeira Pessoa (FPS)
Distribuidora: PLAION
Lançamento: 21/09/2023
Dublado: Não
Legendado: Sim
Troféus: Sim (inclusive Platina)
Veredict
Poorly executed, uncreative, with restricted progress and co-op being the only reason for its fun, PAYDAY 3 is a difficult recommendation even for fans of the franchise.