RPG. Muito provavelmente quando você escuta este termo nomes como Final Fantasy, Persona, World of Warcraft, Dragon Quest ou até mesmo Ragnarok Online devem vir a sua mente. Mas o gênero Role-Playing Game (em português algo como jogo de interpretação de papeis ou jogo de representação) vai muito além de apenas jogos eletrônicos. Para muitos não há nada como um bom e velho RPG de mesa, aquele original de papel e caneta.
Mesmo que você nunca tenha se aventurado neste modelo de jogo totalmente imaginativo ou nem saiba o que seja um d20 (dado de 20 lados), é bem provável que já tenha ouvido falar ao menos de Dungeon and Dragons, o famoso D&D. Com sua primeira versão lançada em 1974, é o grande pai do gênero, e já possui diversas atualizações, novas edições e outras séries derivativas, como Pathfinder, que teve sua primeira edição para RPG de mesa lançada em 2009.
Enquanto isso, Pathfinder: Kingmaker teve seu lançamento original para PCs em 2018 e buscava trazer para o gênero de RPGs Eletrônicos toda a essência e jogabilidade que um RPG de mesa possui, em especial pelo seu tipo de narrativa e de todo um mecanismo baseado em jogada de dados, ou melhor, de um d20. O título seguiu com diversas expansões, até que agora em 2020 foi lançado sua Definitive Edition para os Consoles, englobando este conteúdo já existente nos PCs junto com algumas novas funcionalidades.
A imersão para um RPG de mesa é tanta que toda a criação do personagem remete completamente a sua “ficha”. Há dezenas de classes disponíveis para escolha, desde as conhecidas como Fighter ou Cleric e até algo mais diferente, como o Kineticist, que tem seu poder vindo através de energias elementais. Além disso, é preciso distribuir muito bem seus atributos e habilidade para que os mesmos façam sentido com sua classe, ou seja, se seu mago tiver apenas força a situação pode ficar complicada. É preciso ler todas as descrições com muita calma, e as vezes até mesmo mais de uma vez, já que para um jogador novato neste estilo de “RPG puro” muitos termos podem soar confusos e difíceis de se entender.
E se você já se assustou com tanto trabalho apenas para criar um personagem e não está querendo jogar uma nova versão de The Sims, pode ficar calmo! Existem alguns personagens pré prontos bem funcionais que você pode iniciar sua jornada com eles. Ao subir de nível também existe uma opção de automatizar onde seus pontos serão alocados de uma forma que otimize a classe escolhida, mas atenção: Caso em algum momento você queira fazer as escolhas de forma manual não haverá opção para retornar para o estilo automático.
Personagem criado? Hora de iniciar a aventura. Pathfinder: Kingmaker começa sua história com um grupo de pessoas que são recrutadas para derrotar o Stag Lord, grande líder dos bandidos da região das Stolen Lands. Pode parecer algo simples de um clichê “jornada do herói”, mas este plot em si não ocupa nem 20% de suas possíveis 150 horas jogando a campanha principal. Só nesta primeira parte, por exemplo, diversas side-quests vão surgindo que acabam complementando de alguma forma o plot principal ou até mesmo fazem você conhecer melhor parte de sua equipe. Sem querer dar qualquer spoiler, tudo é muito bem construído e não tenho o que reclamar de como ocorre o desenvolvimento do que é contado.
E por falar em história, não espere por nada raso. Para fazer valer o nome de RPG, grande parte do que é contado você deverá imaginar. A sensação é de como se você estivesse lendo um livro, onde durante uma fala do personagem existem pequenas pausas para descrever as reações de alguém ou alguma ação que está acontecendo no momento. Tudo é narrado ou descrito e poucas situações acontecem de fato em uma “cena”. Não há um verdadeiro tutorial sobre alguns termos específicos do jogo e a grande maioria é inserida para o jogador como se ele já conhecesse todos os conceitos. Como é possível ver na imagem acima, existem algumas palavras em verde que podem ser consultadas em um glossário durante a própria conversa.
Um outro grande problema em precisar ler muitas coisas para montar seu personagem e também para o entendimento da história é o fato de Pathfinder: Kingmaker não ter tradução para o Português. Além do mais, por se tratar de um jogo com a temática “medieval”, os termos utilizados não são sempre os mais simples, fazendo com que qualquer um que não tenha uma boa fluência em inglês também se perca. Para um título deste gênero e com a densidade de leitura e interpretação que precisam ser feitos, a falta do entendimento do idioma faz com que a experiência do jogo não seja nem 10% do esperado. Mas uma coisa preciso concordar: a dublagem em inglês é maravilhosa.
O título também não é nem um pouco fácil. Por já ter um conhecimento prévio em RPGs de mesa e dos modelos D&D, d20 e Pathfinder, me arrisquei na dificuldade Challenging (grau 4 de 6). Grande erro, morri antes mesmo de terminar o prólogo do jogo, no castelo. Há um excesso de botões e informações que você precisa dominar para sair vivo de qualquer batalha. Um personagem com equipamento e/ou atributo errado irá dificultar sua chance na rolagem de dados e provavelmente seu ataque irá errar e/ou causar um total de 0 pontos de vida no inimigo. Logo em seguida comecei novamente no modo normal e consegui avançar um pouco mais.
Isso me lembra um momento específico do jogo, quando estava explorando uma caverna qualquer e apareceu um conjunto de pequenas aranhas, junto com um pequeno pop up explicando que era um monstro do tipo horda e eu deveria usar tipos certos de magias ou até mesmo uma tocha para conseguir matá-los. Cheguei na tela de game over umas cinco vezes, pois simplesmente não conseguia derrotar dois simples grupos de aranhas, mesmo utilizando tochas e abusando de magias. Novamente, são muitas variações e “poréns” para cada situação, o que dificulta ainda mais o game. No fim, fui obrigado a colocar no modo mais fácil possível para conseguir avançar na história.
As batalhas acontecem por padrão em um formato em tempo real, com ataques semiautomáticos, onde em confrontos simples é possível largar o controle e deixar que seu grupo finalize os inimigos sozinhos, enquanto em outros será necessário escolher um personagem para utilizar uma habilidade ou magia específica. Mudar de personagem e escolher uma ação acaba sendo uma verdadeira dor de cabeça, por não ser algo prático. Praticamente qualquer botão que você aperte abre um submenu. Apesar de existir um botão de action bar, não há um conjunto de botões para utilizar algum comando de forma rápida (atalhos para ações).
Como uma novidade para esta versão, existe também um formato de batalhas entre turnos, que teoricamente é para deixar o jogo um pouco mais estratégico, mas no fim acaba sendo só algo que aumenta ainda o processo de decisão de golpes na luta. Apesar de preferir este formato, acabei optando por utilizar na maior parte do tempo o formato “ativo” pois é menos desgastante.
A experiência com o HUD e os menus gerais também não são bons e a maior parte do tempo você tenta evitá-los. Entendo que é muita informação que o jogo possui e você precisa de alguma forma ter acesso a elas, mas claramente a adaptação para consoles não foi feita da melhor maneira. Acredito que grande partes destes problemas não aconteçam em sua edição original no PC, já que com a utilização de teclado e mouse é possível acessar qualquer local de maneira mais prática.
Dos diversos conceitos e outros sistema que Pathfinder: Kingmaker possui, gostaria de citar mais alguns: o tipo de armadura escolhida, que afeta diretamente todos seus outros status, não somente a defesa; O sistema de tempo, que deixa seu personagem cansado, dando uma penalidade para qualquer ação, te obrigando a montar um acampamento e dormir; e também a administração do reino, que é liberada após alguns eventos no jogo, onde você basicamente precisa tomar conta de seu reino, algo que além de exigir muito do seu tempo pode ser frustrante de tão desgastante que é. A qualquer momento você pode ser obrigado a resolver um evento, mesmo estando dentro de uma dungeon. Felizmente você consegue desabilitar no menu de opções todo este modo e deixar no automático, podendo se preocupar somente em explorar o mundo.
E já que falamos em explorar o mundo, para finalizar preciso deixar minhas palavras de o quão cansativo é isto. Os cenários são relativamente pequenos e sempre que você troca entre o mapa do mundo e algum local, há uma tela de loading interminável. Um minuto em um um cenário com pouco a se explorar e em seguida mais 30 segundos de carregamento. Com um mapa-múndi imenso a ser explorado, a experiência é tão exaustiva, principalmente já que estamos falando de um título de mais de 150h jogáveis somente em sua aventura principal, que você passa a torcer para não encontrar lutas aleatórias no mapa e que todas as suas missões aconteçam no mesmo local.
Jogo analisado no PS4 Pro com código fornecido pela Deep Silver.
Veredito
Pathfinder: Kingmaker é uma representação fiel de uma experiência de RPG de mesa, com todas as variáveis e sistemas que seu original já possuía, além de uma criação de personagem completa e detalhista. Apesar disso parecer algo bom, o título não é recomendado para qualquer tipo de jogador, que pode acabar tendo uma experiência extremamente exaustiva por conta de sua dificuldade elevada, conceitos complexos, história extensa e loadings intermináveis.
Veredict
Pathfinder: Kingmaker is a faithful representation of a pen and paper RPG experience, with all the variables and systems that the original already had, as well as a complete and detailed character creation. Although this sounds like a good thing, this game is not recommended for any type of player, who can end up having an extremely exhausting experience due to its high difficulty, complex concepts, extensive history and endless loading screens.