A vida em grandes centros urbanos oferece muitas comodidades e prestação de serviços que facilitam a rotina e permitem que o desenvolvimento humano seja mais intenso e acelerado do que em outras regiões. Entretanto, a qualidade de vida também é drasticamente afetada e problemas como stress e alta quantidade de ruídos se tornam um desafio para os moradores que, no aglomerado de gente, buscam um pouco de tranquilidade em meio ao caos formado.
A proposta de Party Hard 2 alinha-se ao estilo de vida urbano mais precisamente ao grupo de pessoas que gostam de uma boa noite de festa com música alta, bebidas e toda a sorte de encontros. Indiferentes à lei do silêncio que prevê que os cidadãos devem respeitar o período de descanso da maioria dos trabalhadores, os baladeiros de plantão consideram somente a diversão desenfreada e não se importam com quem está querendo relaxar. O que estas pessoas não sabem é que a festa que tanto alegra e diverte pode acordar um serial killer na quadra ao lado que veste uma máscara para se esconder entre os demais e realizar seus ataques brutais.
Misturando elementos de stealth e estratégia, essa a produção indie reúne o melhor da arte do assassinato regados ao humor negro para criar uma experiência de gameplay genuína e com muita identidade fazendo do título um game particular e divertido. Os elementos técnicos são bem ajustado ao ritmo do jogo e oferecem respostas rápidas e precisas que podem gerar uma atividade assassina discreta ou pode pôr tudo a perder encerrando os planos do serial killer que só deseja um merecido descanso. Visual e enredo agregam qualidade ao título fazendo com que o jogador queira estar na pele do personagem para descobrir o que ainda está por vir.
Party Hard 2 é um tipo de jogo eletrônico que tem por objetivo agradar os jogadores de diferentes formas. Desde um visual que mescla a técnica de anime para as cutscenes e o pixel art para as fases, todo o game traz elementos interessantes que juntos criam o fator “replay” de maneira eficiente. Isso significa afirmar que, esteja o jogador elaborando o melhor plano de assassinato ou descobrindo o desfecho de personagens malucos, todas as estruturas estão bem combinadas para entregar uma diversão ácida que sempre busca surpreender.
Em termos visuais, o título aposta em uma arte de alta qualidade oferecendo momentos distintos para cada etapa de jogo. Por conta das inúmeras festas que o killer quer arruinar, os ambientes são essencialmente noturnos e possuem iluminação artificial principalmente das luzes exageradas usadas em eventos. Neste sentido, as cores e formas são destacadas pontualmente mostrando detalhes de cada local em que se entra gerando um mapa que transmite a sensação dos ambientes fechados típicos das baladas. A arte de montar um jogo quase pixel a pixel é desenvolvida com maestria criando uma oscilação interessante entre os elementos do cenário. Enquanto os espaços contam com mais definição visual e texturas com mais resolução, os personagens, sejam vítimas ou assassinos, trazem um aspecto mais quadriculado entregando toda a identidade desse tipo de arte conceitual. Essa mistura de cores e formas cria a imersão e definem a situação vivida pelos protagonistas fazendo do game um título com gráficos marcantes que, mesmo utilizando técnicas já conhecidas, consegue ser cativante a sua própria maneira.
Saguões com grandes caixas de som, lobbies, banheiros, lounges e mezaninos são parte da arquitetura de todas as fases com pequenas alterações dependendo do contexto e sempre estão lotados de gente de todo o tipo. Traficantes de drogas, motoqueiros arruaceiros, estudantes, policiais e capangas do crime são uma presença constante e serão os alvos que devem ser eliminados discretamente.
Entre uma brutalidade e outra, a história de uma pessoa aparentemente normal é contada pela arte do anime de forma consistente. Se o enredo fosse divido em episódios como um desenho animado, Party Hard 2 poderia convencer como um anime promissor se fosse lançado neste formato. Mesmo que os protagonistas sejam pessoas que causam violência em grande escala, as cenas mostradas fazem com que o jogador crie uma certa empatia pelo personagem que controla uma vez que existem motivos particulares para que esses cidadãos ajam como tal.
A rotina de um serial killer começa como a de qualquer outra pessoa: o despertador toca ainda bem cedo, o dia começa com uma xícara de café e comprimidos do tratamento psiquiátrico que evitam os surtos. Em sequência, ele enfrenta um metrô cheio de passageiros para chegar ao trabalho e lá desenvolve a atividade mais entediante em uma linha de produção. Solitário e sem família, tudo que este cidadão quer é descansar depois um dia exaustivo, mas os vizinhos festeiros insistem no barulho. O jeito é eliminá-los.
Toda essa dramatização da vida de um assassino só é convincente porque o conceito artístico original permite integração entre história e personagem que são mostrados na tela de forma interessante.
Se as festas incomodam os misteriosos assassinos à solta, parte do incômodo vem do alto volume das músicas que embalam os festeiros todas as noites. As batidas eletrônicas são sempre as favoritas por serem animadas e manterem a energia regada à bebidas e substâncias ilícitas. Em Party Hard 2 a trilha sonora é caprichada e reproduz com fidelidade o toque dos DJs que ficam na mente mesmo depois de estar em um ambiente silencioso.
Durante a execução dos ritmos quentes da música eletrônica, é possível se sentir parte de uma festa badalada e facilmente entrar no clima fazendo com que somente os incomodados fiquem irritados com a sonoridade. Nos diversos locais onde as fases acontecem sempre há a mesa de som onde o jogador pode trocar para a próxima faixa à vontade curtindo uma trilha sonora de qualidade. Ao percorrer os diversos ambientes, a música sofre alteração. Quando o personagem está no banheiro ou em um lugar mais afastado dos amplificadores, o volume da música é mais baixo e abafado simulando a acústica de lugares como bares e clubes. Aqueles mais interessados em trilhas sonoras poderão encontrá-las disponíveis nas plataformas digitais como Steam e Spotify podendo ser utilizadas em festas reais com muita propriedade.Apesar de animada e convidativa, as faixas musicais inéditas do game são mostradas conforme se progride e são em um número relativamente pequeno sendo repetida diversas vezes ao longo do jogo.
Com as luzes de neon brilhando e os DJs preparados para tocarem a noite toda, a festa está pronta para acontecer até os primeiros raios de sol, porém para muitas pessoas será sua última diversão antes de uma apunhalada pelas costas.
A jogabilidade de Party Hard 2 é um dos elementos que mais se destacam pela rapidez e simplicidade dos comandos que, se estiverem de acordo com o stealth e a estratégia, contribuem para que a proposta de comandar assassinatos seja eficiente e divertida ao mesmo tempo. Andar pelas pessoas disfarçado, montar armadilhas com elementos do cenário, enganar convidados com bebidas ou drogas e eliminá-las na surdina pode ser interpretada como uma divertida referência ao jogo Hitman que utiliza dessa mesma mecânica para os alvos. Vale destacar que o “feeling” de perseguir uma vítima e aguardar para conferir se uma ideia de execução deu certo ou não é o mesmo do jogo do agente 47, mas em um contexto menos sério e mais escrachado.
A adaptação aos controles e toda a mecânica de jogo acontece progressivamente conforme o jogador experimenta possibilidades e testa elementos disponíveis. Em cada uma das fases, há um certo grupo de alvos a serem eliminados ou outros objetivos que podem ser cumpridos. Em qualquer caso, pessoas deverão ser silenciadas de forma discreta, pois estar em meio à luz ou perto de um único integrante da festa é o suficiente para arruinar os planos do personagem.
Quatro protagonistas são disponibilizados e cada um conta com uma habilidade característica especial que vai desde visão da festa até mais energia para correr e fugir de inimigos como a polícia. Dessa forma, é interessante selecionar o personagem que mais atende as necessidades de quem joga como forma de ser possível elaborar o melhor plano de eliminação. Os ataques mortais devem ser realizados no momento certo quando a pessoa está longe da visão dos outros e pode ser eliminada e escondida maiores sem problemas. Entretanto, se qualquer pessoa perceber os atos violentos, correrá para avisar a polícia que é o inimigo mais implacável do jogo e vai encerrar a partida prendendo o assassino.
Planejar estratégias para acabar com a festa dos baladeiros demanda organização e administração dos itens que são coletados pelas fases e que abrirão possibilidades de ataques efetivos. A jogabilidade e resposta dos comandos funcionam a favor do jogador entregando movimentos rápidos que se refletem tanto nos golpes mortais quanto na utilização dos diversos produtos.
Chegar até os alvos pode ser uma tarefa complicada se os recursos disponibilizados não forem aproveitados fazendo com que uma partida se estenda por mais tempo do que necessário. Considerando que cada cenário exigirá uma média de vinte minutos para finalização, não entender o uso dos recursos pode fazer com que o jogo não avance.
Bebidas, remédios, preservativos, armas de choque e uma série de itens serão os aliados na busca pelo silêncio e tranquilidade podendo ser utilizados de diversas formas dependendo da necessidade de acesso a determinadas áreas. Desde embriagar uma pessoa com bebida regular ou deixá-la alucinada com compostos de nome “bebida louca” até oferecer um encontro casual, o objetivo é atrair o alvo até um lugar seguro para executar o golpe final. Para isso, vale testar todas as possibilidades como misturar álcool com drogas, preparar molotovs, incendiar espaços públicos, quebrar objetos e induzir explosões, tudo para criar situações atípicas que vão permitir ao assassino cumprir sua empreitada.
Os comandos respondem bem a todas essas intervenções prezando pela rapidez uma vez que uma oportunidade de atacar um alvo pode desaparecer em segundos sendo necessário elaborar uma nova investida. Atacar com a faca ou com o chute aniquila imediatamente a vítima, o que contribui para que o personagem fuja do local ou esconda o corpo. Se realizado com cautela e precisão, nenhum dos presentes na festa notarão o ocorrido e a missão continua. No entanto, uma jogada equivocada, um arremesso mal executado ou um golpe antecipado faz com que todo o progresso conquistado se perca sendo necessário reiniciar.
Com um gameplay fortemente amparado na estratégia, Party Hard 2 diverte pelo fato de fazer com que os jogadores pensem em como vão eliminar alvos em potenciais ou simplesmente matar todos os presentes. A tarefa de pensar em como chegar até um ponto do mapa ou entender qual é o melhor item para criar uma situação favorável é proveitosa, mas pode ser um elemento negativo quando as repetições se tornam uma constante. Isso acontece por conta de um sistema aleatório de ações dos elementos da fase que sempre vão exigir uma ação diferente.
Em uma partida, todos os alvos podem estar a seu favor se reunindo em uma mesma sala onde é possível, por exemplo, explodir as caixas de som e eliminá-los de uma vez. Se por algum motivo uma ação policial acontece ou o personagem morre, a configuração dos alvos e eventos se alteram e o planejamento de antes não irá funcionar novamente. Isso significa dizer que não existe estratégias pré-definidas no jogo e o sucesso de uma missão virá com boa percepção dos elementos da jogabilidade e também com um pouco de sorte que poderá fazer a diferença em fases mais difíceis. Dessa forma, o título pede paciência e calma tal qual um assassino em série quase como se o jogador devesse sentir a situação compreendendo como funciona sua mente e usando os ataques nos momentos certos garantindo a sobrevivência para futuros alvos.
Apesar de trabalhar com um tema agressivo, Party Hard 2 dosa a violência com humor ácido e situações exageradas que parecem mais cômicas do que brutais que vai fazer o jogador ficar pensando em possibilidades mesmo quando não estiver com o controle em mãos. Acompanhar a vida de um serial killer se torna uma tarefa interessante uma vez que, ao controlá-lo, é quase impossível sentir raiva ou apatia por pessoas que têm seus próprios motivos para querer um pouco de silêncio e uma noite de sono.
Jogo analisado no PS4 Pro com código fornecido pela tinyBuild Games.
Veredito
Reunindo o melhor entre a estratégia e a furtividade, Party Hard 2 é um jogo que diverte ao trazer a realidade de assassinos em séries que não querem ser importunados por vizinhos barulhentos. Com visual, trilha sonora e comandos bem alinhados, o título marca sua própria identidade promovendo uma experiência intrigante e viciante amparados em humor característico que é a chave para seu sucesso.
Veredict
Bringing together the best between strategy and stealth, Party Hard 2 is a game that brings fun to the reality of serial killers that don’t want to be harassed by noisy neighbors. With visuals, soundtrack and well-aligned gameplay, the title marks its own identity promoting an intriguing and addictive experience supported by characteristic humor that is the key to its success.