Outriders – Review

Usando uma expressão clássica do nosso país, comecemos da seguinte forma: não durma no ponto com Outriders! O título desenvolvido pelo estúdio polonês People Can Fly, de Gear of War: Judgment e Bulletstorm, é mais uma aposta no enorme mercado de jogos com loot, caso seja possível definir assim para uma abrangência muito maior. Similar a tipos como Borderlands, Diablo, Destiny, The Division e outros, Outriders é um dos jogos do gênero que, já na sua primeira entrada e diferente de vários, acerta em praticamente todos os pontos necessários.

Publicado pela Square Enix, que talvez reforça agora o empenho em publicar mais jogos do tipo após Marvel’s Avengers, Outriders é uma mistura de RPG de ação, com combate em terceira pessoa de ritmo acelerado e tendo forte apelo no sistema de loot. Recebido com ressalvas de vários jogadores, que vem mostrando descontentamento constante com jogos assim, vide Anthem, Godfall e até mesmo Avengers, o jogo acaba se destacando como um título bem completo em vários fundamentos, sem microtransações e respeitando o tempo e investimento do jogador.

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A história de Outriders começa com um pé na ficção científica de forma mais séria e logo depois acaba jogando tudo isso para o alto. A primeira hora pode ser lenta e desinteressante, mas basta o jogador entrar no universo do jogo para essa visão mudar. Seguindo uma equipe de expedição que deixou a Terra graças ao fim do planeta e fazendo parte de um grupo militar denominado Outrider, o jogador é mais um membro de desbravamento que desce em Enoch, uma provável nova casa para a raça humana. Com eventos inesperados, Enoch não se mostra tão receptivo e misteriosas anomalias climáticas coloca todos em perigo. O jogador consegue escapar da morte, mas entra em sono criogênico por mais de 30 anos, acordando depois disso e descobrindo ter sido afetado pelas anomalias, conseguindo novos poderes e se tornando agora um divergente.

A trajetória do seu outrider é ir atrás de uma última esperança e que poderia trazer alguma chance da raça humana sobreviver em Enoch. Os 30 anos que se passaram mostraram o pior da humanidade, criando conflitos, disputas e mais. Conseguir os últimos recursos da nave que trouxe os humanos ao planeta é a jornada até o fim da campanha, que irá apresentar outras tramas menores e mais personagens.

Por mais clichê que possa ser, a história acaba se tornando interessante com o passar do tempo e principalmente com os mistérios que surgem. Nada é excepcional, mas é o suficiente para garantir a atenção do jogador e surpreender o mesmo em vários momentos. Acredite, a narrativa mais simples e com nível de filme de baixo orçamento ainda vai garantir alguns bons sustos e risadas, principalmente com momentos impossíveis de prever e que jamais apareceriam numa narrativa tradicional.

De toda forma, a história nesse tipo de jogo é quase sempre secundária. O interesse maior é sempre em ter um combate divertido e um sistema de evolução satisfatório. Aqui é o maior acerto do jogo, principalmente no combate diversificado e com gameplay interessante. As 4 classes disponíveis são extremamente variadas, desde as habilidades disponíveis ao sistema de recuperação de vida, que é único para cada uma. Além disso, o combate com armas e modificadores, árvores de habilidades diferentes e mais variações garante um loop de gameplay extremamente agradável. Criar builds é algo que se torna divertido aqui, podendo com cada classe montar um tanque, especialista em habilidades ou armas, podendo mesclar cada uma a qualquer momento.

Outriders deixa claro desde o início que o jogador tem o poder para jogar como quiser. Junte a isso o sistema de loot generoso e funcional desde o início. Modificadores de equipamentos são efetivos de imediato e, quando necessário, o jogador já tem a possibilidade de mudar qualquer item de forma que tenha mais sinergia com seu jeito de jogar. Aqui não é necessário ficar sempre preso ao sistema aleatório e cair em farms de dezenas de horas apenas para um item satisfatório. Isso é ainda mais notável no endgame e nas Expedições, atividade final do jogo, quando itens corriqueiros já podem ser úteis em combinações diferentes. Amantes de números e estatísticas, que vão procurar o DPS perfeito ou a melhor defesa, irão se sentir num ambiente adequado para isso.

Algo que funciona em Outriders mas se mostra sem muita variação com o tempo são atividades. Desde missões da história ou missões principais, a estrutura é quase sempre a mesma, tendo que avançar pelos mapas, eliminar inimigos para então alcançar um objetivo, que pode ser um chefe, um item ou até chegar em outro caminho. Principalmente na parte final da história, essa falta de variedade fica notável. Porém, concluir 100% da campanha principal e atividades secundárias não se torna algo cansativo, mesmo com pouca variedade. O intuito do jogo é sempre colocar o jogador em situação de enfrentar inimigos para colher recompensas de um duelo superado e, convenhamos, é o que todo jogo do tipo faz. Aos que forem investir horas e horas no endgame, as Expedições conseguem variar isso mais e trazer desafios diferentes e recompensas ainda maiores, porém precisarão ser expandidas no futuro ou o jogo receber mais atividades para o jogo não se tornar repetitivo muito rápido.

O que também ajuda essas atividades a sempre ficarem interessantes é a inteligência artificial dos inimigos. Todos são sempre agressivos e vão agir de forma tática. Há sempre os lunáticos que vão correr para cima do jogador, assim como também os que irão apelar para habilidades ou ataques a distância. Inclusive, a forma como isso interfere no combate muda até a o funcionamento de alguns aspectos. Por exemplo, o sistema de cobertura no jogo serve muito mais para os inimigos do que para o jogador, já que o combate para frente, abusando de habilidades acaba sendo mais recompensador. Caso você tente jogar Outriders de forma tradicional, usando em excesso cobertura, pode estar jogando de uma forma que não seja a melhor.

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O sistema de níveis de mundo também colabora para a variação de gameplay. Níveis maiores garantem inimigos mais difíceis e recompensas melhores, mas esteja preparado para avançar em cada nível. Não estar preparado o suficiente e com equipamentos melhores irá colocar o jogador contra inimigos mais impiedosos e começar a enfrentar os chamados “esponjas de bala”, com excesso de vida. A escala acontece de forma natural e é normal ter que se ajustar às vezes para se encaixar melhor com o combate e não tentar forçar o avanço fora do tempo.

De forma geral, quanto aos princípios de um jogo baseado em loot, Outriders sai muito bem. O gameplay é divertido e interessante, nunca entediando o jogador apenas por isso. O sistema de evolução e recompensas funciona muito melhor já no início do que inúmeros jogos após meses de modificações nesse aspecto. A mistura de fantasia e ficção cria uma ambientação que sempre irá atrair o jogador a conhecer algo, mesmo que para alguns possa ficar restrito apenas aos equipamentos estranhos e nada ortodoxos. Nos aspectos principais para ser sucedido aqui, ainda que não tenhamos informações de como será o suporte futuro do jogo com novidades e mais conteúdo, Outriders já é completo desde seu lançamento, provendo tudo o que o jogador precisa e que não encontrou em diversos outros títulos lançados.

Entretanto, também como parte do estilo do jogo, é esperado algumas atualizações para melhor equilibrar as coisas. Balanceamento de armas e habilidades, ajuste em equipamentos e até melhorias no gameplay devem acontecer em breve, principalmente com o feedback da comunidade que já vem sendo positiva desde o lançamento da demo. A prática é comum e necessária, o que fará o jogo eliminar o que seria alguns pequenos problemas, como drop constante de um único tipo de equipamento, equilíbrio melhor de economia do jogo, ajuste de pistolas que estão muito poderosas atualmente ou habilidades não funcionando como deveriam. Essas atualizações vão ser constantes e servem para o balanceamento geral do jogo, porém há outros problemas que precisam ser tratados e alguns pesam negativamente aqui.

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Algo que particularmente foi incômodo durante essas primeiras 50 horas de jogo é a interface visual como um todo. Mesmo com ajustes na velocidade do cursor, por exemplo, a usabilidade não deixa de ser lenta. Além disso, ter que segurar e arrastar opções ou ainda vários submenus dão a percepção de que toda ela foi feita apenas para PC e nada adaptada para os consoles. Outros problemas precisam de ajustes além das opções que o jogador possui, como controle dos analógicos em velocidade de aceleração, atraso de comando e diminuição da zona neutra.

Como um jogo com servidores online e necessidade de estar sempre conectado, seria difícil Outriders escapar de problemas referentes a isso. A primeira semana do jogo foi repleta de desconexões, crashs e servidores instáveis, sendo bastante frustrante para a maioria dos jogadores. Lógico que essa parte técnica pode e provavelmente será melhorada em algum tempo, mas a empolgação de vários pode ter diminuído com esses eventos.

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Agora, algo realmente estranho é ver a versão do jogo para os novos consoles. No PS5 é nítido que o título funciona quase como uma versão aprimorada da retrocompatibilidade, sem qualquer uso do DualSense ou de outras características e poder do console. Isso é reforçado por decisões de design que fariam sentido nas gerações anteriores, como excesso de cenas de transição para mascarar loadings, e que continuam nos novos consoles sem razão alguma. É possível inclusive pular essas cenas e ainda ter loadings minúsculos e talvez até desnecessários, mas ainda existem. Ainda que o jogo seja visualmente agradável na Unreal Engine e faz uso do poder bruto dos consoles, como resolução maior e taxa de quadros em 60 fps, é uma pena que nenhuma versão tenha sido realmente planejada com a nova geração em mente, o que nos faz pensar que seria um projeto tecnicamente ainda melhor.

Outriders é um ótimo passo na direção certa de um gênero que só estava em decadência. Aproveitando o sucesso e resultado positivo da demo lançada anteriormente, a People Can Fly e a Square Enix lançaram um jogo que facilmente virou atrativo de inúmeros jogadores descontentes com outros títulos do tipo. Ainda há o que melhorar na parte técnica e com certeza os problemas referentes a isso serão resolvidos em breve, mas jogadores já começam a ansiar por mais e esperar pelo que virá no futuro e mais novidades para o jogo.

Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Square Enix.

Veredito

Outriders é o melhor lançamento dentre os vários looter shooters que já saíram nos últimos anos e possui grande potencial pela frente. Gameplay é o grande destaque positivo, mas ainda precisará de novidades para manter o sucesso alcançado e superar algumas falhas. Apesar dos problemas técnicos enfrentados em seu lançamento, o título é mais do que recomendado para qualquer um procurando um novo jogo de loot.

85

Outriders

Fabricante: People Can Fly

Plataforma: PS4 / PS5

Gênero: Ação / RPG / Tiro em Terceira Pessoa

Distribuidora: Square Enix

Lançamento: 01/04/2021

Dublado: Sim

Legendado: Sim

Troféus: Sim (inclusive Platina)

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Veredict

Outriders is the best release among the various looter shooters that have come out in recent years and has great potential ahead. Gameplay is the biggest highlight here, but it will need more content to maintain the success achieved and overcome some flaws. Despite the technical problems faced at its launch, the title is more than recommended for anyone looking for a new loot game.


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