Confesso que, antes de jogar Numantia, acreditava ter um vasto conhecimento sobre os conflitos que envolveram o antigo império romano durante sua jornada de expansão pelo continente europeu. Entretanto, para a minha grande surpresa, fui apresentado à cidade de Numância, que possui uma das histórias reais mais incríveis de resistência contra a expansão de Roma. Tal acontecimento serve como palco para o jogo que, assim como este grande evento, corria o risco de passar desapercebido pelos olhos de muitos; felizmente, o rumo de Numância pode ter sido alterado desta vez.
Numantia é um Jogo de RPG tático, baseado em turnos, que se passa em 143 A.C., durante a eclosão das guerras Celtiberas (conflitos entre Roma e os povos da atual região da Espanha). Neste período cheio de numerosos embates, temos como ápice o Cerco de Numância. Para os que têm conhecimento, Numância foi uma cidade da Penísula Ibérica que resistia duramente ao avanço das tropas romanas, lideradas naquela época por Cipião, general e cônsul de Roma. Após diversas batalhas, com perdas para todos os envolvidos no conflito, Cipião resolveu construir um grande muro ao redor de Numância, com o objetivo de impedir a entrada de água e alimentos na cidade e forçar sua rendição. Com isso transcorreram-se 11 longos meses de resistência do povo numantiano, que ficou marcado como um símbolo de combate à opressão.
Inicialmente o jogo oferece a opção de escolher entre duas campanhas, com focos distintos nos dois lados que protagonizaram o evento: Roma e Numância. Na campanha de Numância, acompanhamos Rethogenes e Megara, dois jovens de origem nobre, e sua transformação em grandes guerreiros que comandarão as tropas numantianas no cerco feito por Roma. Do lado romano, acompanhamos Cipião, buscando formas de conquistar o território pertencente a Numância.
Cada campanha possui um final único e conta com diversos eventos diferentes, o que torna o passeio por elas um atrativo para os amantes do gênero de RPG tático, rendendo de 25 a 40 horas de jogo. Entretanto apesar de possuir um enredo com base em fatos reais, a história, da maneira como evolui no game, é pobre e tediosa em diversos momentos, além de ter personagens centrais que não possuem carisma e são pouco desenvolvidos durante sua progressão. Vale lembrar que o jogo não possui legendas em português, o que pode dificultar o entendimento de sua história para os não adeptos ao idioma.
Durante sua trajetória, Numantia irá se comportar como os jogos da série The Banner Saga, em que o jogador terá uma visão de pontos importantes de sua Cidade ou acampamento e poderá interagir com eles para realizar uma determinada gama de ações. Tais ações variam entre administrar os soldados que integram seu exército, comprar equipamentos que afetam o desempenho de suas tropas durante os conflitos e tomar decisões nos eventos que compõe a história do jogo.
Os eventos são indicados por um pequeno banner, que indica algum ponto de sua cidade. Basta selecioná-lo e será apresentada uma pequena cutscene sobre algum acontecimento que irá exigir do jogador uma tomada de decisão, podendo resultar em algo favorável ou não para sua cidade. Exemplo: “Os cidadãos de Numância estão passando fome, porém o seu estoque de alimentos é suficiente apenas para uma pequena parcela da população. Qual a sua decisão? Dar a comida ao povo ou dar a comida aos soldados que compõem o exército?”. Por mais que façam parte da história, as tomadas de decisão trazem consequências imediatas e que não tem nenhuma influência no longo prazo; elas funcionam apenas para dar alguma recompensa ou para tirar recursos do jogador, portanto, não espere se surpreender com alguma escolha no início do game semelhante aos jogos da Telltale Games.
Apesar de ter uma história rasa, o coração do jogo não esta nela, e sim nas suas longas e difíceis batalhas. Basicamente, o game é uma fusão de Armello e Banner saga neste aspecto, onde temos um imenso mapa dividido em vários pequenos hexágonos, que funcionam como as casas de um tabuleiro de xadrez. Devemos controlar nossos soldados em uma sucessão de turnos para vencer o exército inimigo. Antes de cada batalha temos a opção de escolher quantos e quais tipos de tropa desejamos levar para o combate, além de definir o seu posicionamento inicial. Por mais demorado que seja, é essencial pensar muito nestes aspectos pois irão ser decisivos para uma estratégia bem sucedida no combate.
Cada unidade, em sua respectiva fase de ação, pode executar dois movimentos: se locomover por um determinado número de espaços no mapa e, se houver possibilidade, atacar alguma unidade inimiga. Movendo-se para uma nova casa, é necessário escolher para qual direção a unidade irá permanecer, pois caso ela seja atacada pelos flancos ou retaguarda, receberá dano extra.
Como forma de tornar as batalhas mais intensas e realistas, Numantia ainda conta com um sistema de moral, que pode oferecer bônus de ataque ou evasão a uma unidade, com base em sua posição no mapa em relação às tropas aliadas ou inimigas. Um exemplo disto em prática pode ser visto quando utilizamos nossas tropas para cercar um grupo de guerreiros inimigo. Estes irão ficar desmotivados, aumentando o dano infligido e reduzindo a chance de que ataquem efetivamente. Caso os eliminemos, as tropas aliadas próximas irão se motivar ficando mais fortes durante o confronto.
A inteligência artificial de Numantia é muito cruel para quem não está familiarizado com este gênero de jogo e consegue ser bastante desafiadora na maior parte do tempo. Ela desenvolve suas próprias estratégias com base nos soldados que está controlando, além de atacar as unidades mais relevantes do exército do jogador para vencê-lo. É necessária bastante paciência antes de realizar qualquer movimento, pois qualquer deslize pode sair caro ao jogador, uma vez que, assim como em X-COM, a morte de uma unidade em combate é permanente.
Para formar nosso exército, é necessário dispor cerca de 5 classes de combatentes, que podem ser divididas em 3 subclasses. Temos, por exemplo, infantaria, cavalaria, artilharia, unidades especiais e heróis. A infantaria conta com soldados especializados em combate corporal e com grande resistência à dano; a cavalaria é composta de unidades montadas a cavalos, possuem vitalidade e dano em equilibrio e bastante mobilidade; na artilharia encontramos guerreiros focados em infligir grandes danos à distância, porém bastante frágeis; as unidades especiais abrangem autômatos como balistas e catapultas; finalmente, temos os heróis, que são poderosas unidades que podem mudar o rumo do conflito a qualquer instante. Cada uma destas classes pode ser melhorada por meio de upgrades ao longo do jogo, que concedem novas habilidades para serem usadas em combate. Existe ainda um limite para a quantidade de unidades de cada classe que você pode levar para o combate, o que força o jogador a variar constantemente seu exército.
A direção de arte do jogo utilizou modelos de personagens bastante simples e não apresenta uma grande quantidade de detalhes em cada um. Os cenários, por sua vez, não apresentam quase nenhum diferencial entre eles, com exceção da iluminação, e são bastante pobres em detalhes. Esta falta de atenção para com o cenário pode quebrar o interesse do jogador ao longo do jogo, já que quase sempre estará batalhando em ambientes muito parecidos. Os eventos de história são contados por meio de cutscenes animadas em 2D que, apesar de serem muito simples em relação àquelas vistas em The Banner Saga, cumprem bem o seu papel. A trilha sonora do jogo e seus efeitos são muito comuns, compostas de um pequeno conjunto de músicas e sons reproduzidos em poucas e seletas ocasiões.
Em relação a problemas técnicos, é necessário apontar a longa duração das telas de loading entre os eventos que acontecem no game; outro fator que incomoda bastante é a lentidão da velocidade do cursor durante as batalhas, o que dificulta a seleção e organização de suas unidades, acabando por atrasar a dinâmica dos conflitos; a tela de save e loading é a mesma e, caso o jogador não preste atenção no botões que está pressionando, pode vir a perder progresso sem querer. Por fim é impossível selecionar uma unidade inimiga e ver seus atributos, o que impede a criação de melhores táticas defensivas ou ofensivas por parte do jogador e causa frustração.
Veredito
Apesar de ter uma história não tão bem explorada e problemas pequenos que podem interferir no ritmo com que é jogado, Numantia é, sem dúvida, um ótimo e viciante jogo de estratégia. Muitos jogadores gastarão horas e horas, enquanto que os mais curiosos descobrirão grandes histórias que não foram devidamente apresentadas ao mundo.
Veredito
Veredict
Despite having a not-so-well-explored story and small problems that can interfere with the pace at which it is played, Numantia is undoubtedly a great and addictive strategy game. Many players will spend hours and hours, while the more curious ones will discover great stories that have not been properly presented to the world.