Confesso que tenho preferido ideias inovadoras, tentativas audaciosas ou mundos únicos em jogos mais recentes. As novidades têm despertado meu interesse mais do que apenas o tradicional “mais do mesmo” de coisa já conhecida, ainda que estes já sejam consolidados e de qualidades. Nobody Wants to Die é um bom exemplo disso, mesmo sendo introduzido com trailers estranhos, provocava uma curiosidade inquietante da minha parte.
Num mundo onde as pessoas descobriram a imortalidade para seus corpos físicos através da tecnologia de icorita, um mecanismo aplicado ao organismo para favorecer a troca de corpos mantendo a consciência, grandes empresas com lobby governamental descobriram uma nova e extravagante forma de lucro. O negócio de corpos se tornou tendência e, mesmo para manter seus corpos de nascimento, as pessoas precisam começar a pagar por eles ou ter sua consciência removida para um grande banco de memória e ver seu corpo se tornar um produto para quem pagar mais pela melhor mercadoria.
Após séculos de uma nova economia e sociedade se movendo a base da imortalidade e com as classes mais pobre sendo esmagadas pelo sistema – qualquer semelhança é mera coincidência – era questão de tempo até que começassem a surgir as ideias de ir contra o estado atual das coisas e partir para opções mais agressivas.
Nesse contexto e ainda recheado de outros atrativos pessoais para cada personagem que vai surgir no seu caminho, James Karra, ex jogador de baseball e que mudou de profissão quando um novo corpo não renderia mais para o esporte, aparece para investigar um suposto suicídio de uma figura importante da Nova York neo-noir de Nobody Wants to Die. Integrante do time de mortandade do departamento de polícia, Karra investiga a primeira morte definitiva em décadas, que pode mostrar ser muito mais do que aparenta a princípio.
É preciso pontuar primeiramente o que é o título da Critical Hit Games. Numa espécie de aventura interativa com no estilo dos clássicos filmes de detetives investigativos, mas aqui situado no futuro, Nobody Wants to Die intensifica seu foco na criação de um universo incrível e mostra isso através de uma forte narrativa que não perde o rumo da história por um momento sequer. Quanto à jogabilidade, essa claramente não é o foco aqui e talvez possa ser o sacrifício feito para que o título se destaque naquilo em que promete entregar qualidade.
O desenvolvimento da história parte da misteriosa morte que Karra precisa investigar. Para isso, ele conta com a ajuda de Sara, sendo uma espécie de parceira em trabalho remoto procurando informações e sendo um suporte no caso. No papel do protagonista, o jogador precisa vasculhar as cenas dos crimes e locais de interesse, tomar notas e pistas que poderão resolver os mistérios que surgiram e assim chegar em alguma conclusão. Explore cada canto com ferramentas tecnológicas em busca de informações, como um raio-x e luz ultravioleta, mas também faça uso de uma tecnologia única que permite montar a cena do crime e reviver o que poderia ter acontecido ali.
De certa forma, fora os diálogos e opções que surgem e onde as escolhas do jogador vão ter impacto na trama, a jogabilidade se resume a isso. Se você é familiar com os jogos do tipo “walking simulator” e afins, imagine isso, mas com uma carga maior de interação nos cenários e decisões narrativas mais fortes para ter ideia do que é Nobody Wants to Die. A ação existente é a contextual de momentos da trama e não apenas corredores para atirar em supostos inimigos no caminho, não direcionando o jogo para uma espécie de meio termo entre a aventura interativa com mescla de ação sem muita explicação, mas sim sendo fiel a sua proposta e desenvolvimento da história.
A trama, inclusive, é a que mais recebe dedicação da desenvolvedora e justifica todos os artifícios usados para enriquecê-la. Do visual estonteante pela Unreal Engine, da ótima trilha sonora, desenvolvimento de personagens e seus vínculos com o universo criado, assim como a importância de cada um na história que se desenvolve. A forma narrativa de revelar lentamente pontos de vista de cada opção e ver isso culminando nos finais, com uma certa explicação lógica para cada um dos lados e como isso impacta a jornada de James Karra é bastante interessante.
De toda forma, se ainda temos que falar das opções de jogabilidade é que isso no jogo é bastante limitado. Ainda com todas as partes de investigações e usos de ferramentas no processo de descoberta, tudo é bastante linear e sem muitas brechas para o jogador ter opções reais aqui. Em resumo, há uma linha de descobertas que vai acontecer eventualmente independente do que o jogador encontrar, já que isso é guiado pela história. Descobrir uma pista diferente ou ler um documento escondido vai liberar uma opção ou outra de diálogo que entrega mais explicações, mas não muda a trama de forma profunda, como acontece em Heavy Rain.
Há uma linha obrigatória e a jogabilidade em si é somente para que o jogador passe por isso para que chegue a um dos dois finais principais independente do que ele fizer, com a escolha importante mesmo sendo para qual direção irá no fim. Ainda assim é recomendável jogar o título duas vezes para entender cada lado e observar o que foi dito, de cada ponto de vista ainda ter algum sentido dentro do que é proposto e, principalmente, do universo criado aqui.
Nobody Wants to Die reforça o valor da experimentação e de continuar abordando formas diferentes de fazer e entregar jogos. Se justificar por um preço mais baixo para o que é entregue acaba sendo um trunfo. Se cada jogada pode durar de 5 a 6 horas e colocarmos o jogo como uma experiência de 10 horas ao todo, entregando um ótimo enredo ainda que com jogabilidade mais restrita, o resultado final é excelente. Espero poder ver mais deste universo no futuro, mesmo que de formas diferentes, com abordagens que possam partir ainda da experimentação e entregar mais histórias ricas como a Critical Hit Games acertou aqui.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela PLAION.
Veredito
Mesmo que não seja tão abrangente em questões de jogabilidade, Nobody Wants to Die entrega uma trama rica num universo fantástico e cheio de potencial. A aventura investigativa na Nova York retrofuturista se destaca pela história excelente e personagens interessantes.
Nobody Wants to Die
Fabricante: Critical Hit Games
Plataforma: PS5
Gênero: Aventura / Interativo
Distribuidora: PLAION
Lançamento: 17/07/2024
Dublado: Não
Legendado: Sim
Troféus: Sim (inclusive Platina)
Veredict
Even though it’s not as diverse in terms of gameplay, Nobody Wants to Die delivers a rich plot in a fantastic universe full of potential. The investigative adventure in the retrofuturistic New York stands out for its excellent story and interesting characters.