Nioh

Nos últimos anos foi lançado um considerável número de jogos inspirados pela série Souls, produzida pela From Software, especialmente após o enorme sucesso comercial e crítico da série. Nioh é o primeiro título da Koei Tecmo e da Team Ninja dentro deste “gênero Souls” e, apesar de partilhar de muitos elementos com os títulos da From Software, especialmente com Bloodborne, Nioh traz muitas características únicas que o fazem se destacar dos demais jogos.

Para os que desconhecem a série Souls ou outros jogos similares, eles são reconhecidos por sua dificuldade alta, porém justa, sempre incentivando o jogador a aprender com seus erros e avançar gradativamente contra seus inúmeros desafios. A punição pela morte é uma mecânica central para essa experiência e consiste em perder temporariamente a experiência não utilizada no ponto onde o jogador morreu. É possível recuperá-la caso o jogador consiga chegar ao local em que morreu anteriormente, no entanto, caso morra novamente no percurso, aquela experiência é perdida para sempre. Isso faz com que jogadores sejam cuidadosos, especialmente após acumular muita experiência que ainda não foi utilizada.

Outros focos de jogos Souls estão no combate e exploração. O combate consiste em observar seus inimigos, descobrir suas fraquezas e abusar das mesmas para eventualmente conseguir derrotá-los e seguir em frente. O combate também é bastante punitivo, com poucos ataques sendo suficientes para derrotar jogadores. A exploração faz com que o jogador procure por diversos tesouros em um cenário, sendo que ele deve ser bastante cuidadoso com armadilhas e com o atencioso posicionamento dos inimigos.

Todos esses elementos clássicos de jogos Souls estão presentes em Nioh, mas este traz diversas mudanças à fórmula que muitos já estão acostumados. A Team Ninja é conhecida por produzir os jogos 3D da série Ninja Gaiden e pela série de jogos de luta Dead or Alive, ambas com uma jogabilidade excepcional para seus gêneros. Dessa forma, Nioh traz mecânicas de combate únicas que foram influenciadas por elas, resultando em um combate mais técnico e veloz.

Existem diversas armas em Nioh, mas elas caem em apenas cinco grupos: Katana, Katana Dupla, Machados, Lanças e Kusarigama. Cada grupo tem sua própria árvore de habilidades, que gradativamente vai liberando novos movimentos, propriedades de ataque, sistemas e por aí vai. O combate inicialmente pode parecer simples e extremamente similar aos Souls, com foco em se aproveitar dos descuidos de inimigos para desferir alguns poucos golpes, no entanto, conforme se liberam habilidades é possível realizar combos completos que matam inimigos com pouca ou nenhuma chance de reação. Esta é uma característica comum aos jogos Ninja Gaiden, cujo principal objetivo do combate é eliminar grupos de inimigos da maneira mais eficiente possível. Nioh aplica a mesma filosofia em muitos de seus combates, colocando o jogador contra grupos de inimigos, sendo que derrotá-los de maneira rápida é mais vantajoso do que uma luta longa.

Cada arma pode ser utilizada em conjunto com três posturas: alta, média e baixa. A postura alta tem ataques lentos, mas que causam mais dano. A postura baixa é ideal para ataques rápidos e com pouca força, enquanto que a postura média age como um meio termo entre ambas. Cada grupo de armas ainda tem suas características únicas que afetam como cada postura deve ser utilizada, no entanto, isso normalmente faz com que uma das posturas seja muito mais útil do que as outras duas. Essa mecânica relembra o sistema triângulo de Dead or Alive, em que uma postura tem vantagem sobre outra e desvantagem contra uma terceira.

Sendo um jogo de ação, saber utilizar a postura correta em conjunto com o cenário é importante em Nioh. Se o seu inimigo é muito pequeno, seus ataques de postura média ou alta irão provavelmente errar o alvo, fazendo com que a postura baixa seja necessária. Se você está em um corredor estreito, utilizar ataques horizontais irá resultar em ataques na parede, portanto uma postura com ataques verticais seria muito mais eficiente nessa situação (postura alta de lança, por exemplo). Esse sistema de posturas funciona melhor quando o cenário fornece alguma limitação ao jogador do que em batalhas individuais em campos abertos.

A história de Nioh acontece em 1600, no final da era Sengoku (1467-1603) da história japonesa, período com muitas guerras que resultaram na unificação do Japão como país. O protagonista William, baseado em um personagem histórico, é um irlandês que viaja ao Japão em busca de seu espírito protetor, que foi raptada por um alquimista em Londres. Uma vez em terras nipônicas, William encontra diversos personagens históricos importantes e concorda em ajudá-los na guerra que assola o Japão e nos diversos Youkais resultantes da mesma, enquanto procura por seu espírito protetor. A história por si própria é bastante desinteressante e age como um simples pano de fundo para ação, sendo que muitas das conexões históricas são mais bem explicadas por meio de um dicionário dentro do jogo.

Youkais são monstros do folclore japonês e, junto com os inimigos humanos, compõem o grupo de inimigos vistos em Nioh. Youkais e inimigos humanos têm diferentes mecânicas em relação ao combate e dominar suas características únicas é a chave para o sucesso. Inimigos humanos portam-se como o personagem principal e outros inimigos comuns em qualquer jogo do gênero: cada ação consome um pedaço da barra de energia e, quando esta se esgota, o personagem fica em um estado vulnerável. É possível recuperar a barra de energia simplesmente não se realizando nenhuma ação que a consuma por algum tempo.

Youkais, por sua vez, também têm a barra de energia, mas esta não é consumida por ações nem se regenera normalmente. Cada ataque do jogador diminui tal barra e, uma vez vulneráveis, é possível causar bastante dano para matá-los. É interessante notar que alguns Youkais têm fraquezas escondidas como atacar partes específicas de seu corpo ou desviar de seus ataques de certa maneira.  Youkais também possuem ataques que criam zonas de energia que podem recuperar a barra de energia deles, ao mesmo tempo retardando a recuperação da energia do jogador. No entanto, o jogador tem um sistema que permite dissipar essas zonas de energia e evitar que os Youkais se recuperem.

Em grande parte, os inimigos são interessantes, com uma boa variedade de ataques para surpreender o jogador. No entanto, a diversidade de inimigos é baixa para o tamanho da aventura, então são muito reutilizados em várias fases. Este é o maior problema de Nioh, pois faz com que o combate rapidamente caia em uma repetição de estratégias e ataques com situações que dificilmente surpreendem o jogador.

Nioh é dividido em missões principais e opcionais, sendo que muitas partilham dos mesmos cenários ou partes dos mesmos. A grande proeza do jogo é que cada missão, principal ou opcional, tem seu posicionamento único de inimigos e tesouros, sempre incentivando a exploração mesmo de cenários já visitados. Nenhuma fase chega a ser excessivamente longa e todas possuem vários atalhos escondidos que tornam a exploração mais rápida e fácil. Muitas também adicionam elementos diferentes ao combate, como buracos, locais pequenos, labirintos e mais. Minha única ressalva é que alguns cenários são difíceis de navegar por possuírem locais muito semelhantes dentro de uma mesma fase. Isso faz com que seja difícil se localizar em algumas partes e construir um mapa mental de cada fase.

Se você não está acostumado ao gênero Souls devido a sua dificuldade, Nioh é um bom ponto de entrada por não ser um título excessivamente difícil. Nioh também se destaca no fato de qualquer pequena ação poder contribuir para o crescimento do personagem. Por exemplo, as diversas armas e itens derrubados por inimigos ou encontrados no cenário podem ser trocados por pontos de experiência, materiais ou dinheiro. Existem diversos desses pequenos sistemas que fazem com que nenhum item seja completamente inútil e que sempre contribua para o crescimento do personagem.

Jogo analisado com cópia física obtida pelo redator.