Sempre fui uma grande fã de jogos de plataforma. Há algo de instigante e ao mesmo tempo desafiador em vencer uma fase repleta de obstáculos e inimigos. Assim cresci jogando títulos como Super Mario World, Donkey Kong Country, Crash Bandicoot, Spyro – The Dragon, Rayman e, agora mais velha, Kaze and the Wild Masks, AstroBot, entre outros. Com tantas opções nunca imaginei como seria a junção de algumas dessas franquias até ouvir falar de Nikoderiko: The Magical World. Desenvolvido pela Vea Games, o game traz exatamente essa proposta ao misturar dois grandes nomes do gênero: DKC e Crash, além de se inspirar em outros jogos de peso.
Nossa história começa quando Niko e Luna, dois mangustos, encontram um tesouro valioso, mas são surpreendidos pelo vilão Grimbald e sua trupe de cobritos. Eles roubam o tesouro e cabe aos nossos heróis recuperá-lo. Somos então apresentados ao mapa do game que conta com 7 grandes áreas, nas quais iremos conhecer diversos personagens que precisam de nossa ajuda.
Apesar de possuir uma estrutura semelhante a DKC, a história e construção de personagens de Nikoderiko bebe da fonte de Spyro, trazendo um trama leve e com o mesmo senso de humor. Niko conta com um design que flerta com o do famoso bandicoot, mas seu espírito e jeito de ser é o mesmo do dragãozinho roxo.
A quantidade de referências presente dentro do game é enorme e me arrancou diversos sorrisos enquanto passava em torno de 10 horas jogando e explorando todas as 35 fases. Elas estão presentes desde detalhes sutis como, ao coletar os mesmos vaga-lumes de Rayman Origins/Legends ouvirmos o som das bananas de DKC a até inimigos, chefes e fases completamente inspiradas pelos títulos já mencionados no começo da review.
Ainda sobre as fases, elas apresentam uma grande diversidade de biomas que vão de florestas, cavernas, praias a picos nevados e fábricas abandonadas. Tudo isso com um alto nível de detalhe e cores vibrantes. É notável o carinho dos desenvolvedores e a vontade em homenagear os títulos que os inspiraram. Isso fica evidente quando estamos fugindo de um dragão, saltando por trilhos num carrinho de minério ou, até mesmo, usando um tipo de alavanca para “acalmar” os inimigos – uma mecânica que remete à fase “Stop & Go Station” de Donkey Kong Country.
Sendo um game de plataforma, é de se esperar mecânicas típicas do gênero. Niko e Luna possuem, cada um, três corações que formam uma vida e contam com um botão para pulo que ao ser pressionado e segurado pela segunda vez, permite que o personagem use um paraglider para planar. Para derrotar os inimigos podemos fazer uso do ataque principal sendo ele uma rasteira ou da combinação de pulo mais ataque, gerando um golpe de pisão. É necessário analisar cada tipo de inimigo, pois alguns só poderão ser derrotados com um dos golpes, o que traz dinamismo para a gameplay. Ainda podemos contar com a ajuda de montarias sendo elas um sapo e morcego que lançam projéteis, um javali que sai destruindo o que vê pela frente, um cavalo marinho com um raio mortal e um dinossauro capaz de “comer” seus inimigos e transformá-los num projétil (Yoshi, é você?).
A grande maioria das fases segue a boa e velha perspectiva 2D, mas alternando em alguns momentos para o 3D tão característicos de Crash Bandicoot. Tudo isso sem perder a fluidez dos movimentos e o ritmo. Em cada fase temos uma série de coletáveis: letras que formam a palavra NIKO, duas chaves e uma gema roxa. Para encontrar as chaves é necessário descobrir os barris de bônus que levam a desafios como coletar estrelas e derrotar todos os inimigos. Até mesmo o design das telas de abertura dos bônus são semelhantes a de DKC. Durante minha jogatina consegui localizar todos os coletáveis e no geral eles não são tão difíceis de ser encontrados, alguns demandam apenas um olhar mais atento uma vez que ficam escondidos em áreas ocultas.
Os níveis de chefes também merecem um destaque especial. Cada um deles é pensado para ser único, alguns mais fáceis e outros um pouco mais desafiadores, podendo possuir mais de uma etapa até atingirmos a vitória. Um dos mais criativos envolve uma perseguição pelas minas, enquanto um outro tem fortes referências ao último chefe de Donkey Kong Country 2.
Como se toda a nostalgia despertada pelo game já não fosse o suficiente, também é possível jogar no bom e velho co-op offline. A qualquer momento podemos ativar a opção de dois jogadores e curtir aquela jogatina com os amigos. O game também conta com uma boa localização para o português deixando tudo ainda melhor.
A cereja do bolo fica por conta de David Wise, compositor das lendárias faixas de DKC, que assina a trilha sonora de Nikoderiko. Logo na primeira fase já é possível reconhecer sua assinatura musical com músicas divertidas, relaxantes e empolgantes. Não espere encontrar outra Stickerbush Symphony aqui, mas as composições não deixam nada a desejar. Elas casam perfeitamente bem com as fases e também ajudam a ditar o ritmo da gameplay.
Apesar de contar com uma gameplay fluída, Nikoderiko sofre de pequenos bugs. Alguns estão presentes na própria interface, por exemplo, ao acessar a fase dos chefes ele continua mostrando que há coletáveis a ser encontrados quando, na verdade, não há. Também tive problemas ao tentar refazer um luta de um chefe em específico. As bombas que deveriam ser trigeradas no meio da luta, não eram e, com isso, não conseguia prosseguir. Para corrigir o problema foi necessário fechar e abrir o jogo novamente. Não sei com que frequência isso poderia acontecer, mas fica o alerta.
Para os platinadores de plantão, o game demanda que alcancemos o 100%, mas, infelizmente, atingir esse valor pode ser um pouco maçante. Inicialmente imaginei que conseguir todos os coletáveis seria o suficiente. Entretanto é necessário completar a Tesouraria, uma espécie de área com artes conceituais, modelos dos bonecos e músicas. Para conseguir esses itens, Nikoderiko adota uma prática semelhante à de Donkey Kong Country: Tropical Freeze – uma loja onde podemos trocar os vaga-lumes e moedas especiais coletados nas fases por uso de montarias e baús que podem conter itens da tesouraria ou moedas. Isso não seria um grande problema se não fosse pela necessidade em farmar um dos itens de troca: garrafas que aparecem em quantidade limitada em cada fase. Em uma jogatina descompromissada consegui coletar em torno de 150 garrafas e não cheguei nem perto de completar metade da biblioteca. Como o jogo não possui um alto grau de dificuldade, acaba sendo fácil conseguir todos seus coletáveis, mas seu 100% travado em um sistema similar a um gacha obriga o jogador a refazer as fases diversas vezes, podendo ficar cansativo.
No mais, Nikoderiko: The Magical World é uma agradável surpresa no mundo dos jogos de plataforma. Suas fases são divertidas e com uma dificuldade, no geral, mediana. Um game ideal para intercalar com jogos mais longos ou apenas curtir em uma tarde de domingo, seja sozinho ou com amigos. Uma verdadeira mistura que poderia dar errado, mas que acerta em quase tudo que se propõe a fazer.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Knights Peak.
Veredito
Nikoderiko é uma verdadeira carta de amor não só a Donkey Kong Country e Crash Bandicoot, mas também ao gênero plataforma. Ao misturar os mais variados elementos presentes nesses jogos, somos agraciados com um game que traz uma experiência nostálgica e ao mesmo tempo atual. Apesar de apresentar alguns pequenos problemas e um sistema de desbloqueáveis maçante, o game é divertido e capaz de colocar um sorriso no rosto do jogador a cada referência. Um título recomendado para todos os fãs do gênero e que irá agradar tanto jogadores mais experientes quanto novatos.
Nikoderiko: The Magical World
Fabricante: VEA Games
Plataforma: PS4 / PS5
Gênero: Ação / Aventura / Plataforma
Distribuidora: Knights Peak
Lançamento: 15/10/2024
Dublado: Não
Legendado: Sim
Troféus: Sim (inclusive Platina)
Veredict
Nikoderiko is a true love letter not only to Donkey Kong Country and Crash Bandicoot, but also to the platform genre. By mixing the most varied elements present in these games, we are graced with a game that brings a nostalgic and at the same time current experience. Despite presenting some small problems and a boring unlockable system, the game is fun and capable of putting a smile on the player’s face with each reference. A title recommended for all fans of the genre and that will please both more experienced players and newcomers.