É inegável que o revival da série Doom em 2016 foi um sucesso gigantesco. Conseguindo reinventar a série e manter o seu espírito vivo ao mesmo tempo, o jogo trouxe de volta ao mainstream os “clones de Doom”, jogos de tiro mais old-school fora dos padrões estabelecidos ao longo das últimas duas décadas pelo impacto de Call of Duty nos FPS e na indústria como um todo.
Mantendo-se alinhada com a tradição, então, era de se esperar que surgisse um jogo nesse estilo baseado no universo de Warhammer, afinal, se uma coisa define os jogos recentes usando a IP, é a constante tentativa de seguir os caminhos mais populares. E é exatamente essa lacuna que Necromunda: Hired Gun tenta preencher.
O jogo é desenvolvido pela Streum On Studio, mesmo desenvolvedora responsável por Space Hulk: Deathwing em 2016, e publicado pela Focus Home Interactive. Também se passando no universo de Warhammer 40K, dessa vez o jogo é ambientado no extremamente popular mundo de Necromunda, trazendo uma ambientação bem distinta do título anterior.
Para (tentar) entregar a experiência de um jogo de tiro em primeira pessoa com “ritmo acelerado”, a desenvolvedora optou por se valer dos corredores sujos do submundo de Necromunda para te colocar no papel de um mercenário. Sua missão é desvendar uma conspiração em torno de uma poderosa gangue tentando tomar o controle do crime na área, descobrindo quem assassinou o chefe de uma das principais guildas da Underhive.
Se a comparação com Doom não foi indício suficiente, é importante frisar: Necromunda: Hired Gun é um jogo extremamente linear. Existe algumas “side quests” enfiadas em certos pontos do jogo mas, no geral, trata-se de um jogo bem focado na sua história e cujo único objetivo é te fazer atirar o máximo de inimigos possíveis ao som de uma trilha sonora acelerada.
Para fazê-lo, como já é de se esperar, você terá acesso a todo um arsenal de armas de fogo e de combate corpo-a-corpo. além disso, o título te dá acesso a habilidades como wall run, grappling hook e um dash e o seu próprio cachorro de combate que pode ser usado para mudar o rumo do combate em seu favor.
O problema é que… não existe muita razão para fazê-lo. É difícil dizer esse tipo de coisa, mas Necromunda: Hired Gun é um dos jogos mais desinteressantes e genéricos imagináveis. A história não tem absolutamente nada que te prenda ou te deixe interessado nos personagens, desperdiçando a sempre interessante ambientação que Warhammer provê com a narrativa mais genérica possível.
A busca pelo principal vilão do jogo, uma criatura misteriosa chamada Silver Talon, cuja identidade e motivação são secretas, é uma das mais insípidas narrativas possíveis. O jogo consegue entregar uma série de reviravoltas genéricas e ainda assim se perder nos plot twists que tenta fazer só pelo prazer de (tentar) pegar o jogador de surpresa.
A narrativa poderia ser essa bagunça e ainda assim não constituir um problema se o jogo como um todo entregasse algo que vale a pena. Mas, não é exatamente isso que se vê em nenhum outro ponto. Um dos primeiros sinais do que esperar talvez esteja no aspecto visual do jogo. Se passando em Underhive, a parte industrial de Necromunda, era de se esperar que o jogo fosse cinzento e com um aspecto mais “sujo”.
No entanto, mais do que em seu gameplay, é aqui que temos uma verdadeira viagem no tempo, já que até mesmo a versão nativa do PS5 passa a sensação de se estar jogando um título saído diretamente de 2008/2009, quando os jogos de PS3 tinham qualidade gráfica comparável e a mesma paleta de cores genérica e desinteressante. Junte a isso a trilha sonora que parece feita por uma banda cover de metal recém-criada e esse aspecto também deixa bastante a desejar.
O curioso é que mesmo a falta de qualidade gráfica não poderia me preparar para o quanto a performance técnica do jogo também deixa a desejar. Apesar de puxar elementos de combate de Doom e Borderlands 3, é curioso que os desenvolvedores também tenham optado por copiar os problemas de Cyberpunk 2077. Afinal, não só o jogo consegue crashar a cada missão, mas até mesmo quando você está abrindo o aplicativo no PS5, o framerate cai tanto quanto um bêbado saindo de um bar após uma intensa noite de muito alcool.
Isso ainda poderia não ser suficiente para torná-lo um jogo ruim, mas, mesmo retirando inúmeros elementos de outros jogos extremamente bem-sucedidos, o gameplay de Necromunda: Hired Gun consegue ser entediante ao ponto da exaustão. Pulo duplo, pulo com dash, wall run e o grappling hook todos foram extraídos de DOOM e DOOM Eternal.
É importante apontar que não é só porque alguém está copiando o dever de casa de outra desenvolvedora que o fará com o mesmo nível de qualidade. E a implantação dessas mecânicas em Necromunda: Hired Gun é meia-boca na melhor das hipóteses. Nada funciona como deveria, a começar pela distribuição de botões totalmente estranha, junto com o fato de que tudo no jogo, a exceção de atirar, é incorporado da forma menos intuitiva possível.
Tecnicamente, o combate segue a mesma estrutura de DOOM, te incentivando a partir para cima dos inimigos, os atacando com a arma e finalizando com melee para recuperar sua energia. Há um leve toque da classe Doma-Feras de Borderlands 3 no uso do seu cachorro, mas ele é inútil em diversos pontos e raramente é tão impactante no combate quanto poderia, sendo só uma skill à sua disposição.
Atirar é divertido e, de longe, a parte mais legal de Necromunda: Hired Gun, mas nem isso vem sem ressalvas. O jogo limita demais a quantidade de armas que você pode equipar por vez, te fazendo escolher entre duas por vez ao invés de te permitir ter acesso ao arsenal como um todo e ir mudando a depender da situação.
O que também merece ser elogiado também é, surpreendentemente, o sistema de upgrades do jogo. A medida em que você vai avançando pelo jogo, você vai ganhando dinheiro e itens que podem ser vendidos na cidade-hub do jogo, com os seus ganhos podendo ser investidos em adquirir novas habilidades, melhorar seus ataques melees ou melhorar o seu cachorro.
Mas isso tudo acaba se tornando relativamente inútil pois, não importa o quão melhorado o seu personagem seja, o jogo não te provêm com qualquer desafio. Parte do que torna os combates de DOOM tão intensos e divertidos é o quão desafiantes eles podem ser. Necromunda: Hired Gun parece não ter percebido essa parte, só enchendo o jogo de inimigos e os colocando com um nível de inteligência artificial que talvez não seja digno do termo “inteligência”.
No fim das contas, Necromunda: Hired Gun parece ser só mais um FPS genérico tentando copiar e implantar ideias feitas de forma muito melhor em jogos mais populares. É uma pena porque a ambientação genuinamente poderia render um bom jogo, mas praticamente tudo que ele tenta executar acaba dando errado de alguma forma e a única coisa que ele vai te fazer é querer ficar longe dele o máximo possível.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Focus Home Interactive.
Veredito
Necromunda: Hired Gun é um jogo que passa longe de fazer jus a ambientação, tendo sérios problemas em seu gameplay e uma narrativa que não prende o jogador em nenhum momento. Junte a isso uma vasta quantidade de problemas técnicos e é um jogo que deve ser evitado.
Veredict
Necromunda: Hired Gun is a game that goes far from doing justice to the setting, having serious problems in its gameplay and a narrative that does not hold the player at any time. Add to that a vast amount of technical problems and it’s a game to be avoided.