25 anos. Parece até estranho imaginar que uma série que eu primeiro joguei em 2006 e se tornaria minha principal série de jogos de basquete a partir do lançamento do NBA 2K9 completa com essa nova edição 25 anos. Considerando que ela surgiu como série exclusiva para um console que foi descontinuado há 22 anos, essa é uma marca quase impensável.
Chegar a essa idade com um domínio completo sobre o mercado de jogos de basquete e tendo se tornado quase um fenômeno cultural, cavando um forte nicho para si dentro da cultura de videogames e da cultura do basquete, é algo ainda mais impressionante. Especialmente quando se considera a constante busca da franquia por melhorias e seu constante esforço para entregar o melhor simulador esportivo possível aos fãs.
O lançamento de NBA 2K24 talvez seja, então, uma pequena encruzilhada no caminho da franquia. Celebrando em seu aniversário o legado de um dos mais importantes e influentes atletas de todos os tempos, o falecido Kobe Bryant, o lançamento desse ano gira muito em torno de um dos objetivos mais nobres e, francamente, impossíveis de se alcançar: ser o melhor de todos os tempos. Mas talvez sirva como um lembrete de que, mesmo quando se aspira a grandeza, há um sério risco de se falhar pela ganância e se ignorar suas fraquezas.
Em sua essência, NBA 2K24 é um pouco de “mais do mesmo”, entregando basicamente os mesmos modos presentes no ano passado. MyCAREER, MyTEAM, MyNBA Eras, The W e MyWNBA retornam aqui, quase todos apenas com pequenas modificações e adições que ajudam a elevar a experiência, mas sem revolucionar nada. As duas grandes novidades ficam por conta do Mamba Moments e do novo sistema de animações chamado ProPLAY.
O ProPLAY é mais um importante (e francamente absurdo) passado dado no aumento do realismo da série. Ele faz o uso da captura de movimentos em partidas reais e é transportada para as quadras virtuais usando motores de inteligência artificial. Com isso, a movimentação dos jogadores, a interação entre eles e o ritmo do jogo parecem mais reais do que nunca. A diferença entre os tipos de jogadores e a forma como eles se posicionam é notória logo de cara e é o mais fluído e realista que a série já foi.
Com isso, o ritmo dos jogos que já era mais lento por ser um simulador, acabou desacelerando um pouco mais, algo natural na busca por realismo. Isso também adiciona uma curva de aprendizado um pouco maior nos dribles e movimentos importantes como fadeaways e stepbacks, mas o resultado é um jogo muito mais próximo ao que se veria na TV. E, nesse ponto, cabe dizer que a narração também parece ter melhorado, se tornando menos repetitiva do que em anos anteriores.
Falando em pontos que merecem elogios, Mamba Moments, modo que veio para substituir os Jordan Challenges do ano passado, são um prato cheio para qualquer fã do Kobe. A seleção de partidas disponíveis no modo é excelente e realmente marcam momentos que ajudaram a criar a lenda por trás do Black Mamba.
É, como em todas as variações desses modos showcase, sejam no NBA 2K ou no WWE 2K, curto demais, mas a manutenção da apresentação de TV da época de cada jogo ajuda a dar um charme a mais e serve tanto como um belo prato nostálgico quanto um aprendizado para novos fãs sobre um dos melhores jogadores de todos os tempos.
Bom, sobre ser o melhor de todos os tempos… Essa é a linha narrativa por trás do MyCAREER deste ano. Seu jogador é filho e neto de lendas do esporte e chega a NBA com a expectativa de ser o melhor de todos os tempos. Então, dessa vez, ao invés de assumir o papel de azarão buscando provar que os outros estão errados sobre você, você precisará se esforçar bastante para provar que eles estão certos em suas previsões.
É uma mudança de ótica interessante, mas uma muito bem-vinda. A necessidade de lidar com as expectativas e o hype gerado ao redor do seu nome a cada passo que você dá são os principais pontos da narrativa e traz um novo gás à jornada dos jogadores. Naturalmente, também vieram novos arquétipos e pequenos ajustes a customização do personagem, mas nada tão impactante assim. O modo só seria melhor recebido se não tivesse atrelado ao The City, o hub progressivamente mais bizarro e péssimo de se navegar que a série resolveu abraçar desde a chegada do PS5.
Sobre ele e o modo história no geral não há muito mais a se discutir que não tenha sido dito anteriormente, visto que todo o rol de atividades corporativas e mecânicas multiplayer retornam novamente esse ano. E talvez esse seja o seu maior problema. Em um jogo que promete celebrar o realismo do esporte, ele exagera até demais em capturar a essência do que é habitar um mundo virtual onde cada passo dado tem alguém querendo tirar mais dinheiro de você.
E ninguém é mais culpado dessa conduta do que, naturalmente, a própria 2K. O MyCAREER e o MyTEAM, modo de coleção de cartas/montagem do time dos sonhos similar ao encontrado em todos os outros jogos de esporte do mercado, é uma aula sobre como se esforçar para vender microtransações. É praticamente impossível andar por qualquer menu do jogo sem tropeçar em alguma propaganda de VCs e progredir por qualquer modo é quase impossível sem se sentir coagido a gastar mais dinheiro.
É possível progredir nesses modos com bastante grind que praticamente te impediria de fazer qualquer outra coisa na vida só pra ter sucesso em algo que vai ser resetado no ano que vem (ou na próxima temporada in-game, já que o jogo abraçou o sistema de passes de temporada). Ganhar cartas ou MTs suficientes para comprar um jogador específico no Player Market (algo novo no MyTEAM) vai exigir várias partidas online onde você irá, naturalmente, encontrar gente que já gastou muito dinheiro para chegar ao nível máximo mesmo com o jogo recém-lançado. E é a mesma experiência nos modos online do MyCAREER já povoados por jogadores com OVR 99.
Assim, se você quer evitar isso, sua única resposta viável é o MyNBA, que segue sendo uma experiência incrivelmente robusta e uma onde você não se sentirá pressionado a gastar para ter qualquer sucesso. A introdução então do MyNBA Lite, uma versão mais simplificada sem tantas das regras reais da NBA, é muito bem-vinda e a forma perfeita de divertir gerenciando a sua franquia e levando o seu time dos sonhos pra quadra sem precisar vender seu rim para isso.
A única coisa que falta ao MyNBA Lite talvez seja uma integração as Eras introduzidas anteriormente a versão normal do modo. Dito isso, ambos seguem sendo minha forma preferida de jogar o NBA 2K24 justamente por permitirem só aproveitar o que o jogo tem de melhor, que é a ação nas quadras, sem os incômodos pop-ups ou transições anunciando uma nova carta rara ou item estético caro.
Se há algo que não recebeu qualquer tipo de atenção no jogo deste ano foram os modos atrelados à WNBA, visto que seguem basicamente intactos em relação ao anterior. Talvez a introdução de eras ao MyWNBA ou um The W um pouco mais robusto fizessem valer mais a bem-vinda integração da liga americana de basquete feminino, mas são reclamações menores do que a extensividade das microtransações.
Dito tudo isso, decidir se NBA 2K24 é um investimento que vale a pena depende muito do quão apaixonado por basquete você é e sua tolerância para microtransações e coisas do tipo. Se você quer um jogo para aproveitar com os amigos, aproveitar o MyNBA offline ou online ou simplesmente quer brincar com o MyTEAM ou MyCAREER e não se incomoda com o que foi dito aqui, o jogo segue sendo uma experiência fantástica e um simulador esportivo de altíssimo nível.
Ainda assim, parece que fica uma sensação de que algo não está bem certo quando se abre o jogo e antes de poder sequer jogar é necessário passar por 10 anúncios distintos tentando te vender microtransações. E talvez estejamos chegando num ponto em que será necessário repensar se, para os próximos 25 anos, a série precisa mesmo tentar tirar cada centavo dos seus jogadores ou se focar novamente em entregar o melhor e mais completo jogo possível.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela 2K Sports.
Veredito
NBA 2K24 é, ao mesmo tempo, um incrível simulador de basquete em sua melhor versão dentro das quadras e um jogo maculado pelo excesso de microtransações que tenta vender aos jogadores. Embora todos os modos entreguem bastante conteúdo e sejam experiências longas e duradouras, o sucesso deles para o jogador depende muito da sua tolerância a alguém tentando vender algo a você o tempo todo.
Veredict
NBA 2K24 is, at the same time, an incredible basketball simulator at its best on the court and a game plagued by its excessive effort to sell microtransactions to players. While all modes deliver a lot of content, their success largely depends on your tolerance for someone trying to sell you something all the time.