Games baseados em animes já não são nenhuma novidade. Presentes desde os primeiros consoles até os dias de hoje, são conhecidos por tentarem transportar o jogador para uma experiência semelhante à contada nos episódios de uma animação ou nas páginas de um mangá. Mas nenhuma franquia até hoje conseguiu capturar tão bem o espírito e o visual de sua obra de origem como a série Naruto Ultimate Ninja Storm, desenvolvida pela CyberConnect2 e distribuída pela Bandai Namco.
Com a responsabilidade de ser o quarto título de uma franquia de sucesso e a estreia na nova geração, o jogo também conclui a história principal do ninja loiro, representando os momentos derradeiros de seu mangá de origem. Por se basear nos últimos volumes da obra (aproximadamente do volume 63 em diante), e ter o privilégio de contar eventos ainda não narrados no anime, o jogo tem a chance de gravar na memória das pessoas o final de uma das franquias mais bem sucedidas dos últimos anos.
O jogo é dividido em quatro modos: História, Aventura, Combate Online e Livre. No modo História, o jogador vivenciará a trama em formato de capítulos que alternam flashbacks e momentos presentes, transformando a campanha em um grande e dramático clímax. A animação e os grandes momentos da história são retratados fielmente com um visual incrível, intercalando cenas estáticas, animadas com os gráficos do jogo e em tempo real nas lutas. Com o ápice ocorrendo em cenas de QTE impressionantes e empolgantes, reviver as lutas épicas da série nunca foi tão satisfatório.
A campanha dura aproximadamente de 6 a 7 horas, com o ponto negativo de sua narrativa inconsistente e que não faz muito sentido se experimentada sem saber dos fatos prévios da história pelo mangá ou anime. Há também inconsistência em seu ritmo, já que há cutscenes longas e arrastadas em alguns momentos, ilustradas com cenas estáticas tiradas do anime que quebram o ritmo e imersão do jogo.
Enquanto o modo História conta com as batalhas retiradas da trama original, o modo Aventura serve como um pós-campanha, com missões ao redor da Vila da Folha e outros locais icônicos da série. Um dos maiores deslizes do jogo se concentra nesse modo que, além de curto, com 2 a 3 horas de duração, é extramente genérico e repetitivo. O jogador irá passar o tempo resolvendo quests para NPCs, como coletando fragmentos de memória que relembram batalhas da série ou atender pedidos dos moradores das vilas ninjas a encontrarem itens espalhados no cenário. O modo no fim lembra mais um episódio filler do anime e deixa a desejar, uma chance perdida de aproveitar o rico universo da franquia para incluir algo mais completo e criativo.
O sistema de combate mantém todas as mudanças que a série teve ao longo de sua trajetória e acrescenta alguns detalhes que oferecem maior variedade e estratégia no combate. Com o novo sistema de controle dos suportes, o simples toque para o lado no analógico direito poderá alternar entre o personagem principal e os secundários, com o detalhe de que a mesma barra de vida é compartilhada por todos no time. Algumas combinações de personagens na equipe oferecem também finalizações e awakenings únicos entre eles.
Cada personagem como suporte oferece diferentes assistências, dependendo de suas habilidades, seja rebater o oponente ao finalizar um combo ninjutsu ou fornecer mais chakra durante o carregamento. O jogador terá que escolher bem qual equipe será levada para a batalha, dependendo da estratégia que irá utilizar e isso dá uma nova camada que beneficia a competição.
Outras novidades estão nos sistemas de quebra da armadura, que compromete a defesa e danifica a roupa do personagem, e a chance de afetar o status do inimigo, através de jutsus elementares como fogo ou veneno dependendo da natureza do ataque. Outro detalhe é que o sistema de “wall running” retirado nos últimos jogos, retorna com a novidade de um personagem poder andar pela parede dos cenários enquanto o rival permanece no chão, não necessitando que os dois fiquem no mesmo nível para que a luta prossiga. É um gameplay fluido e acessível, unindo os melhores conceitos da série até então.
O jogo oferece uma boa variedade de modos single e multiplayer, como Torneio, Liga e Sobrevivência. Completando as batalhas e cumprindo determinados requisitos, obtém-se Ryos e itens que podem ser vendidos e trocados por skins de personagens e mudanças estéticas do seu cartão ninja para o online, incluindo a possibilidade de uma mínima customização em seu personagem, alterando a cena de finalização e o item de substituição.
No modo online, há eventos de tempo limitado que oferecem itens raros para os jogadores que constantemente acessarem o jogo. Há também recompensas diárias para os que enfrentarem determinados personagens. Infelizmente algo que o game retrocedeu em comparação aos títulos anteriores foi em seus coletáveis. O que antes existia como uma motivação extra para o jogador se sair bem nas lutas e obter dinheiro para gastar em bonecos dos personagens, músicas e dioramas, foi resumido a nada menos do que mudanças meramente cosméticas para o visual do perfil no Modo Online e customização de cenas de finalização nas batalhas. Passa a sensação que os desenvolvedores poderiam ter incluído recompensas mais gratificantes aos jogadores mais esforçados e deixa um gosto de quero mais.
Uma ressalva desse modo é que, ao menos na época de lançamento, quedas de conexão foram constantes e atrapalharam a experiência. Devido à natureza de como o jogo se conecta aos dois jogadores, a conexão pode interromper a luta a qualquer momento, tornando o combate em alguns momentos impraticável e frustrante.
No aspecto visual, o jogo impressiona. Mesmo usando basicamente a mesma engine dos anteriores, com uma substancial melhora no framerate e alguns detalhes em forma de partículas na tela, há realmente a sensação de se estar jogando com os personagens do desenho, e até mesmo pode-se dizer que consegue superar o material original. Por usar uma engine já estabelecida, os loadings são extremamente rápidos e não atrapalham.
E uma boa surpresa para os jogadores brasileiros é finalmente a inclusão de uma dublagem nacional, que cumpre muito bem o seu papel de adaptar o material, com um competente trabalho na maior parte do tempo dos dubladores. E para os fãs mais xiitas, há também a possibilidade de se ouvir o áudio original em japonês e em inglês.
A quantidade de personagens também é um dos grandes chamarizes, reunindo todos os disponíveis anteriormente na franquia, somando mais de 100 lutadores. Abordando desde os personagens mais frequentes ao longo da história (com versões especificas de cada arco) até formas mostradas somente nos filmes mais recentes. Os recém-chegados são desbloqueados após completar determinados capítulos no modo História e há a promessa de mais personagens serem incluídos em DLC.
Veredito
Naruto Shippuden: Ultimate Ninja Storm 4 é o título que melhor reúne as qualidades que a franquia adquiriu ao longo dos anos. Com um sistema de combate acessível e ao mesmo tempo profundo, unido ao visual impressionante e uma direção de arte inigualável em comparação a outros jogos do gênero, é possivelmente a melhor adaptação de um mangá/anime que os games já receberam. Mesmo com a campanha relativamente curta e um modo Aventura que deixa a desejar, o sistema de combate é sólido e entrega uma jogabilidade extremamente competente. É um jogo obrigatório para os fãs e uma homenagem ao legado da franquia.
Jogo analisado com o código fornecido pela desenvolvedora.