Muramasa Rebirth (Muramasa) é um port remasterizado para o Vita de Muramasa: The Demon Blade, originalmente lançado para o Wii. Trata-se, essencialmente, do mesmo jogo, só que com melhor definição gráfica, melhorias no controle, texto refeito e, obviamente, portátil. De resto, é o mesmo jogo de ação 2D com elementos de RPG que cativou os jogadores no console da Nintendo – e embora eu reconheça que o Vita carece urgentemente de jogos originais, deixar Muramasa escapar do radar apenas por ser um port seria ignorar um ótimo jogo.
Muramasa é cria da Vanillaware, mais famosa pelos predecessores espirituais do jogo, Odin's Sphere (OS) e Princess' Crown (PC). Se você jogou um destes dois, Muramasa será familiar – um side-scroller belíssimo com enredo e personagens cativantes. Muramasa contém duas histórias: uma focada em um samrai com amnésia, Kisuke, e outra em uma princesa que teve seu corpo possuído por outro espírito, Momohime. Ambas as histórias são independentes, com apenas pequenas participações do outro personagem. São histórias bacanas e que, embora não tão profundas quanto o visto em OS, por exemplo, cumprem muito bem seu papel. Todo o texto do jogo foi retraduzido, oq ue é um benção para a versão do portátil da Sony.
Não que a tradução original fosse exatamente "ruim", mas uma das maiores críticas à versão Wii era o seu texto muito simplista. A versão Vita possui um texto muito mais floreado e, francamente, gostoso de se ler. Além disso, a maioria espadas também teve seus nomes traduzidos, ao contrário da versão original em que os nomes eram apenas o romaji do nome japonês – se você prefere ler "Yakumo" ou "Obscuring Mist", porém, é algo extremamente pessoal.
Por falar em espadas, estas são o ponto central do gameplay de Muramasa. Considerando que com o passar do jogo você não adquire novas habilidades – todo o seu arsenal de movimentos já lhe é apresentado no tutorial, do Iaido (Quick Draw) aos golpes aéreos -, o tempero de variação vem na forma das habilidades secretas de cada espada demoníaca. Kisuke e Momohime são mestres do estilo Oboro, um mortífero estilo de luta que lhes confere, além de grande proficiência para lutar, a capacidade de domar as espadas malignas. Cada uma das 108 espadas – divididas entre espadas médias e longas – possui uma habilidade secreta única – algumas uma variação mais poderosa de outras, mas ainda assim, únicas -, o que garante, além de mais variedade no gameplay, um certo fator de imprevisibilidade – como você não sabe qual a habilidade de cada nova espada, experimentar para descobrir como melhor usar cada habilidade secreta é essencial.
Cada personagem está, a todo momento, equipado com 3 espadas à sua escolha, e elas não servem apenas para atacar. Você também usará suas espadas para se defender dos inimigos, mas deverá tomar cuidado: cada golpe defendido, bem como o uso das habilidades secretas, consome um pouco da barra de vitalidade da espada, e ao zerá-la, sua arma se quebrará e suas opções de ataque ficarão limitadas. As espadas demoníacas se regeneram sozinhas apenas enquanto estão embainhadas, então, ao quebrar uma espada, você ficará restrito ao uso das outras duas com a qual está equipado. Monitorar o uso de cada espada pode não parecer muita coisa, mas durante as batalhas frenéticas contra inimigos que as quebram com um golpe só e os bosses gigantescos, a barra das espadas adiciona uma camada de estratégia surpreendentemente profunda ao jogo. A versão Vita também possui controles melhores que sua contra-parte do Wii, muito em parte pela possibilidade de se customizar os comandos, opção inexistente no console da Nintendo.
Se o combate é divertido, porém, o que mais chama a atenção em Muramasa são seu gráficos. Os cenários são belíssimos, os personagens são muito bem feitos e efeitos como fogo e água são excelentes. Muramasa já era lindíssimo no Wii e não é exagero algum dizer que é um dos jogos mais bonitos do Vita. Além disso, a animação é fluida e o jogo não sofre com um momento sequer de slowdown, garantindo que a ação na tela nunca saia prejudicada.
E ainda bem que a ação não falha, especialmente contra os bosses, que são um show à parte. Enquanto os inimigos comuns carecem de um pouco mais de variedade, os bosses são um show à parte. Das mais variadas formas e tamanhos, eles possuem designs soberbos. Nenhum boss é reciclado – uma crítica comum aos outros jogos da Vanillaware, em especial OS -, e cada encontro é único. Se existe uma queixa quanto aos gráficos, esta fica por conta da repetição dos cenários, mas num todo, o visual de Muramasa é nada menos que impressionante. O áudio é igualmente incrível, contando com músicas excelentes e uma dublagem excepcional. Entretando, Muramasa não possui dublagem em inglês – algo que faz sentido pelo contexto do jogo, mas que pode incomodar quem não gosta de ouvir a língua japonesa.
Muramasa oferece ainda um alto valor de replay. Embora a porção principal do jogo possa ser completada em um tempo razoável e não exista uma exploração tão profunda quanto em um Metroidvania da vida, por exemplo, existem três finais para cada personagem, além de vários desafios espalhados pelo mapa (na forma das Evil Caves) e uma dificuldade extra em que seu personagem tem persistentemnte apenas 1 HP, tornando qualquer erro mortal. Contando ainda com um troféu de platina, Muramasa tem conteúdo suficiente para entreter o jogador por muito tempo, e ainda temos promessas de alguns DLCs com personagens novos.
Muramasa é um excelente jogo, mas é impossível não se entristecer vendo como ele é representativo da biblioteca do Vita. Jogos como Persona 4 Golden e Muramasa podem ser do mais alto nível, mas o fato é que eles ainda são ports. O Vita carece muito de jogos originais, mas cada vez mais está se tornando um console de ports. Isso não tira mérito algum de Muramasa e o jogo vale muito a pena para os fãs do estilo, mas é algo que precisa ser notado e corrigido urgentemente.
— Resumo —
+ Esteticamente fenomenal.
+ Design de bosses excepcional.
+ Combate divertido.
+ Alto valor de replay.
– Muita repetição de cenários.
– Variedade limitada de combate.