Monster Energy Supercross – The Official Videogame 4 – Review

As modalidades esportivas sempre estiveram presentes no universo de jogos eletrônicos através de títulos que promoviam a competição de esportes populares como o futebol, o vôlei e o basquete que complementavam a biblioteca dos consoles. Buscando atrair o público mais casual, esses títulos investiam em eventos de grande porte como as olimpíadas ou uma diversão mais descompromissada que tinha por objetivo proporcionar a esportividade de uma outra maneira. Quase sempre focados em trazer uma jogabilidade que consistia em apertar botões em um ritmo adequado, games como Jogos de Verão, Mario and Sonic at the Olympic Games e o próprio FIFA formaram a linha cronológica dos esportes nos consoles de mesa que, de uma forma muito particular, estimulou a competição saudável entre amigos especialmente após a popularização das redes online como Xbox Live e PSN.

Monster Energy Supercross – The Official Videogame 4 é o lançamento da desenvolvedora Milestone que prioriza a simulação de corridas de motos com ênfase em uma jogabilidade exigente e no realismo das manobras que buscam proporcionar ao jogador a sensação desse tipo de esporte.

A franquia teve início em 2018 tendo boa aceitação pelo público e apresentando considerável evolução no gameplay desde o primeiro título que preza pela combinação efetiva dos comandos como tentavam fazer antigos games desse gênero. O pacote reúne os principais aspectos de um jogo de esporte como diferentes modalidades de corrida, modo carreira, uma customização satisfatória, modo de criação de pista e o multiplayer on line que pode ser jogado com até 12 pessoas. O título pode ser uma experiência interessante para jogadores que apreciam o motociclismo, porém não se mostra como um jogo de peso no que se propõe a fazer uma vez que alguns quesitos como o visual e a evolução da campanha podem ser considerados repetitivos e de pouca inspiração dependendo das expectativas do jogador.

O principal modo que apresenta as possibilidades do jogo é o próprio modo carreira que se inicia pela criação e customização de um piloto que deseja vencer o máximo de corridas possíveis para ganhar prestígio, reconhecimento e patrocinadores. Atribuir o nome “carreira” ganha um sentido completo e significativo quando o jogador compreende como ele funciona: para ser visto como um competidor renomado e digno dos melhores rankings, o jogador/piloto deverá trabalhar duro, ganhar créditos, investir em sua moto e administrar bem os recursos que recebe para gradativamente estar junto aos grandes campeões dos circuitos de motocross.

Depois de definir os padrões do personagem que irá correr pelas pistas, o jogo oferece um breve tutorial de pilotagem para conhecer os comandos que vão moldar as manobras em diferentes competições. Nesse primeiro contato com a pilotagem, será possível perceber de forma imediata que dominar os controles para guiar a moto será uma tarefa que vai exigir treino e habilidade muito por conta da própria ideia de simulação que o jogo busca destacar. Combinar aceleração, frenagem, drifts e saltos é um exercício que deverá ser dominado ao longo do modo carreira juntamente com o correto investimento nas peças da moto e nos atributos do personagem.

Após um treinamento rápido e pouco explicativo, a campanha Futures é iniciada com o objetivo de laçar novos pilotos para o mundo do motocross e, junto com mias 21 pilotos aspirantes ao sucesso, será necessário se adaptar às corridas utilizando o pouco aprendizado ao mesmo tempo que se é prejudicado pela falta de experiência e domínio da direção. Adaptar-se às longas pistas repleta de obstáculos e grandes saltos bem como manter a velocidade constante é um desafio que o game impõe logo de início como uma forma de representar com autenticidade a necessidade de buscar o sucesso com bastante trabalho e algumas derrotas. Será comum nas primeiras horas de jogo perder ranking ou mesmo ter dificuldades em manter uma posição aceitável para progredir na carreira. Isso acontece pelo fato de que Monster Energy Supercross – The Official Videogame 4 preza pela fidelidade tanto das corridas quanto pelas histórias que muitos corredores têm com o esporte. A desenvolvedora encontrou nos controles uma maneira de prestigiar os competidores e seus trajetos nessa modalidade, o que é uma maneira interessante de prestigiar o motocross.

A jogabilidade é o fator técnico que mais se destaca nesse título, porém não deixa de ter aspectos negativos mesmo que as intenções da Milestone tenha sido as melhores. O jogo entrega movimentos básicos como o esterçamento do guidão, o acionamento dos freios, a aceleração e o controle da inclinação do piloto na moto que é a novidade em termos de comandos. Apesar de parecerem simples em um primeiro contato, é a combinação desses fatores que vão decidir o sucesso ou o fracasso das corridas já que será necessário saber utilizar as manobras no momento correto para garantir uma vitória.

Em sua maioria, as pistas de corrida oferecem desafios pautados em curvas fechadas (ou extremamente fechadas) e saltos promovidos pelas rampas durante o circuito cabendo ao jogador decidir qual botão apertar para ultrapassar os obstáculos físicos. Apesar de ser um jogo de corrida, a aceleração não deve se resumir a apenas pressionar constantemente o gatilho do controle, pois é a correta aceleração em momentos específicos que garantirá a ultrapassagem segura e vai manter pelo menos um posicionamento aceitável nas competições. Nesse sentido, o aumento da velocidade deve acontecer na subida das rampas para provocar o voo, mas enquanto estiver no ar, o comando deverá ser interrompido para que o pouso seja eficiente e não provoque um acidente grave. Soma-se a essa condição o peso e a inclinação que o piloto deve exercer na moto para equilibrar a máquina e evitar um giro para trás ou para frente. Após a largada, e dependendo das atribuições da moto, o jogador será facilmente ultrapassado caso não domine as técnicas da jogabilidade. Os comandos deverão ser executados a todo momento incluindo a força do peso sobre o veículo juntamente com os drifts para se manter na corrida. No entanto, no meio de muitos outros motociclistas, a condição para realizar os comandos pode ser mais difícil devido ao calor da emoção e do senso de competição que surge nas voltas.

Todas essas combinações para uma partida eficiente podem ser aprimoradas através das assistências que o jogo oferece como troca de marchas, desempenho da suspensão, peso real do corredor sobre a moto etc. permitindo mais ou menos realismo na simulação. Entretanto, as configurações inicias do jogo estão com a maiorias das assistências ativadas e ainda oferecem um alto grau de exigência dos comandos que serão executados durante a carreira e outros modos de jogo.

Um aspecto negativo dos controles é o conceito de evolução, ou seja, a capacidade que o jogador tem de se adaptar aos botões e permitir a fluência das partidas. Em Monster Energy Supercross – The Official Videogame 4, esse quesito não é tão bem explorado uma vez que a jogabilidade, apesar de bem intencionada, não permite com que, através das assistências e da escolha de uma montadora que mais se adequam ao perfil de quem joga, seja possível manter um padrão estável de direção e se estabelecer nos campeonatos. As corridas parecem acontecer em uma pista de sabão onde as máquinas estão deslizando e manter um ritmo de aceleração torna-se uma tarefa não impossível, porém mais complicada. Soma-se a isso o fato de que os acidentes serão muito comuns principalmente se os atributos de status e mecânica não estiverem bem aprimorados

O modo carreira e seus diversos campeonatos não poderia ter recebido um nome mais adequado. Isso porque a ideia de crescer em um determinado segmento é presente no game e o jogador deverá se esforçar para avançar na campanha, comprar novos itens para a moto e dominar os comandos. Mesmo terminado os circuitos em posições mais baixas, o jogo oferece recompensas de créditos que podem trocados por melhorias que ajudam a no progresso da campanha, porém sem causar mudanças muito perceptíveis. A dificuldade aumenta progressivamente e a cada novo campeonato que se inicia, mais pistas e voltas serão ofertadas e consequentemente serão mais complexas que os campeonatos para iniciantes. Diversas marcas consagradas do mercado marcam presença na customização que vão desde guidões e assentos até suspensões e escapamentos que podem fazer um upgrade interessante e mudar o visual das motos. Nem todos os componentes alteram diretamente as funções, portanto a correta administração dos créditos nas peças certas custarão mais caro e exigirão mais empenho para a obtenção.

Outros aspectos técnicos como o visual gráfico tem por objetivo simular a direção realística e a física do motociclismo, mas a experiência não é completa entregando gráficos que denunciam a geração passada e não brilham no alinhamento com a jogabilidade. Monster Energy Supercross – The Official Videogame 4 parece precisar de mais inspiração para a construção das pistas que a cada corrida parecem iguais às anteriores mudando somente as curvas, a inclinação das rampas e a intensidade dos saltos. O visual é razoável para o gênero e apresenta texturas com alguns pontos de menor resolução e algumas animações menos caprichadas como a rotação dos pneus. É possível perceber tanto um grau de oscilação que muda conforme o movimento da câmera promovendo um visual mais detalhado pautado na função do HDR qunto um aspecto mais “lavado” no caso de objetos mais distantes do personagem. As feições do piloto criado e as roupas e acessórios são simples em termos de aparência e se distanciam um pouco das opções de customização que já são disponibilizadas na atual geração e permitem uma experiência mais intensa e personalizada.

A trilha sonora também é um aspecto que poderia ter sido melhorado com faixas musicais de artistas de diversos segmentos como o rock, o eletrônico e o indie com músicas extraídas de seus respectivos álbuns e também de artistas em início de carreira. As composições do game são interessantes e abusam dos arranjos das guitarras gerando um clima emocionante para as competições. No entanto, as músicas presentes no título são por vezes repetitivas e, junto com a repetição das pistas, quebram as expectativas da simulação que poderia ter sido intensificada. Explorar mais esse fator poderia ter levado a pilotagem a um outro patamar da diversão e ter se alinhado melhor ao jogo como um todo.

Correr em cima de duas rodas em Monster Energy Supercross – The Official Videogame 4 traz uma sensação de direção satisfatória, porém não refinada como é o caso de outros simuladores como Forza da Microsoft. É interessante perceber o esforço da Milestone para entregar uma jogabilidade fiel ao motociclismo, mas como um simulador de corrida de motos, faltou um pouco mais de alinhamento entre os fatores técnicos já que experiência poderia ser mais interessante. Propor tal experiência aos jogadores é o fato que justificaria tanto a compra do título com preço cheio como a dedicação para dominar as manobras.

Jogo analisado no PS4 Pro com código fornecido pela Milestone.