Minute of Islands – Review

A saúde mental tem sido um dos tópicos mais trabalhados na última década pelos desenvolvedores independentes ao redor do planeta. Tal temática influenciou jogos excepcionais como Gris, Spiritfarer e Celeste, mantendo-se bastante popular no cenário indie, seja entre aqueles que desejam realizar um trabalho de cunho autoral ou entre os que visam trazer maior visibilidade ao assunto. É seguindo esta última que Minute of Islands chega ao PlayStation 4, prometendo entregar muito mais que uma simples aventura que envolve salvar o mundo.

Concebido pelos desenvolvedores independentes do Studio Fizbin, Minute of Islands é um jogo 2D que mescla elementos de plataforma e puzzle, visando criar uma aventura narrativa sobre os perigos da ansiedade e isolamento. A história de Minute of Islands se passa em um planeta à beira do colapso, devido às ações de um poderoso fungo tóxico, capaz de se alimentar de qualquer ser vivo. Apesar de tal situação, a vida ainda luta por seu lugar de direito em um pequeno e remoto arquipélago, que esconde diversos segredos. É neste local que vive Mo, uma jovem mecânica que administra as ilhas em conjunto com seus familiares. Sua principal tarefa é cuidar para que quatro gigantes mantenham ativo um complexo sistema de purificação do ar, responsável por impedir a proliferação dos fungos.

Certo dia, Mo se depara com uma terrível situação: os quatro gigantes entraram misteriosamente em um sono profundo, algo que até então nunca havia acontecido, permitindo que lentamente os esporos tomem conta do arquipélago. Cabe a valente garota partir em uma jornada visando acordar os gigantes para que, assim, possa salvar a si e sua família. Tal aventura colocará em prova não apenas tudo que a garota sabe sobre o mundo, mas também e sobre si mesma.

A premissa do título é bastante interessante, sendo possível perceber diversas inspirações de grandes títulos como The Legend of Zelda: Majora’s Mask, porém com um escopo infinitamente menor. Ao invés de salvar o mundo, a pequena Mo só deseja salvar o pouco que restou dele, e isso já revela muito sobre os pensamentos da protagonista. Algo que colabora para tornar a premissa ainda mais agradável é a belíssima direção de arte do título, que claramente se inspirou no estilo artístico adotado por Hora de Aventura (Adventure Time no original) para criar os seus belíssimos visuais.

Os cenários, personagens e animações são todos desenhados à mão, criando uma estética de “desenho animado jogável” que poucos jogos no mercado possuem. A trilha sonora por sua vez cumpre muito bem o seu papel e certamente é um ponto a ser elogiado. Os desenvolvedores criaram belíssimas composições que adicionam o tom ideal, para cada um dos sentimentos e sensações que a narrativa se propõe a transmitir.

Toda a história presente no título é contada conforme o próprio jogador avança na trama por meio de um narrador onisciente, de forma semelhante ao que ocorre em Bastion. Além disso, o título é recheado de textos, que normalmente serão apresentados ao jogador sob a forma dos pensamentos de Mo, fornecendo assim mais informações sobre o universo do jogo. A campanha é dividida em cinco capítulos e pode ser concluída em cerca de 6 a 7 horas com base no ritmo do jogador. Um ponto negativo do título é a falta de localização para o português do Brasil, que pode dificultar bastante o entendimento para quem desconhece a língua inglesa.

Ainda que possua uma estética colorida e animações vibrantes, dignas de um desenho animado infantil, Minute of Islands é um título que almeja atrair principalmente a atenção de jovens adultos, uma vez que lida com temas complexos como trauma, ansiedade e isolamento. Este último é bastante relevante para os dias atuais, uma vez que vários países ainda convivem em isolamento devido à pandemia causada pelo COVID-19. Há uma forte e clara intenção do Studio Fizbin em elucidar esses problemas psicológicos, que se tornam cada vez mais comuns na sociedade atual. Entretanto, por mais admirável que seja a intenção de seus desenvolvedores, a narrativa de Minute of Islands nunca alcança o real potencial que a premissa parece possuir. Por um lado, isso se deve ao fato de alguns tópicos serem tocados de maneira superficial, enquanto por outro temos mecânicas de gameplay que criam uma dissonância com a mensagem a ser passada.

Por mais comum que seja encontrar títulos que abordem problemas psicossociais hoje em dia, são poucos aqueles que realmente sabem retratá-los através de seu gameplay de forma lúdica ao jogador. Títulos como Hellblade: Senua’s Sacrifice, Celeste, Sea of Solitude ou Gris fazem um excelente trabalho utilizando diversos artifícios em suas mecânicas, visando criar um ambiente de desafios para o jogador, do qual este possa se divertir e conscientizar-se a partir de algum ponto de vista. Por ser um jogo que mescla puzzle e plataforma, é de se esperar que haja uma boa gama de desafios envolvidos na campanha e que, por consequência, reflitam o estado emocional ou espiritual da protagonista, correto? A resposta, infelizmente, é “não”.

Neste tipo de projeto, tanto a narrativa quanto a jogabilidade deveriam andar de mãos dadas, complementando uma à outra, porém o que acontece em Minute of Islands é que ambas seguem em direções completamente opostas. Há a tentativa de explorar-se um tema profundo e pesado, porém o gameplay o trata como algo simples e fácil de ser contornado, erguendo constantemente a mão para o jogador nunca tenha que passar por nenhuma dificuldade. Claro, existirão aqueles que mal notarão tamanha falta de harmonia, mas ainda assim o que resta é um título com gameplay fraco e pouco dinâmico.

O título possui uma progressão bastante linear, em que o jogador deverá solucionar uma série de puzzles espalhados pelas ilhas para que possa progredir na história. Cada quebra-cabeça é extremamente simples e não exige muito do raciocínio lógico do jogador para ser solucionado, se resumindo a mover objetos pela sala, ativar botões, etc. Isso não é um problema por si só, mas no momento em que os puzzles só existem com a única função de alongar a narrativa e criar um falso sentimento de realização, a experiência acaba se fragilizando. A sensação que fica é a de estar lendo uma história interessante e ser interrompido a cada segundo por algo trivial. Para piorar, não há nenhum tipo de variedade no gameplay, o que torna o título repetitivo muito rápido e, em certos momentos, entediante.

Os controles são simples e intuitivos e, no comando de Mo, o jogador é capaz de realizar comandos básicos de jogos de plataforma, como andar e saltar. A mecânica principal do título gira em torno do Omni-Switch, uma ferramenta mágica que Mo tem em sua posse, capaz de realizar uma série de funções diferentes. Ao longo da aventura, o objeto poderá ser utilizado para energizar dispositivos, mover objetos dentre outras funções, sendo essencial para a resolução dos quebra-cabeças e progressão na campanha. Por exemplo, ao segurar o R2, Mo sacará seu Omni-Switch que funcionará como uma espécie de bússola, indicando visualmente para qual local se encontra o próximo objetivo a ser realizado. Esta é uma excelente função que ajuda bastante o jogador a não se perder pelos cenários que, em alguns momentos da aventura, são uma total confusão visual, devido à alta quantidade de elementos e contrastes de cor.

Conforme se avança através da campanha, o jogador ganhará acesso a um barco que usará para obter acesso a outras ilhas que compõe o arquipélago. Entretanto, diferente de títulos como Spiritfarer (no qual o jogador pode definir o próximo destino), não é possível definir um curso ou revisitar locais anteriores ao seu bel prazer. É tudo feito de maneira bastante programada e linear, criando a ilusão de que o jogador está no controle de uma aventura épica. O level design, por sua vez, é problemático, uma vez que exige que o jogador tome rotas pré-determinadas para avançar no mapa, mesmo que teoricamente seja possível atingir certos locais por meio de saltos. Isso acaba se tornando irritante, principalmente em cenários mais complexos, porém é algo que é solucionado com a função de bússola do Omni-Switch.

Jogo analisado no PS5 com código fornecido pelo Studio Fizbin.

Veredito

Minute of Islands é um título com uma excelente premissa acompanhada de um forte apelo visual, mas que peca entregando um gameplay raso e não tão interessante quanto a história que se propõe a contar.

70

Minute of Islands

Fabricante: Studio Fizbin

Plataforma: PS4

Gênero: Plataforma / Puzzle

Distribuidora: MIXTVISION

Lançamento: 13/06/2021

Dublado: Não

Legendado: Não

Troféus: Sim (inclusive Platina)

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Veredict

Minute of Islands is a title with an excellent premise accompanied by a strong visual appeal, but that delivers a gameplay shallow and not as interesting as the story it proposes to tell.