Mass Effect Legendary Edition – Review

O impacto que alguns jogos causam na indústria pode ser tão grande que acaba por ditar novos rumos para diversos outros projetos. A BioWare já era uma empresa de destaque antes do lançamento do primeiro Mass Effect em 2007, lançado exclusivamente para o Xbox 360. O título depois chegou ao PC e também ao PS3 ainda mais tarde, mas já havia pavimentado um caminho de sucesso e que seria corroborado com o lançamento de mais duas sequências, culminando numa das trilogias de maior sucesso dos videogames e ditando regras para a indústria como um todo.

A ópera espacial da BioWare conta diversas histórias da Via Láctea, além das relações e conflitos de todas as raças num futuro surpreendente. No meio disso, uma grande ameaça começa a surgir e irá levar todas as raças livres a se unirem em busca de sobrevivência. O jogador assume o papel do Comandante Shepard, humano, soldado da aliança terrestre e o grande herói que terá como responsabilidade ser um tipo de última esperança em meio à uma grande luta que está pela frente.

Se você é um amante de RPGs e por algum motivo não pôde aproveitar a trilogia original de Mass Effect até hoje, agora existe a melhor oportunidade para isso com o lançamento da Mass Effect Legendary Edition. A versão remasterizada dos jogos originais traz aprimoramentos notáveis para os títulos que sempre sofreram na parte técnica nos consoles anteriores, tendo como grande destaque agora resolução em até 4K, 60 quadros por segundo (até 120 no Xbox Series X), retrabalho de milhares de texturas, efeitos, cutscenes melhoradas e uma grande repaginação do primeiro jogo, sendo o mais datado até então.

Há diversos adjetivos que poderiam ser usados para enaltecer o trabalho da BioWare nos três jogos e também apontar as inúmeras qualidades que cada um possui. Quando disse que Mass Effect impactou a indústria desde seu lançamento, há pontos que se sobressaem aqui. Algo unânime em toda a trilogia é a qualidade absurda para a construção de uma história interessante, narrativa para a mesma e demais eventos, criação de personagens cativantes e que o jogador se apega facilmente, dublagem original muito competente além da elaboração de todo um universo e diversas histórias que se o moldam de inúmeras maneiras.

Dentro disso fica o destaque para o roteiro escrito com extremo cuidado, criando histórias coesas e linhas de diálogos memoráveis em toda uma experiência cinematográfica. Junto também de histórias únicas de cada personagem e como cada um dessas se entrelaçam com as jornadas principais. Mass Effect é da mais pura qualidade quanto a narrativa e tudo ao redor disso, se destacando acima de qualquer outro aspecto do jogo, como a parte artística visual e sonora de alta qualidade ao gameplay funcional e que só teve mais destaque em Mass Effect 2 e 3.

Ainda que já tenha mais de uma década do lançamento do primeiro jogo e quase 10 anos da conclusão da trilogia, o conteúdo de toda a história continua memorável, impactante e ainda atual quando comparado ao nosso mundo, mostrando questões raciais, conflitos políticos e mais. Missões empolgantes, reviravoltas na trama, segredos revelados e mais dão o ritmo ideal para que cada jornada nunca se perca na mesmice.

Adentrar nas diversas histórias e contos da Via Láctea, junto com cada personagem e sua narrativa dos eventos ao qual o mesmo é inserido, é como ler diversos livros ricos em detalhes, esperando mais e mais conteúdo da mesma qualidade jamais desejando pelo fim. Sem entrar em spoilers ou muitos detalhes sobre toda a saga para os que nunca jogaram ou não foram investigar a trilogia, apenas deleite-se e aproveite uma das jornadas mais fantásticas já criadas em termos de ficção científica do entretenimento audiovisual.

Como um RPG de ação em terceira pessoa, o loop de gameplay de Mass Effect consiste em diálogos, missões, evolução e combate. Como já foi dito, os dois primeiros aspectos funcionam de forma fenomenal, mas os demais, principalmente no primeiro jogo, tinham uma execução mais simplificada. A evolução sempre foi o básico para cada jogo e seguindo o padrão de qualquer RPG, como subir de nível, desbloquear habilidades, conseguir novos equipamentos e mais para que seja possível enfrentar as missões mais complexas. Já o combate é algo totalmente evolutivo durante a trilogia, começando como algo funcional e posteriormente sendo polido e melhorado a cada sequência lançada, com ajustes tanto na parte de tiroteio quanto de habilidades bióticas e tecnológicas (similar ao que seriam as magias em RPGs de fantasia medieval, por exemplo).

Com a Legendary Edition e a remasterização para todos os 3 títulos num único pacote, a intenção é atualizar os jogos e usar o poder dos consoles atuais para eliminar, ou pelo menos mitigar, os inúmeros problemas técnicos que existiam na geração do PS3 e também apresentar novos recursos ou melhorias que possam agradar novos e antigos jogadores. As versões originais de todos os títulos sofriam de problemas similares, como a sempre oscilante taxa de quadros por segundo e atraso no carregamento de texturas de forma geral.

Da parte técnica, muito disso é solucionado graças ao imenso retrabalho da BioWare. Texturas totalmente refeitas e a atualização da Unreal Engine 3 para os novos consoles com mais poder praticamente elimina o problema visual mais notável. Junte isso com o jogo sendo executado resoluções maiores além do tradicional 720p da época (1080p no PS4 e 1440p e 4K no PS4 e PS5) e tenha uma imagem bem mais limpa que enaltece a qualidade artística do jogo, que ainda recebe nova iluminação, efeitos volumétricos, partículas e vários outros adereços que vão enriquecer nesse quesito.

Além do visual, as melhorias especificamente para a taxa de quadros por segundo é notável. Todos os consoles possuem opção para 60fps e não há mais os contínuos “engasgos” como antes. A maior fluidez garante uma experiência ainda melhor, mesmo que Mass Effect não seja um jogo que carece de movimentos extremamente rápidos e resposta a comando mais curta. Os 3 jogos foram testados para a esta análise apenas no PS5, mantendo a preferência pelo modo qualidade em 4k e 60fps. No aspecto geral, a qualidade de imagem é simplesmente espetacular quando comparado aos jogos originais, além de ser um salto notável em nível de remaster. Espremer o máximo da já datada Unreal Engine 3 e conseguir o resultado alcançado é algo incrível. Obviamente, muito se passa pelo poder bruto disponível hoje em dia, tanto nos consoles para qual o jogo é lançado quanto para os melhores PC.

Se a nível técnico o resultado é bastante satisfatório, a adaptação e atualização de partes do jogo também é considerável. O primeiro Mass Effect continua muito diferente dos outros dois jogos de diversas maneiras, mas mesmo assim teve um retrabalho para deixá-los mais próximos um do outro, como uma interface remodelada. Outros pontos, porém, foram mantidos, como o sistema de aquecimento de armas, diferente dos clips de recarga do 2 e 3, além do sistema de cobertura, funcionando ainda de forma automática e inconsistente e não ao comando de um botão.

Alterar diversos fatores do primeiro jogo talvez necessitaria de um trabalho ainda maior e, vide o resultado obtido, sem muita necessidade. Digamos que os problemas pertinentes do primeiro Mass Effect e sua jogabilidade mais engessada persistem, assim como as mecânicas principais que não foram alteradas e continuam diferentes das sequências. Os demais jogos já haviam sofrido uma boa evolução em sua época, principalmente em gameplay, melhoria visual, unificação de interface e mais, mas ainda assim tiveram reajustes e atualizações, como o sistema de Paragon/Renegade e até mudanças leves em algumas cutscenes. De toda a trilogia, o maior impacto das mudanças é claramente no primeiro jogo, mas também o que mais necessitava dessa repaginação. Não há muito o que apontar de mais problemas aqui além da falta de alguns conteúdos, como a DLC Pinnacle Station de ME1 e o modo multiplayer de ME3. Ainda que não façam parte do pacote, em momento algum diminuem a experiência como um todo, mas poderiam ser um pequeno extra.

Algo a pontuar aqui, principalmente para nós brasileiros e alguns outros jogadores no mundo, é a falta de localização do jogo para nosso idioma e outros. De certa forma, não foi adicionado nenhum outro idioma além dos que já haviam disponíveis originalmente, mas não deixa de ser frustrante, principalmente quando tivemos legendas para Mass Effect: Andromeda.

Se alguns jogadores se sentiam incomodados com os problemas notáveis dos jogos originais, tudo o que é trazido agora é oferecido da melhor maneira possível para uma experiência sem igual. Seja você um novato na série ou veterano que pretende reviver toda a jornada de Mass Effect, a Legendary Edition é a melhor opção possível como porta para um universo fenomenal.

Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Electronic Arts.