Vou poupar vocês de um parágrafo introdutório e ir direto ao ponto: Mass Effect 2 (ME2) é excelente e uma adição mais que bem-vinda à biblioteca de qualquer PS3.
ME2 se inicia algumas semanas após o fim de ME. Após derrotar Sarren e Sovereign, Shepard e os membros da Normandy são dados a tarefa de procurar e destruir Geths em um setor do espaço. Logo no início do jogo, a Normandy é atacada por uma nave gigantesca e sofre grandes danos, forçando sua tripulação a escapar. Shepard auxilia a evacuação e salva Joker, o piloto… para então ser puxado para fora da nave e entrar na atmosfera de um planeta próximo, o que leva à sua morte.
Obviamente, não vamos jogar com um personagem morto. O corpo de Shepard é resgatado e acaba chegando às mãos da organização Cerberus. Várias colônias espaciais humanas têm sido misteriosamente atacadas, e Cerberus acredita que os Reapers estejam por trás dos ataques. Como Shepard é uma espécie de ícone/herói da raça humana, a organização revive nosso personagem principal para combater a nova ameaça.
Se você joga apenas no PS3, os dois últimos parágrafos são literalmente um amontoado de nadas. Sovereign? Joker? Normandy? Cerberus? Nenhum desses nomes faz sentido, quanto mais os acontecimentos. Para os donos de PS3, ser jogado diretamente no segundo capítulo da trilogia espacial da Bioware pode parecer estranho. Fiquem tranquilos – ME2 sabe como resolver esse problema. Toda cópia nova de ME2 vem com um código para baixar um DLC chamado Cerberus Network (CN). Dentre os vários DLCs que a CN dispõe, temos Mass Effect: Genesis, uma comic interativa que resume os eventos de ME1.
Genesis faz um bom trabalho em introduzir a série ao jogador, mas faz apenas o mínimo necessário para que os donos de PS3 não fiquem perdidos na história e preparem o terreno de ME2 para algumas escolhas feitas em ME1. A maneira como a comic é apresentada é boa, mas ME não foca sua história em "fins", e sim em "meios". Em ME1, derrotar Saren e Sovereign é o "fim", e Shepard faz isso independentemente de ser o novo messias do Universo ou o ser mais impiedoso da galáxia. Assim, enquanto Genesis é um bom resumo para quem não sabe nada de ME, alguns momentos marcantes de ME1 são deixados de lado ou perdem o impacto emocional de sua versão "jogável". O jogo ainda dispõe de um completíssimo Codex que traz informações sobre praticamente tudo que o jogador encontrar, de raças alienígenas (incluindo fisiologia e cultura) a armamentos, então estamos todos bem amparados para descobrir o imenso universo de ME.
No que concerne seu enredo, ME2 segue a mesma linha do antecessor: seu objetivo final é definido, mas é a forma como você chega a ele e o executa que é o charme do jogo. O jogador controla Shepard em seções de exploração e combate, enquanto passa por vários diálogos e opções. Os diálogos escolhidos ditam se Shepard será um figura heróica com as melhores intenções (Paragon, representado em azul) ou um cínico implacável que faz tudo para terminar sua missão (Renegade, representado em laranja). Alguns podem chiar com a quantidade de diálogos, mas eles são parte importantíssima da experiência de ME – como dito antes, não é tanto sobre o que você faz, mas sim como você faz. Todos os personagens são bem caracterizados e atuam de forma excelente, e isso se reflete bem no jogador. De fato, não é nem um pouco difícil simpatizar com os personagens e querer garantir sua sobrevivência.
Sim, sobrevivência. Desde o início somos informados que estamos marchando para uma missão suicida. ME2 é sobre um homem/mulher de liderança ímpar juntando uma tripulação para fazer o impossível. O sucesso ou não da missão depende unicamente do jogador e das escolhas que ele faz no decorrer do jogo. A história é sua, em qualquer rota que você tome com o personagem e qualquer resposta que você dê a outro personagem. Tudo que você faz sempre parece verossímil com o restante do jogo, independentemente da forma ou momento, e talvez esta seja a maior mágica de ME2.
Em combate, ME2 mistura elementos tradicionais de Third-Person Shooters (TPS) e RPGs. O grosso do combate é feito com armas de fogo, mas cada personagem tem ao seu dispor habilidades para despachar a oposição mais rapidamente. Cada personagem se especializa em dois tipos de armas e em algum ponto de habilidade (Combat, Tech ou Biotic). Com 12 personagens além do próprio Shepard, a diversidade é boa e permite montar grupos bem variados para lidar com qualquer situação ou especializar o grupo para lidar com um tipo de inimigo – novamente, a escolha é sua.
Ao completar missões, seus personagens recebem pontos de experiência e sobem de nível. Subir de nível significa que os personagens ganham pontos para destravar novas habilidades ou melhorar as que já possuem. Diferentemente dos RPGs tradicionais, você ganha poucos bônus em força, HP e defesa quando sobe de nível. Em ME2, esse tipo de evolução se apóia muito mais nas Researches (Pesquisas) feitas após completar a missão The Professor. e os bônus espalhados pelo universo do jogo. Assim, ao invés de receber um aumento de dano para seu Assault Rifle ao subir de nível, por exemplo, você deve encontrar os Assault Rifle Damage Upgrades espalhados nas diversas localidades do jogo, e complementá-los na Normady com algum outro bônus (precisão ou capacidade, por exemplo)
As Pesquisas não se resumem a melhorar suas armas, e fazer melhorias na Normandy é de suma importância para garantir a sobrevivência de seu esquadrão. Todas as Pesquisas são feitas usando-se uma quantidade determinada de um dos 4 tipos de materiais raros do jogo, e para consegui-los, você deve minerar planetas. É um processo simples de aprender, mas um tanto tedioso também, e muito fácil de ser explorado mesmo no início do jogo, o que pode desbalancear a jogatina.
Um ponto que incomodou alguns fãs do original é que, em ME2, o combate foi um tanto simplificado. Isso é verdade, mas definitivamente faz com que o jogo seja mais fluído e com menos ações desnecessárias. Sua energia se recarrega sozinha e não mais depende dos Medi-Gels (que agora são usados para reanimar personagens caídos), e os Thermal Clips substituem por completo o sistema de aquecimento das armas do original. A Inteligência Artificial dos inimigos é muito superior (em especial na dificuldade Insane), e exigirá uma certa dose de estratégia do jogador para lidar com os vários encontros do jogo. Estratégias diferentes não faltam, felizmente – a classe que você escolhe para Shepard no começo do jogo influencia em muito a forma como você joga, então há gameplay para todo tipo de jogador aqui, de tankers (Sentinel) a stealth (Infiltrator).
O aspecto técnico de ME2 também não desaponta. Os gráficos são belíssimos e construídos sobre a engine do futuro ME3, sequência já anunciada para o fim do ano. Essa nova engine, porém não se traduz absolutamente em gráficos melhores que sua contra-parte do X360 – alguns momentos são mais bonitos no PS3, enquanto em outros o console da Microsoft leva vantagem. Ambas as situações, porém, são apenas detalhes, e a menos que as duas versões sejam jogadas lado-a-lado, são imperceptíveis. Uma exceção bizarra se dá durante a pilotagem do Hammerhead (um nave pequena, por assim dizer) durante a missão Project Overlord (originalmente um DLC para X360 e PC, incluída gratuitamente no PS3), em que o chão possui texturas horrendas que destoam completamente do restante do jogo, incomodando muito o jogador durante uma das missões mais bacanas do jogo. Felizmente, este momento é único e é a exceção dos gráficos fantásticos. Os personagens são muito bem construídos e, à exceção da bizarra corrida de Shepard, se movem naturalmente. Uma atenção especial parece ser dada às raças alienígenas, que são visualmente impressionantes – os drell são o melhor exemplo disso.
A parte sonora também não desaponta e oferece uma trilha apropriada para o tema "Space Opera" do jogo, e conta com um trabalho de dublagem excepcional. De todas as vozes, o maior destaque vai para "FemShep" (a versão feminina de Shepard), dublada por Jennifer Hale (conhecida por nós por seu trabalho como Naomi Hunter na série Metal Gear Solid), que é absolutamente sensacional e, por vezes, muito mais convincente que o "MaleShep". Com um script excelente e nenhuma voz decepcionante, o áudio de ME2 é impassível de críticas.
Se existe algo passível de críticas em ME2, porém, são os bugs. Antes do patch recém-lançado, o jogo podia travar aleatoriamente e levar com este travamento todos os saves de ME2 e mais alguns de outros jogos (Bayonetta e Assassin’s Creed Brotherhood eram alguns dos mais comuns), causando transtornos enormes para os jogadores. Mesmo depois do patch o jogo ainda trava esporadicamente, Shepard fica misteriosamente preso em algumas partes do cenário e alguns diálogos são interrompidos antes de terminarem. Nada disso acontece com frequência suficiente para manchar o jogo, mas é realmente mais do que se esperaria de uma produção desse naipe – aliados aos loadings por vezes demorados, esses são os únicos responsáveis pelos 4% que separam ME2 de nossa recomendação máxima.
Nenhum bug, porém, é capaz de desmerece ME2. ME2 pode facilmente passar das 60 horas de jogo, e para agradar ainda mais aos fãs, a Bioware incluiu no disco todos os DLCs até então lançados para as outras plataformas. Stolen Memories, Overlord e Lair of the Shadow Broker são inclusos diretamente no disco, enquanto Zaeed, Firewalker, Normandy Crash Site e algumas roupas alternativas são baixadas pela CN. Com mais um pacote de DLC anunciado (Arrival), quem espera conteúdo certamente não se desapontará com ME2.
A bem da verdade, a única decepção de ME2 é seu fim. Não me refiro ao fim do jogo, e sim ao fim da jornada. Terminar ME2 só faz aumentar a sede por ME3. ME2 é um jogo excelente e deve ser dado uma chance mesmo para quem não gosta dos Shooters-RPGs ocidentais.
E que venha Mass Effect 3.
Veredito
96