Talvez nunca tivemos tantas oportunidades de vivenciar novamente experiências antigas como nessa geração de consoles. O PlayStation 4 é praticamente um portal para nostalgia devido às inúmeras remasterizações, ports e remakes que chegaram ao console. O que não faltou foram oportunidades em reviver títulos de até 3 gerações antes.
Uma franquia que viveu dividida entre gerações foi Mafia. O primeiro título, lançado ainda para o PlayStation 2, apresentou um universo pouco explorado até então e teve relativo sucesso. Mafia 2 foi lançado para o PlayStation 3 e talvez não tenha alcançado ótimos resultados, mesmo sendo um bom jogo. Mafia 3, já no PlayStation 4, errou em conceitos básico de mundo aberto e entregou uma experiência inchada e insossa demais.
Com o anúncio de Mafia Trilogy, a 2K pretende colocar a franquia nos holofotes novamente. Isso começa do relançamento de Mafia 3 com todos seus conteúdos disponíveis, o remaster de Mafia 2 e melhorias para a geração atual e também o primeiro jogo sendo totalmente refeito. Mafia 3 não teve nenhum trabalho específico, apresentando a mesma experiência de antes. O remake do primeiro jogo ainda está há alguns meses de distância, mas, a princípio, parece promissor. Já o remaster do segundo jogo seria a grande novidade imediata desse pacote.
Lançado em 2010 no PlayStation 3, Mafia 2 apresentava uma nova cidade no mesmo universo do jogo anterior. Seguindo a jornada de Vito Scaletta, os jogadores presenciaram a vida de um imigrante italiano e suas dificuldades no novo país. A trajetória de Vito na movimentada metrópole Empire Bay ia desde seus primeiros passos no mundo do crime, sua relação com a máfia italiana e as consequências de suas ações.
Mafia 2 tem vários pontos positivos que já se destacavam em sua época e que estão de volta na versão remasterizada. O enredo bem desenvolvido contando tanto a história do protagonista quanto do mundo da máfia a sua volta é um desses pontos. Ações e reações são talvez o maior atrativo aqui, sempre mostrando ao jogador que, com a máfia italiana, tudo pode acontecer. Ainda que o arco final da história tenha um sabor agridoce e, talvez, destoando em alguns fatos, o jogo vai continuar sendo reconhecido pela narrativa apresentada.
Um outro fator extremamente positivo, talvez o maior deles, é a ambientação criada aqui. A Empire Bay é quase uma representação adaptada da Nova Iorque das décadas de 40 e 50, mesmo período em que o jogo se passa. Foi tamanha dedicação nesse quesito pelo estúdio 2k Czech (desenvolvedora original e que foi extinta em 2017 na readaptação dos estúdios da 2k) que acaba sendo um ponto muito acima do restante do jogo. Isso vai desde a trilha sonora excepcional, ambientação de época dos personagens e NPC’s, veículos detalhados e locais que exalam o charme desse período que já acompanhamos em várias outras obras do entretenimento.
Ao que se percebe, a ambientação do título foi tão priorizada que outros pontos não receberam o mesmo empenho. A jogabilidade, em vários momentos, já era antiquada mesmo em 2010. O combate, de todas as formas, destoa negativamente quando comparado à outros jogos do mesmo ano. Atirar, lutas corpo a corpo, movimentação e até a dirigibilidade dos veículos eram atividades estranhas ou com sensação de mal polidos.
Algo bastante questionado no jogo era o mundo vazio. Muitos jogadores imaginavam um ambiente onde, ainda que houvesse prioridade na narrativa, também preenchesse o mapa com mais atividades secundárias, o que não aconteceu. Empire Bay ainda fornecia alguns afazeres extras para Vito, mas totalmente ligados às ações da máfia, como roubos e destruição de carros. A história é o que melhor faz uso de todo o mapa do jogo, sendo que o restante fica apenas pela busca dos colecionáveis existentes.
Mafia 2 era um bom título em sua época, mesmo que apresentasse erros primordiais para qualquer jogo de mundo aberto, caso seja possível taxá-lo dessa maneira. Jogabilidade datada era uma grande interferência para um melhor proveito ali, mas, no mínimo, era funcional. O título conseguiu uma recepção aceitável e, como é de conhecimento, ainda angariou uma sequência para a franquia.
A remasterização de Mafia 2 chega quase uma década depois do lançamento original do jogo. A cargo da d3t Ltd, que fez as remasterizações de Shenmue 1 e 2 e também por SEGA Mega Drive Classics, a versão definitiva de Mafia 2 traz, a princípio, as melhorias que se espera de um jogo que faz o salto entre gerações. Ainda que haja mudanças visuais notáveis, infelizmente o port para o PlayStation 4 é repleto de problemas.
De imediato, não há nenhuma mudança no que tange o jogo original. Jogabilidade, história, diálogos e trilha sonora sonora continuam intocáveis. Uma pena pelo menos a jogabilidade do título não ter sido atualizada, ou sequer melhorada, desperdiçando assim uma oportunidade para corrigir um dos problemas básicos do jogo. Aos demais quesitos, a remasterização fez, no máximo, adicionar mais alguns colecionáveis no mapa.
O principal ponto de qualquer remasterização é modernizar um jogo para as qualidade visuais atuais. As melhorias no título são perceptíveis e adicionam ainda mais qualidade principalmente na ambientação. Temos uma resolução maior, sombras de maior qualidade, texturas retrabalhadas, alguns modelos melhorados e efeitos que não seriam possíveis na época. Destaque para a inclusão de iluminação volumétrica, melhorando os efeitos de névoa que garantem um ar soturno em Empire Bay. Visualmente, as melhorias são agradáveis, mas fora isso, encontramos os maiores problemas do jogo.
A começar pela taxa de quadros por segundo, mesmo no PS4 Pro, há incríveis oscilações e quedas, principalmente em cutscenes, e sequer se mantém estável em 30fps. O jogo roda de forma irregular em momentos aleatórios, independente de um maior stress estar acontecendo. Mesmo a iluminação já elogiada sofre com alguns problemas. À distância, é possível conferir luzes e sombras desaparecendo ou piscando sem ajustes.
Há vários problemas que poderiam ser relatados aqui. Bugs em troféus do jogo, personagens com geometrias se desfazendo, áudio funcionando em apenas um canal quando deveria no mínimo ser stereo, surgimento inesperado de vegetação e partes do cenário, marcadores de missões que não aparecem, ícones da HUD que travam ou ocupam parte da tela sem necessidade e até, pasmem, bugs do jogo original que não foram concertados para a versão definitiva.
São inúmeros erros técnicos que é até difícil classificar a versão para os consoles atuais como remasterização. Um port, oriundo da versão de PC do jogo, é a definição mais correta. As melhorias mostradas são bem aceitas, mas logo deixadas de lado graças aos demais defeitos apresentados pelo jogo.
Ainda que seja uma pacote completo do jogo base com suas expansões lançadas, os vários defeitos criam uma experiência que deixa bastante a desejar. Aos que nunca puderam aproveitar o jogo em seu lançamento original há quase uma década atrás, talvez seja uma oportunidade de fazer isso agora. Fãs da franquia que já jogaram Mafia 2 anteriormente, não há nada que realmente compense revisitar o jogo a não ser pelo fator nostalgia. De alguma forma, as qualidade do jogo, como obra narrativa, ainda estão lá, entretanto, os vários problemas técnicos da versão definitiva são um impedimento em aproveitar isso.
Jogo analisado no PS4 Pro com código fornecido pela 2K Games.
Veredito
Com uma remasterização de baixa qualidade, Mafia 2: Definitive Edition é uma obra que pode ser ignorada completamente. As qualidades do jogo original estão presentes, mas ofuscadas pelo péssimo trabalho técnico executado. Além dos jogadores que nunca experimentaram o título, a versão para os consoles da geração atual não pode ser recomendada a ninguém.
Veredict
With a low quality remastering job, Mafia 2: Definitive Edition can be completely ignored. The quality of the original game is present, but overshadowed by the terrible technical work. Besides players that have never tried the title before, the console version of the current generation isn’t recommended for anyone.