Madden NFL 24 – Review

Poucos períodos do ano são tão empolgantes quanto o espaço entre os meses de agosto e setembro. Futebol, em todas as suas formas, seja com a bola redonda ou oval, está retornando, e com isso novos jogos digitais permitem aos mais empolgados e fervorosos torcedores imaginar uma temporada de muito mais esperança e sucesso para o seu time do coração.

Naturalmente, aproveitando toda essa empolgação é iniciada também o período de lançamento das versões digitais dos queridos esportes, com o já tradicional lançamento do simulador oficial de futebol americano sendo o primeiro a chegar ao mercado. E muito pode ser dito sobre o sucesso recente dele ou não, mas talvez até mais que em anos anteriores, Madden NFL 24 promete chegar com toda pompa e circunstância para entregar a melhor representação possível no esporte dentro de campo.

O sucesso ou não de Madden NFL 24 em termos pessoas vai depender muito da sua opinião sobre o jogo do ano passado. Afinal, talvez mais do que em qualquer edição que eu tenha pessoalmente analisado ao longo dos últimos anos, ele vem envolto praticamente na mesma camada de tinta e pacote de modos já vistos em anos anteriores.

Antes de falar sobre o gameplay, cabe aqui dizer que os modos são, essencialmente, aquilo que já se vê há anos. Ultimate Team segue sendo exatamente como em anos anteriores, com a principalmente diferença agora ficando por conta de ser o claro foco central da experiência. A EA claramente quer que você siga por aqui, visto que até mesmo o Play Now ficou em segundo plano em relação ao já consagrado modo de coleção de cartas/jogadores e embates online entre jogadores. O modo segue sendo excepcionalmente completo e com sucesso exigindo muita dedicação ou investimento financeiro, então se você já é fã dele ou não liga muito, não vai ser esse ano em que isso irá mudar.

O modo Franchise traz basicamente todas as melhorias vistas no ano passado, com apenas alguns ajustes nas ferramentas à disposição do jogador e o retorno dos minigames no Training Camp, algo previsível visto que as melhorias que já haviam sido feitas após tantas reclamações dos fãs parecem ter sido suficientes para a EA poder mudar seu ponto de vista para um outro problema: o modo Face of the Franchise. Embora não exista uma narrativa aqui esse ano, muito do foco ficou em dar mais liberdade ao jogador para alcançar o objetivo máximo de alcançar o “Clube dos 99” como QB, HB, WR, MLB ou CB.

Há ainda uma certa narrativa bem simples ao redor do modo, com a principal novidade ficando pela inclusão de todos os testes vistos no Combine, incluindo aqui algo muito próximo do famoso Wonderlic. Será necessário realizar esses testes, além dos exercícios semanais e completar uma série de missões in-game para conseguir chegar ao seu objetivo, mas é algo finalmente muito mais recompensador do que as narrativas bobas vistas em anos passados.

Dito tudo isso, é ótimo ver que finalmente o The Yard morreu, sendo substituído por algo muito mais divertido e interessante na forma do Superstar Showdown, um modo 3v3 que pode ser jogado online via co-op ou solo, no qual os jogadores escolhem suas posições e vence quem chegar primeiro a 21 pontos. Sendo algo muito mais divertido e próximo de capturar a diversão vista, por exemplo, no Volta.

O foco aqui é o centro de todas as mudanças: os fundamentos do esporte. E sim, é notável que várias das melhorias e ajustes são perceptíveis no que mais importa, que são os acontecimentos em campo. Não que não tenhamos novidades em outros pontos, mas as melhorias trazidas através do upgrade no FieldSENSE são notórias e velhos problemas foram resolvidos. É claro, com isso, novos problemas parecem ter surgido afetando diretamente a ação em campo.

Muito disso é resultado das novas tecnologias de animação introduzidas nesse ano (e que estarão presentes em outros jogos da EA Sports, como o vindouro EA Sports FC 24) como o SAPIEN. A movimentação dos personagens é bem mais realista e concreta, com a interação entre os corpos colidindo muito mais próximas do que se veria em uma transmissão real. Esse ponto, aliás, foi uma ênfase do jogo, tentando transformá-lo o mais próximo possível ao que se veria na TV, incluindo algumas interações entre jogadores após as jogadas.

Voltando ao gameplay, um ponto constante de reclamação ao longo dos últimos tem sido a forma como os tackles funcionam. Embora ainda existam tackles quebrados e jogadores escorregando após agarrar o adversário e permitindo-os avançar por muito mais jardas do que deveriam, a constância foi reduzida consideravelmente, em parte graças à grande variedade de novos tipos de tackles, com novos ângulos e maior responsividade baseada no tipo físico do jogador. Ainda há um longo caminho a ser melhorado, mas a impressão que se tem após várias partidas nessa janela de lançamento é de que o problema foi minimizado.

Talvez a mais considerável e perceptível mudança é no novo sistema de passes, chamado de Skill Based Passing 2.0. A primeira e mais gritante das mudanças trazidas por esse sistema, é que, com uma ênfase maior no timing e na própria habilidade intrínseca dos jogadores reais, há uma maior variação no êxito das jogadas de passe, com mais recepções falhando, mais drops acontecendo e passes menos preciso quando lançados por quarterbacks piores.

Dito isso, a quantidade de passes perdidos que não deveriam simplesmente bater nas mãos de recebedores e cair é astronômica e beira o ridículo. Sim, é natural que até mesmo jogadores completamente abertos deixem passes cair quer sejam eles lançados por Patrick Mahomes ou pelo Zack Wilson, mas ver até mesmo estrelas como Justin Jefferson, Ja’marr Chase e Mike Thomas dropando passes perfeitos nas mãos por culpa da aleatoriedade do jogo é frustrante e destrói qualquer simulacro de realismo que o jogo tente criar.

Onde o realismo mais prospera aqui é na quantidade absurda de novas animações de passe. Coisas antes inimagináveis e que se tornaram comuns em tempos recentes como passes correndo, pulando e até mesmo se jogando no chão finalmente foram recriados com exatidão no jogo e QBs com capacidade para criar com as pernas se tornaram ameaças maiores, cada vez mais difíceis de colocar no chão.

Isso significa que, tal qual em jogos anteriores, a capacidade de reação e velocidade dos jogadores é uma parte essencial da experiência em campo. Com o sistema de recepções contestadas ainda funcionando perfeitamente como planejado, a habilidade de criar espaço entre si e o defensor (ou vencer a linha ofensiva no caso de se controlar um jogador defensivo) é fundamental em um jogo tão baseado em duelos individuais e curtos tempos de reação, algo que Madden NFL 24 consegue criar excepcionalmente bem.

E aqui cabe dizer que as consideráveis melhorias ao sistema de linha ofensiva e bloqueios do jogo é uma benção para quem já vinha cansado de ver o pocket estraçalhado tal qual uma bolacha de sal. Esse novo sistema é claramente refletido também na considerável evolução no jogo corrido, muito mais fluído e realista, com seus pontos altos sendo alguns dos melhores que o Madden já viu em sua história. HBs finalmente são tão importantes quanto QBs nas mãos de bons jogadores e o seu impacto no jogo é imensurável.

O problema é que, por vezes, ele beira o absurdo de tão poderoso que fica, graças aos já mencionados problemas com os tackles que seguem sendo vistos. Quando funciona, funciona excepcionalmente bem e é lindo de ver, mas, em vários outros momentos, parece que o modelo de personagem simplesmente não reconhece o contato e as animações não são ativadas, com inimigos parecendo bolas de pingue-pongue na forma como o contato é recebido.

Um último ponto importante a ser mencionado é que houve uma importante atenção dada a melhoria da experiência no ponto de vista da apresentação. O áudio, modelos de personagens, gráficos de transmissão, iluminação, narração… Tudo foi consideravelmente melhorado e tornam a experiência muito superior e a ambientação muito mais rica do que a que era vista em anos anteriores, demorando um pouco mais para a fadiga e repetição chegarem. Dito isso, o nível de detalhes e realismo é tão grande que o PS5 sofre um pouco fora do modo performance, então recomenda-se fortemente a escolha por ele.

Falando de problemas, o maior e mais irritante é a completa falta de responsividade nos menus, sendo talvez o pior que a série viu em muito tempo. Se mover por ele para realizar até as ações mais básicas demora muito mais do que devia e chega a ser irritante, muitas vezes gerando o questionamento de como algo que vinha em uma crescente curva de melhorias pode ter caído tanto de qualidade de um ano para outro.

Considerando tudo que foi dito até aqui, o sentimento que se tem com Madden NFL 24 é algo um tanto quanto misto. Embora as melhorias vistas dentro de campo sejam consideráveis, a falta de ajustes e, em vários pontos até mesmo retrocesso do restante da experiência acabam trazendo algo bastante desigual.

Esse talvez seja o jogo mais completo e divertido até aqui na atual geração de consoles, mas, ao mesmo tempo, há muito tempo não se tinha tão clara a sensação de que as melhorias necessárias são tão pequenas, ajustes tão pontuais para melhorar todo o pacote que beira a frustração. Se você é um fã buscando uma experiência divertida com amigos ou não se incomoda em ter a mesma experiência do ano passado com um gameplay melhorado, Madden NFL 24, ele irá te agradar muito. Se você esperava mais, no entanto, talvez sua empolgação seja melhor direcionada para a ação real em campo.

Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Electronic Arts.