Lost Judgment – Review

Lost Judgment é a sequência de Judgment, um excelente título originalmente lançado em 2019 e um spin-off da série Yakuza. Lost Judgment aperfeiçoa e expande muitos aspectos construídos por ser antecessor, além de adicionar ainda mais variedade para um pacote que já era bastante completo. A história do original foi um ponto bastante alto e Lost Judgment vai além do esperado nesse ponto com uma narrativa interessante, madura, complexa e, muitas vezes, inesperada. Lost Judgment é um título pelo qual tinha expectativas bastante altas e que, felizmente, foram correspondidas e, até mesmo, ultrapassadas. 

Primeiramente, gostaria de enfatizar que Lost Judgment é um título contido, no sentido que não é necessário jogar seu antecessor para aproveitá-lo. É bastante claro que os desenvolvedores tiveram bastante cuidado em criar um título que fosse receptivo para novos jogadores, mesmo que utilize a base e elenco principal de Judgment. Algumas poucas referências ao original são feitas, mas sem detalhes, permitindo que novos jogadores possam ainda se surpreender com o original mesmo após concluir Lost Judgment.

A história se inicia com o detetive profissional e protagonista, Yagami, aceitando ajudar seus amigos com uma investigação dentro do colégio Seiryuu em Ijincho, Yokohama. O diretor do colégio pede que investiguem e encontrem provas de possíveis ocorrências de bullying para que possam agir antes que o problema saia de controle. Ao mesmo tempo, um molestador em Tóquio, durante seu julgamento, revela a localização do corpo de um professor desaparecido ligado à escola Seiryuu e que também estava envolvido em um caso de bullying que resultou em suicídio. O mistério de como os dois casos se ligam é um dos principais proponentes da história de Lost Judgment e é feito de maneira fenomenal. 

Bullying é um tema central na história de Lost Judgment e que os desenvolvedores trataram com bastante seriedade e maturidade, principalmente considerando que esse é um problema bastante sério na sociedade. O título retrata, de maneira bastante visual, casos sérios de bullying e suas graves consequências chegando, inclusive, a demonstrar os princípios psicológicos por trás do ato, o estado mental das vítimas e, também, as maneiras adequadas e erradas de se tratar o problema. Além disso, o jogo demonstra as consequências do bullying por todas as perspectivas possíveis: das vítimas e seus familiares, dos infratores, das pessoas ao redor do ato, dos professores e muito mais. 

A excelente narrativa faz com que todos esses acontecimentos e informações cheguem ao jogador de maneira natural e nos momentos corretos. O jogo não procura dar uma lição de moral que os jogadores devem aceitar ou resumir um problema complexo como o bullying a um adjetivo simples como mau ou ruim, mas permitir que o jogador possa tomar suas próprias conclusões a partir dos eventos, narrativas e atitudes ali retratados. O próprio título demonstra várias diferentes opiniões em relação ao tema e, uma das grandes conquistas dessa história como um todo, como essas diferenças levam as pessoas a colidirem, pois não há uma opinião necessariamente certa e outra errada. Em minha conclusão pessoal, por exemplo, acabei concordando mais com o antagonista do que com Yagami. 

Com uma história e narrativa complexa, é natural que seu tempo também seja consideravelmente extenso. Não são incomuns os momentos na história onde o jogador irá simplesmente caminhar de um ponto para outro para continuar a narrativa. Em outros momentos acontecem lutas, perseguições, investigações e afins que, apesar de terminarem rapidamente, trazem alguma variedade de atividades entre as cutscenes. 

O ritmo geral do jogo, no entanto, não foi algo que me incomodou, especialmente porque estava investido no mistério e nos personagens da trama. Como mencionei em minha análise do Judgment original e que também se aplica a Lost Judgment, ambos os títulos se assemelham mais a jogos de aventura e investigação com um orçamento bastante generoso e com lutas ocasionais que também terminam rapidamente. Não há um grande foco em ação como na série Yakuza e Lost Judgment, ainda por cima, é mais firme nessa sua identidade quando comparado com seu antecessor. Não há longos estágios focados puramente na porradaria e, mesmo com alguns momentos mais intensos em termos de combate, cada confronto tende a terminar rapidamente.

Falando em porradaria, os sistemas de combate têm algumas novidades que, no final das contas, tornam praticamente todas as lutas ainda mais rápidas. Yagami têm um novo estilo de luta, cobra, que é focado em contra-ataques e é extremamente poderoso, no entanto, mesmo com essa adição, seu arsenal de golpes ainda é limitado comparado com demais protagonistas da série Yakuza. Outra adição é que é possível contra-atacar, em qualquer estilo, um inimigo ou chefe que tenta desferir um golpe mortal e assim causá-lo uma grande quantidade de dano. Yagami não resiste muito a golpes e uma sequência ruim de ataques pode levar rapidamente a um game over. Consequentemente, os desenvolvedores permitem que o jogador carregue muitos itens de cura em seu inventário e também possa produzir extratos que são basicamente a forma oficial de usar um cheat code no combate. É bem claro que o combate, apesar de divertido, não é para ser o foco da experiência mais do que o necessário. 

Yagami, para o melhor e para o pior, tem uma variedade de ações e outras bugigangas que o ajudam em suas investigações. Quando alguém tenta escapar correndo do longo braço da lei, logo Yagami irá persegui-lo pela cidade. Quando um caminho se encontra indisponível, Yagami irá utilizar seus novos movimentos de parkour para encontrar uma entrada alternativa. Se há muitos inimigos em uma sala e não se pode deixar ser encontrado, Yagami irá se esconder e as novas sequências de Stealth acontecem em seguida. Isso sem contar mecânicas de tirar fotos, investigar e deduzir, encontrar sons ou usar um cachorro para farejar algo e por aí vai. 

Com todas essas mecânicas, existem alguns problemas centrais em suas experiências. Por exemplo, perseguição, stealth e parkour são segmentos altamente scriptados, dando pouca ou quase nenhuma liberdade ao jogador de experimentar com as possibilidades. Tirar fotos, encontrar sons e a ajuda do cachorro são particularmente úteis em objetivos opcionais, mas na história principal são utilizados pouquíssimas vezes e então prontamente esquecidos. As investigações começam mais interessantes nos momentos iniciais do jogo, mas os desenvolvedores nunca vão além para realmente desafiar o intelecto do jogador. Não ajuda também que boa parte dessas mecânicas tornam-se verdadeiras encheções de linguiça nos atos finais. 

As investigações de Yagami o levam a diversos locais de Ijincho e Kamurocho, locais familiares para aqueles que conhecem a série Yakuza e, principalmente, seu último título: Like a Dragon. No entanto, é bem claro que o foco não está nos dois bairros, sendo que ambos têm um número reduzido de locais e atividades quando comparado aos demais títulos do estúdio. O foco, por assim dizer, está no colégio Seiryuu e as atividades extras estão ligadas aos diferentes clubes do colégio. 

Yagami é convencido a se tornar o conselheiro do clube de mistérios que agem como detetives para resolver casos ligados aos alunos do colégio. Os casos mais recentes têm ligação com um perfil chamado “O Professor” que, efetivamente, colabora e incentiva crimes realizados por alunos do colégio. Yagami então se infiltra e ajuda os diferentes clubes dentro do colégio para conseguir mais informações sobre “O Professor” e também ajudar os alunos envolvidos antes que a situação se torne realmente séria. 

Cada clube tem não só uma história própria e que, posteriormente, se liga com a história principal sobre “O Professor” como também tem sua própria jogabilidade. A quantidade de conteúdo aqui é simplesmente absurda e relembra os Another Story vistos em Yakuza 5. O primeiro clube que Yagami se infiltra, por exemplo, é o de dança e que tem a jogabilidade similar a um jogo de ritmo. Outro clube têm uma jogabilidade semelhante a um RTS com elementos de quebra cabeça. Somente essas histórias e conteúdos poderiam ser um título e uma análise própria e certamente muitos jogadores vão ter seus favoritos e odiados dentro desse grupo bastante variado. 

Jogo analisado no PS4 com código fornecido pela SEGA.