Yakuza: Like a Dragon foi um divisor de águas. Marcando não apenas a mudança de gênero, saindo de um game de ação para um RPG, ele também consolidava Kasuga Ichiban como o novo protagonista da franquia. Entretanto, lembro-me quando joguei o game pela primeira vez e, para minha surpresa e alegria, me deparei com a participação do próprio Dragão de Dojima na trama. Naquele momento, a grande questão que permeava a mente dos fãs era descobrir o que Kiryu havia feito nos últimos anos para justificar sua presença ali. Like a Dragon Gaiden: The Man Who Erased His Name vem para preencher essa lacuna.
A história do game se passa 3 anos após os eventos de Yakuza 6: The Song of Life. Depois de ter forjado sua morte para proteger aqueles que ama, Kiryu, agora com o codenome de Joryu, passa seus dias realizando trabalhos para a Facção Daidoji. E é em um desses trabalhos que ele se verá envolto, mais uma vez, no submundo da Yakuza. Enquanto explora Sotenbori e o misterioso navio-container Castle, cada passo e decisão de Kiryu irá culminar em sua participação nos eventos do sétimo título da franquia.
Voltando às origens, temos aqui uma gameplay no melhor estilo beat’em up, com Kiryu podendo utilizar dois estilos diferentes de combate: Yakuza e Agente. No modo Yakuza, o Dragão de Dojima volta com seu moveset de Yakuza Kiwami 2, desferindo golpes poderosos capazes de derrubar até mesmo um tigre. Enquanto o modo Agente se aproveita de golpes rápidos e precisos, mas também conta com uma série de apetrechos que deixarão o combate ainda mais dinâmico. Kiryu poderá utilizar a Aranha para prender inimigos e lançá-los para longe e a Vespa para chamar diversos drones em seu auxílio. Temos também a Serpente, útil para fugir ou se aproximar rapidamente dos inimigos podendo até mesmo atropelá-los e, por último, o Vaga-Lume, um cigarro explosivo.
Ambos estilos são extremamente divertidos de jogar, cada um sendo mais útil em determinadas situações e com suas próprias heat actions, com um destaque especial para as do modo Agente. Além disso, também podemos comprar novas habilidades e realizar upgrades nos apetrechos. Investir nessas técnicas fará total diferença para aqueles que quiserem aproveitar todo conteúdo extra que o game oferece.
Seguindo a mesma estratégia presente nos outros títulos, a RGG se aproveita dos momentos mais tranquilos da história para introduzir seu conteúdo extra e Gaiden não fica para trás quando o assunto é diversidade de objetivos secundários. Logo no começo do game seremos apresentados a faz tudo de Sotenbori, Akame. Ela possui uma rede de informantes espalhada pela cidade e através dela será possível acessar o Registro de Atividades, mais conhecido como complete list para os veteranos da franquia. Akame também nos dará acesso ao Mapa de Suporte que consiste em pequenas missões de solicitações espalhadas por toda cidade, podendo variar de entregar um item de cura a até fotografar um determinado local. Ajudar as pessoas com seus pedidos não só irá nos recompensar com dinheiro, mas também com os chamados Akame Points que serão utilizados para expandir o alcance da Rede e liberar opções de investimentos – um recurso vindo diretamente de Judgment – que, por sua vez, proporcionam ainda mais benefícios como aumento de drop de dinheiro, redução de preço na loja de Akame, entre outros.
Akame também será a responsável por nos apresentar ao Castle, um berço do entretenimento que se localiza dentro de um navio-container. Nele encontraremos os tão já conhecidos poker, blackjack, koi-koi e oicho-kabu. Haverá também a Boutique, uma loja que não só permitirá a compra de equipamentos extremamente poderosos, como irá nos apresentar às criações de visuais, onde poderemos personalizar diversos conjuntos de roupas para Kiryu. Apesar de interessante, tais roupas não afetam em nada os status e estão ali para fins cosméticos. Mas a grande atração fica por conta do Coliseu, um lugar onde os mais fortes lutadores vão em busca de desafios. Nele, além das lutas individuais, também seremos apresentados às Brigas Infernais que consistem em enfrentar uma horda de inimigos apenas com Kiryu.
Vindo como uma evolução do Clan Creator também presente em Yakuza 6 e Kiwami 2, aqui em Gaiden temos o Clã Joryu. Nele podemos recrutar os mais diversos lutadores – alguns até familiares demais – e treiná-los, elevando não apenas seu nível, como também seu vínculo com Kiryu. Ao formar uma boa equipe, resta colocá-la em ação através das Brigas Infernais em Equipe. Como cada integrante possui uma habilidade especial, será possível criar boas estratégias para vencer as partidas de rank mais elevados. Mas diferente do Clan Creator, aqui Kiryu entrará em combate junto com sua equipe. Não apenas isso, será possível também escolher qualquer lutador do Clã Joryu para jogar os outros modos mencionados acima.
Além dos minigames já mencionados, também poderemos passar boas horas no fliperama conferindo games como Sonic Fighters, Virtua Fighter, Sega Racing, entre outros. Ou se o jogador preferir, poderá se divertir no karaokê, mahjong, golfe, sinuca e por último, vindo diretamente de Yakuza 0 e Kiwami, o autorama numa versão muito mais completa e com dezenas de pistas e desafios.
Os famosos clubes de hostess continuam marcando presença e passaram por um grande upgrade. Dessa vez todas as interações serão realizadas através de vídeos live action das hostess o que, para alguns, pode causar um pouco de desconforto. Entretanto, a maneira como interagimos com as garotas está bem mais simples do que em outros títulos, basta escolher um card com um determinado assunto, assistir uma pequena interação e dar uma resposta, tudo bem rápido e dinâmico.
As histórias secundárias seguem presentes em Gaiden, e apesar de seu número bem reduzido, temos aqui algumas das melhores de toda a franquia. Vale ressaltar que para aproveitá-las ao máximo é interessante que o jogador conheça toda a trajetória de Kiryu. Espere encontrar referências a outros títulos da saga e a, até mesmo, Judgment. É também através das histórias secundárias que conseguiremos recrutar a maioria dos integrantes do Clã Joryu, o que, particularmente, não me agradou tanto. Todas eles possuem uma mini narrativa, mas, no caso das focadas em recrutamento, acabam se tornando repetitivas uma vez que já sabemos que o resultado final será apenas mais um integrante.
Like a Dragon Gaiden traz de volta a Dragon Engine – Ishin, o último game do estúdio, foi feito na Unreal Engine -, portanto espere visuais belíssimos com uma Sotenbori cheia de vida e, por incrível que pareça, ainda mais linda. É impossível não se sentir no Japão ao sair explorando cada canto da cidade, visitando restaurantes e lojas. Os efeitos de partícula durante as animações de combate acrescentam um charme a mais na parte visual e a trilha sonora, principalmente durante os momentos de ação, traz a dose de adrenalina ideal para o game.
Por se tratar de uma game com escopo reduzido, Gaiden não traz um New Game+ e nem mesmo a dificuldade Legend. Para aqueles que possuem dificuldades com games de ação, ao selecionar a opção fácil, o game passa a liberar uma assistência de combate que consiste em apenas apertar quadrado para um auto combo ser gerado. Caso o jogador não queira utilizá-la, basta desativá-la. O game também vem localizado para nosso idioma já no lançamento, diferente de Yakuza: Like a Dragon que recebeu um patch com a tradução meses depois. Vale mencionar que o trabalho dos tradutores ficou excelente, adaptando os diálogos para expressões que estamos acostumados a escutar no Brasil e, em alguns momentos, proporcionando boas risadas.
O maior problema de Gaiden é justamente por ser um spin-off e depender de eventos entre games para fisgar o jogador. Não me entenda mal, mas dificilmente uma pessoa que não possui contato com a franquia e opte começar por ele sentirá todo o peso das decisões de Kiryu e suas emoções diante os acontecimentos da trama. Gaiden não só mostra os momentos finais de Yakuza 6, o que por si só já é um grande spoiler, como também conta de maneira resumida uma série de eventos de Yakuza: Like a Dragon, uma vez que a história se passa entre tais acontecimentos. Ou seja, a maioria dos pontos chaves da trama acaba sendo recapitulada em Gaiden.
Ao mesmo tempo, Like a Dragon Gaiden pode ser visto como uma nova carta de amor aos fãs, sendo Yakuza 0 a primeira. Como fã da franquia, foi gratificante encontrar pequenas referências aos outros jogos, seja em uma imagem, um diálogo ou apenas uma luta no coliseu. A maneira como o personagem de Kiryu é escrito neste game desperta dezenas de emoções, pois você consegue entender cada sentimento dele. Takaya Kuroda entrega aqui sua melhor performance como o personagem. Encerrei o game com uma sensação de leveza, mas também de empolgação e ansiedade pelo que nos espera em Like a Dragon Infinite Wealth.
Like a Dragon Gaiden é, como já dito, um game para os fãs. Se você é uma das pessoas que tem interesse pela franquia, aconselho a não começar por ele, pois grande parte do peso de sua narrativa será perdido. Mesmo sendo um game mais curto, ele traz uma trama extremamente madura junto de uma boa quantidade de conteúdos extras e uma gameplay divertida e viciante que nos mostra que a fórmula utilizada pela Ryu Ga Gotoku Studios está bem longe de enjoar.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela SEGA.
Veredito
Apesar de não ser indicado para jogadores de primeira viagem, Like a Dragon Gaiden é um spin-off feito para os fãs que cumpre seu objetivo: entrega uma narrativa envolta em uma montanha russa de emoções com a tradicional gameplay beat’em up e dezenas de atividades secundárias. Seguindo a clássica fórmula da franquia, o game diverte, emociona e eleva ainda mais as expectativas para Like a Dragon: Infinite Wealth.
Like a Dragon Gaiden: The Man Who Erased His Name
Fabricante: Ryu Ga Gotoku Studio
Plataforma: PS4 / PS5
Gênero: Ação / Aventura
Distribuidora: SEGA
Lançamento: 09/11/2023
Dublado: Não
Legendado: Sim
Troféus: Sim (inclusive Platina)
Veredict
Despite not being suitable for beginners, Like a Dragon Gaiden is a spin-off made for fans that fulfills its objective: it delivers a narrative wrapped in a rollercoaster of emotions with traditional beat’em up gameplay and dozens of secondary activities. Following the franchise’s classic formula, the game entertains, excites and raises expectations even further for Like a Dragon: Infinite Wealth.