O PlayStation 4 carecia de grandes jogos exclusivos em seu lançamento. O único deles que atraiu a atenção do grande público foi Killzone Shadow Fall. Anunciado na conferência de apresentação do PS4 em fevereiro de 2013, Shadow Fall chamou a atenção do público com visuais incríveis e uma visível reformulação na variedade de cenários quando comparado aos jogos anteriores da série.
Killzone foi uma série que nasceu no PlayStation 2 em 2004, pelas mãos do estúdio holandês Guerrilla Games. Um tanto quanto controverso, o primeiro jogo foi bom, mas não chegava a ser a “revolução do gênero FPS”, como disse a Sony à época. Se não bastasse isso, após o trailer de anúncio de Killzone 2 divulgado na E3 de 2005 ter se provado totalmente enganoso, o nome da série ficou bastante ameaçado. Entretanto, o lançamento do mesmo game em 2009, agora para o PS3, mostrou finalmente aquilo que todos ansiavam desde o primeiro Killzone: um ótimo FPS com excelentes gráficos, cenários grandiosos e um multiplayer viciante. Killzone 3, lançado em 2011 também para o PS3, manteve o nível de seu antecessor.
Após ter conquistado certo respeito perante a crítica e o público, inclusive tendo acumulado um considerável número de cópias vendidas, já era de se esperar que Shadow Fall causasse burburinho no meio gamer, principalmente em se tratando do lançamento de um novo console: o PlayStation 4.
O ponto de partida de Killzone Shadow Fall se dá 30 anos após os acontecimentos de Killzone 3. E é aí que tem início um dos pontos mais fracos do jogo: a história. O enredo do jogo é mais raso do que uma piscina infantil. Depois de ter destruído o planeta Helghan nos eventos de Killzone 2 e 3, o governo de Vekta toma a mais estúpida das ações a serem consideradas: abrigar os helghasts em seu próprio lar. Em uma clara alusão ao muro de Berlim, as duas nações dividem o mesmo planeta separados apenas por um muro. De um lado ficam os vektans, representando uma nação “democrata”, mas um tanto determinada e cruel demais na execução de seus planos – em uma perceptível referência aos EUA. Do outro lado ficam os helghasts, uma nação regida por um governo totalitário, uma espécie de “nazismo stalinista”.
Mas os clichês não param por aí. O desenrolar da história tem reviravoltas totalmente previsíveis, incluindo traições e um dos finais mais estúpidos e sem graça já presenciados em um jogo. Os personagens não têm carisma algum. Ao longo do jogo, você não faz a mínima questão de lembrar de seus nomes, nem mesmo do protagonista (Lucas Kellan), de tão superficial que é a formação da personalidade de cada um deles. Até mesmo os helghasts, tão amados antagonistas da série, carecem de atitude e personalidade.
Uma das mudanças que favorecem o jogo é o design de ambientes, mais variado e principalmente turbinado com gráficos de cair o queixo. Esqueça aquele cinza predominante em outros Killzone. Cores bem vivas e definidas, efeitos de luz e sombra, reflexos nas vidraças de prédios, enfim, o visual do jogo surpreende e em momento algum deixa a desejar.
Porém, apesar do design de níveis ser bom, as fases não passam de galerias de tiro e resumem-se a ir do ponto A até o ponto B, roubar documentos, salvar vítimas, tudo isso regado a muito chumbo e explosões. Eu não poderia deixar de citar as fases em que você vaga pelo espaço com zero de gravidade, que de longe são as piores e mais entediantes de todo o jogo. Com controles que não respondem corretamente, locais imensos em que você fica facilmente perdido, frustração é a palavra que melhor define as fases em gravidade zero.
Entre tantas mudanças, Shadow Fall ainda mantém a essência da série Killzone. Apesar de você sentir maior leveza na jogabilidade, o DNA da série ainda se mostra presente. O sistema de cobertura, o “carrinho” após uma corrida, a movimentação fluida, está tudo lá.
Uma adição mal utilizada é a inclusão de um drone, o OWL, o qual você aciona utilizando o touchpad do DualShock 4. Em certos momentos ele se torna muito útil, como quando você está em um nível mais elevado e usa o drone como uma tirolesa. Ou quando você está cercado por inimigos e ordena o drone a acionar um escudo protetor. Porém, ao final de tudo isso, parece que ele foi incluído apenas para justificar a adição do touchpad ao controle do PS4.
Em contrapartida a tantos pontos negativos, o lugar onde Killzone Shadow Fall brilha é o multiplayer. Marcam presença modos comuns a outros jogos, como Team Deathmatch, Search and Destroy, além do clássico modo Warzone, onde há uma mistura de praticamente todas as outras modalidades multiplayer em apenas uma partida, tornando tudo muito dinâmico. Uma das novidades do multiplayer é o sistema de progressão baseado em challenges, e não em XP.
A seleção de classes conta com três opções: scout, assault e engineer, cada qual com suas armas, vantagens e itens específicos. Há ainda a possibilidade de criar salas multiplayer totalmente customizáveis. Desde a rotatividade de mapas, modos, até mesmo a restrição de determinadas classes e armas, tudo aqui pode ser personalizado.
Veredito
Killzone Shadow Fall chegou como o grande título exclusivo no lançamento do PlayStation 4. Entretanto, a mudança de rumo em vários quesitos, como a falta de profundidade da história, a parca formação dos personagens, a má utilização do touchpad do DualShock 4 tornam Shadow Fall um jogo extremamente cansativo no modo campanha. O que compensa são os gráficos de ponta e o excelente multiplayer. No fim, parece que a Guerrilla tentou fundir Crysis com Call of Duty, ou seja, bons gráficos e uma enxurrada de chumbo ao longo do game. Porém, faltou tempero nessa salada, e o resultado final é um jogo sem sal que se distancia e muito dos dias de glória de Killzone 2.
Jogo analisado com cópia física adquirida pelo redator.