Jogos de exploração livre (também conhecidos como open worlds) são uma das tendências atuais da indústria de videogames. Dar liberdade total (ou quase total) para os jogadores permite que cada um jogue da forma como preferir, seja apenas passeando pelos cenários, realizando missões secundárias ou seguindo à risca a história. De Shenmue a Fallout 3 e New Vegas, de Assassin’s Creed, inFamous e Borderlands aos grandes jogos da Rockstar como Grand Theft Auto, Red Dead Redemption e L.A. Noire (a ser lançado), opções de jogos do gênero não faltam. Impressiona, portanto, o fato de Just Cause 2 ser, em muitos aspectos, melhor que todos esses nomes de peso.
Just Cause 2 (JC2) é um jogo de ação/aventura e tiro em terceira pessoa que se passa na fictícia ilha de Panau, no sudeste da Ásia. O novo ditador da ilha, Pandak "Baby" Panay, não está cooperando com os Estados Unidos como seu pai fazia antes de morrer, e uma agência norte-americana conhecida apenas como "The Agency" (provavelmente uma referência à CIA) despacha um de seus melhores homens, Rico Rodriguez, para lidar com a situação. A história é cheia de clichês, de personagens absurdos e situações e atuações ridículas, mas isso não diminui em nada o valor do jogo, pois tudo tem um ar de "feito de propósito" para ser assim. Você vai rir do jogo, e não com ele, mas propositalmente. Considerando outras características de JC2, como a jogabilidade, essa abordagem é mais do que acertada.
Os controles diferem um pouco do padrão dos jogos de tiro em terceira pessoa. Não há um botão para mirar, apenas o botão para atirar (R2). L2 atira a granada (ou o C4, caso esteja equipado), X pula, quadrado recarrega a arma, círculo usa um ataque físico, triângulo é o botão de ação contextual (faz diferentes ações dependendo da situação) e R1 é usado para correr ou para se esquivar. O grande diferencial do jogo está no L1: ele atira um gancho que agarra qualquer superfície e puxa Rico em sua direção.
Essa simples mecânica altera completamente a forma de jogar um jogo de mundo aberto e navegar pelos seus ambientes. Para ir para a frente em poucos segundos, para escalar uma montanha ou um prédio ou para se aproximar de um veículo distante para dirigí-lo, basta mirar e usar o gancho para ser puxado rapidamente. O gancho por si só já faria JC2 se destacar em meio aos outros jogos, mas ele possui outra mecânica que cimenta a sua superioridade: o pára-quedas.
O gancho não serve apenas para navegar pelo cenário, também podendo ser usado para puxar inimigos durante as batalhas, esteja ele no chão ou em alguma plataforma alta (sendo portanto morto pela queda, economizando munição). Também é possível prender inimigos nas paredes, onde eles ficarão indefesos à espera de suas balas. Caso você se sinta mais sádico, pode prender um inimigo em algum veículo que você irá dirigir e então arastá-lo até a morte. Também é possível brincar de boliche: prenda algum veículo menor em um helicóptero, pilote-o perto do chão e use o veículo preso para acertar os inimigos sem dó nem piedade. As opções são inúmeras, e ficará ao seu critério decidir qual a sua forma preferida de lidar com os vilões.
Não seria justo dizer que somente Rico é a estrela do jogo. Tão importante quanto ele, ou até mais importante, é o mundo em que o jogo se passa. A ilha de Panau é, primeiramente, grande. Imensa. Colossal. Você não imagina quão grande ela é até conhecer o jogo, navegar pelo mapa e perceber, mesmo depois de 50 ou 60 horas de jogo, que você ainda está descobrindo lugares novos. Afinal, são mais de 1000 quilômetros quadrados de mapa (são aproximadamente 1.035,99524 km², ou 400 milhas quadradas, para ser mais exato ). Para dar uma ideia do tamanho do jogo, confira o mapa do jogo em alta resolução. Dê uma olhada nele. Pode ir, eu espero você voltar.
Grande, não é? Caso queira ter uma ideia ainda melhor do tamanho do mapa, veja essa imagem comparativa de vários jogos com mundos extensos. A desenvolvedora de Just Cause 2, a sueca Avalanche, não poupou esforços para criar um mapa gigantesco para o jogador aproveitar. O mapa não somente é grande como também é variado e detalhado. Há florestas, praias, montanhas nevadas, desertos, cidades, aeroportos, portos navais e bases militares de todos os estilos possíveis para você explorar (e eventualmente explodir), e todos os locais possuem placas, letreiros, objetos de decoração nas ruas e muito mais para ajudar a trazer o mundo "à vida".
Outro tipo de missão é a captura de Strongholds, áreas muito bem protegidas e abarrotadas de inimigos. Algumas dessas missões são obrigatórias no jogo e são apenas 9 no total, sendo 3 para cada facção. O problema desse tipo de missão é que todos, sem exceção, são idênticos. Você chega ao local de destino com alguns membros da facção que está ajudando no momento, sendo um desses um técnico que irá acessar um sistema no final da base para poder controlá-la. Esse técnico não pode morrer de forma alguma, pois se isso acontecer você irá voltar ao último checkpoint. Depois de enfrentar um batalhão de soldados você deverá proteger o técnico ao final enquanto mais soldados e um helicóptero aparecem. Mate os soldados e sequestre o helicóptero e a missão se encerra.
É muito repetitivo, mas felizmente você gastará pouco tempo em cada missão desse tipo, e esses locais são uns dos poucos onde você inicia o jogo após carregá-lo ou onde renasce após morrer, então é recomendável completar todas as 9 para ter mais opções. Todas as missões do jogo podem ser abortadas a qualquer momento, caso você não queira completá-las, e ao fazer isso você inexplicavelmente é levado para o Stronghold completado mais próximo. Se você quisesse explorar algo perto de onde estava antes de abortar a missão, vai ter que chegar lá novamente, o que é bem inconveniente.
Os checkpoints do jogo no geral foram bem posicionados, mas alguns são extremamente irritantes. Em várias missões opcionais você irá morrer facilmente, especialmente se estiver jogando na dificuldade Hardcore. Na maioria delas você voltará perto de onde morreu, mas em algumas você deve chegar novamente até o local onde estava, e isso pode ser extremamente irritante. Você pode perder vários minutos somente para chegar até onde precisa, para então morrer subitamente e ter que percorrer o mesmo longo caminho de novo.
O estilo bad-ass do jogo se aplica até aos veículos. Em todos eles (menos nas motos, quadriciclos e alguns barcos) é possível realizar um stunt jump, uma manobra que coloca você de fora do veículo em movimento e que permite você atirar livremente, saltar do veículo ou até mesmo se agarrar em outro para roubá-lo. Nos carros você fica em pé sobre o teto, nos helicópteros você prende o gancho na parte de baixo deles e fica pendurado, e nos aviões você fica de pé sobre o nariz. É muito recompensador você estar em um caça militar, despejar balas e mísseis nos inimigos, dar a volta na área, mirar em algum objeto destrutível (quanto maior, melhor), usar o stunt jump para ficar de fora do avião e acompanhá-lo até chegar bem perto do seu alvo, para então abrir o pára-quedas e ficar a salvo enquanto o avião explode e leva tudo consigo. É nesses momentos que JC2 brilha, e são esses momentos que você vai repetir só pela diversão.
Tudo que você fizer em Just Cause 2 pode ser salvo para a posteridade. É possível salvar em vídeo tudo o que você faz e exportar o arquivo para a XMB ou enviá-lo diretamente para o YouTube. Você pode iniciar e parar manualmente uma gravação, permitindo que grave por um tempo considerável (acredito que até 10 ou 15 minutos), ou pode ativar a gravação automática e jogar normalmente. Quando fizer algo que achar legal, pode ir no menu de vídeo e salvar os últimos 30 segundos e guardar para sempre aquele momento.
Infelizmente os brilhos do jogo também têm as suas sombras. Além da repetitividade de algumas missões, o jogo por vezes apresenta alguns bugs muito incômodos. Certa vez eu estava tentando sequestrar um avião e por algum motivo inexplicável o jogo me colocava a mais de 1 km de onde eu estava, como se eu fosse teletransportado. Após voltar ao mesmo lugar, o mesmo bug aconteceu de novo, o que me fez desistir do avião. Várias vezes também fiquei preso em paredes, seja apenas em uma ponta delas ou até mesmo dentro de 4 paredes sem saída. Eu não podia me mexer, me matar ou até mesmo chamar o Extraction, sendo então forçado a sair do jogo.
Outro bug bizarro que aconteceu durante um desafio de corrida foi que simplesmente todas as configurações de menu mudaram sozinhas para valores diferentes, geralmente 0. O jogo ficou sem som nenhum e os controles ficaram todos bagunçados. Tive que ir opção por opção até voltar aos valores corretos. Aliás, falando em corridas, algumas foram muito mal planejadas e fazem você passar perto de bases militares, o que muitas vezes significa que você irá morrer muito facilmente. Uma certa corrida com um avião que deveria passar por uma base militar simplesmente não era possível de completar, pois toda vez que eu chegava perto da base mísseis eram lançados e o avião era explodido com apenas 1 deles. O avião não era rápido para fugir dos mísseis e nem ágil para desviar deles. Depois da terceira tentativa frustrada eu desisti e mudei de missão.
— Resumo —
+ Mundo gigantesco e muito bonito
+ Missões de diferentes tipos
+ Milhares de colecionáveis
+ Diferentes tipos de veículos
+ Clima de filme de ação de altíssimo orçamento
+ Salvar vídeos no YouTube
– Bugs incômodos
– Checkpoints mal posicionados
– Slowdowns ocasionais
– Algumas missões repetitivas