James Bond 007: Bloodstone

Os games baseados no mais icônico agente secreto dos cinemas sofrem sempre do mesmo problema: o fantasma de Goldeneye 007, jogo lançado há quase 14 anos para o saudoso Nintendo 64. E não é para menos, já que com seu robusto game a Rare conseguiu revolucionar a forma com que se viam os jogos de tiro em primeira pessoa para consoles de mesa, seja pela sólida campanha single-player ou pela introdução do inovador multiplayer split-screen para até quatro jogadores. Assim, sempre que um game de James Bond é anunciado, todos voltam a se perguntar se dessa vez Goldeneye será superado. Como se não bastasse esse percalço aos novos lançamentos da franquia, Bloodstone ainda é vítima de mais dois problemas: a crise da MGM, que fez com que o terceiro longa estrelado por Daniel Craig programado para novembro desse ano fosse adiado por tempo indeterminado, e o anúncio do lançamento de uma reimaginação do clássico Goldeneye exclusivamente para Wii. Com isso, Bloodstone acabou sendo considerado pela mídia e pelos fãs da franquia como apenas um prêmio de consolação pela ausência de um filme ou uma versão de Goldeneye para os consoles HD.

Infelizmente, as baixas expectativas quanto ao lançamento não eram equivocadas. Não que Bloodstone seja um jogo ruim, mas não consegue nem chegar perto de representar todas as características e peculiaridades do universo de espionagem criado por Ian Fleming. A Bizarre Creations, famosa pela excelente série de corrida Project Gotham Racing (exclusiva para o console da Microsoft), ficou à cargo da produção do game, e o resultado final é um hibrido entre third-person shooter e pilotagem, mas com diferenças substanciais de qualidade entre as duas partes.

 

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<p>Quando Bond está no comando de veículos, o jogo surpreende com um visual fenomenal e uma intensa sensação de velocidade, o que torna a experiência digna do que se vê nos melhores filmes do agente, colaborando muito para a imersão do jogador. Já nas fases de tiroteio, o game não passa de uma mistura genérica de boas ideias, porém apresentando gráficos pobres, com texturas em baixa resolução e arte sem inspiração. Nesses momentos, o jogador só se lembrará que o jogo se trata do espião britânico graças ao rosto de Daniel Craig no papel do personagem principal e das intromissões da sempre brilhante Judi Dench no papel de M. O elenco ainda conta com a cantora Joss Stone, que é responsável pela música-tema e assume o papel da bond girl da vez, Nicole Hunter.</p>
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A história é muito rasa e clichê: Bond deve investigar e destruir os planos de uma organização terrorista que está planejando efetuar um ataque biológico em centros econômicos mundiais, e para isso deverá viajar por diversas localidades exóticas, como Bangkok, Grécia entre outras. O game é previsível no roteiro e em sua execução, pois as reviravoltas que ocorrem durante a curtíssima aventura são todas muito manjadas para quem é minimamente familiarizado com o universo de Bond. Entretanto, as localidades escolhidas por Bruce Feirstein (roteirista reponsável pelo game e já consagrado pela elaboração do roteiro de Goldeneye) são espetaculares e fiéis à franquia, sendo bem variadas, interessantes, exóticas e elegantes, estando à altura do legado da série.

Como já dito, o game é um hibrido entre pilotagem e tiroteios. Infelizmente, os momentos de tiroteio, mesmo sendo o ponto central do game, são bem medianos. A jogabilidade é bastante travada e há um abuso de clichês, como covers, barris explosivos, e todos os fatores presentes na cartilha de jogos de tiro em terceira pessoa. Bond se movimenta muito lentamente e muitas mortes são causadas em razão da dificuldade para a realização dos comandos.

 

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<p>Logo na primeira missão já se pode perceber que a <i>Bizarre Creations</i> teve uma clara influência de games de sucesso como <i>Batman Arkahm Asylum</i> e <i>Splinter Cell Conviction</i> durante o desenvolvimento das mecânicas de seu jogo. Bond possui um smartphone que funciona como os sentidos do Cavaleiro das Trevas em Arkham Asylum, que pode ser ativado quando o jogador desejar. Com o equipamento, é possível se antecipar em relação aos inimigos durante os combates e também saber a todo momento a localização de seu próximo objetivo graças à visão raio-x que o celular possui. Com isso, o smartphone possibilita abordagens stealth nos inimigos, o que é bastante útil, pois cada inimigo abatido por Bond sem o uso de armas lhe garante um "<i>Focus Kill</i>", habilidade que quando usada paraliza a cena para o que jogador possa mirar em todos os inimigos da tela e matá-los instantaneamente (sistema similar ao de <i>Splinter Cell Conviction</i>). Apesar de bem implementadas, as funções denotam a falta de inspiração da equipe na criação de mecanismos de jogo mais originais, justamente em uma série em que as possibilidades são praticamente infinitas. Falando nisso, mais uma decepção fica por conta da ausência dos famosos gadgets criados por Q, pois durante todo o game, Bond utiliza apenas seu limitado "Batphone", deixando de lado todos os diferenciais de jogabilidade que os equipamentos do agente poderiam adicionar ao game.</p>
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<p>Nas passagens de pilotagem, a história muda completamente e a <i>Bizarre</i> mostra que sua fama na criação de jogos de corrida não é por acaso. Os cenários e veículos são muito detalhados, e em conjunto com a incendiária trilha sonora, só completam mais a abordagem cinematográfica dessas fases, que geralmente são marcadas por extensas e emocionantes perseguições. De forma similar a como ocorre em game como <i>Split Second</i>, em que as corridas são roteirizadas e o jogador dirige enquanto o caos toma conta do cenário. Assim, Bond deve se preocupar não apenas com seus inimigos mas também com explosões, prédios desabando e civis espalhados pelo caminho, o que exige do jogador reflexos apurados e decisões muito rápidas. É uma pena que a produtora não se focou mais no desenvolvimento de fases nesse estilo e nem conseguiu manter o alto nível desses estágios nos momentos de tiroteio.</p>
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O som do jogo é decente. Os efeitos são bem implementados e as músicas são bastante envolventes, variando de acordo com as situações em que Bond se encontra no momento. Entretanto, o tema clássico da franquia toca apenas nos momentos finais do game, o que para alguns pode ser bastante frustrante. A dublagem, como já era de se esperar, é excelente. Craig e Judi Dench provam mais uma vez que sabem muito bem personificar os dois personagens pelos quais são responsáveis. A ironia tipicamente britânica presente nas falas de Bond e M é brilhantemente interpretada pelos dois atores. Mesmo participando menos que Craig e Dench, Joss Stone também faz um bom trabalho, não tão minuncioso como o dos dois já veteranos na franquia, mas não deixa a desejar (a música que a cantora interpreta também casa muito bem com o game).

A campanha é bem fácil e curta, durando em torno de cinco horas, e não há muitos motivos para que os não aficcionados por troféus retornem à aventura. Bloodstone também possui um modo multiplayer online, mas frente à profundidade dos modos multiplayer de jogos como Call of Duty, o modo é muito limitado. Possuindo apenas 3 modalidades (Deathmatch, Last Man Standing e Objective), o game é totalmente centrado nas passagens de tiroteio da campanha single-player, deixando de lado todo o esforço da produtora em criar experiências fenomenais com o uso de veículos. Mesmo com sistema de levels e obtenção de novas skins e habilidades, o modo é tão simples que a impressão que fica é a de que ele foi implementado às pressas para constar apenas como mais um aparente atrativo para os compradores em potencial.

Enfim, Bloodstone é uma grande decepção para quem esperava um jogo digno da consagrada franquia. Entretanto, o game garante algumas horas de diversão descompromissada para fãs de jogos de ação. Bloodstone não é totalmente ruim, só é genérico demais para uma série que merece muito mais esmero na produção de seus produtos licenciados. Vale no máximo uma locação.

 

Veredito

50

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