É incrível que Is It Wrong to Try to Pick Up Girls in a Dungeon? seja um anime tão bom quanto é, ainda mais quando se analisa a premissa básica por trás da Light Novel que serve como base para a adaptação que se tornou uma das comédias mais queridas da temporada de 2015 (e que teve uma segunda temporada em 2019, com uma terceira a caminho).
Misturando vários elementos de RPGs para a sua ambientação de fantasia clássica (ainda que, de alguma forma, não seja um Isekai), DanMachi gira em torno de um jovem aventureiro chamado Bell Cranel que vive em um mundo em que os deuses, entediados da sua vida eterna, resolvem limitar seus poderes e viver ao lado das suas criações para trazer mais empolgação para o seu dia a dia.
Os deuses oferecem então aos mortais a possibilidade de explorar um enorme labirinto chamado de “Dungeon”, no qual eles poderão fazer parte grupos que prometem sua lealdade a um dos deuses chamados de Familias. Também podem se dedicar a derrotar monstros, coletar pedaços de cristal e outros tesouros para se tornarem mais poderosos, subir de nível e ganhar novas habilidades e magias (e sim, isso é parte da história original e não do jogo).
Bell, tendo crescido ouvindo as histórias do seu avô sobre aventureiros e as suas grandes conquistas, resolve, após a morte do seu avô, ir para a cidade de Orario e tentar se tornar mais um dos vários aventureiros daquela região. Após várias dificuldades, Bell acaba chamando a atenção de Hestia, uma deusa “fracassada” que acaba tornando Bell o primeiro membro da Hestia Familia.
A medida que ele vai dando início a sua carreira, Bell acaba se envolvendo em um incidente em que monstros fugiram do seu andar designado e atacam aventureiros de níveis menores incapazes de lidar com aqueles monstros – ele incluso. Prestes a ser derrotado por um minotauro, Bell é salvo pela espadachim Ais Wallenstein, uma das mais famosas e poderosas aventureiras de Orario.
A partir daí, Bell decide se tornar um aventureiro mais poderoso com um único objetivo: se tornar mais forte e avançar na dungeon para conquistar o coração da Ais, quem ele passou a admirar após ser salvo e por quem ele acaba se apaixonando ao vê-la em ação (e é daí que vem o nome da série).
Sendo o protagonista, Bell acaba atraindo a atenção (e o coração) de várias outras personagens femininas na série, com muito do humor vindo das várias situações em que ele se mete não só pelo carinho que as amizades e companheiras de combate que Bell vai acumulando nutrem por ele (incluindo a própria Hestia), mas pelo quão puro e inocente Bell é ao lidar com todas as situações que ele se mete.
O jogo, entitulado Is It Wrong to Try to Pickup Girls In a Dungeon? Familia Myth Infinite Combate gira em torno da história contada na primeira temporada do anime (cuja ideia básica é o narrado acima) e é dividida em 10 capítulos focados na história do Bell Cranel, com outros 6 capítulos focados na história pelo ponto de vista da Ais, baseados na primeira metade do spinoff Sword Oratoria.
A história é contada em forma de visual novel e é uma das partes mais interessantes do jogo. Por não se levar a sério e ser, essencialmente, uma série de comédia harém e não uma série de aventura, DanMachi consegue fazer tanto os seus momentos mais leves quanto os raros momentos de mais peso emocional funcionarem bem, ainda que o jogo acabe resumindo bastante a história (cada capítulo dura, em média, em torno de 20-30 minutos) e tirando um pouco do que a torna tão boa e tão querida.
Felizmente, a arte nos pontos de visual novel é bem feita e captura bem a identidade visual do mundo o que, casado com a boa dublagem em japonês (feita pelo elenco original), faz com que até mesmo os jogadores que não conhecem DanMachi possam se apegar a esses personagens. O único problema mais notório é que existem alguns erros de digitação, frases gramaticalmente estranhas e linhas que não parecem ter sido bem programadas nas caixas de texto, mas, fora isso, a localização mantém o charme pelo qual a franquia é conhecida.
Talvez o maior problema realmente seja o fato de que todas essas questões apontam para o maior problema do jogo (e algo que é refletido também nos seus aspectos de combate), que é o orçamento extremamente limitado que a Mages parece ter tido para o desenvolvimento, com o jogo contando com uma variedade bastante limitada de artes e ainda mais limitada de animações.
Mais importante do que a história principal para os fãs (e é inegável que o objetivo do jogo é focar nos fãs já existentes da série), é a vasta quantidade de conteúdo que é desbloqueado após concluir a campanha principal. Ao longo da campanha principal, o game incentiva bastante a só focar na história, com pouquíssimas missões secundárias aparecendo ao longo da jornada. Após o final da campanha, o título abre uma série de atividades que podem ser feitas e são completamente inéditas.
Muito desse conteúdo vem na forma de missões secundárias extras cujo foco está em expandir e trazer mais detalhes para o relacionamento de Bell com as personagens femininas, incluindo encontros (tanto com o Bell quanto com a Ais), através do Extra mode, que tem um volume de eventos a ser explorado que facilmente transforma as 10-12 horas do jogo principal em 40-50 horas para se obter a platina e ver todas as cenas que podem ser desbloqueadas após a conclusão da campanha principal.
De certa forma, esse conteúdo extra passa a mesma sensação que muitos dos materiais extras que são adicionados em jogos da série Sword Art Online tem, sendo um (bem-vindo) trabalho de fan-service focado em quem mais deve se interessar pelo jogo. Infelizmente, mesmo com as belíssimas artes, até isso acaba tendo sua efetividade limitada pelo orçamento baixo do jogo, mas ainda se mostra como o principal motivo para se adquirir o jogo.
O que não é um bom motivo para se obter DanMachi Infinite Combate é, ironicamente, o seu combate e a exploração da dungeon. Se a limitação do orçamento da Mages já era claro nas partes de visual novel, isso é ainda mais gritante no que diz respeito às partes de dungeon crawler do jogo.
É inegável que a Mages é uma desenvolvedora talentosa, mas as partes de ação aqui são fracas e esquecíveis como um todo. A maior parte das missões do jogo todo giram em torno de ir para um dos andares da dungeon, derrotar uma determinada quantidade de um certo tipo de inimigo (em alguns casos dentro de um limite de tempo) ou coletar uma quantidade específica de itens e só.
Para completar suas missões, Ais ou Bell tem a sua disposição um ataque fraco, um ataque forte, magias, um botão de esquiva, um ataque especial para o seu personagem e a possibilidade de usar ataques especiais de um dos seus dois personagens de suporte (com cada um sendo mapeado para L1 e R1), além de itens sendo mapeados para os botões digitais do DualShock 4.
É uma estrutura simples mas ao seu detrimento, já que ela se torna extremamente repetitiva muito rápido. O jogo tenta transformar o combate em algo mais arcade, com a possibilidade de se interromper ataques inimigos, a necessidade do uso da esquiva no tempo certo e saber explorar os assists e magia para evitar que toda missão seja apenas um esmagamento do botão de ataque e uso desenfreado de itens de cura.
O problema é que, novamente, isso só é realmente explorado mais à fundo no conteúdo apresentado após a campanha e, até lá, o combate já conseguiu se tornar bastante repetitivo e cansativo. Uma sensação que não é ajudada pela baixa variedade de inimigos e cenários e as animações pobres e repetitivas, fora o ar estranho dos modelos de personagem que tentam entregar um estilo “chibi” em 3D com visão superior, mas não tem tanto sucesso nisso.
A estrutura básica de gameplay que acaba se apresentando após a conclusão da campanha é divertida, com o jogador aceitando missões na Guild, indo para a dungeon, derrotando inimigos e ganhando itens para vender, comprar novas armas e skill points para melhorar suas estatísticas. No entanto, isso acaba sofrendo muito com essas limitações, sendo mais recomendado para se jogar sem pensar muito, salvo pelos chefes (que ainda assim se tornam fáceis ao se entender o padrão de ação deles).
É difícil saber se os problemas disso vem no fato do Extra Mode apresentar dungeons geradas proceduralmente, mas é inegável que o principal motivo pelo qual o jogador irá realizar essas missões e se submeter ao combate é pelos conteúdos desbloqueáveis, em especial os encontros e eventos especiais, incluindo as cenas em hot springs e os chamados “co-sleeping events” (que você pode imaginar o que esse eufemismo quer dizer).
Isso tudo faz com que o jogo não seja ruim, mas quase agressivamente mediano. Há diversão a se ter com os sistemas apresentados aqui, em especial para os fãs de DanMachi, que terão uma quantidade de fanservice quase tão grande quanto o título traduzido do jogo, mas tudo no jogo deixa claro o quão limitado o seu orçamento foi, sendo quase digno de parabéns o seu resultado quando se considera esse problema.
No entanto, se você não é um grande fã de DanMachi e só busca um JRPG para se divertir, talvez existam outras opções melhores por aí até que Infinite Combate entre em promoção. Existem ideias muito interessantes aqui e que poderiam ser exploradas em uma eventual sequência, dado um orçamento maior, e é inegável o quão bonito o jogo é e como ele consegue manter intacto o roteiro bem escrito e deveras divertido da série na qual é baseada, então é de se esperar e torcer por um resultado ainda melhor na próxima tentativa.
Jogo analisado no PS4 padrão com código fornecido pela PQube.
Veredito
Apesar de contar com claras limitações, Is It Wrong To Try to Pick Up Girls in a Dungeon – Infinite Combate é um jogo divertido e que explora de forma bem interessante a primeira temporada do anime e um de seus spinoffs. O título serve como uma boa apresentação para os novatos, além de ter bastante conteúdo extra que deverá agradar aos fãs de longa data. É uma pena que o claro baixo orçamento restrinja o quão bom o jogo poderia ser devido às suas mecânicas.
Veredict
Despite having clear limitations, Is It Wrong To Try to Pick Up Girls in a Dungeon – Infinite Combate is a fun game that explores the first season of the anime and one of its spinoffs in a very interesting way. The title serves as a good introduction for beginners, as well as having plenty of extra content that should please longtime fans. It is a pity that the low budget restricts how good the game could be due to its mechanics.