Fly, o Pequeno Guerreiro. Se você tem uma certa idade, é bem possível que dentre o mar de animes que chegaram ao Brasil nos anos 90 em meio à crescente popularidade do gênero entre crianças e adolescentes, você tenha, em algum momento, visto algum episódio da divertida e cativante história do diminuto espadachim que sonhava em ser um herói.
O que poucos de nós sabíamos é que se tratava não só de “mais um desenho japonês” que chegava às nossas telas, mas sim de uma adaptação de um dos mangás mais vendidos de todos os tempos. De um título cuja importância no Japão é inegável e que sua conexão com os videogames é ainda maior, visto que se tratava de um jogo baseado na icônica e igualmente influente série Dragon Quest.
Então, quando veio o anúncio de que aquela série receberia um remake, era natural que o agora conhecido como Dragon Quest: The Adventure of Dai também chegasse aos videogames. Anunciado lá na Jump Festa ‘20, Infinity Strash: Dragon Quest The Adventure of Dai é basicamente uma adaptação do anime de ponta a ponta, recontando as aventuras do protagonista e seu grupo de amigos.
Desenvolvido pela Game Studio Inc. e pela KAI GRAPHICS, o jogo cobre toda a jornada de Dai e os Discípulos de Avan em sua busca para derrotar o Dark Army, acabar com os planos Dark Lord Hadlar e vingar a morte do seu mentor, Avan. E, é claro, se tornar um verdadeiro Herói.
O protagonista Dai é um garoto que um dia apareceu em uma ilha ao sul, sendo encontrado pelo líder dos monstros que viviam ali. Ele é então criado por esses monstros com todo carinho e amor possível, crescendo com o sonho de se tornar um herói. Dai passa por algumas aventuras nessa ilha até o dia em que um treinador de heróis chamado Avan, que na verdade é O Herói das lendas, decide ajudar Dai.
Após o terceiro dia de treinamento, Dai, Avan e um outro discípulo dele, o jovem mago Popp, são atacados por Hadlar, o Lorde das Trevas que foi derrotado por Avan anos antes, agora servindo a uma entidade ainda mais poderosa. Quando seu mentor é derrotado, Dai parte então em sua própria jornada onde não só ele fará vários novos amigos, mas também descobrirá os segredos do seu passado e o seu destino.
Em termos de história, The Adventure of Dai é, sinceramente, fantástico. Sempre fui um grande fã do anime desde a infância então há, naturalmente, uma certa inclinação a gostar da roupagem nova que foi dada com o remake e aqui, mas a verdade é que, por mais que seja a essência do que hoje vemos em vários shonen por aí, ele ainda o executa em um nível mais alto, com personagens carismáticos e arcos que sempre apresentam novos desafios aos heróis para serem superados, mas com resoluções que fazem sentido no arco de evolução deles.
Claro, muito disso é sustentado na qualidade dos personagens em si e todos eles têm suas próprias personalidades e complexidades salvo, naturalmente, por Dai, cujo fato de ser o protagonista de shonen quintessencial acaba sendo um charme, visto o quão sincero e dedicado ao seu desejo de “fazer a coisa certa”, “salvar todo mundo” e proteger seus amigos ele é. A complexidade acaba ficando mais por conta dos seus aliados, Popp e Maam, bem como dos líderes das legiões do Dark Army que raramente caem no estereótipo de só serem ruins pela pura maldade, contando com até mais desenvolvimento do que se esperaria.
Dito isso, o fato do jogo recontar toda essa história basicamente com uma série de slides dublados é algo que deve ser um problema pra alguns jogadores. Em vários momentos você se verá sentado assistindo a imagens fixas do anime enquanto o diálogo (todo dublado em inglês e japonês) passa, sendo possível, inclusive, pausar o reprodutor durante essas cenas caso queira fazer algo e depois retornar. É de se pensar que, já que o jogo usaria tanto do anime original, se não valeria a pena ter usado clipes animados, mas o fato é que ficamos com essas imagens.
É fácil, no entanto, identificar quando isso acontecerá porque as missões do Story Mode do jogo são divididas em Adventure Quests, que são só cenas do anime nos moldes citados, sem combate; Story Quests, marcadas por duas espadas e é onde há alguma batalha junto com cenas do anime; e Free Quests, visíveis em vermelho e com o ícone de uma bandeira, nas quais não há nenhuma cena, só combate. A quantidade de missões do primeiro tipo em comparação com as demais é bem maior, então esteja preparado para assistir bastante.
O combate é uma das partes mais divertidas e funcionais do jogo, por mais que também seja bastante simples. Ele gira em torno do constante uso das habilidades e das habilidades defensivas de esquiva e bloqueio. Para isso, você tem um ataque simples com quadrado e ataques especiais mapeados para o Círculo, Triângulo e o R1. Habilidades tem um uso ilimitado, com a única restrição ficando por conta do tempo de “cooldown” após o uso.
As habilidades são um show à parte, bastante poderosas, capazes de acabar com grupos de inimigos comuns em um uso só ou causar considerável dano contra inimigos mais fortes ou até mesmo chefes. Cada personagem possui ainda duas habilidades especiais únicas, mapeadas para os gatilhos, sendo o seu ataque definitivo, chamado de Coup de Grâce, no R2 e uma habilidade única com L2. Essa segunda, varia bastante, podendo ser ou uma barra que ao ser carregada dá acesso a um estado de poder aumentado com o Dai, um estado de meditação que acelera a recarga das habilidades pro Popp ou a recarga da arma da Maam.
O problema do combate, fora o fato do terrível tempo de resposta pro parry do jogo, é algo que é um tanto comum se você já jogou outros títulos baseados em anime, especialmente Anime Fighters: a extrema repetição dos combates. Mapas em que você lutará contra grupos de inimigos, que são surpreendentemente variados mudando a cada capítulo, são raros e muito curtos. Quase sempre você ficará preso em múltiplas batalhas sequenciais contra o mesmo chefe, sendo bem fácil decorar suas sequências de movimento, lembrando bastante aquela sensação de ver episódios e episódios de um anime em que um golpe está sendo carregado.
Isso junto com as cenas do anime fazem com que o tempo de duração do Story Mode seja artificialmente inflado, com as 15 horas para completá-lo sendo muito baseado em assistir diferentes cenas e lutar várias vezes com os mesmos chefes. Dito isso, algumas das lutas são muito divertidas e capturam bem a sensação do anime, sendo algo que vale bastante para os fãs.
O sistema de progressão do jogo é bem simples, sendo baseado, essencialmente, em melhorar suas habilidades usando os recursos ganhos ao completar missões e equipar Bond Memories, que são itens que reproduzem cenas do mangá e dão consideráveis bônus nas estatísticas de cada personagem.
Melhorar as habilidades e as Bond Memories é onde entra um dos modos secundários de jogo, o Temple of Recollection. Ela é basicamente um modo “roguelite”, onde você sempre começará do primeiro andar e precisa avançar até o final do templo. É aqui onde só existe combate e várias missões secundárias te desafiam a completar cada sala de uma forma diferente, normalmente o mais rápido possível.
Completar cada sala poderá trazer não só recursos para melhorar suas habilidades, mas Memory Ambers que podem ser usados para melhorar seus Bond Memories. A chave aqui fica pelo fato de que várias dessas memórias são exclusivas da Tower e são alguns dos melhores upgrades disponíveis no jogo todo, sendo fundamental jogá-lo para evoluir e conseguir se manter poderoso o suficiente para lidar com as missões de história (que tem alguns pulos de dificuldade bem consideráveis).
O grande problema desse sistema é que não só é necessário ganhar as memórias uma vez, mas múltiplas vezes visto que só com a repetição você irá ganhar Memory Motes, o outro recurso necessário junto com os Ambers para evoluir as memórias. Como é algo totalmente aleatório, você precisará de bastante sorte para aumentar algo específico, especialmente pelas memórias serem vinculadas aos andares certos (novos andares são destravados a medida em que você avança pela história) e sendo necessário ao menos completar o andar, incluindo a batalha com o chefe, para conseguir retornar a entrada com os recursos conquistados.
É um sistema bastante interessante e funcional, mesmo que tenha alguns problemas que, se forem ajustados, tornam o modo ainda mais longevo. Ainda assim, é fundamental jogá-lo para conseguir avançar no Story Mode ou estar preparado para o Challenge Mode, que são as mesmas batalhas do Story com uma dificuldade aumentada.
Dito tudo isso, Infinity Strash: Dragon Quest The Adventure of Dai é um jogo bastante divertido para os fãs do anime, mas cujo escopo dificilmente alcançará outros tipos de jogador, mesmo os fãs de RPGs de Ação. É possível ver o potencial pra um jogo ainda melhor aqui, mas o resultado final é até melhor o que se costuma ver desse tipo de adaptação.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Square Enix.
Veredito
Infinity Strash: Dragon Quest The Adventure of Dai é um bom jogo adaptando um anime, mas um RPG de Ação relativamente raso. Embora exista bastante conteúdo aqui (especialmente se você for fã da franquia), o jogo apenas recria a narrativa da animação, o combate é simples e o seu modo mais único acaba cansando pela repetitividade.
Infinity Strash: Dragon Quest The Adventure of Dai
Fabricante: Game Studio Inc / KAI GRAPHICS
Plataforma: PS4 / PS5
Gênero: RPG / Ação
Distribuidora: Square Enix
Lançamento: 28/09/2023
Dublado: Não
Legendado: Não
Troféus: Sim (inclusive Platina)
Veredict
Infinity Strash: Dragon Quest The Adventure of Dai is a good game adapting an anime, but a relatively shallow Action RPG. Although there is a lot of content here (especially if you are a fan of the franchise), the game only recreates the anime’s narrative, the combat is too simple and its most unique mode ends up tiring due to its repetitiveness.