Horizon Zero Dawn foi um projeto no mínimo curioso. Desenvolvido pela Guerrilla Games, conhecida basicamente pela série Killzone, o título trouxe uma mescla de ação, aventura e RPG num mundo pós-apocalíptico cheio de máquinas mortíferas em que controlamos Aloy, uma caçadora versátil que deve compreender seu passado (e o do próprio mundo) enquanto lida com os problemas do presente. Com essa proposta ousada e considerando o histórico da desenvolvedora (apenas jogos de tiro em primeira pessoa), a Guerrilla Games impressionou a todos com uma aventura sem igual e que marcou para sempre o mundo dos videogames. Uma sequência para um título impactante é realmente algo difícil, porém a Guerrilla conseguiu: Horizon Forbidden West é incrível.
A Guerrilla basicamente pegou a base estabalecida por Horizon Zero Dawn e a aprimorou em todos os sentidos. É como se ela tivesse ouvido todas as críticas do jogo original e melhorasse todos os aspectos. Mesmo que você não tenha gostado do anterior, recomendo fortemente verificar a sequência. Mas não espere outro jogo: como dito, a base ainda é a mesma.
Para entender por que achamos Horizon Forbidden West excelente, é preciso dissecar cada ponto que compõe o jogo. Primeiramente, temos a história. Infelizmente, para compreendê-la bem, é preciso ter jogado ou pelo menos lido um resumo do que aconteceu em Horizon Zero Dawn. A parte básica da trama é que Aloy está em busca de um backup da Gaia, a I.A. que controla várias I.A.s subordinadas e basicamente (re)criou o mundo depois que a Praga Faro o exterminou. O motivo por essa busca é que as I.A.s subordinadas estão fora de controle, causando destruição – apenas Gaia pode impedir que isso prossiga. Esse é o ponto base da história (por onde ela começa), mas acredite, ela vai muito mais além.
A história de Horizon Zero Dawn era muito boa, mas pessoalmente, achava que o foco nas tribos era muito pequeno. Se você jogou, tente se lembrar das tribos: Nora, Carja, Carja das Sombras e Oseram. Se jogou a expansão The Frozen Wilds, talvez se lembre dos Banuk também. Com isso em mente, consegue se lembrar tão bem dos conflitos e políticas das tribos quanto o que aprendemos sobre o passado e Aloy? Sua resposta provavelmente será não. Esse desbalanceamento na história, mais uma vez sendo algo pessoal, era algo que me incomodava um pouco no original, mas Horizon Forbidden West conserta isso com maestria.
Ou seja, ainda temos um grande foco em Aloy e nos Antigos (mundo pré-apocalipse), mas agora as tribos também são muito bem desenvolvidas. No Oeste Proibido, você vai se deparar com um número considerável delas, mas todas serão memoráveis e há um motivo para isso: os NPCs (personagens não-jogáveis) que acompanham Aloy. Ao longo de sua jornada, a nossa heroína terá muita ajuda e, basicamente, há um NPC para cada tribo que fornece auxílio a ela. Em vários momentos, você conversará com esses NPCs importantes, que acabam falando muito sobre a sua tribo e a visão de mundo que eles possuem.
Mas não se preocupe, a jornada de Aloy ainda é solitária. São raros os momentos que os NPCs acompanham a personagem. Além disso, saber mais sobre cada um deles é totalmente opcional. Mas ainda assim, a história principal fornecerá muita visão sobre eles.
Isso nos leva a outro ponto importante: os diálogos. Como é esperado, Horizon Forbidden West oferece dublagem e textos em português do Brasil – excelentes por sinal. É claro, há alguns problemas. Em raríssimos momentos, um NPC pode acabar não falando a última palavra de seu diálogo (isso acontece com uma certa frequência no início), enquanto que em outros há uma mixagem ruim (um NPC falando mais baixo que Aloy ou até mesmo que a música ambiente). Mas isso são pontos isolados e que não estragam a experiência de forma alguma – são poucos segundos de uma jornada de várias horas de duração.
Ainda sobre os diálogos, em HZD havia opções que nos levavam a sermos inteligentes, zangados ou ter compaixão (com os símbolos de cérebro, punho e coração, respectivamente). Em Forbidden West, isso ainda existe, mas é extremamente raro, sendo que apenas uma opção, de toda a campanha, realmente parecia que afetava algo. Pessoalmente, isso é positivo, pois se a desenvolvedora deseja contar uma história fechada sem ramificações, é melhor ter mais diálogos e questionamentos para obter informações (que é o que foi adicionado) do que inserir algo que passa uma falsa sensação de consequência ao jogador.
Por fim, para finalizar essa parte dos diálogos, há algo que precisa ser destacado: as animações. Sinceramente, são as melhores animações que já vi de diálogo ‘padrão’ em um RPG ocidental. HZD foi duramente criticado por contar com diálogos robóticos, então a Guerrilla simplesmente chutou o balde: todas as conversas, sejam elas simples ou não, possuem diferentes animações corporais e faciais dos personagens. É simplesmente sensacional.
Porém, há dois pequenos defeitos nisso. Quando a câmera muda, o cabelo de Aloy se mexe bastante. É fácil de entender pelo lado da programação: é como se a personagem tivesse se deslocado rapidamente de um lugar para outro (mesmo estando parada). É algo estranho que você vai acabar notando, mas é, também, algo que dá para ignorar e longe de estragar qualquer experiência. O outro defeito também é facilmente ignorado: em certas conversas, os olhos de Aloy não parecem estar ‘mirando’ para o NPC com o qual está conversando. Mais uma vez, é um problema pontual que acontece raramente. Mas, se você for detalhista, vai acabar notando essas coisas.
Da mesma forma que as animações das conversas, o mundo de Horizon Forbidden West é, de longe, o mais bonito já visto até hoje em um jogo de mundo aberto. É vivo, repleto de máquinas, pessoas, elementos da natureza (paisagens) e com muita coisa a ser explorada. Você ainda deverá subir em Pescoções para abrir o mapa e poderá converter máquinas, além de certos biomas lembrarem o jogo original, como desertos e algumas áreas verdes (e com neve, caso tenha jogado a expansão). Mas em nenhum momento tive ‘déjà-vu’, sendo que a praia – que foi altamente promovida nos trailers – é extremamente bonita e viva. Meu único ponto é que achei as ondas do mar um pouco feias (esperava mais delas), mas é um mero detalhe em toda a beleza encontrada no jogo. Existem pop-ins, não vou negar, mas são raros, a meu ver.
Ainda sobre a exploração, acredite: ela é melhor e mais prazerosa que HZD. Muitos reclamavam que havia ‘vários nadas’ no original, apesar disso não ser inteiramente verdade, existia um ponto nessa crítica que era válido: o loot, ou seja, pegar itens, era algo monótono. O motivo disso é que seu inventário enchia rapidamente. Assim, se você estava com tudo cheio, não valia a pena ficar pegando mais itens ou explorar por algo que você sabia que não valia a pena. HFW corrige isso de uma forma simples: com um baú que funciona de forma similar a Resident Evil. Quando seu inventário está cheio, Aloy envia automaticamente o item pego a esse baú: seja ele ervas para curar a sua vida, galhos, poções… o que for. Depois, se por acaso precisar de algo que pegou e está sem, basta ir a um local que tenha esse baú e pegá-lo. Há vários baús espalhados pelo mapa e todos oferecem acesso a esse estoque (se você jogou Resident Evil provavelmente já entendeu a ideia).
Então, como o loot agora sempre vale a pena, você vai explorar cada canto e sempre há um ‘?’ no mapa que o atiça a descobrir o que é. Seja um povoado, um Caldeirão (local para aprender mais conversões de máquinas), um posto de rebeldes, etc. Há várias atividades paralelas a descobrir.
Espero que tenha ficado claro o quão vivo é o mundo. Mas tudo isso não vale a pena se o gameplay não agradar. E acredite: o que já era bom em HZD, ficou ainda melhor em HFW. O básico ainda é o mesmo: X pula, O desvia, Quadrado se agacha ou desliza, Triângulo pega os itens, L2 mira com o arco ou a arma que estiver usando, R2 atira a flecha ou usa a lança como golpe físico forte (R1 é o fraco) e L1 abre o menu para selecionar a arma no combate ou recuperar a sua munição gastando recursos coletados.
Mas há muitas melhorias que precisamos discutir. Em primeiro lugar, há o Lança-Gancho. Esse item versátil permite que você suba facilmente em determinadas localizações ou jogue a corda para puxar objetos em sua direção. Da mesma forma, temos o Planador, cujo nome indica sua funcionalidade: caia em segurança de lugares altos. Esses dois itens combinados oferecem uma grande variedade de movimentos a Aloy. Mas não se preocupe: o Planador não é tão utilizado como em outros jogos que existe uma mecânica similar, como Genshin Impact. É um item que está à sua disposição, mas que será usado em momentos específicos e não ‘o tempo todo’.
Outra grande novidade no gameplay é o mergulho. Após obter a Máscara de Mergulho, você pode nadar sem se preocupar com a falta de ar (algo que poderia ser ‘chato’ em uma exploração aquática). E as partes de água, por incrível que pareçam, são divertidas.
Da mesma forma que HZD, Aloy tem acesso a armas e trajes com diferentes níveis de raridade. Você ainda pode equipar as chamadas Bobinas (nas armas) e os Tecidos (nos trajes) que aprimoram os itens de alguma forma. Mas agora, toda arma e todo traje pode ser aprimorado. Para isso, você precisa ir em uma bancada e verificar quais itens são necessários para isso. Caso tenha os itens, basta gastá-los e sua arma ou traje sobe de nível. Quanto maior o nível de raridade do item, mais difícil é realizar o seu upgrade, além de ser maior o limite de nível. Como no jogo original, você tem acesso a armas e trajes de raridade superior dos mercadores conforme avança na história.
Uma mecânica que foi inserida nesses upgrades é que, se você não tem um determinado item para o upgrade e o deseja, basta apertar triângulo que um Trabalho é criado. Esse Trabalho funcionará exatamente igual a uma missão, guiando você para onde está o item necessário até obtê-lo. O Trabalho também pode ser criado para um item que você deseja do mercador e não tem o que se pede ainda em troca.
Todas as armas possuem danos (ou resistência, no caso dos trajes) elementais. Os elementos são: fogo, gelo, choque, encharque (água), ácido e plasma. Como você pode imaginar, determinas máquinas são fracas contra um elemento em específico (ou resistentes, é claro). Da mesma forma, os trajes também podem ser fracos ou resistentes a diferentes elementos. Mas não se preocupe: não é uma mecânica altamente punitiva. Porém, se uma batalha estiver difícil, vale reavaliar suas opções.
Como você pode imaginar, a fraqueza e resistência das máquinas citadas anteriormente é revelada através do Foco de Aloy. Você ainda segurará R3 para entrar em um modo de análise que fornece detalhes do ambiente e dos inimigos. No entanto, pressionar R3 ativa um pulso que mostra as informações importantes do local mais rapidamente, como itens que podem ser pegos.
Esse pulso do Foco também é bastante importante para verificar onde você pode escalar. Agora, é bastante raro aqueles momentos em que você subia montanhas pulando e tentando entender se um determinado local pode servir de plataforma ou não. Basta apertar R3 que a maioria das montanhas é escalável.
Algo que foi bastante aprimorado em Horizon Forbidden West é o combate físico (corpo-a-corpo). Agora, Aloy pode aplicar uma variedade de combos e até alguns ataques especiais com R1 e R2. O jogo também deixou o dano físico com a lança mais fraco nas máquinas, para mostrar que não é para lutar com elas dessa forma.
Todos esses combos e várias outras melhorias e táticas são destravadas nas Árvores de Habilidade de Aloy. Há um total de seis, que aprimoram diferentes campos: Guerreira (corpo-a-corpo), Emboscada (armadilhas), Caçadora (Arco), Sobrevivente (vida), Sabotadora (stealth) e Maquinista (montaria). Cabe a você escolher o que aprimorar, sendo que cada árvore possui duas habilidades especiais destraváveis.
Apenas uma dessas habilidades especiais, que são chamadas de Impulso de Bravura, pode ser equipada por vez e para usá-las você precisa preencher uma barra chamada de Bravura. Atos como derrotar máquinas ou remover componentes delas, por exemplo, fornecem pontos para essa barra. Com ela cheia, segure L1 e pressione R1 para ativar a habilidade e, por um tempo determinado, Aloy ficará com esse bônus ativo fornecido, que pode ser coisas como mais dano corpo-a-corpo, mais dano crítico, mais dano à distância, etc. Outras habilidades podem ser um golpe único e poderoso, como uma flecha que causa bastante dano ou uma explosão elétrica com a lança.
Horizon Forbidden West oferece ainda armadilhas que podem ser utilizadas para quem gosta de jogar de forma mais furtiva, além de alimentos que fornecem um ‘boost’ temporário.
A jornada pelo Oeste Proibido é relativamente longa. Sem pressa em terminar e fazendo algumas atividades paralelas, levei 33 horas para ver os créditos finais. Se você ignorar muitos diálogos opcionais, é possível baixar esse tempo para até 25h, então a média geral para todos deverá ser em torno de 30h. Para terminar totalmente (e com o troféu de platina), o tempo aumenta significativamente, chegando a provavelmente algo por volta de 40 a 50 horas – ou até mais, dependendo do seu estilo de jogo. No momento desta análise, ainda não fiz o troféu de platina, mas sei o que resta, então os cálculos são válidos. É importante citar que um New Game+ não abriu quando terminei, então é provável que isso seja adicionado no futuro, da mesma forma que ocorreu com o original.
Sobre as atividades paralelas que aumentarão suas horas de jogo, já comentei algumas antes, como as próprias missões, tarefas, colecionáveis, etc. Mas Horizon Forbidden West oferece também o minigame chamado de Ataque. Trata-se do próprio Gwent (The Witcher 3) ou Fort Condor (Final Fantasy VII Remake Intergrade) de Aloy. É um jogo de tabuleiro com as suas próprias regras, em que usamos representações de máquinas nele. Você dispõe de determinadas peças e deve destruir as do inimigo, se baseando puramente em estratégia, pois as peças possuem posições de ataque, assim como alcance e tudo mais. É um minigame bastante complexo e que deve agradar quem busca por conteúdo opcional dessa forma, sendo que vários NPCs do jogo podem ser desafiados. Serei honesto: ignorei boa parte do Gwent e do Fort Condor, e o Ataque, após aprender como funciona, também acabei ignorando. Então fique tranquilo: é realmente apenas um extra.
Horizon Forbidden West oferece algo impressionante e que já vimos em jogos como The Last of Us Part 2: diversas opções de acessibilidade. São várias e que a própria Guerrilla Games já explicou, mas uma em específico chama a atenção: a possibilidade de jogar com um segundo controle espelhado. É literalmente poder ajudar quando for necessário.
Finalmente, como você pode imaginar, analisamos o título no PS5. Usamos a configuração gráfica que favorece o desempenho (a taxa de quadros por segundo), sendo que há também uma que é focada na resolução. Jogamos em um monitor 1080p, mas testamos em uma TV 4K também. Pessoalmente, o jogo é bonito em ambas e é perfeitamente jogável em 60 fps numa TV 4K. Uma análise técnica deve abordar isso com mais precisão do que eu jamais conseguiria fazer.
O que mais impressiona na nova geração e Horizon Forbidden West apenas reforça, é a questão do loading. Para carregar o seu save a partir do menu principal, não importando onde você está na história, o loading é ridicularmente baixo – algo em torno de cinco segundos. O Fast Travel é o mesmo caso: mesmo que você atravesse o mapa inteiro, o carregamento é muito baixo também. Não é instantâneo, mas não há do que reclamar. Mas há um ponto negativo nessa história: em raríssimos momentos (por exemplo, quando você sai de um local repleto de NPCs e vai para o mundo aberto) pode acontecer de uma tela preta de apenas 1 segundo. É um ‘mini-loading’ disfarçado. Não afeta em absolutamente nada no gameplay, mas pode assustar você na primeira vez que isso acontece.
Ainda sobre o PS5, o áudio 3D está presente e é muito interessante, mas não espere algo impactante como visto em Returnal. Da mesma forma, os gatilhos e a feedback tátil são usados de uma forma consciente, ou seja, usar o arco com frequência não deixará seus dedos cansados, por exemplo.
Versão de PS4
Jogar Horizon Forbidden West inteiro no PS5, além de lidar com o trabalho diário do site e outra análise a ser feita, não permitiu que pudesse testar a fundo o título na geração passada. No entanto, joguei algumas horas tanto no PS4 quanto no PS4 Pro e saí impressionado.
É notável a evolução gráfica no PS5 (ainda mais a 60 fps), portanto a experiência definitiva é na nova geração, mas Horizon Forbidden West merece ser jogado caso tenha um PS4, seja ele o PS4 Pro ou PS4 base. Testamos em ambos (peguei um PS4 base emprestado para esse fim) e pelas horas que joguei, não me decepcionei com o que vi. O conteúdo é basicamente o mesmo e tudo que foi dito nesta análise é válido, exceto é claro pelo fato de que não há opção gráfica (você é obrigado a jogar a 30 fps) e os loadings existem.
Portanto, Horizon Forbidden West continua tão impressionante quanto no PS4. Infelizmente, não há opção de transferir o save para o PS5 (pelo menos não no momento em que esta análise é publicada – atualização: a opção existe, mas não aparece no menu até você colocar o save de PS4 no seu PS5).
Jogo analisado no PS4, PS4 Pro e PS5 com código fornecido pela Sony Interactive Entertainment.
Veredito
Horizon Forbidden West é uma obra-prima. A base que Horizon Zero Dawn estabeleceu é aprimorada em todos os sentidos, seja no gameplay ou na história. Temos gráficos incríveis, personagens carismáticos, enredo intrigante e, não menos importante, um gameplay viciante, variado e desafiador na medida certa.
Veredict
Horizon Forbidden West is a masterpiece. The foundation that Horizon Zero Dawn has laid is improved in every way, whether it’s gameplay or story. We have amazing graphics, charismatic characters, an intriguing plot and an addictive, varied and challenging gameplay.