Fui um entusiasta de Horizon Chase desde o primeiro momento. Mesmo sem ter qualquer apego aos jogos que inspiraram a série, Top Gear e OutRun, achei admirável a abordagem que soube dosar tão bem nostalgia e modernização em um pacote simples, robusto, acessível e muito bem feito. O estúdio brasileiro Aquiris acertou também em cheio em trazer Barry Leitch para o projeto, o compositor de Top Gear e responsável por uma das faixas mais instigantes já feitas em videogames.
É uma revisitação do passado com respeito, cheia de personalidade e independente na medida certa, capaz de passar dos 300km/h com as próprias rodas. O jogo mobile de 2015 chegou aos consoles em 2019 e rendeu uma expansão dedicada ao saudoso Ayrton Senna em 2021. A aceleração não parou por aí e, em 2022, Horizon Chase 2 chegou à Apple Arcade, passando pelo Switch e PC em 2023. Agora, finalmente o temos também nos consoles PlayStation para esta análise.
Como sequência, é inevitável que Horizon Chase 2 seja comparado ao seu antecessor e é justamente nesse paralelo que podemos perceber as principais forças do jogo, assim como os pontos em que fraqueja, conseguindo ao mesmo tempo evoluir a estética e a gameplay ao custo da redução do conteúdo. Assim, Horizon Chase 2 dá dois passos para a frente e um para trás. Vejamos cada um deles.
O primeiro passo para a frente é claramente o refinamento visual. Abandonando o minimalismo do primeiro jogo, mas mantendo o estilo de cenários limpos e de cores intensas, o game é muito bonito de ver, com muito mais polígonos, dinamismo profundidade e movimento do que seu antecessor, ainda que, para isso, tenha perdido o onipresente e inalcançável horizonte estático que deu nome à série. Ah, as batidas musicais sintéticas de Barry Leitch continuam firmes e fortes na sequência, mas senti falta do tema clássico de Top Gear, presente no primeiro jogo.
O salto estético é especialmente proveitoso nas boas representações de localidades brasileiras, pintando e esticando sua essência para formar pistas de corridas frenéticas, mas imediatamente reconhecíveis.
Dá para sentir o carinho com o qual os gaúchos da Aquiris retrataram não apenas seu estado, mas também outros locais do nosso país continental. Foi um prazer ver o carnaval de Olinda (do meu Pernambuco), as praias de Fernando de Noronha, as ladeiras de Ouro Preto, o MASP em São Paulo, o natal luz de Gramado e, de uma forma agridoce, também o centro histórico de Porto Alegre, que, na vida real, se encontra em situação trágica devido às enchentes.
O nível de detalhes se mantém nas pistas de outras nações, passando pelos Estados Unidos, Marrocos, Itália, Tailândia e Japão, com pistas bem características e, em algumas delas, belíssimas.
O outro passo para a frente é de gameplay, mas também está relacionado à mudança de perspectiva mais tridimensional. Primeiro, achei que o jogo estivesse mais fácil e com menos acidentes, mas, com o tempo, senti que, na verdade, Horizon Chase 2 têm corridas mais estáveis e alcance de visão mais profundo, o que permite melhor noção espacial para reagir às curvas e para conseguir coletar as moedas e nitros, que apareciam de maneira súbita no primeiro título.
Vejo esse resultado da mudança como um duplo ganho: sem precisar alterar a experiência arcade de alta velocidade, o jogo nos faz sentir mais no controle dos possantes e mais atentos às paisagens que passam em um desfile acelerado.
O passo para trás, porém, foi um custo bastante significativo do aprimoramento. Enquanto o primeiro jogo, mais simples, ostentava mais de 100 corridas por quase 50 cidades de 12 países, Horizon Chase 2 faz uma volta ao mundo mais modesta, percorrendo números que ficam na metade do seu antecessor. A campanha atravessa os seis países em três ou quatro horas. Sim, as pistas são boas para correr e a diversão está garantida, mas, como eu disse antes, o jogo anterior estabeleceu uma marca de inevitável comparação tanto para as melhorias quanto para os cortes — não há como não sentir o peso que a palavra “metade” carrega quando colocamos as duas obras lado a lado.
A simplificação não está apenas nos números, sendo aplicada também à mecânica de consumo de combustível, que sumiu, levando consigo parte do desafio que nos fazia ficar atentos para pegar recargas na pista. Isso torna a sequência mais acessível a crianças e jogadores casuais, por exemplo, mas penso que a ideia anterior poderia ser preservada como um modo de jogo extra com as mesmas pistas normais, temperadas com o adicional do gerenciamento da gasolina, aumentando a rejogabilidade. Uma pena.
Outra mudança um tanto desajeitada está na forma de obter melhorias para os carros. Agora, cada carro tem um medidor de nível próprio e ganha experiência à medida em que jogamos com ele. São necessárias entre três a oito corridas para passar um nível, até o máximo de 10, mas as melhorias realmente fazem a diferença. De certa forma, é aqui que está o pequeno problema: quanto mais jogamos com o mesmo carro, mais vantajoso ele fica em relação aos demais e, por isso, nossa escolha permanece sendo aquele. Essa tendência de exclusividade é reforçada com o fato de que apenas carros de alto nível continuam competitivos no terço final da campanha.
Portanto, para evitar que parte do catálogo de veículos, que já não é grande com seus 12 carros, se torne obsoleto, é preciso repetir corridas dos primeiros países para elevar o nível das carroças atrasadas. Aqui temos uma vantagem do multijogador local, pois todos os carros usados ganham experiência, acelerando o aprimoramento da performance das máquinas.
Ainda na lógica de recompensas, Horizon Chase 2 têm cosméticos desbloqueáveis em torneios e com moedas ganhas nas partidas. São pinturas, carrocerias e rodas para customizar os veículos, mas um tanto caros para os mirrados ganhos. Os preços variam de 150 a 1.500 moedas, enquanto ganhamos apenas 50 nas corridas individuais e 250 nos torneios de quatro pistas (o ganho de moedas e de XP é uniforme e independente da colocação final).
Além da campanha de Volta ao Mundo, Horizon Chase 2 apresenta mais dois modos. Temos os Torneios, que são 24 campeonatos com combinações diferentes de quatro pistas, divididos em três níveis de desafio.
Já o modo online, chamado Playground, é bastante limitado e se resume a partidas em pistas aleatórias, mas, no período de análise, não consegui competir com outros jogadores. Imaginei que jogaria com pessoas de outras plataformas, mas não sei se o crossplay, recurso confirmado, já estava ativado antes do lançamento do jogo.
No Playground, há ainda os desafios temporários nos quais precisamos vencer a corrida cumprindo um objetivo adicional, como usar um mínimo de nitros, bater poucas vezes ou não pegar moedas. No entanto, jogamos contra o computador e o aspecto online se resume aos placares globais. Infelizmente, o jogo não tem um medidor desses objetivos e não nos informa quando já passamos dos limites exigidos.
Também não posso deixar de mencionar que o jogo pede para logar em uma conta da Epic Games, um passo que só é obrigatório para as funções online. Quem não desejar fazê-lo, basta jogar com a rede desligada ou fechar a janela de login sempre que iniciar o jogo.
Na parte técnica, em geral, o game funcionou quase perfeitamente, com loadings breves e gameplay muito fluida. Digo “quase” porque houve duas pistas em que a música simplesmente sumiu e uma em que os efeitos sonoros ficaram ausentes (você pode conferir nas duas últimas corridas do nosso vídeo do início do jogo). Também tive dois crashes súbitos, ambos em menus de jogo. Se considerar ainda dois carros que apareciam em low poly antes de finalmente serem renderizados em alta definição, todas essas ocorrências foram apenas questões pontuais de erguer a sobrancelha, sem atrapalhar a consistência da jogatina.
Um ponto muito positivo que foi mantido é a tela dividida para quatro jogadores em disputas locais, o que vale para todos os modos. Apenas o usuário principal precisa logar na conta da Epic Games e todos ganham os troféus simultaneamente. Todos também colaboram para o progresso, sem depender apenas do desempenho do titular. Joguei a maior parte da campanha com minha esposa e os dois filhotes na maior algazarra e gostei de como os pequenos conseguiram evoluir nos controles. Foi uma boa experiência com diversão para toda a família.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Epic Games.
Veredito
Horizon Chase 2 traz um mais do mesmo muito divertido, ainda mais quando dividimos a tela com mais pessoas. Embalado na contagiante trilha musical eletrônica, as corridas frenéticas têm ganhos na relação entre controle e velocidade e na bela representação estilizada de locais reais, mas também apresenta perdas no número de pistas e carros em sua modesta Volta ao Mundo.
Horizon Chase 2
Fabricante: Aquiris
Plataforma: PS4 / PS5
Gênero: Corrida / Arcade
Distribuidora: Epic Games
Lançamento: 30/05/2024
Dublado: Não
Legendado: Sim
Troféus: Sim (inclusive Platina)
Veredict
Horizon Chase 2 delivers more of the same in a very fun way, even more so when we share the screen with more people. Packed with electronic musical tracks, the frenetic races have ups in the relationship between control and speed and the beautiful stylized representation of real locations, but also downs in the number of tracks and cars in its modest World Tour.