Alguns jogos se bastam pela execução de conceitos simples e diretos, sem firulas ou mecânicas variadas. É o caso de Hidden Through Time 2: Myths & Magic, facilmente definido pela comparação com os livros lúdicos da série Onde está Wally. Quem já é familiar com a franquia Wally e gosta de caçar detalhes em cenários amplos pode ter a certeza de que o jogo satisfaz a vontade de imergir na brincadeira de percepção. Aos que não conhecem ou não experimentaram, cabe explicar melhor.
Hidden Through Time 2 pertence ao gênero de jogos de objetos escondidos. Funciona assim: cada fase tem uma ilustração representando um grande cenário e uma lista de objetos para encontrar nesse meio. Pronto, é isso. Sério, o tutorial tem apenas quatro caixas de texto. Todo o resto da obra é questão de ambientação, detalhes estéticos, prazer do reconhecimento e mecânicas de qualidade de vida. Esses aspectos também são simples, mas importam muito ao aproveitamento da diversão.
Essa essência traz consigo a vantagem de ser um jogo para uma pessoa que pode ser aproveitado por mais algumas: enquanto alguém vai controlar o zoom e a posição da câmera, as demais ficam de olhos atentos na busca por objetos na tela. Isso faz dele um ótimo jogo para a família, especialmente quando envolve crianças. Joguei a campanha inteira com meus dois filhos e todos nós fizemos nossa parte e nos divertimos muito.
Quem jogou o primeiro Hidden Through Time já sabe muito bem o que esperar aqui porque a sequência é muito parecida. De pequenas melhorias, ainda temos a capacidade de abrir edificações e recipientes para vasculhar dentro das casas ou baús, por exemplo, mas agora as construções podem ter mais de um andar para esquadrinhar.
No conceito da procura, a maior novidade está na possibilidade de alternar os cenários entre dois climas ou horários. Assim, um mesmo ambiente pode ter pessoas se divertindo sob o sol e, com o pressionar de um botão, se protegendo da chuva em outro lugar. Os objetos a encontrar são divididos entre as duas opções. Não é uma dinâmica complexa, mas acrescenta uma boa camada extra ao entretenimento das ilustrações. Afinal, procurar objetos escondidos em locais interessantes é parte da graça.
A arte, como você pode ver, é feita de linhas limpas e mínimas. É aqui que mora o charme: muitos elementos se movem em animações que, mesmo sendo básicas, dão muita vida ao conjunto. A maioria deles reagem ao clique do jogador e emitem sons específicos que combinam com suas fontes. Ao juntar tudo, a obra assume uma harmonia minimalista muito agradável e carismática.
Para dar tema aos visuais, a identidade da série Hidden Through Time está em ilustrar períodos históricos com traços mitológicos. Neste segundo jogo, temos quatro contextos com foco maior na fantasia: Os Mágicos Anos 1980, 1.001 Noites, A Idade Média e Mitologia Grega.
Diferente do jogo anterior, os quatro mundos podem ser iniciados em qualquer ordem. Cada um tem oito fases que obedecem a uma sequência, sendo necessário encontrar uma quantidade mínima de objetos de um local para avançar ao seguinte.
Embora a liberdade de escolha faça sentido para a jogatina casual a que se propõe, ela significa que o jogo deve criar a mesma curva de aprendizado em cada mundo. O resultado é que cada um tem uma fase ou duas que são bem fáceis para servir de introdução, o que não é um problema, mas parece um pequeno desperdício em um jogo que já não é tão recheado de estágios na campanha.
Uma sensação de desperdício maior, porém, está na brevidade das listas de busca por objetos. Os cenários são tão ricos em detalhes e em coisinhas interessantes e escondidas, que muitas vezes me vi surpreso que esses itens não tenham entrado para o inventário de objetivos.
É claro que ainda podemos satisfazer nossa curiosidade fuçando as coisas por aí, mas seria bom que o jogo simplesmente aproveitasse sua miríade de elementos que já estão ali e criasse novas listas ao revisitarmos as mesmíssimas fases, como um NG+, ou como os próprios livros de Wally fazem. A brincadeira é tão tranquila e divertida que eu teria prazer em voltar para mais.
Para compensar, temos o já mencionado modo Arquiteto, que permite combinar as centenas de elementos dos quatro temas para fazer seus próprios painéis de cenas super detalhadas.
Isso certamente aumenta a vida útil de jogo, já que você pode passar horas harmonizando cenários pessoais de tamanhos variados, compartilhá-lo com a comunidade e ainda jogar as centenas que outras pessoas se dedicaram a criar. No período de análise já havia muitos deles disponíveis, então acredito que o compartilhamento ocorra entre plataformas, uma vez que o jogo foi lançado no PC alguns meses antes.
Aos caçadores de troféus: o de platina é obtido sem grandes dificuldades. Para resumir, ele vem após encontrar todos os objetos da campanha, criar uma fase no modo Arquiteto e completar cinco das fases online criadas pelos usuários. Há desde aquelas preguiçosas que foram feitas apenas para pegar troféu e atrair os que querem fazer isso de forma rápida, até outros grandes, densos e bem-feitos. Entre os que mais gostei havia até uma divertida adaptação de Elden Ring!
A propósito, o jogo traz compatibilidade com mouse e teclado, o que pode ser especialmente útil no modo Arquiteto (facilita bastante a hora de escrever as descrições e dicas). Para a campanha, porém, preferi manter o DualSense, pois não gostei de mover a câmera com as setas do teclado. Para isso, eu preferiria uma função de segurar o botão do mouse e arrastar. No fim das contas, é sempre bom ter mais opções, embora, estranhamente, o jogo não avise disso. Eu mesmo tomei a iniciativa de testar a funcionalidade e os comandos.
Mesmo com uma adição excelente como o modo Arquiteto, ainda senti falta de evolução palpável na sequência, especialmente no campo visual. Gostaria que tivesse mais dos pequenos movimentos tão característicos, especialmente nas águas. É muito estranho ver as linhas que traçam os rios, lagos e mares permanecerem estáticas mesmo enquanto as pessoas na margem se agitam.
Igualmente, as músicas estão mais diversas que no primeiro jogo (parecia ter apenas uma faixa musical), mas ainda dá para dizer que esse aspecto se manteve no minimalismo. Nesse ponto, eu preferia uma variedade generosa para evitar ficar ouvindo os mesmos loops de cada tema.
Outro ponto que deveria estar melhor é na precisão dos cliques. Hidden Through Time 2 herdou de seu antecessor a chateação recorrente de ter que tentar apontar o cursor várias vezes para computar a descoberta de algum objeto escondido. Está longe de estragar a experiência, mas era algo em que eu esperava melhoria.
Por fim, os loadings estão longos. Nada absurdo, mas certamente acima do que estou acostumado no PS5. Na primeira vez que rodei o jogo, cheguei a achar que havia travado antes de chegar ao menu inicial, o que é agravado pela distorção de som durante o carregamento, como se fosse um “CD arranhado”. Inofensivo, mas revelador de que o jogo ainda merece polimento. Espero que seja otimizado em atualizações.
Os problemas de Hidden Through Time 2 são pequenos quando comparados à diversão carismática que, com o modo de criação, assume proporções muito mais duradouras e criativas.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Rogueside.
Veredito
Hidden Through Time 2: Myth & Magic traz um mais do mesmo confortável e divertido na busca por objetos escondidos. Senti falta de evolução estética, mas a ambição foi investida no modo Arquiteto para a criação e compartilhamento de novas fases, aumentando grandemente as possibilidades de aproveitamento desse jogo adorável e relaxante que, mesmo sendo para apenas um jogador, pode ser curtido com a família toda.
Veredict
Hidden Through Time 2: Myth & Magic brings more of the same comfortable and fun search for hidden objects. I felt a lack of aesthetic evolution, but the ambition was invested in the Architect mode to create and share new levels, greatly increasing the possibilities of enjoying this lovely and relaxing game which, even though it is single-player, can be enjoyed with the whole family.