Hi-Fi RUSH é um jogo de aventura com dinâmicas de ritmo, desenvolvido pela Tango Gameworks (The Evil Within, Ghostwire: Tokyo) e publicado pela Bethesda Softworks, publisher responsável por publicar todos os jogos da Tango Gameworks até então. Lançado originalmente para Xbox Series e Windows, Hi-Fi RUSH marca o segundo título da Microsoft e Xbox a serem lançados em outras plataformas, seguindo Pentiment que saiu mês passado.
Pouco mais de um ano após seu lançamento original e de receber várias indicações a premiações no ano de 2023, Hi-Fi RUSH chega ao PlayStation 5 com todas melhorias e capacidades gráficas da versão original, sem perder nada no processo de transição para a nova plataforma.
Hi-Fi RUSH começa acompanhando Chai, um jovem facilmente impressionável que, com o sonho de se tornar uma grande estrela do rock, se voluntaria ao Projeto Armstrong das empresas Vandelay, para substituir seu braço por uma prótese cibernética. Chai descobre, logo depois de entrar na sede da empresa, de que os planos para ele era de se tornar um catador de lixo com um braço magnético.
A reviravolta acontece quando começa o processo de substituição do braço de Chai para um braço mecânico, que envolve a queda acidental de seu tocador de músicas na máquina, fundindo o protagonista com o aparelho e lhe dando a habilidade de encontrar o ritmo nas coisas e no mundo ao seu redor.
Esse acidente causa a fábrica a apontar Chai como um defeito, começando uma verdadeira caçada atrás dele para corrigir esse defeito – e eliminar Chai nesse processo. Para enfrentar as legiões de robôs que as empresas Vandelay colocam em seu encalço, ele descobre que seu novo braço cibernético, feito para coletar metais como lixo, também pode criar uma guitarra metálica com restos de lixo.
Com a sua nova arma feita de restos de metais, e a sua habilidade de sentir o ritmo ao seu redor, Chai deverá derrotar os inimigos no seu caminho, evitar a captura para seu descarte, mas também encontrará novos companheiros nessa jornada para descobrir o que está por trás dos planos maléficos que as empresas Vandelay tem para o mundo.
Hi-Fi RUSH tem uma história muito interessante, mas sem grandes complexidades. Durante o jogo, ela aborda assuntos como família, ambição, amizades e sonhos pessoais. A relação entre Chai e os personagens que começam a surgir para ajudá-lo toma a frente depois do meio do jogo e fica como maior destaque até o fim.
Mas o que talvez seja o carro-chefe de Hi-Fi RUSH é ela, a jogabilidade. O jogo funde dois gêneros que, apesar de não serem totais estranhos e não ser um casamento inédito, não é muito explorado, pelo menos nessa profundidade que Hi-Fi RUSH se propõe a misturar: o gênero de aventura/plataforma e de ritmo.
O jogo utiliza o sonho de Chai de se tornar uma grande estrela do rock e a sua nova fusão com um tocador de músicas para injetar o ritmo na jogabilidade. Toda fase tem sua batida, e agir conforme a batida traz benefícios importantes para o jogador, seja na exploração dos mapas, como também no combate com todos os tipos de inimigos que surgem em seu caminho.
O combate se dá em campos isolados durante a exploração do mapa, em que Chai fica restrito a essa área e deve derrotar todos os inimigos que vão surgindo, em muitas vezes vários ao mesmo tempo. Atacar seguindo a batida do jogo traz várias vantagens, como permitir combos mais extensos ou variados, intercalar com ataques dos seus companheiros que podem aparecer para interferir pontualmente nas batalhas, ou mesmo na pontuação. O ritmo vem até em seções isoladas em que Chai deve bloquear ou se esquivar de ataques inimigos, ou mesmo para finalizá-los no tempo correto.
Cada seção de combate tem uma pontuação avaliada, dividida normalmente em tempo gasto para finalizar aquela seção, a pontuação alcançada no combate e a capacidade de agir e atacar no ritmo da batida. Ao final de um capítulo, todas as pontuações são somadas e então é gerada uma avaliação total. O sistema serve de estímulo para que o jogador aprimore suas habilidades, sempre prestando atenção nesses três aspectos do jogo.
A exploração dos mapas é bastante divertida, já que não é incomum encontrar caminhos isolados durante o percurso, encontrados apenas por aqueles que gostam de explorar tudo, cheio de recompensas para aqueles que chegaram até lá. Alguns caminhos ficam, inclusive, restritos para o jogador em sua primeira playthrough, incentivando que volte e explore novamente os mapas após sua primeira rodada.
A arte do jogo é uma das mais divertidas que encontrei nos últimos anos. O visual colorido, com figuras 3D descoladas que interagem com os cenários introduzidos pelo jogo, em fábricas, escritórios e até mesmo jardins e museus, trazem um ar descolado para um jogo que tenta justamente entregar esse ar descolado, com suas músicas e temáticas.
A trilha sonora do jogo é em sua maior parte original, trazendo faixas de rock que também misturam outros gêneros musicais, com ênfase em fazer com que o jogador preste atenção na batida e jogue em seu ritmo. Por si só, a trilha sonora é tão bem-feita que eu não ficaria surpreso em resgatá-la para ouvir enquanto jogo outros jogos no futuro.
Um ponto muito positivo que não esperava encontrar foi a localização. Desde os diálogos, até a dublagem (e principalmente, a dublagem) mostram o nível de carinho e profissionalismo que o jogo recebeu para chegar ao país. Vozes muito conhecidas do público dublam os personagens, com originalidade e especificidades para cada um. Esse foi um jogo em que eu senti que, de fato, a localização somou ao jogo e tornou o produto ainda melhor.
Ao fim das quase dez horas da primeira playthrough, Hi-Fi RUSH conseguiu entregar algo novo do começo ao fim, seja em mecânicas adicionadas ao jogo, seja em batalhas com chefes que trazem algo totalmente novo entre um e outro. Há sempre algo novo com a finalidade de manter a atenção do jogador, prendendo-o capítulo atrás de capítulo.
Voltar para novas playthroughs em dificuldades mais complexas, explorar as novidades nos mapas que até então estavam bloqueadas, ou mesmo completar novos desafios e coletar items que deixou passar da primeira vez, há motivos de sobra para continuar jogando após o chefe final, e sinceramente, retornarei ainda muitas vezes para seguir a batida de Hi-Fi RUSH.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Bethesda Softworks.
Veredito
Na batida do seu próprio ritmo, a Tango Gameworks conseguiu desenvolver algo raro, único e muito, mas muito divertido.
Veredict
To the beat of its own drum, Tango Gameworks managed to develop something rare, unique and very, very fun.