Uma das grandes surpresas em 2020 no mundo dos jogos foi a indicação de Hades para Game of The Year no The Game Awards. Em uma categoria onde geralmente só vemos grandes nomes da indústria, estava lá indicado o quarto lançamento da Supergiant Games. Além disso, foi o segundo jogo com mais indicações nesta premiação, vencendo duas delas, e também diversos outros prêmios neste período de menos de um ano de lançamento (sem considerar todo o Early Access), sendo GOTY no GDC Awards, por exemplo. O título também ganhou selo de aclamação universal na crítica.
Eu quis iniciar com esta pequena retrospectiva pois pude perceber que foi exatamente assim que muitos jogadores fora do meio Nintendo Switch e PC começaram a colocar Hades em seu radar. Afinal, para um indie ser tão bem falado, algo de bom tem que ter. Mas será que toda a hype de fato é real? Com o lançamento para as famílias de Xbox e PlayStation, finalmente podemos conferir o que a Supergiant Games criou que encantou tanta gente.
Ao contrário do que alguns imaginavam, no game você não controla Hades, mas sim Zagreus, seu filho. O plot principal gira em torno de suas tentativas do Submundo para poder chegar ao Monte Olimpo e descobrir algumas verdades que envolvem sua vida. Durante seu trajeto receberá o apoio (e desenvolverá histórias e relacionamentos) com outros deuses e pessoas que encontrar no caminho. Recomendo desde já que leia sempre os textos no jogo, pois melhoram muito mais a experiência. Todos o game está muito bem localizado em português.
Mesmo sendo fácil saber todo o restante do enredo de Hades hoje em dia, deixarei esta análise sem spoilers e, por isso, não seguirei muito com detalhes da história, que é um dos pontos mais fortes do título. A narrativa começa simples e te deixa intrigado conforme vai se desenvolvendo, que vai sendo contada através de conversas com personagens, flashbacks e também alguns pontos específicos em cada sala. Nenhuma rodada é em vão e nenhuma morte é desnecessária: a cada retorno e recomeço, novos acontecimentos desencadearão o andamento da história. Este formato de narrativa é algo similar ao que a Supergiant Games já havia feito em Pyre, seu último título, de 2017, que ficou muito bem casado com a proposta de Hades.
O estilo de jogo é focado em ação com um formato roguelike e também dungeon crawler. Ou seja, cada jogada é dividida em diversas “salas”, que são geradas randomicamente, variando seus inimigos, prêmios e extras. Apesar de existirem formatos padrões no design de alguns locais (como por exemplo da foto acima), existirão diferenças com relação a vasos com ouro, locais de pesca e também da recompensa que estará disponível na próxima sala. Isso se repetirá até o chefe de cada andar. Vencendo você passa para outro “cenário” e encontrará novos desafios. Até chegar de fato ao final de sua partida completa, derrotando o chefe final e podendo começar tudo novamente, mas não de maneira igual. Todas as suas melhorias conquistadas na rodada não levadas para a próxima, apenas o que você for liberando como permanente na casa de Hades.
Um ponto extremamente relevante de citar é que caso você precise parar de jogar no meio de uma rodada, Hades grava ao entrar em cada sala e este local vira um “ponto de retorno”. Ou seja, você pode tranquilamente fechar o jogo, desligar o console e fazer outras coisas que ao voltar a jogar estará no mesmo local.
A primeira vez que você completa um ciclo pode demorar algumas horas, mas com o tempo é bem comum de se finalizar em uns quarenta minutos. Pode parecer cansativo fazer “a mesma coisa” diversas vezes, mas te garanto que em nenhum momento em Hades se tem a sensação de cansaço. Muito pelo contrário, você começa uma nova rodada (seja ao finalizá-la ou morrer no caminho) e já quer ver o que conseguiu desenvolver de novo na história, melhorar suas habilidades e itens, habilitar desafios e partir para a luta.
As batalhas seguem uma linha hack and slash e são extremamente rápidas e dinâmicas. Um erro na hora de se esquivar e pisar em uma armadilha no chão ou o uso de um especial em um inimigo errado pode ser o diferencial para finalizar uma sala ou retornar para casa. No começo você utiliza apenas uma espada, porém, com o andar do jogo você pode ir desbloqueando outras opções de armas para variar o gameplay, como um arco, escudo ou uma lança. Nada é de graça em Hades e você precisará gastar chaves (uma das possíveis recompensas de cada sala) para desbloqueá-las. Apesar de cada pessoa se adaptar mais com um tipo de gameplay e ter sua arma favorita, a dica que posso dar é utilizar sempre a que está com um “bônus” ativo no momento para conseguir muito mais recompensas.
Para ajudar em sua fuga, alguns deuses do Olimpo poderão te ajudar com bênçãos, como Zeus, Afrodite, Hermes ou Ares, uma das opções de recompensas de cada sala. Essas bênçãos podem modificar e melhorar seus ataques (como acrescentando um dano de raio, no caso de Zeus) ou dar algum outro tipo de bônus para a partida (receber +X% de algum tipo de moeda). O importante é entender que não é possível planejar perfeitamente sua rodada com o que vai conseguir de melhoria e, por mais que as vezes tenha um tipo de melhoria específica que goste muito, talvez com sua build atual seja melhor escolher outra opção daquele deus.
Mas nem tudo é liberado com dinheiro. Alguns artefatos (lembranças) são conseguidos apenas aumentando sua amizade com diversas entidades. Já algumas coisas precisam ser construídas na casa de Hades, com auxílio do empreiteiro da casa, que possui o poder de até mesmo criar novos tipos de salas durante sua jornada. Já poderes melhores dependem de itens específicos que caem de cada chefe, e você precisará em algum momento farmá-los, derrotando-os com cada arma e incluindo desafios extras (disponíveis após terminar sua primeira rodada).
Um último detalhe ainda do gameplay são as mecânicas extras em algumas salas. É possível, por exemplo, encontrar um Tesouro Infernal, um baú que você pode escolher abri-lo ou não, sendo necessário derrotar novos inimigos bem rápido para conseguir o máximo de recompensa possível. Também existem mapas onde você não precisará derrotar inimigo algum, apenas sobreviver por um determinado tempo. Como já disse e repito: quanto mais você joga Hades, mais novidades e mecânicas vão surgindo. A grande graça do título é essa exploração e descoberta e, por isso, não entrarei em mais detalhes de outras situações variadas.
Ao contrário da versão de Switch que ganhou cross-save com o PC, no PlayStation esta função não está habilitada. Quanto ao restante do jogo, ele é 100% idêntico em quesito de conteúdo. Todas as atualizações até o momento já estão implementados no lançamento. Os gráficos no PlayStation 5 chegam em resolução 4K e estão MUITO bonitos. As imagens neste review não fazem jus a real beleza da arte vista em uma tela com dispositivo gráfico 4K e HDR. Os coloridos estão muito mais reais e vivos do que havia visto anteriormente no Switch. Para PS4, infelizmente, a qualidade se restringe a 1080p. Então caso tenha acesso ao PS5, jogue nele pois sua experiência será bem mais encantadora. A direção de arte deste jogo é impecável para o que quiseram fazer, seja na parte visual como também em sua trilha sonora.
Então Hades é tudo isso que foi falado no último ano? Talvez até mais. Todas as minhas expectativas foram superadas. Além disso, é a prova viva de que não é preciso ser um estúdio milionário com diversas IPs famosas para entregar um produto com este altíssimo nível, digno de GOTY. O jogo possui um fator replay quase que infinito. Se você busca 100% de um jogo como eu, pode reservando aí umas boas centenas de horas de exploração pela frente. E pode fazer tudo com calma pois você irá aproveitar cada uma delas.
Tenho certeza que ao fim deste ano ao olhar minhas estatísticas de jogos, Hades será o meu mais jogado de 2021 no PS5.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Supergiant Games.
Veredito
Com uma narrativa muito bem desenvolvida, excelente localização em português e direção artística impecável, Hades chega muito bem no PlayStation, mostrando que consegue ser ainda melhor do que se podia imaginar. É um dos jogos mais viciantes que joguei nos últimos tempos, ao ponto de fazer você virar diversas noites acordado e rendendo centenas de horas de jogo.
Veredict
With an excellent developed narrative, amazing localization in Portuguese and impeccable artistic direction, Hades arrives very well on PlayStation, showing that it can be even better than what we could’ve imagined. It’s one of the most addictive games I’ve played in recent years.