Há algo de muito especial em falar da franquia .Hack em 2017. Se hoje vemos grandes franquias multimídia como algo normal, quando o “Project .Hack” original foi lançado em 2002, com uma ambiciosa história envolvendo jogos, animes, livros e mangás, e a sua sequência com a trilogia G.U. (que teve seus próprios complementos cross-midia), a franquia criada pela CyberConnect2 e publicada pela Bandai Namco sempre esteve muito à frente do seu tempo.
Por mais que não tenha tido todo o reconhecimento que merecia à época, .Hack e, em especial, a trilogia .Hack//G.U. sempre tiveram uma legião de fãs apaixonados por alguns dos melhores RPGs lançados para PlayStation 2 e que sempre sonharam em ver a série de volta, em especial com a crescente onda de remasterizações desde o advento dos consoles de alta definição.
Atendendo aos vários pedidos dos fãs, a CC2 e a Bandai Namco não só trazem a trilogia para o PlayStation 4 com a coletânea .Hack//G.U. Last Recode no aniversário de quinze anos da série (e dez anos do lançamento do, até então, último capítulo da trilogia G.U.), como incluíram no pacote algo inesperado: um novo capítulo que se passa após os eventos da trilogia original, chamado .Hack//G.U. Vol. 4 Reconnection.
O jogo conta a história de Haseo e a sua jornada de inexperiente jogador do VRMMORPG chamado The World até se tornar um dos mais importantes jogadores que já passaram por aquele jogo. Se a premissa lembra a de vários mangás e light novels que se tornariam populares, como Sword Art Online, um dos grandes charmes de .Hack é que, se existe bastante combate, a sua história e os contornos filosóficos por trás dela acrescentam muito mais à experiência.
A evolução de Haseo como personagem é um dos grandes charmes do jogo. De certa maneira, desde a quadrilogia original, .Hack tem sido um dos primeiros jogos episódicos, algo que se tornaria muito mais comum anos e anos depois. Cada jogo funciona muito bem por si só (mesmo que a história seja uma linha contínua e que deve ser aproveitada em ordem), mas, quando vista no contexto da série como um todo, temos uma das maiores joias de uma das melhores gerações de RPGs japoneses.
Nisso, Vol. 4 Reconnection é uma grata surpresa. Surpreendentemente, todo o charme e qualidade que estavam presentes no PS2, tanto de combate quanto narrativa, foram perfeitamente capturados neste novo capítulo, desenvolvido exclusivamente para esse relançamento. É uma perfeita nova experiência na franquia, solucionando alguns dos pontos que ficaram em aberto e apresentando novos desafios, tudo com um incrível peso emocional e algumas das mais belas cenas de animação já feitas pela CyberConnect2, sendo a conclusão perfeita para a série.
Além do novo conteúdo, o pacote conta com algumas adições interessantes para os fãs da série que não têm mais tanto tempo para dedicar às exigências de um RPG. Além de poder iniciar qualquer um dos quatro volumes a qualquer momento, a CC2 incluiu um Cheat Mode que permite aumentar o nível, habilidades e equipamentos ao máximo (e desativa alguns dos troféus), permitindo só aproveitar a história sem se preocupar em subir de nível e outras questões de gameplay, já que na esmagadora maioria dos combates, o jogador se torna capaz de derrotar qualquer inimigo com poucos ataques.
Last Recode cuida bem dos detalhes que se espera de uma remasterização. Os visuais estão muito bem cuidados, as animações, que já eram muito bonitas e bem feitas, são ainda melhores no PS4 e o jogo roda em perfeitos 60 frames por segundo. Além disso, foram feitos vários ajustes para tornar o combate mais fluido e impactante, como um inventário maior (os jogos originais tinham um limite de 30 itens, que agora é de 90) e a possibilidade de armazenar mais Chime Orbs e Virus Cores, que saíram do limite de 100 para 999, tudo colaborando para evitar que o jogo pareça datado.
É claro que, por se tratar de uma remasterização e não de um remake, nem tudo foi completamente modificado. O combate ainda é basicamente o mesmo do original, com bastante foco na ação que, apesar de tudo, se torna repetitivo após algum tempo. A série como um todo faz um bom trabalho em garantir que o jogador sinta um forte senso de progressão, com novas habilidades, novas armas e poderes que tornam o combate menos monótono.
Por causa desse sistema de combate focado na ação e em simular um VRMMORPG, o jogador controla apenas Haseo, com os outros dois membros da sua party agindo de forma independente. Ao contrário de muitos jogos modernos, a Inteligência Artificial dos seus companheiros é muito boa, sempre utilizando os ataques e habilidades certas contra os inimigos certos.
Por mais que as dungeons se tornem repetitivas, em especial no primeiro volume, fora delas existe muita coisa a se fazer: de passar horas e horas conhecendo seus companheiros a participar de batalhas na arena, administrar uma loja ou só conhecer The World de bicicleta, tudo isso ao som de trilha sonora incrível.
No geral, .Hack//G.U. Last Recode é uma ótima coletânea, com uma quantidade absurda de conteúdo, capaz até mesmo de cansar o jogador, dadas as centenas de horas de jogo incluídas em um só pacote. É um ponto de entrada maravilhoso para uma das mais interessantes e cativantes histórias já vistas em um RPG e que, mesmo nos poucos momentos mais fracos ou arrastados que possui, merece ser jogada pelos fãs do gênero e que recompensa aqueles que clamaram pelo retorno da série com um fantástico novo capítulo.
Veredito
.Hack//G.U. Last Recode é um ótimo ponto de entrada para novos jogadores e um pacote riquíssimo para os fãs de longa data, merecendo ser aproveitado por todos. Todas as mudanças e adições mais do que justificam a sua existência, revitalizando a franquia com o novo volume e mostrando como remasterizações devem ser feitas.
Jogo analisado com cópia digital fornecido pela Bandai Namco.
Veredito
Veredict
.hack//G.U. Last Recode is an amazing entry point for new players and a very rich package for long time fans. In other words, it deserves to be enjoyed by everyone. All changes and additions made to the games are justifiable and the new volume revitalize the franchise. This collection shows how remasters should be done.