GRIME – Review

Dentre os sub-gêneros de RPGs de ação, dois dos mais populares atualmente são os Metroidvanias e os Soulslike. Assim, seria só uma questão de tempo para que novos jogos começassem a surgir a partir da fusão desses estilos. Esse jogos, por razões óbvias, passaram a ser conhecidos como Soulsvania. GRIME é um bom exemplo disso.

GRIME se passa em um mundo bem bizarro, onde o conceito principal gira em torno de formas. Nesse mundo de rocha, pó e um pouco de carne, nosso protagonista surge como um aglomerado de pedras, com uma característica que o difere da maioria dos demais habitantes: a simetria. Com sua perfeição corporal sendo constantemente exaltada, ele acaba chamando a atenção por algo bem peculiar. No lugar de sua cabeça, há um buraco negro.

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Esse buraco negro é um dos elementos que ditam alguns rumos da história de GRIME que, como na maioria de jogos desse estilo, apesar de conter boas ideias, se mostrou um pouco confusa. Onde GRIME realmente brilha é em seu combate.

GRIME é fortemente influenciado pela fórmula consagrada do jogos Souslike. Você terá acesso a um sistema de combate bem desafiador, apoiado por um vasto arsenal de armas e armaduras. As armas possuem características bem distintas, podendo variar entre as tradicionais foices, martelos, lâminas duplas, ou até para lanternas, que funcionam com uma espécie de arma mágica. Cada arma tem seu ataque básico e também um especial. Esse ataque especial é o que difere uma arma da outra, criando inúmeras possibilidades para abordar os confrontos.

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As armas também possuem escalas de acordo com os atributos de seu personagem, podendo ser mais inclinadas a uma build de força, destreza ou ressonância. Além destes três atributos, você também poderá investir seus pontos de experiência em vitalidade e vigor. Isso faz com que a construção de seu personagem seja de suma importância, principalmente porque uma das características mais importantes do combate de GRIME está na gestão de sua stamina.

Mas em GRIME ainda há um elemento tão importante quanto as estatísticas de seu personagem. Boa parte do combate também gira em torno do sistema de parry, que aqui é chamado de absorção. Com exceção a alguns golpes indefensáveis, a maioria dos golpes inimigos poderão ser absorvidos ou repelidos. Os inimigos em GRIME são chamados de presas. Descobrir e eliminar um certo número de presas com essa mecânica faz com que você tenha acesso à novas habilidades.

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As barras de vidas dos inimigos podem apresentar cores diferentes, variando entre vermelha, marrom, ou até mesmo combinando trechos de ambas as cores. As barras vermelhas representam o momento onde os golpes inimigos poderão ser absorvidos, já as barras marrons se referem às situações onde você poderá apenas repeli-los. Uma outra característica desse sistema é que, mesmo que a absorção não seja um golpe fatal, ela ainda será capaz de refletir parte do dano de volta ao inimigo e resultar no acúmulo de fôlego. O fôlego é a energia que você usará para recuperar vida. Dessa forma, compreender como esse sistema funciona é fundamental.

Essas habilidades adquiridas através da absorção das presas são chamadas de Traços e, quando liberadas, podem conceder um enorme benefício. Por exemplo: absorver o Cabeça de Rocha permite acesso a um traço que melhora sua vida; o Combatente Floral dá acesso a um bônus na recuperação de vigor; o traço do Rocha Demente amplia a janela de aparo da absorção; e assim por diante. Para evoluir essas habilidades é necessário ter pontos de caça, que são obtidos ao eliminar alvos de alto valor espalhados pelos mapas. Para tornar esse sistema ainda mais importante, as armaduras possuem um bônus de equipamento quando equipadas em conjunto, que aprimoram ainda mais alguns desses traços.

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Com todo esse sistema, o design dos inimigos de GRIME se torna bastante importante. Nesse ponto, o jogo se destaca por possuir uma boa variedade de inimigos, cada um com seus próprios padrões de ataques e de movimentação. Há também uma quantidade considerável de chefes secundários que, quando derrotados, premiam com melhorias que ampliam sua capacidade de estocar fôlego. Os chefes principais são bem desafiadores e também apresentam bastante variação. Muitos deles possuem o mecanismo de duas fases, fazendo com que você tenha que investir um tempo considerável para se adaptar aos seus padrões. Ao derrotar cada chefe você ganhará uma nova habilidade, que será necessária para avançar por setores dos mapas e descobrir novos segredos.

Claro que, quando falamos em um jogo Soulslike, também pensamos o quão punitivo ele será. GRIME tem um combate brutal, onde cada golpe inimigo causa um quantidade alta de dano. Mas, em caso de morte, GRIME é um pouco mais generoso que a maioria de jogos desse gênero. Temos aqui o conhecido sistema de checkpoints, que são chamados de Sucedâneo. Ao descansar em um ponto de controle, ou em caso de morte, todos os inimigos serão reposicionados. Até aí, tudo dentro do convencional.

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Onde GRIME se distancia um pouco dos jogos Soulslike é como ele lida com a perda de experiência. Sempre que absorver com sucesso um ataque inimigo você acumulará Ardor. O Ardor é uma mecânica de status que influencia em alguns aspectos do jogo. Quanto maior o seu Ardor, maior é o número de pontos de Massa que você receberá dos inimigos abatidos. A Massa é a moeda básica do jogo, podendo ser usada tanto para subir de nível como também para adquirir equipamentos, melhorias e itens dos mercadores.

Toda vez que você morrer, você perderá seu Ardor acumulado, mas não perderá sua Massa. No local de sua morte você deixará seu Invólucro. Esse Invólucro, quando recuperado, dará de volta metade do seu ardor perdido. Se considerarmos que o ardor pode também conceder outras vantagens, quando combinado com alguns traços, jogar com essa status mais alto não deixa de ser interessante. Mas, como a mecânica de morte não penaliza com perda dos pontos de experiência, a exploração acaba se tornando menos punitiva. Mesmo em caso de derrota, você poderá subir de level para se preparar melhor para a próxima luta.

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Com certeza esse é um ponto importante na jogabilidade de GRIME, principalmente porque os mapas podem ser um pouco confusos. A começar pela escassez de pontos de controle e pela limitação inicial no sistema de viagens rápidas. Contudo, o motivo maior para a exploração se tornar complicada é que, em GRIME, o mapa não será revelado conforme você o explora. Para isso, será necessário encontrar uma Baliza escondida. Só que essas Balizas nem sempre estarão em lugares de fácil acesso. Para aliviar esse problema, o jogo deixa marcado uma trilha no mapa, indicando o último caminho que você percorreu. Mesmo assim, em um jogo onde a maioria dos cenários se assemelham, essa mecânica foi algo que não me agradou.

Falando um pouco mais sobre os mapas, temos uma estrutura clássica de jogos Metroidvania. O mundo possui vários mapas interligados, a maioria com caminhos alternativos, atalhos e, obviamente, muitos segredos. O backtracking também está presente, mas em menor escala quando comparado com outros Metroidvanias.

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GRIME também conta com algumas sessões de plataforma que, de forma geral, contribuem para trazer mais variedade ao gameplay. Só que algumas dessas sessões podem se tornar frustrantes por conta de algumas mecânicas de locomoção, em especial a de puxar objetos. Essa mecânica muitas vezes deverá ser acionada enquanto você estiver no ar, e é exatamente aí que ela se torna inconsistente. Além disso, o jogo se caracteriza por ter uma movimentação mais cadenciada, o que influencia negativamente em alguns momentos onde uma resposta mais rápida for necessária.

A ambientação de GRIME é um ponto positivo, principalmente quando pensamos no design gráfico e sonoro. Mas o jogo peca um pouco na falta de variação dos mapas. Ao longo da campanha passaremos por cavernas, jardins, um palácio, dentre alguns outros biomas. Até temos características próprias para cada um deles. Mas pelo fato do jogo ser, em sua maior parte, ambientado em cenários escuros, isso inevitavelmente passa uma sensação de repetição.

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A parte técnica de GRIME funciona dentro do adequado. Há algumas oscilações na taxa de quadros por segundo, mas nada que prejudique seu desempenho. Erros de colisão também estão presentes, a maioria resultando em nosso personagem ficando preso em elementos do mapa. Também foram notados alguns eventos de pop in de elementos, mas em escala bem menor se comparado ao que era encontrado quando o título foi lançado. Muitas das correções que vieram através de atualizações trouxeram melhorias significativas, além de uma boa dose de conteúdo adicional, conforme relatado a seguir:

Colors of Rot

A primeira expansão gratuita foi integrada ao jogo base, e chegou juntamente com o lançamento de GRIME para os consoles. Esse conteúdo adicionou uma nova área relativamente grande, chamada de Childbed. Também trouxe novas presas, habilidades, armas e armaduras, bem como melhorias na qualidade de vida. Foram realizadas mudanças no posicionamento de alguns NPCs, itens e em uma das missões principais do jogo base, que também acrescentou a possibilidade de um final secreto para a história.

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Tinge of Terror

A mais recente expansão gratuita de GRIME trouxe o aguardado Novo Jogo+, além de um sistema aprimorado de evolução das armas e dos traços. Ao iniciar um novo ciclo, os chefes possuirão padrões de ataque inéditos e, em muitos casos, uma fase completamente diferente. Também foi incluído um chefe exclusivo para o NG+. Com isso, GRIME passou a ter um ótimo fator replay, principalmente para os que quiserem embarcar em uma jornada ainda mais desafiadora.

Conclusão

GRIME é um jogo que faz uso das principais mecânicas do gênero Souslike e as combina de forma coesa com elementos dos jogos Metroidvania. Tudo isso sem abrir mão de inserir suas próprias ideias, que o tornam uma experiência única e obrigatória para fãs de jogos de ambos estilos.

Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Akupara Games.

Veredito

GRIME combina os principais elementos de dois dos melhores estilos de jogos de RPG de ação, mas também introduz suas próprias ideias para torná-lo uma experiência única. Com a adição de suas expansões gratuitas e a as melhorias na qualidade de vida, GRIME se reafirma como uma das melhores opções dentre os jogos Soulsvania.

90

GRIME

Fabricante: Clover Bite

Plataforma: PS4 / PS5

Gênero: RPG / Ação

Distribuidora: Akupara Games

Lançamento: 15/12/2022

Dublado: Não

Legendado: Sim

Troféus: Sim (Inclusive Platina)

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Veredict

GRIME combines the core elements of two of the best action RPG game styles, but also introduces its own ideas to make it a unique experience. With the addition of its free expansions and the quality of life improvements, GRIME reaffirms itself as one of the best options among Soulsvania games.