Green Hell – Review

Após algumas semanas  do lançamento do livro do antropólogo Jake Higgins, a comunidade científica mostrou um grande interesse pelo seu tema de pesquisa e iniciou uma série de protocolos investigativos que aconteceram na floresta Amazônica no Brasil. Com a chegada do exército norte americano e de uma vasta equipe de médicos, a tribo indígena Yamahuaca foi submetida a diversos tipos de exames e testes que violaram as regras desta sociedade causando conflitos e agressões por conta da quebra de vários atrapalhando o andamento das pesquisas.

A sensação de culpa percorre a mente de Higgins e, decidindo contornar a situação, o antropólogo e sua companheira Mia decidem viajar até a Amazônia para conquistar a confiança dos indígenas. Dessa forma, a ideia de uma aliança de paz e amizade irá permitir que os dados sobre a preservação de povos minoritários sejam catalogados.

Jake e Mia estão empolgados com a ideia de reaproximação com os povos indígenas e debaixo do clima tropical e da natureza selvagem da floresta, eles se estabelecem com satisfação em uma cabana próxima ao rio buscando se adaptarem ao novo estilo de vida. Jake está confiante ao ver sua mulher entusiasmada com o trabalho de intérprete que irá realizar com a comunidade, mas sente que ele não é bem-vindo pelos indígenas e não se sente à vontade que Mia faça contato sozinha.

Green Hell

Os primeiros dias da adaptação ocorrem sem empecilhos com os dois relembrando como sobreviver na selva desde atiçar o fogo até escolher as melhores plantas para fazer curativos e ataduras. Depois do aniversário de Jake, Mia segue viagem para a tribo e conversa com o companheiro diariamente sobre o sucesso que está tendo com os Yamahucas. No entanto, todo o planejamento que o casal fez em nome da pacificação é posto em cheque quando Mia, em um tom de voz desesperado, contata Jake sobre algo que não está saindo como deveria. A preocupação toma conta do antropólogo que começa a imaginar se algo mais grave aconteceu à mulher e sai em busca dela. Ao chegar próximo da oca da tribo, Jake desmaia e perde a consciência ficando exposto em um mundo de perigo da floresta. Agora, além de encontrar a companheira, Jake deverá usar de seus conhecimentos para se manter vivo e são ao mesmo tempo que procura compreender o que aconteceu com Mia e qual o papel da tribo em tudo isso.

Explorando o tema de sobrevivência extrema com um alto grau de fidelidade, Green Hell é o título de ação em primeira pessoa que surpreende pela técnica e pela ideia ao trazer um enredo enigmático.  A princípio, a proposta do jogo parece entregar uma experiência similar a jogos como Far Cry e Dying Light em termos de jogabilidade, porém é interessante notar como o conceito de sobrevivência em uma floresta tropical interfere diretamente na maneira como a produtora constrói os comandos e as interações pelos cenários. Apostando em uma simulação realista, os jogadores enfrentarão diversos problemas para atingir os objetivos relacionados à doença, sono, acampamento, localização e tudo o que pode imaginar ao se estar em um ambiente natural.

Green Hell

Green Hell se destaca pela imersão relacionado a uma sensação de solidão e desorientação causados pela arquitetura do game que não ajuda o jogador deixando as missões e os pontos de interesse obscuros. Essa arquitetura de jogo lança o jogador a uma imensidão de mistérios que justifica o nome do game que realmente traz um cenário denso e perigoso.

Se aventurar pela floresta Amazônica será uma tarefa complexa por conta dessa proposta realista e muitos fatores técnicos produzidos para o jogo vão colaborar para este conceito. O visual de Green Hell é muito competente e representa todo o tamanho e a diversidade da da fauna e flora brasileira através de gráficos com ótima resolução e texturas convincentes aproveitando o máximo do motor Unity. Vários pontos em especial podem ser destacados para compor a experiência gráfica fazendo com que o jogo atinja muita qualidade neste quesito.

Como exemplo de consistência gráfica, a distinção entre dia e noite vai além do senso estético e afeta diretamente a dificuldade das explorações uma vez que, no período da noite, a luminosidade será exclusivamente do luar limitando muito o campo de visão e submetendo Jake a mais perigos. Durante o dia, os raios solares vão ajudar a encontrar caminhos e serão percebidos pelos diversos graus de refração que vão desde a luz que atravessa as folhas das copas das árvores e atingem os olhos do personagem até os reflexos do chão molhado da chuva. As cores são intensas e transmitem a sensação de se estar no meio de um bioma real com uma grande variedade de plantas e animais. Pode-se dizer que a floresta Amazônica está bem representada com muitos quilômetros de área verde e um clima instável que oferece ainda mais realismo à proposta.

Green Hell

Junto com todo o aspecto gráfico, tem-se os efeitos sonoros da natureza e não necessariamente uma trilha sonora em específico, o que potencializa a sensação de solidão uma vez que tudo o que se ouve são os ruídos das aves, a água e os passos de Jake. Essa combinação “silenciosa” gera uma sensação de agonia já que os perigos vêm da fragilidade humana que sofre para estar em um ambiente desfavorável. Essa solidão de andar em sem rumo pela floresta é quebrada por outro elemento sonoro que é a insanidade do personagem que acontece com a exposição à doenças e infecções. Se não tratadas corretamente, Jake começa a ouvir vozes em sua mente que o desestimulam a seguir em frente sendo um trabalho sonoro bastante competente e convincente.

Entretanto, mesmo trazendo um conjunto técnico aprimorado para um melhor aproveitamento do jogo, a própria proposta do jogo começa a apresentar desgastes após algumas horas. Isso porque os elementos que deveriam construir uma experiência relevante e distinta começam a influenciar nas dinâmicas atrapalhando a progressão dos objetivos principais.  A insanidade, por exemplo, deixa de ser um fator empolgante e passa a ser tornar irritante principiante se o jogador não encontrar os materiais necessários para curar as feridas e as doenças que causam esse transtorno. Da mesma forma, um mapa que representado com realidade se torna um complicador por não oferecer um guia eficiente e prático para chegar a pontos em específicos que vão desencadear a progressão da história.

A jogabilidade de Green Hell também busca se alinhar ao efeito realístico permitindo ao jogador uma série de possibilidades de construção de itens que serão indispensáveis à sobrevivência. Armas, ervas medicinais, carnes de animais silvestres, filtros de água, e pequenos acampamentos estão disponíveis para a construção com os materiais corretos.  No entanto, assim como outros aspectos do jogo, os comandos não são intuitivos como encontrados em títulos de grandes franquias e são burocráticos atrapalhando o andamento das missões. Acender uma fogueira ou mesmo construir um abrigo pode ser uma tarefa lenta tanto pela coleta dos materiais necessários quanto pelo acesso do menu de criação. O acesso rápido às funções sofre com engasgos e as opções disponíveis para os objetos encontrados ao longo do caminho são confusos e podem fazer os jogadores perderem um tempo considerável até estarem familiarizados.

Green Hell

O gameplay e a campanha principal de Green Hell têm por objetivo criar a sensação de se estar perdido e ter que sobreviver com que a floreste dispõe. Em um primeiro momento, esse aspecto parece interessante e verossímil, mas, com algum tempo de jogo, o conceito pensado para o game também começa a atrapalhar os objetivos juntamente com outros elementos que farão o jogador rodar em círculos em diversos momentos estagnando a partida. Não há uma indicação clara de onde ir ou qual caminho seguir e o diário de Jake apresenta informações superficiais sobre o que deve ser feito. Como resultado, muito tempo de jogo será gasto andando de um lado para outro ou voltando a pontos já visitados para rever itens que podem ter sido esquecidos. Nestes percursos, os perigos da Amazônia marcam presença e afetam a saúde de Jake a todo momento com sanguessugas, parasitas, picadas de cobra, reações alérgicas, febre ou hipotermia, desmaios, intoxicação alimentar, infecções generalizadas entre outros problemas de saúde sendo que todas essas condições podem afetar o personagem ao mesmo tempo impedindo também o desenvolvimento de uma narrativa mais estável. O tempo passa rapidamente e é preciso se organizar para fazer as expedições procurando um abrigo antes do pôr do sol para evitar se perder de vez. Um forte senso de direção será necessário para reconhecer caminhos já que a bússola do relógio e os mapas encontrados vão funcionar como na vida real oferecendo um norteamento mínimo.

Prezar por uma simulação próxima da realidade de uma selva é um fator interessante e o grande destaque de Green Hell, mas que acaba sendo cansativo por não alinhar o título com estruturas de um jogo eletrônico que são indispensáveis para que o ele seja viável. O título é bem construído e pode divertir aqueles que apreciam muita exploração e detalhes. Entretanto, a falta de uma estrutura de jogo para organização da campanha é um fator que não passa despercebido e tira um pouco do brilho e da eficiência do game. A desenvolvedora criou muitos elementos que são originais e interessantes que, se fossem melhor adaptados, fariam de Green Hell um game a altura de grandes títulos proporcionado mais diversão àqueles que tiverem a coragem de lançar à selva.

Jogo analisado no PS4 Pro com código fornecido pela Creepy Jar.

Veredito

Apresentando ótimos recursos técnicos e uma proposta pautada diretamente em situações extremas, Green Hell é um jogo que vai testar os limites dos jogadores com um grau de dificuldade desafiador. Apesar de ter uma proposta interessante, a falta de uma estrutura de jogabilidade mais objetiva atrapalha a diversão do jogo com excesso de elementos de sobrevivência que afeta a forma como o título pode ser aproveitado.

75

Green Hell

Fabricante: Creepy Jar

Plataforma: PS4

Gênero: Ação / Aventura / Simulador

Distribuidora: Creepy Jar

Lançamento: 09/06/2021

Dublado: Não

Legendado: Sim

Troféus: Sim (inclusive Platina)

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Veredict

Featuring great technical resources and a proposal directly based on extreme situations, Green Hell is a game that will test players’ limits with a challenging degree of difficulty. Despite having an interesting proposal, the lack of a more objective gameplay structure hinders the fun of the game with an excess of survival elements that affect how the title can be enjoyed.


Renan Gaudencio Vale
Renan Gaudencio Vale
Linguista, publicitário professor, tradutor nas horas vagas e acima de tudo um gamer dedicado. Como fã da cultura pop e geek, acredito que os jogos eletrônicos sejam mais que diversão e sim uma representação muito particular no mundo. Jogador há quase 30 anos, entendo o vídeo game como uma experiência única que envolve narrativas profundas, personagens encantadores e um ligação pessoal que constrói um elo único com a emoção. Aprecio os grandes títulos e franquias famosas, mas nos últimos tempos, tenho me dedicado aos jogos indies com muito entusiasmo.