A história do PlayStation foi construída com o tempo e ao redor de diversos jogos de impacto na indústria. Ao longo desses anos, franquias apareceram e se consolidaram, assim como outras tiveram algum sucesso mas entraram em hibernação após seu período de destaque. De toda forma, nenhuma franquia representa mais essa história do que Gran Turismo ao longo da história, mesmo tendo oscilado vez ou outra, só que sempre entregando um produto de qualidade para os fãs de automobilismo.
Falar em Gran Turismo é, quase que unânime com os fãs de longa data, lembrar do sucesso dos dois primeiros jogos no PlayStation 1, principalmente Gran Turismo 2. Para a época, o que era entregue aos jogadores impressionava em todos os aspectos, desde o visual até a quantidade de conteúdo. Além disso, mesmo os pontos mais baixos da franquia não foram o suficiente para entregar um produto ruim, como o lançamento problemático de Gran Turismo 5 ou a mudança de foco em Gran Turismo Sport.
Gran Turismo 7 é uma aposta que quer elevar ao máximo cada aspecto de um jogo de corrida. Entregar o simulador perfeito, com jogabilidade acertada, visual de ponto usando o poder de um novo console, conteúdo de sobra, mantendo a estrutura e legado da franquia, mas também tentando inovar e trazer novidades para 25 anos de história. Acredite, GT7 executa sua fórmula de maneira excelente em praticamente tudo e entrega um jogo de qualidade excepcional.
Acima de tudo, GT7 é uma homenagem a história do automobilismo e também uma celebração de toda a cultura adquirida com o tempo. Mais do que um simulador de corrida, o jogador se vê facilmente num jogo que pretende, mais do que qualquer coisa, enaltecer a mudança que veículos causaram no mundo com o tempo, principalmente para o lado esportivo.
Desde o vídeo de introdução com os créditos iniciais, a primeira corrida no rali musical e depois ao perceber como a campanha tradicional de GT7 se cria ao redor do do universo automobilístico no saudoso “Café GT”, fica claro que o jogo é uma grande homenagem a todo esse universo. A Polyphony Digital criou aqui um título único na sua franquia, sem a preocupação excessiva de praxe apenas com o que é entregue na pista, mas sim pegando na mão do jogador e levando ele a explorar um imenso mundo de corridas e carros que talvez não fosse esperado acontecer.
A história de veículos e montadoras, personagens de impacto na indústria automobilística atual, carros esportivos e clássicos tradicionais da série e ainda um background inteiro dos circuitos mais famosos do mundo são apresentados de forma que o jogador se aproxime do universo de forma sutil e adequada. Há muito mais do que apenas dirigir um carro para os fãs, mas sim entender tudo o que o circula e cada ponto importante disso.
Esse com certeza é um dos pilares de GT7, que é entregar um mundo rico fora dos circuitos e provas de corrida. Todavia, não achei que o jogo fica preso a apenas esse aspecto e não entrega os demais com consistência. A jogabilidade fundamentada na simulação é excepcional e extremamente detalhada, como sempre foi padrão. Pensar em cada detalhe de um carro e como isso acaba interferindo é fundamental para diversas provas, principalmente nos desafios mais altos disponíveis, como partes mais avançadas da campanha, modo GT Sport, desafios e principalmente em provas online.
Há dois pontos importantes que precisamos levar em conta quanto a jogabilidade aqui. Um é como todo o preparo é feito para cada prova, como detalhes de carro, especificações necessárias, configuração e enquadramento do veículo nas restrições das provas e mais. No início, ainda que num sistema de tutorial, o jogador é levado para se acostumar com cada aspecto do jogo, como os pontos de performance de cada veículo (PP) e pistas com dirigibilidade mais simples, o que vai acabar acontecendo com o jogador vencendo as provas mais facilmente via força bruta, com um carro muito mais potente mediante os adversários. Com o tempo, o afinamento do carro é importante para se adequar em provas com muito mais limitações e com adversários nivelados. Isso fica mais evidente quando sempre que o jogo exige do jogador a aplicação de suas habilidades e não somente correr por correr. Aqui realmente é quando Gran Turismo acontece, sendo necessário já ter compreendido a fórmula do simulador e aplicar na pista suas habilidades.
Outro ponto importante é a acessibilidade para os jogadores e as assistências. Veteranos e hardcores sempre vão evidenciar que a verdadeira simulação é com um setup adequado (entenda aqui com volante, cockpit e mais) e zero assistência, guiando um veículo na ponta dos dedos. Entretanto, simuladores ultimamente tendem a ser mais acessíveis, para agraciar diversos tipos de jogadores, como facilitar frenagem, ou mostrar os pontos de entrada e saída de curva. Com isso em mente, GT7 usa modelos pré-definidos que vão agradar a cada tipo, indo do novato ao hardcore. O ideal é experimentar as assistências para o que melhor for sendo necessário e ir modificando à medida que se torna melhor com o tempo. Não existe aqui um modo certo para aproveitar o jogo e sim uma possibilidade para todos poderem experimentar e aproveitar da melhor maneira o título, mas tenha em mente que será necessário aprender a conduzir de toda forma. Não tente jogar como se estivesse em um jogo de corrida arcade, pois o resultado será um desastre mesmo no modo mais fácil de direção. Ainda vai ser necessário entender tempos de frenagem, tangência em curvas, aceleração dosada e muito mais para avançar em um simulador.
Gran Turismo sempre ficou marcado por apresentar conteúdo, talvez até em excesso ou de forma não tão comprometida como em GT5. Para um jogo que prometeu muito e precisou de mais de um ano após lançamento para alcançar um patamar perto do prometido, o quinto jogo numerado da franquia foi uma decepção. GT7 já faz um trabalho excelente aqui e entrega conteúdo na medida certa. Mais de 400 carros totalmente detalhados e quase 2 mil peças de customização dão margem para gastar horas apenas brincando de personalização no jogo. Além disso, são 97 design de pistas em 34 localizações, várias já tradicionais da franquia ou conhecidas dos fãs do automobilismo. Apesar disso e de com o tempo parece que a repetição é mais consistente, espere mais conteúdo adicional no futuro.
Apesar da quantidade que pode parecer um tanto inferior ao comparar com outros jogos, não se preocupe quanto à qualidade do conteúdo. Há boas variações de provas padrão, como drift, rally, arrancadas e outros como novidades além dos tradicionais circuitos e campeonatos, desafios únicos e específicos, junto com o habitual ambiente competitivo online. Em suma, a estrutura GT está presente de maneira tradicional, mas levemente aprimorada. Não espere uma reinvenção aqui, o que pode ser algo negativo para aqueles que estivessem aguardando novidades do tipo que pudesse revolucionar o legado de 25 criado pela Polyphony.
A fórmula básica de GT se mantém intocada aqui. Aprenda a como dirigir em pistas de corridas, tire as famigeradas licenças no processo e vá se adaptando ao jogo. Divirta-se de qualquer maneira, acumule carros, customize visualmente e também nas configurações de direção e vá aproveitar seu veículo em pistas e modos disponíveis offline e online. NOTA: Até a data que este texto foi feito não foi possível aproveitar o componente online do jogo. Mesmo assim, os componentes estarão disponíveis de maneira similar a GT Sport.
Impossível não gastar uma boa quantidade de palavras aqui para a parte técnica e visual do título. Já saiba de antemão que GT7 é incomparável nisso, um primor visual e técnico quase jamais visto antes em jogos do gênero e um parâmetro de qualidade que ditará o futuro de jogos assim. Não que a franquia já não tenha destaque ao longo dos seus 25 por isso, mas o patamar alcançado por Gran Turismo 7 é algo impressionante.
O nível de detalhes visuais, técnicos e sonoros de cada carro é altíssimo aqui, com todos tendo uma apresentação impecável interna e externamente. Junte a isso o sistema de iluminação incrível do jogo, design das pistas e localizações, performance estável e muito mais para ter uma experiência audiovisual surpreendente. Um fato que ainda exponencia a parte gráfica do jogo é a adição de ray tracing nos replay, passando a impressão de quase estar assistindo a algo real. Cada imagem na análise é uma screenshot direta do jogo, em pleno gameplay, replays, modo scapes ou menus.
Um grande destaque também é a parte sonora do título, indo muito além de representar apenas roncos de motores e derrapadas de pneus. A trilha sonora é algo de maior destaque agora, quase forçando a máxima de sempre dirigir acompanhado de uma boa música em cada corrida. O Rali Musical é uma modalidade interessante, ainda que não em grande quantidade. Correr ao ritmo de trilhas únicas e acompanhar as batidas com a direção precisa para um tempo melhor e alcançar uma maior distância é algo bem empolgante. Uma pena realmente que sejam apenas 7 trilhas por agora, mas o desejo é de que realmente existisse muito mais.
Sabemos que o jogo também será lançado para o PS4, o que até pegou muitos de surpresa quando anunciado, mas é importante ressaltar como o PS5 é a versão definitiva do título. O diferencial, além das imensas melhorias visuais e técnicas graças ao console mais potente (resolução maior, iluminação melhor e mais), fica por conta dos loadings inexistentes e excelente uso do DualSense.
Não há qualquer tipo de espera na versão de PS5, sendo possível começar a correr logo após o clique em “iniciar”. Já no PS4 a história é um pouco diferente, com menus que não carregam a imagem de fundo, excesso de telas pretas na transição de interfaces e loadings de até 1 min antes de cada corrida. Além disso, a qualidade visual cai consideravelmente no console anterior para manter os 60fps (aguardemos uma análise técnica da Digital Foundry para melhor entender a performance em ambos consoles). É possível ver objetos se renderizando a todo momento, principalmente nos retrovisores do carro, iluminação e sombras de baixa qualidade e alguns serrilhados em determinadas pistas.
A questão aqui fica exclusivamente para a compara entre as duas plataformas diretamente. Se você entrar no jogo diretamente no PS4, sem ver a versão de PS5, é um visual excelente e até melhor do que estava disponível em GT Sport. De toda forma, ao colocar lada a lado com a versão para a atual geração, é impossível não notar as diferenças e saber em qual console existe a melhor qualidade possível.
Já o DualSense propõe uma experiência única, principalmente pela resposta tátil do controle. Os gatilhos ainda serão sentido caso os use para frenagem e aceleração, mas o destaque fica por conta da vibração que acompanha os efeitos na pista, como força g atuando mais sobre um lado do carro, trepidações da pista, retorno de efeitos climáticos como derrapagem em chuva e muito mais. Um trabalho de classe com o novo controle do PS5.
Quando comparamos GT7 com os títulos anteriores que sofreram para entregar mais do que o padrão da franquia, notamos que o jogo é muito mais refinado e aprimorado nos pontos certos. Qualidade visual e técnica de alto nível, conteúdo convincente, diversificação necessária e o estilo GT de sempre fazem do jogo um dos melhores da franquia, ainda que a versão de PS4 fique abaixo no quesito técnico. É um jogo indicado para todos os fãs de corridas e obrigatório para os seguidores de sempre da franquia.
Jogo analisado no PS4 e PS5 com código fornecido pela Sony Interactive Entertainment.
Veredito
Gran Turismo 7 é uma carta de amor ao automobilismo e um showcase técnico impecável. A fórmula tradicional da franquia recebe boas melhoras, mas ainda é extremamente fiel às suas raízes. Um dos melhores jogos de corrida brilha espetacularmente no PS5, mas acaba um pouco limitado em sua versão no PS4 pelas deficiências técnicas do console.
Veredict
Gran Turismo 7 is a love letter to motorsport history and an impeccable technical showcase. The franchise’s traditional formula gets good improvements, but it’s still extremely true to its roots. One of the best racing series ever shines spectacularly on the PS5, but ends up being somewhat technically limited in its PS4 version.