É bem provável que você já tenha se deparado, nas plataformas de streaming, aqui no site ou na própria PSN, com algum produto relacionado à surpreendentemente variada franquia Gigantosaurus. Talvez o mais popular deles seja a série de animação franco-canadense criada por Franck Salomé, Nicolas Sedel e Fernando Worcel, e produzida em parceria com, dentre outras, o próprio Disney Channel. Baseada em um livro infantil escrito por Jonny Duddle, a marca já deu as caras em jogos de plataforma e de kart, e agora chega também ao gênero de esportes fortemente inspirada pelos vindouros Jogos Olímpicos deste ano.
Gigantosaurus: Dino Sports é, portanto, é a mistura de jogo de festa (ou party game) e uma coleção de modalidades esportivas conhecidas, como triatlo, bobsled, tiro ao alvo, escalada e outros, com um diferencial quase imperceptível de ser estrelado por simpáticos jovens dinossauros que serão facilmente reconhecidos pelos pequeninos e que, para adultos desavisados, mais parecem uma versão modernizada dos personagens de Em Busca Do Vale Encantado. São, no total, oito modalidades organizadas em sistemas de torneio competitivo que vão testar destreza, precisão e criatividade de crianças de todas as idades.
Pacotes compilados assim, que se apropriam de sistemas variados de gameplay, tem um grande desafio em conseguir equilibrar mecânicas sólidas sem, contudo, sacrificar a diversão e o rápido aprendizado. É um produto, sobretudo, para um público mais novo, que se interessa pelos desenhos animados voltados ao meio pré-escolar, e sofisticar demais pode afastar aqueles que ainda não são exatamente os jogadores mais dedicados. Esta produção, que chega às nossas mãos pela Outright Games, felizmente, compreende bem quem espera alcançar ao tornar a experiência leve e fácil de se aprender e de se deixar levar, como se fosse mais um episódio dominical da série de televisão.
O principal modo de jogo, uma campanha que articula as oito competições intercalando a disputa com cenas animadas fiéis à estética original, é a porta de entrada de Gigantosaurus: Dino Sports. Curtíssima para os padrões atuais do mercado, ela não leva mais do que 30 minutos para ser concluída (contando com os tutoriais de treino), nos contando a história de quatro intrépidos competidores – Rocky, Bill, Mazu e Tiny – disputando o cobiçado Troféu Abacaxi, enquanto vilões atrapalhados tentam, sorrateiramente (ou nem tanto), surrupiar o prêmio bem debaixo do grande nariz de Giganto, personagem que dá nome à franquia. Guiados pela narração muito consistente de apresentadores bem dublados, é praticamente impossível não se deixar levar pela inocência de uma trama que funciona muito bem para o propósito de apresentar cada modalidade disponível.
Uma vez superada a história principal, outros dois modos se tornam disponíveis e se provam os lugares onde os jogadores mais passarão seu tempo no game. Um deles permite que seja criado um novo torneio customizado, com os jogadores podendo escolher quais esportes e em que ordem eles serão disputados. Com o mesmo sistema de pontuação e premiação do modo campanha, é aqui onde famílias poderão desfrutar da boa e sadia disputa pelo topo. Em uma escolha de design muito inteligente para manter o equilíbrio entre os mais e os menos experientes, cada jogador pode escolher entre duas dificuldades, sem que isso influencie na opção alheia. Posso, portanto, selecionar um nível mais alto para mim, enquanto minha filha decide pela outra possibilidade, e ambos competimos em equidade de possibilidades na medida do possível.
O terceiro modo lista um total de 27 desafios um pouco mais complicados na comparação com as versões originais desses esportes, determinando níveis e pré-requisitos para premiação. A medalha de ouro exige, em alguns deles, um pouco mais de esforço, garantindo um certo engajamento, sobretudo para os que não se importam se é um jogo infantil ou não e querem a platina de todas as formas. Estes desafios incluem modificadores, adicionam elementos ou regras extras, e alguns deles são exclusivos desse modo, como por exemplo aquele onde podemos jogar com o próprio Giganto. É o lugar ideal para quem tem um sentimento competitivo mais aflorado e, confesso, onde passei mais tempo quando sozinho.
Falando dos esportes em si, há o já citado triatlo que nos coloca para correr pressionando o X rapidamente, para em seguida cair na água e nadar alternando entre X e círculo, e enfim terminar montado em um outro dinossauro para saltar barreiras no tempo certo também com o círculo. Outro exercício parecido é uma corrida simples, mas que demanda paciência para ficar estático quando um enorme inimigo acorda, se provando uma versão mais leve do agora popular Batatinha Frita 1, 2, 3. Por sua vez, a escalada valoriza a precisão mais do que a velocidade ao nos fazer alcançar pontos cada vez mais altos, enquanto o surfe nos dá a missão de atravessar um circuito cheio de obstáculos com estilo, fazendo manobras e passando por portais que parecem uma versão fofa e aquática de Tony Hawk Pro Skater.
Dentre os meus favoritos, há um shooter sob trilhos clássico onde a missão é acertar o máximo possível de frutas na boca de famintas plantas carnívoras e dinossauros. A velocidade volta à tona com a descida em um parco trenó em meio a uma pista congelada naquilo que mais parece o precursor pré-histórico do bobsled; mas a precisão volta a ser o foco de uma versão mais poderosa de flap bird onde é necessário sobreviver enquanto se coleta balões espalhados pelo cenário. Por fim, mas não menos importante, há o salto em queda livre onde se faz necessário ser gracioso em poses ritmadas, emulando aqui os comandos tradicionais de um jogo de ritmo, uma espécie de guitar hero simplificado.
Se tudo isso não for o suficiente, o game ainda oferece um modo extra de montagem de quebra-cabeças bastante fáceis onde o maior desafio não é encaixar as peças em si, mas sim bater o recorde anterior. Para crianças menores, claro, pouco importa fazer em 30 ou 31 segundos, mas para quem tem o espírito competitivo, par ou impar se torna Copa do Mundo, e Gigantosaurus: Dino Sports sabe explorar isso muito bem, não só porque todos os desafios são baseados em marcas a serem superadas, como ainda estabelece recordes que valem para todos os modos. Se os troféus não são lá tão complicados assim – a platina veio com cerca de três horas sem grande esforço específico – é a competição interna que realmente garante o fator replay.
Os encantos visuais do game não estão, claramente, dentre os maiores expoentes da geração, mas cumprem muito bem o que se espera deles. Os gráficos não só mantém uma coesão na identidade com outras produções em diferentes mídias, como se apropriam bem do tom pueril da franquia. Com modelos característicos e cenários bem coloridos, não há espaços abertos a serem explorados, mas aquilo que compete a cada modalidade é bonito e bastante colorido. Algumas texturas aqui e ali deixam a desejar, mas nada que seja muito evidente ou gritante, até porque o foco sempre está voltado para a ação praticamente ininterrupta.
Por outro lado, o carisma de cada personagem, sejam os quatro protagonistas, sejam os de apoio, é inquestionável, algo ainda mais potente pelo trabalho de vozes característico e muito competente. Uma pena não haver dublagem no nosso português brasileiro, o que ao menos é amenizado pelo bom trabalho na localização em legendas e textos. Todo o conjunto da banda sonora também se mantém coerente com a identidade artística da marca, com canções alegres e típicas de programas infantis e ruídos comicamente exagerados. Falta, porém, um trabalho um pouco mais específico para o controle, já que tanto vibração quando o uso das saídas de som se contenta com o básico, com algumas escorregadas no volume e na intensidade.
Todo o conjunto da obra está, portanto, focado em criar um ambiente confortável e acalentador para uma diversidade grande de jogadores. Obviamente, este não é um jogo dos mais complexos, e como um adulto, senti falta de meios mais rígidos de continuar me desafiando para além de recordes de tempo e distância, o que não é sequer um problema visto que, sozinho, eu não sou o público alvo da produção. Como pai, pelo contrário, o jogo consegue contemplar uma tarde preguiçosa em família, oferecendo subsídios para uma competição descompromissada e tão rápida quanto seja o desejo de quem joga. Sua potência de longevidade, portanto, está principalmente no multiplayer local para até quatro pessoas ao mesmo tempo, adaptando-se à expectativas e a gostos pessoais.
Mais personagens jogáveis, desafios sazonais e personalização com itens cosméticos tornaria tudo um pouco mais imersivo, mas mesmo isso não faz tanta falta assim. Suas mecânicas podem se mostrar um tanto quanto repetitivas no longo prazo, utilizando poucos botões mesmo na dificuldade mais elevada, e o sistema convidativo nos oferece mais facilitações do que o esperado para um jogo com bases competitivas. Alguns modificadores no modo de desafio também poderiam ser opção nos demais, e compor uma disputa com a mistura entre eles poderia ser interessante ao trazer para a equação um maior grau de variáveis. Pelo copo meio cheio, especulações como estas evidenciam que, se um bom modo do jogo ser melhor era ter mais dele mesmo, a base é boa o suficiente.
Gigantosaurus: Dino Sports é, por tudo isso, um conteúdo raro em dias atuais, não pelo tom mais lúdico nem pelo formato variado, mas por propor um ambiente competitivo sem pesar a mão para afastar os menos dedicados, e ao mesmo tempo não abrir não de esperar um pouquinho mais do seu jogador quando ele se propõe a isso. Com comandos simples, mas criativamente bem implementada, é um jogo agradável, quase que um afago que nos remete a momentos menos complicados, a aventuras que valem mais por si do que pelos resultados finais. Apoiado na eterna fascinação por dinossauros, na simpatia de seus personagens e em mecânicas simples que não subestimam seu público, é um dos melhores produtos para este nicho disponíveis no mercado, seja para uma experiência solo, seja para bagunças coletivas.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Outright Games.
Veredito
Gigantosaurus: Dino Sports traz a franquia para um novo gênero, se aproveitando da solidez estética herdada de outras produções e se apoiando em mecânicas de simples aprendizado e de fácil engajamento. Leve e divertido, é uma recomendação interessante para famílias com crianças grandes e pequenas.
Gigantosaurus: Dino Sports
Fabricante: Infinigon Games
Plataforma: PS4 / PS5
Gênero: Esportes / Party Game
Distribuidora: Outright Games
Lançamento: 28/06/2024
Dublado: Não
Legendado: Sim
Troféus: Sim (inclusive Platina)
Veredict
Gigantosaurus: Dino Sports takes the franchise into a new genre, taking advantage of the solid aesthetics inherited from other productions, and relying on mechanics that are simple to learn and easy to engage with. Light and fun, it’s an interesting recommendation for families with big and small children.