Por mais irônico que seja, sempre tive pavor de filmes de terror durante minha infância, e embora gostasse de assistir, sempre tinha pesadelos horríveis. Hoje, com 30 anos nas costas, o gênero se tornou um dos meus favoritos, e Fobia – St. Dinfna Hotel é o tipo de jogo que faria o meu eu de 20 anos atrás chorar de medo durante a noite.
Desenvolvido pelo estúdio brasileiro Pulsatrix, Fobia – St. Dinfna Hotel tem o intuito de trazer à vida as lendas que circundam o munícipio de Treze Tílias, localizado no estado de Santa Catarina. Confesso que após jogar Fobia a minha vontade de conhecer essa cidade reduziu para 0, mas foi interessante perceber cada detalhe apresentado entre o passado o presente dessas histórias.
Fobia – St. Dinfna Hotel é um jogo cheio de surpresas boas, mas infelizmente também não escapa das ruins.
Fobia – St. Dinfna Hotel narra a história de Roberto Leite Lopes, um jornalista recém-formado que tem como paixão o jornalismo investigativo. Como sua primeira matéria exclusiva, ele aceita o convite de Stephanie para visitar a cidade de Treze Trilhas para investigar os eventos paranormais e desaparecimentos desse hotel assustador.
Após dar de cara com um evento misterioso, Roberto acorda num hotel completamente destruído por algum tipo de explosão e repleto de criaturas bizarras. Agora, cabe a ele encontrar um modo de sair desse lugar e contar ao mundo os horrores que viu.
Honestamente, para um jogo que tem como base as lendas de uma cidade real, Fobia – St. Dinfna Hotel conseguiu desenvolver muito bem a história. Tanto a ordem de como tudo acontece, quanto o surgimento da seita responsável pelas tragédias, foram muito bem desenhadas, trazendo um pano de fundo bem sólido para o jogo.
Talvez o único problema dentro da narrativa seja em como eles contam os acontecimentos do passado. Durante a aventura, Roberto tem acesso a diversos documentos, mas nenhum deles fala diretamente sobre como a seita surgiu ou algo de seu líder, Cristopher. No entanto, em determinado ponto o jogador acaba sendo levado para o passado, justamente para ver como tudo começou. Para quem está jogando isso é bom, pois começa a dar sentido às coisas, mas num contexto cronológico, falta aquele gancho na história principal para puxá-lo alguns anos pra trás. Como o título trata de coisas sobrenaturais, poderiam ter colocado em um momento de flashback ou visões, isso ajudaria a justificar a viagem no tempo.
Enredo e monstros a parte, devo dizer que Fobia – St. Dinfna Hotel me surpreendeu positivamente de muitas outras formas. A primeira delas são os gráficos. Embora os modelos dos personagens (humanos) se pareçam com algum desenho animado 3D infantil, os cenários como um todo dão um show à parte.
Os efeitos de Ray Tracing no chão, na lama, na água escorrendo pela calha, o rio…tudo é tão bem feito e bonito, que mesmo passando horas jogando o mesmo jogo, não parava de me surpreender com os pequenos detalhes que a Pulsatrix fez questão de implementar em cada parte da obra.
Já o design em si também ganha muitos pontos. Além da clara inspiração em grandes clássicos do terror, Fobia – St. Dinfna Hotel também pega um pouco ali de Outlast e elementos de Chernobylite. E isso não é ruim, pelo contrário, tudo foi muito bem transportado e aproveitado dentro da narrativa, casando-se muito bem com a proposta de torná-lo um título que te deixa em estado de alerta na maior parte do tempo.
Como mencionei acima, Fobia – St. Dinfna Hotel deixa o jogador em estado de alerta quase que constantemente, e não, não espere tomar vários sustos. Aqui o jogo te obrigado a ser cauteloso.
Os efeitos sonoros de portas rangendo, monstros fazendo barulhos em alguma parte do hotel e até mesmo o piso gosmento, fazem você pensar que a qualquer momento algo (ou alguém) vai sair de um buraco para te atacar.
Por outro lado, enquanto os efeitos sonoros são muito bem servidos, a dublagem não consegue oferecer a mesma emoção. Além de ser baixa, alguns dubladores não conseguem passar a sensação de pânico que a situação exige. A dublagem em inglês, no entanto, está muito boa, e honestamente eu não consigo diferenciar se é algum brasileiro falando ou se eles chamaram nativos para fazer esse papel. Mas seja lá qual for o caso, a Pulsatrix está de parabéns.
Se você pensava que Fobia – St. Dinfna Hotel seria um jogo focado no stealth, você se enganou. Ele não tem nenhuma intenção de ser um Call of Duty do horror, porém, você tem à disposição diversas armas e ainda a possibilidade de aprimorá-las com um item que pode ser encontrado pelos cenários.
Embora a quantidade de balas encontradas seja razoavelmente boa, o jogo exige que você permaneça cauteloso, pois mesmo que não haja muitos inimigos normalmente, em momentos de tensão eles simplesmente brotam e tiram MUITO HP. Existem uns vermes insuportáveis, por exemplo, que são difíceis de visualizar no escuro, e caso eles não sejam derrotados antes, vários deles irão pular em Roberto e tirar uma boa quantidade de HP.
Aliás, recuperar HP em Fobia – St. Denfina Hotel é um verdadeiro desafio. Você precisa encontrar três itens essenciais se quiser curar-se de forma digna. O problema é que existem poucos desses utensílios por aí, e se não for feita uma varredura nos cenários, muitos deles passarão despercebidos, e acredite, você não vai querer perdê-los.
Se você sente falta de puzzles em jogos de terror, posso afirmar com toda a certeza que Fobia – St. Dinfna Hotel não te deixará na mão. São inúmeros enigmas para resolver, sejam eles primários ou secundários, que te darão acesso a itens para prosseguir na aventura e aprimorar os equipamentos que você possui.
Um ponto diferenciado aqui está no uso da câmera, que lembra um pouco a câmera obscura de Fatal Frame. No entanto, ao invés de usá-la para capturar fantasmas, você abre passagens antes ocultas, além de conseguir revelar objetos que não estavam ali anteriormente.
Aqui também existe muito backtracking para resolver tudo, e isso não é um problema. O que me causou dor de cabeça foi a falta de save points em lugares que você pensa que deveria existir. Existem baús para guardar seus equipamentos e liberar espaço na bolsa, porém, eles nem sempre estão numa sala segura e podem aparecer sem estarem acompanhados de um relógio que salva o progresso. Eu acho isso um pouco sem sentido, mas é o que é, e com isso em vista, recomendo salvar o progresso sempre que possível, mesmo que seja necessário voltar alguns andares para isso.
Fobia – St. Dinfna Hotel é um jogo de terror realmente muito bom. O estúdio brasileiro Pulsatrix fez um excelente trabalho ao trazer diversas referências inteligentes e até cômicas para o jogo, encaixando-as de forma que fizessem sentido.
O jogo não é perfeito, longe disso. Me deparei com alguns bugs pelo caminho e ainda acho a troca de um item para o outro um tanto lenta e, às vezes, pouco responsiva, te obrigando a apertar o mesmo botão mais de uma vez. Mas isso com certeza pode ser arrumado via atualização.
A Pulsatrix está de parabéns por conseguir fazer um jogo de terror tão imersivo e que não apela para os “jump scares” para dar medo. No entanto, eles também me convenceram de outra coisa: nunca visitar a cidade de Treze Tílias.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Maximum Games.
Veredito
Não julgue Fobia – St. Dinfna Hotel apenas pelo fato dele ser um título indie. O game é muito bem trabalhado e com detalhes incríveis. Apesar de alguns problemas técnicos e na amarração da história, ele pode ser considerado um dos melhores jogos de terror que já joguei.
Veredict
Don’t judge Phobia – St. Dinfna Hotel just because it’s an indie title. The game is very well crafted and with incredible detail. Despite some technical and story-tightening issues, it can be considered one of the best horror games I’ve ever played.