Quem conheceu Final Fantasy XIV nos últimos anos através de sua popularidade como um dos melhores MMORPGs de todos os tempos pode não saber, mas o jogo representa uma das maiores retomadas da história dos games. Após um lançamento conturbado, ele foi reconstruído sob a direção do carismático Naoki Yoshida para se tornar um fenômeno que, mesmo após tantos anos, ainda continua atraindo novos jogadores.
Ao longo de quase uma década, quatro expansões foram lançadas, construindo o arco narrativo que ficou conhecido com a saga Hydaelyn-Zodiark. O lançamento de Endwalker, em 2021, fechou esse ciclo de maneira épica, mas também deixou dúvidas sobre os rumos que o MMORPG tomaria.
Após muito ser especulado, a mais recente expansão de Final Fantasy XIV: Dawntrail chegou carregando o enorme desafio de introduzir uma nova história. Anunciada como uma espécie de viagem de férias para o Warrior of Light e os demais membros do Scions of the Seventh Dawn, a expansão até começa de forma despretensiosa, mas apresenta uma evolução narrativa que deixa possibilidades para o que pode se tornar uma nova saga.
A história de Dawntrail parte exatamente do ponto que marcou o final da atualização Growing Light – Part 2, com alguns de nossos heróis sendo convidados por Wuk Lamat para viajarem para o continente de Tural e ajudá-la no processo de sucessão do governo de Tuliyollau.
No passado, Tural foi uma região que sofreu com conflitos entre suas diversas tribos. No entanto, a situação mudou após a chegada do lendário guerreiro Golool Ja Ja, que juntamente com seu grupo de aventureiros lutou para unir os povos e fundou a cidade de Tuliyollau.
Apesar de viver em prosperidade, Tuliyollau enfrenta o momento mais delicado de sua história. Após quase 80 anos governando a cidade, Golool Ja Ja entende que o momento de passar adiante seu trono está se aproximando. Para eleger seu sucessor, ele decide realizar uma competição na qual o vencedor será aquele que obtiver sete chaves de sete líderes das tribos de Tural, e que conseguir encontrar a entrada para a lendária Cidade Dourada.
Para participar do torneio, o governante convoca seus três filhos: Zoraal Ja, o primogênito e único filho legítimo de Golool Ja Ja, um líder de guerra que pretende expandir as fronteiras de Tural para outras regiões; Koana, o filho adotivo do governante que foi enviado como estudante para a região de Sharlayan, e que acredita que uma revolução tecnológica seja a melhor solução para o futuro do continente; e Wuk Lamat, a filha adotiva que deseja que Tural siga sendo governado através das regras de paz e união geridas por seu pai. Há ainda um quarto postulante: Bakool Ja Ja, um membro da tribo dos Mamool Ja que nasceu com a benção dos gêmeos, uma espécie de prole siamesa lendária que acredita-se ser a única digna de herdar o trono.
A primeira metade da expansão percorre os passos dos quatro candidatos como em uma tradicional corrida do ouro, conforme eles visitam as tribos em busca das sete chaves necessárias para abrir a passagem para a Cidade Dourada. A cada tribo visitada, uma história é contada sobre suas origens, costumes e a maneira como cada tutor escolheu para desafiar os candidatos.
Algo que sempre me agradou no trabalho dos roteiristas de Final Fantasy XIV é como a história é utilizada para apresentar temas que nos fazem pensar sobre situações corriqueiras de nossas vidas. Em Dawntrail não é diferente, pois a narrativa aborda os muitos conflitos entre diferentes raças, a aceitação de novos povos e como podemos aprender com eles para superarmos os atritos que estão tão em evidência em nossa sociedade moderna. Conforme a história evolui, temas mais delicados também são trazidos à tona, como a maneira com que nos relacionamos com as pessoas que amamos e como devemos lidar com a dor de perdê-las.
Dawntrail também assume alguns riscos ao tirar o protagonismo da história do Warrior of Light e dos demais Scions para dar ênfase aos novos personagens, em especial à Wuk Lamat. Muitos vão achar exagerado o uso de Wuk Lamat e, possivelmente, este será um ponto que dividirá opiniões à respeito da história do DLC.
Obviamente que comparações com outras expansões são inevitáveis. Mas esperar de Dawntrail o mesmo apelo narrativo das histórias de Shadowbringers e Endwalker chega a ser injusto. Enquanto ambas serviram para a conclusão de um arco longo, Dawntrail é aquela parte introdutória de uma história que, de forma geral, tende a ser um pouco mais lenta.
Após a conclusão da primeira metade da campanha, a expansão entra em um trecho um pouco mais arrastado, mas que logo sofre uma reviravolta que culmina com um desfecho excelente. Além disso, também temos a oportunidade de aprender um pouco mais sobre o passado de dois personagens: Erenville e Krile. Por mais que a história sofra com algumas quebras de ritmo, acredito que Dawntrail cumpre bem seu papel de funcionar como um ponto de partida para a nova jornada de Final Fantasy XIV.
Em se tratando do formato das missões, Dawntrail apresenta poucas novidades. São quase 100 missões de cenário principal, além de muitas missões secundárias, missões dos roles e jobs novos, atividades de mundo e itens para serem perseguidos. Boa parte das missões continua envolvendo muita leitura e tarefas simples, como busca e entrega de itens e conversas com NPCs. Quem optar por concluir todo o conteúdo facilmente estará diante de um expansão que pode superar a marca das 100 horas.
Uma ótima novidade está no primeiro update gráfico. Há uma enorme quantidade de detalhes na nova expansão, além de elementos que foram retrabalhados no conteúdo antigo. Nos personagens, a atualização serviu para melhorar a qualidade das animações, dos cabelos e dos rostos. Essas melhorias também são visíveis em roupas e armaduras, assim como nas superfícies e elementos de composição dos cenários.
As novas áreas são amplas e estão ainda mais bonitas. O tema principal da expansão é representado de forma bastante coesa. É impossível não perceber a inspiração em civilizações antigas como os Astecas, os Maias e os Incas, mas também há espaço para outras culturas das Américas, como a do Velho Oeste dos Estados Unidos. Já na segunda metade da expansão, quando são apresentados ambientes mais futuristas como a já revelada área de Solution Nine, fica ainda mais evidente como os efeitos de iluminação contribuíram para realçar mais a variedade de cores.
A trilha sonora continua impecável. A versatilidade sempre foi uma das melhores qualidades do trabalho de Masayoshi Soken. Com a proposta de variedade cultural trazida por Dawntrail, o diretor musical de Final Fantasy XIV encontrou um cenário perfeito para continuar nos surpreendendo com suas composições. Há uma notável presença de instrumentos tribais, combinados com música clássica e que são contrastados com composições de rock, jazz e com efeitos eletrônicos. Uma mistura de estilos que preenche a trilha sonora da expansão da melhor maneira possível.
Passando para o combate, talvez este seja o ponto em que Dawntrail mais se destaca. As novas Dungeons e Trials são excelentes e exemplificam bem a declaração que Yoshi-P deu sobre adaptar a dificuldade destas atividades para torná-las mais recompensadoras. As lutas contra os chefes possuem mecânicas que são capazes de desafiar os jogadores a tomarem decisões rápidas para não serem surpreendidos. Em muitos casos, há mais de duas mecânicas acontecendo ao mesmo tempo. Claro que essas mecânicas eventualmente serão decoradas pelos jogadores, mas o impacto inicial das mudanças com certeza é um passo na direção certa.
Os novos jobs também merecem ser destacados. Anteriormente, já havia manifestado a ótima impressão que tive de ambos durante minha participação no media tour. Agora, após evoluir tanto o Pictomancer quanto o Viper, ficou mais evidente como de fato são divertidos, além de serem efetivos no combate.
A ideia inicial do Viper é de ser um job focado na agilidade. Para isso, ele é capaz de ativar habilidades que aceleram o cooldown de suas ações de ataque. Uma outra vantagem do Viper é infligir mais dano aos inimigos através de uma série de buffs. Sua rotação envolve ativar de forma mais rápida o medidor Vipersight para entrar em um estado chamado de Reawaken. Neste estado, o Viper pode desferir ataques velozes que causam um dano considerável. Não bastasse isso, ele também consegue alternar entre as duas espadas e uma lâmina dupla para usar ataques de controle de grupo e de média distância, tornando-o uma opção viável para quase todas as situações de jogo.
O Pictomancer rapidamente se tornou um dos meus jobs favoritos. Sem dúvidas os efeitos gerados na tela pelas habilidades contribuem para isso, mas ele também possui magias que são bastante efetivas no combate. Os quadros pintados podem ser convertidos em ataques ou buffs, e são divididos entre criaturas, paisagens e armas. Pintar os quadros fora de combate são ações instantâneas, mas executá-los durante as batalhas requer um tempo maior de preparação. Por isso, é importante fazer uso do Switfcast para acessar as habilidades mais avançadas de dano. Já as magias básicas são realizadas em uma rotação de cores que preenchem a aquarela para desbloquear habilidades que são conjuradas instantaneamente. Além disso, o Pictomancer também possui magias de suporte para proteger e retornar um pouco de vida para o grupo.
Algo que preocupou muitos jogadores de Final Fantasy XIV na véspera do lançamento de Dawntrail foi a possibilidade de haver congestionamento de servidores durante os primeiros dias. Com exceção ao período de acesso antecipado, em que encontrei algumas filas maiores, não tive problemas para acessar os servidores inclusive durante as horas consideradas de pico.
Se levar em conta tudo que Dawntrail acrescenta para Final Fantasy XIV, o saldo final é de uma ótima expansão. Por mais que a história de forma geral esteja abaixo do que foi apresentado nas duas expansões anteriores, ela exerce bem sua função de introduzir novos elementos. A primeira parte do update gráfico é excelente, e as mecânicas das lutas contra os chefes abrem muitas possibilidades para os futuros desafios que serão lançados ao longo da série de patches 7.X.
DLC analisado no PS5 com código fornecido pela Square Enix.
Veredito
No geral, Dawntrail é uma ótima expansão que apresenta uma história com altos e baixos, mas que prepara bem o terreno para o que pode se tornar a nova saga de Final Fantasy XIV. Além disso, as melhorias trazidas pela atualização gráfica e pelas novas mecânicas de combate comprovam que ainda há muito potencial a ser explorado no futuro do MMORPG.
Final Fantasy XIV: A Realm Reborn
Fabricante: Square Enix
Plataforma: PS4 / PS5
Gênero: MMORPG
Distribuidora: Square Enix
Lançamento: 27/08/2013
Dublado: Não
Legendado: Não
Troféus: Sim (inclusive Platina)
Veredict
Overall, Dawntrail is a great expansion with a story with ups and downs, but that sets the stage well for what could become the new Final Fantasy XIV saga. Furthermore, the improvements brought by the graphical update and the new combat mechanics prove that there is still a lot of potential to be explored in the future of the MMORPG.