Far Cry 6 – Review

Far Cry é uma série da Ubisoft que foi lançada, a princípio, em 2004, tanto para consoles quanto para PC. Segundo o Metacritic, o jogo foi muito bem avaliado, chegando a quase 90% de aprovação. Porém, com o passar do tempo, a receita do bolo começou a ficar batida, e na tentativa de mudar a fórmula, a Ubisoft lança no mercado Far Cry 6.

Não pense que Far Cry 6 é o 6º jogo da franquia apenas por seu número. Existiram dois jogos à parte da linha principal: Far Cry Primal e Far Cry: New Dawn. Este segundo mencionado, na verdade, nada mais é que a continuação de Far Cry 5. Ele é, inclusive, o primeiro título da série a fazer parte de uma sequência direta do título anterior. Nós do PSX Brasil até batemos um papo com Olivia Alexander, responsável por escrever o enredo do título.

Agora, voltando ao mais novo lançamento da Ubisoft, devo dizer que Far Cry 6 pegou todos os elementos já vistos nas séries passadas, os aprimorou, bateu com diversas novidades e fez um jogo pra lá de divertido e emocionante.

Far Cry 6
Far Cry 6 impressiona pela quantidade absurda de opções de acessibilidade. Dá pra mudar praticamente tudo dentro do jogo. Fonte: PS5 Create

Far Cry 6 apresenta ao jogador o país fictício Yara, um lugar paradisíaco em algum lugar da América Latina, cheio de vida e que, assim como todo e qualquer cidadão, queria mudanças reais. Porém, tudo virou do avesso quando o povo elegeu Antón Castillo para a presidência. Ele prometeu mudanças significativas ao lugar, mas acabou revelando-se um ditador que buscava apenas poder.

Para manter a ditadura em Yara, Castillo tenta mostrar ao seu filho, Diego Castillo, o quão firme ele deve ser para manter a ordem e o respeito. Embora hesitante no começo, o “projeto de ditador” começa a aprender a pegar gosto pelo poder, assim como o pai.

Para derrubar o regime fascista, os habitantes de Yara que buscam as mudanças prometidas pelo governo, formam o La Libertad, um grupo de guerrilheiros que tenta trazer de volta o poder de escolha ao país.

Muito provavelmente você já viu essa história antes, lá em Far Cry 4, com a presença do ditador Pagan Min. De fato, as histórias se assemelham, assim como os conteúdos dos cenários em si, que apresentam propagandas de suas ideologias, retratos por toda parte e até mesmo estátuas.

No entanto, várias coisas diferem Pagan Min de Castillo, e uma delas é a sanidade. O vilão de FC4 pode ser visto como um lunático sociopata, enquanto que Antón Castillo é um cara com postura, persuasivo e firme. Em suma, ele é um ditador assassino de sapatênis elitista.

Na verdade, se compararmos todos os vilões desde Vaas, de Far Cry 3, podemos dizer que Antón Castillo foge ao tradicional “louco”, e entrega um vilão que, embora seja extremamente odiado, consegue ser muito cativante ao mesmo tempo. Mas claro, devo dizer que isso também é mérito do incrível Giancarlo Esposito (Breaking Bad), que interpreta Castillo de uma forma excepcional.

Mesmo que não tenha tanto tempo de tela quanto gostaria, você sente como a influência do vilão impacta em Yara, seja com seus outdoors ilusórios de um “mundo perfeito” e até mesmo em seus aliados, que embora não acreditem plenamente em suas ideologias, ainda o enxergam como a “salvação” de um lugar caótico que ele mesmo criou.

Far Cry 6
Antón Castillo força seu filho, Diego Castillo, a todo custo a ser como ele. Fonte: PS5 Create

Far Cry 6 é o primeiro jogo da franquia para PlayStation 5. Tendo isso em vista, é natural que as expectativas tanto para os gráficos, quanto para o desempenho e gameplay em si, sejam extremamente altas. O jogo atende muito bem alguns pontos, mas peca em outros.

Não dá para deixar de mencionar logo de cara, o quanto Far Cry 6 é bonito. No início do jogo você já vê uma cinemática detalhada, que mostra até mesmo os poros dos personagens. Mas, junto com todos esses detalhes, também é possível perceber algo de estranho. Quando a ação começa de fato, você nota que aquelas cenas não fazem jus à qualidade gráfica real da obra como um todo.

Depois que você repara em como os gráficos são lindos e a performance é extremamente fluída, começa a questionar se aquelas cinemáticas não foram retiradas da versão de PS4 e inseridas ali para poupar trabalho. Elas parecem rodar a 30 FPS e com algumas travadas. Eu realmente fiquei desapontado com essa queda de qualidade.

O jogo em si, por outro, é tão lindo, que é impossível não se impressionar com detalhes como as folhas, árvores, o brilho dos equipamentos, o pôr-do-sol e a água. Eu nunca uma água com a física tão boa quanto em Far Cry 6. A Ubisoft realmente fez um excelente trabalho aqui.

Far Cry 6
O modo foto de Far Cry 6 é muito divertido, e realça muito bem as belezas de Yara. É uma pena que acessar este modo não seja nem um pouco intuitivo. Fonte: PS5 Create

Você provavelmente está vendo a foto acima e pensando: “nossa, ilhas de novo”? Bem, sim e não. O mapa de Far Cry 6 é o maior da franquia até agora. Você passa horas e horas vendo tudo e parece que, no fim, não explorou quase nada. Mas por que digo isso? Porque é graças a essa imensidão que os cenários são tão diversificados.

Ao invés da Ubisoft fazer “tudo ilha” ou “tudo cidade”, eles apresentaram um misto que funciona muito bem. Você tem o lado paradisíaco de Yara, mas também tem acesso à cidades e vilas ameaçadas pelo ditador Castillo, no qual pessoas clamam e lutam por liberdade e igualdade.

Esses cidadãos, inclusive, são extremamente importantes para a história. Eles acrescentam muito no enredo, principalmente nessa relação com o personagem Dani que, embora seja possível escolher entre homem e mulher, faz muito mais sentido se jogado com a versão feminina do protagonista.

E já que entramos no assunto da protagonista, está é a primeira vez que a Ubisoft apresenta uma versão em 3ª pessoa do personagem. Nas bases principais do jogo, você joga em 3ª pessoa, fato que pode parecer estranho no começo, mas é um belo diferencial. Algumas cinemáticas e ataques com armas Supremo também trazem essa nova percepção, o que torna a relação entre jogador e Dani muito mais profunda.

Far Cry 6
Detalhes fazem toda a diferença, e aqui a Ubisoft colocou os DLCs como sendo um jogo dentro do jogo. Será possível acessá-los diretamente da campanha principal. Fonte: PS5 Create

Outro ponto importante que deve ser levantado, são as missões. Muitos jogos da Ubisoft são criticados pela repetição e falta de criatividade. De fato, existem muitas missões repetidas, como conquistar bases para os guerrilheiros, destruir propagandas de Antón Castillo, entre outras. No entanto, há diversos detalhes legais que tornam as quests e side quests muito mais prazerosas.

Assim como foi apresentado em Far Cry 5, é possível usar aviões, helicópteros e carros. Porém, aqui você também tem controle de barcos, jet-skis, cavalos, motos, tanques de guerra…são tantos meios de se locomover, que o jogador nunca chegará às missões da mesma forma.

Alguns outros detalhes também fazem toda a diferença. Em uma das missões, por exemplo, começa a tocar a famosa música Bella Ciao, que representa a liberdade e a resistência. O legal é que a trilha sonora dá um gás no embate e o deixa ainda mais emocionante. No carro também é possível ouvir músicas, e dependendo de qual seja, Dani começa a cantar junto, como Havana, da Camila Cabello ou Échame La Culpa, de Luís Fonsi e Demi Lovato.

É realmente de se admirar a forma como conseguiram casar toda a ação e ambientação de Far Cry 6 com a cultura latina. Para se aprofundar ainda mais, todos os personagens têm sotaque, e falam diversas palavras – e palavrões – em espanhol. É uma pena que a dublagem em PT-BR não entregue a mesma imersão que a versão em inglês. Tudo é muito “seco” e sem emoção alguma. Embora seja bom termos acesso à língua nativa do nosso país, recomendo fortemente jogar em inglês com legendas em português para uma melhor experiência.

Far Cry 6
O painel dos Los Bandidos funciona como um tipo de Raid, onde você envia um líder e um grupo de guerrilheiros em busca de recursos para no fim, encontrar o maior prêmio. Fonte: PS5 Create

E como não dá para sair em missões sem ter os equipamentos corretos para isso, Far Cry 6 traz dezenas de armas para você utilizar da forma que bem entender. Desta vez, também foi implementada armas chamadas de “Supremo”, que servem como um tipo de ataque especial e causam estragos enormes. São diversos modelos com diferentes variações de poder e que, com as modificações corretas, ficam ainda mais mortíferas.

Também é possível equipar armas primárias, secundárias e reservas, que são nada mais que pistolas e outras menores. Existem muitas modificações para serem aplicadas às armas, mas a maioria delas é repetida para cada tipo, permitindo que você crie diferentes versões do mesmo estilo. Isso é bom, pois faz com que o jogador tenha mais de uma opção na manga, mas ao mesmo tempo, acaba sendo limitado pelo fato de ser possível fazer esse tipo de trabalho apenas nas bancadas.

Um exemplo do que mencionei no parágrafo anterior, é quando você está usando um arco e flecha. Existem diversos tipos de flechas, e você não pode simplesmente trocá-las a qualquer momento. É necessário ir até umas das bancadas e efetuar as modificações. Isso é muito ruim, pois te faz perder um tempo desnecessário e ainda o obriga a viajar para bases, só para realizar uma simples troca.

Outro detalhe super importante é que, diferente de outros jogos da série, os animais não servem para aprimorar seus equipamentos. Aqui eles valem como moeda de troca para os itens necessários com este fim. No entanto, é preciso coletar muitos de cada para conseguir fazer algo que realmente valha a pena, e esta pode ser uma atividade exaustiva.

 

Far Cry 6
As habilidades de Far Cry 6 foram atribuídas às roupas, por isso, escolha muito bem o seu set e não tenha vergonha se ficar uma verdadeira zona, afinal, o que importa são os atributos de cada uma delas. Fonte: PS5 Create

Em Far Cry 6, não são apenas animais de caça que estão presentes no jogo. Os aliados “animalescos”, sistema apresentado em FC5, está de volta, mas desta vez, melhor e mais amplo.

Durante a jornada, é possível recrutar diferentes bichos para te ajudar em batalha. Cada um deles possui três habilidades, que vão sendo desbloqueadas conforme você cumpre determinadas tarefas. Eu, particularmente, me apaixonei pelo Chorizo, o cachorrinho de cadeira de rodas. Ele não é forte, mas consegue distrair os inimigos com sua fofura e encontrar diversos tesouros enterrados.

Animais, inclusive, não faltam em Far Cry 6. Embora os bichos sejam mais chatinhos de serem caçados, eles aparecem em grupos, o que facilita bastante na hora de procurar por um específico. Por outro lado, a Ubisioft conseguiu deixar esses bichos tão realistas e fofos, que em determinados momentos te falta coragem para abatê-los para conseguir recursos.

Far Cry 6
Não tem como não se apaixonar por esses bichinhos. Fonte: PS5 Create

Far Cry 6 tem uma trilha sonora impecável, gráficos lindos, jogabilidade fluída e bugs. Sim, mesmo com todo cuidado que a Ubisoft teve com seu mais novo xodó, o título não escapou desses problemas. Porém, para ser justo, devo dizer que eles foram os menores que eu já vi em qualquer early access da empresa.

Existem alguns bugs bobos, que realmente não afetam o gameplay. No entanto, eu precisei reiniciar o console em três diferentes ocasiões, pois o jogo não respondia de maneira alguma. Outra coisa que irrita um pouco é a IA dos aliados. Lembram da Ellie, em The Last of Us, e da Ashley, em Resident Evil 4? Pois bem. Aqui funciona quase que da mesma forma.

Em uma determinada missão, você precisa resgatar um aliado, mas ao mesmo tempo, não pode se afastar muito dele. Enquanto você tenta fugir para evitar batalhas desnecessárias, o NPC simplesmente se joga nos braços do inimigo e sequer te dá atenção. Não tem nenhum botão para chamá-lo e você é obrigado a esperar sua boa vontade.

Esse fato não acontece apenas com aliados temporários, mas também com os bichos que te acompanham, que às vezes surtam e se jogam de uma ponte ou saem nadando em mar aberto sem razão aparente.

Far Cry 6
Pode acontecer de, durante a pesca, seu pet aparecer no meio do mar sem qualquer motivo. Fonte: PS5 Create

Se eu disser para você que Far Cry 6 é um jogo que chegou para “revolucionar” e renovar a franquia, eu estaria mentindo. Muitos dos elementos deste episódio foram trazidos das versões anteriores e, embora tenham sido aprimorados, continuam passando a sensação de “isso está igual ao anterior”, como a pesca, por exemplo. Porém, ao mesmo tempo, ele consegue se diferenciar dos demais.

Far Cry 6 é um jogo extremamente divertido de se explorar, com um gameplay muito dinâmico e diversificado, graças a quantidade imensa de meios de transporte e armas. Os personagens – humanos e animais – são tão carismáticos, que é impossível não se apegar. E a história, mesmo que tenha seu toque a lá Pagan Min, consegue ser muito cativante e profunda. Por todos esses e outros motivos, é que você deve relevar os pontos negativos e se jogar em Yara para abraçar a revolução contra o regime fascista de Antón Castillo.

La Libertad!

Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Ubisoft.

Veredito

Num momento em que a Ubisoft precisa dar um fôlego em algumas de suas franquias, Far Cry 6 chega oferecendo justamente isso com sua história profunda, gameplay divertido e muita exploração. Este é, definitivamente, um dos jogos que você precisa ter em sua coleção.

90

Far Cry 6

Fabricante: Ubisoft Toronto / Ubisoft Milan

Plataforma: PS4 / PS5

Gênero: FPS / Aventura

Distribuidora: Ubisoft

Lançamento: 07/10/2021

Dublado: Sim

Legendado: Sim

Troféus: Sim (inclusive Platina)

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Veredict

At a time when Ubisoft needs to breathe new life into some of its franchises, Far Cry 6 arrives offering just that with its deep story, fun gameplay and plenty of exploration. This is definitely one of the games you need to have in your collection.


Rui Celso
Rui Celso
Jornalista que decidiu se aventurar no mundo gamer desde o tempo em que as revistas eram a principal fonte de informação deste mundo do entretenimento. Hoje eu expandi meu universo e também faço parte do backstage deste universo atuando como Assessor de Imprensa. Só pra constar: Paper Mario é o meu jogo favorito da vida.