A insatisfação com o governo vigente e uma consequente rebelião é o tema central de muitas histórias, especialmente em RPGs. Questões políticas abrangem situações complexas e variadas, portanto, fornecem um bom material para narrativas. Fallen Legion retrata a história de um império que se expandiu tanto que já não conseguia mais dar conta de controlar os seus subalternos e fronteiras. Algumas consequências disso são as crises, tentativas de independência e revoltas populares, problemas que o jogador terá de lidar e exercerá influência sobre no decorrer da campanha.
É interessante a iniciativa da desenvolvedora YummyYummyTummy ao trazer duas versões distintas, com pontos-de-vista opostos em relação à história do universo do jogo. Em Sins of a Empire, a versão do PlayStation 4, a narrativa se desdobra por meio do viés da imperatriz Octavia, que precisa contornar a crise de seu império e combater a rebelião iniciada por seu antigo general, Legatus Leandur. No Vita, o oposto acontece e o usuário controla as ações de Leandur e seu grupo de rebeldes.
A jornada consiste de incessantes batalhas, com algumas pausas para que o jogador decida qual ação tomar referente a uma questão administrativa do império. Quando digo incessante, é porque o gameplay se resume basicamente a lutas atrás de lutas. Ainda que existam algumas pausas para cutscenes pobremente articuladas e interações com o povo, nobreza e príncipes de Fenumia, o combate representa a maior parte do jogo e se mostra incapaz de entreter o jogador por muito tempo.
Fallen Legion possui boas ideias, mas falha na execução em quase todos os aspectos. Começando pela história, há uma grave falha na narrativa ao despejar acontecimentos, locais e pessoas ao jogador, sem antes ter apresentado um “background”. É difícil se importar com os acontecimentos em Fenumia quando não se tem conhecimento prévio de seu universo. A própria introdução é caótica, com um flashback logo após o primeiro episódio, que torna difícil do usuário compreender os fatos em sua primeira jornada.
Falta também um melhor fator “apresentação” das conversas e monólogos. Há uma arte da personagem (que pouco expressa emoções) sobreposta a um cenário ao fundo, enquanto as legendas ou dublagem acontecem. O que acontece em Fallen legion é algo similar a Fire Emblem, por exemplo, mas muito mais simples. Não há qualquer animação expressiva nas imagens que demonstre ação ou mesmo uma ilustração adequada para facilitar que o jogador visualize os acontecimentos. Lamentavelmente, para um videogame, esse aspecto de Fallen legion é próximo ao de um RPG de mesa, em que a imaginação do jogador é vital para a construção da narrativa.
O combate traz alguns elementos interessantes e assemelha-se ao de Valkyrie Profile, contudo, a repetitividade rapidamente torna a experiência muito cansativa. Antes de cada batalha, o jogador tem acesso a um mapa onde pode verificar as missões disponíveis, além de poder equipar acessórios e ler mais sobre o mundo do jogo.
Ao escolher a missão, o jogador deve selecionar o seu grupo de guerreiros, os chamados exemplares. Tais lutadores não existem de fato e representam materialização do pensamento de seus invocadores. Essa materialização só é permitida pela magia do Grimoire, um livro falante que tem papel (sem intenção de trocadilho) fundamental na história do jogo.
As missões tem um desenrolar automático, no sentido que as personagens correm automaticamente pelos cenários em duas dimensões, até encontrar um inimigo e começar a luta. Após encerrar o conflito, o processo se repete, com algumas pausas para que o jogador, na qualidade de chefe de poder, possa se decidir sobre questões concernentes ao império.
As escolhas feitas pelo usuário repercutem de forma pouco significativa na história – elas impactam mais nos bônus recebidos durante as lutas e nas recompensas ao fim de cada missão. É um aspecto que poderia ser muito melhor desenvolvido e que, novamente, fica no plano da abstração. Tal sistema é frequentemente estranho e desconexo. Exemplificando melhor, não faz muito sentido a imperatriz Octavia estar correndo por uma floresta remota e fazer uma decisão importante referente à rebelião de um príncipe, para alguns segundos depois encontrar esse mesmo príncipe, nessa mesma floresta, lhe dando o seu parecer sobre suas decisões. A consequência das suas escolhas tem um retorno imediato em um contexto que não faz sentido, assim fica difícil levar Fallen Legion a sério.
Batalhar bem em Fallen Legion requer o domínio de uma habilidade: saber defender no momento certo e, consequentemente, acertar o parry nos ataques inimigos. Estrategizar com um grupo equilibrado e distribuir os ataques certos também são importantes, mas um parry bem executado vai sempre salvar o jogador das lutas mais difíceis.
A equipe comporta no máximo quatro integrantes. Octavia é um membro permanente, controlada sempre pelo botão triângulo, enquanto que os demais são manipulados pelo X, círculo e quadrado. Os ataques não podem ser usados o tempo todo, visto que consomem AP. Esse atributo se regenera aos poucos ou quando o jogador acerta um parry. Embora pareça existir apenas um ataque por conta da limitação de um botão por personagem, a variação está na ordem dos ataques. Existem slots em uma barra de combo que ditam quando os ataque serão diferenciados. É o caso do deathblow, um dos ataques especiais do jogo.
Inimigos comuns raramente vão desafiar o jogador e 90% do game vai consistir de esmagar botões do início ao fim de cada missão. Alguns chefes vão exigir mais cuidado, demandando precisão no parry. Mas é isso, contornar as situações apertadas exige apenas tempo certo na defesa e pressionar os botões da face do Dualshock da forma mais rápida possível.
Equipamentos ou estratégias não são muito eficazes aqui. A única customização existente em Fallen Legion é por meio de jóias. Até três jóias podem ser equipadas, garantindo bônus de atributo para um personagem, modificando as magias de Octavia ou alterando a barra de combo. As variações de jóias são baixas e todo esse sistema é raso e decepcionante.
A experiência em Fallen Legion é comprometida pela repetição, mas não apenas das mecânicas de gameplay. As ambientações, as músicas e os sprites reincidem de forma constante, evidenciando o baixo nível de produção do jogo. Me incomodava profundamente passar pela mesma floresta, castelo e planície em regiões que supostamente deveriam ser diferentes. Os inimigos e personagens coadjuvantes também são frequentemente reciclados.
A arte não impressiona. Ainda que a trilha sonora tenha boas faixas, o trabalho de dublagem e os efeitos sonoros são medíocres. A história jamais surpreende e é mal contada. Mesmo que o sistema de batalha seja divertido por um tempo, a repetitividade desgasta logo o que o jogo tem de bom a oferecer.
Sem uma boa narrativa para conduzir o jogador, é uma tarefa árdua chegar ao fim de Fallen Legion. Para os corajosos e empenhados que chegarem lá, a recompensa é o anticlímax. A batalha final sofre de severos problemas de framerate e pequenos travamentos, que tornam a luta muito mais difícil do que deveria ser, visto que não há como acertar o parry de forma consistente.
Veredito
Fallen Legion é outro produto que traz algumas ideias louváveis, mas é mal executado. O sistema de batalha é capaz de entreter por algumas horas, até a repetitividade desgastá-lo. As decisões acerca do império representam um recurso interessante, mas é algo que também é prejudicado pela implantação simplória. Sem uma história cativante e com falhas significativas no gameplay, é uma experiência pouco digna de seu cometimento.
Jogo analisado com código fornecido pela produtora.
Veredito
Veredict
Fallen Legion is yet another product that brings some good ideas but is poorly executed. The battle system can entertain for a few hours, until repetitiveness wears it off. Decisions about the empire are an interesting gimmick, but it is another mechanic impaired by its simplicity. Without a captivating story and with significant flaws in gameplay, it is an experience unworthy of your commitment.