Poucos jogos tem um legado tão surpreendente quanto Valkyrie Profile. A hoje totalmente esquecida série criada por Yoshiharu Gotanda, desenvolvida pela tri-Ace (melhor conhecida por uma das minhas séries favoritas, Star Ocean) e publicada pela então Enix alcançou um status quase mitológico mesmo com o seu relativo abandono após a fusão da publisher com a Square Enix.
E, mesmo sem ver um lançamento desde Valkyrie Profile: Convenant of the Plume para Nintendo DS em 2009, jogos como Indivisible e Exist Archive: The Other Side of the Sky tem carregado o estilo de jogo introduzido por VP, enquanto elementos do jogo original podem ser vistos até na forma como séries mais tradicionais modernizaram o seu combate por turnos, à exemplo dos mais recentes jogos da série Atelier.
Uma série que tem levado essa inspiração ao extremo e testado novos elementos é Fallen Legion. Desde o início da franquia com o lançamento simultâneo de Fallen Legion: Flames of Rebellion e Fallen Legion: Sins of an Empire para PS Vita e PS4 simultaneamente, era claro o quanto a equipe da YummyYummyTummy se inspirou nos clássicos de PS1/PS2. Agora, com o lançamento de Fallen Legion: Revenants o foco deixa de ser em se inspirar no passado, mas em evoluí-lo.
Duas coisas precisam ficar claras antes de tudo: em primeiro lugar, Fallen Legion: Revenants se passa séculos após os eventos de Sins of an Empire/Flames of Rebellion, então não é necessário qualquer tipo de conhecimento prévio desses jogos. Segundo, apesar de ser um RPG, Revenants é um jogo muito mais focado no seu combate do que na história, mesmo que em certos momentos isso não seja sempre tão bom quanto poderia.
Ainda que o foco seja no combate, uma das grandes qualidades de Revenants é a sua ambientação e premissa. O jogo todo gira em torno dos eventos em Welkin Castle, o local onde os últimos humanos que sobreviveram a uma terrível praga residem, e seus dois protagonistas, Lucien e Rowena.
Lucien é um político carismático e com um grande talento para manipular situações usando apenas as suas palavras. Já Rowena é um fantasma de um dos humanos que morreram na superfície (os titulares Revenants), decidida a voltar a vida para cuidar de seu filho Edwin. Com as habilidades de Lucien para navegar Welkin Castle e Rowena podendo explorar a contaminada superfície, ambos trabalham juntos para derrotar o tirânico chefe do castelo, Ivor.
Cada um dos protagonistas é responsável por um dos aspectos principais do jogo. Enquanto no controle de Lucien, você anda pelo castelo, conversando com os demais habitantes espalhados por diversas áreas como a cozinha, biblioteca e salão principal. Lucien pode fazer amizades, mudar o setup dos seus Exemplars e descobrir informações vitais para que Rowena possa tomar as decisões corretas na exploração do mundo.
Os moradores de Welkin Castle possuem seus próprios interesses e motivações, cabendo a Lucien saber como lidar com cada situação para melhor se posicionar para alcançar seus objetivos. Isso acaba sendo um dos pontos altos do jogo já que Lucien é um personagem bastante carismático, com seus diálogos sendo escritos de forma excelente. As opções de diálogo também são bem variadas e existe um propósito em cada interação. É uma pena só que os demais personagens não sejam muito desenvolvidos.
Por melhor que Lucien seja, a maior parte do seu tempo será gasta com a outra protagonista. Rowena assume o comando no combate de FL:R e este é o melhor elemento do jogo, sendo também onde a influência de Valkyrie Profile é mais clara. Ele gira em torno do fato de que Rowena leva para a exploração do mundo sua própria equipe de heróis lendários chamados de Exemplars.
Lá eles são encarregados de investigar determinadas regiões do mundo para descobrir informações que ajudarão o plano de derrubar Ivor enquanto derrotam diferentes monstros que surgiram na superfície. Durante o combate, Rowena e os Exemplars ficam dispostos em um cenário dividido em um grid similar ao de RPGs de Estratégia, porém totalmente linear com três posições distintas e com os inimigos possuindo o seu próprio grid separado também com três posições.
Posicionamento é importante pois o personagem da frente sempre será o alvo dos ataques dos Exemplars (e Exemplar líder será o alvo dos ataques inimigos), cabendo ao jogador saber manipular o posicionamento deles para ter o maior êxito possível em combate, com o jogador causando mais dano quanto mais ataques atingirem um mesmo inimigo e maior o seu combo se tornar.
Os personagens da sua party são controlados por um dos botões de face, com os seus três Exemplars ficando mapeados para quadrado, X e círculo e Rowena e suas magias sendo controlada pelo triângulo. Rowena serve mais como uma personagem de suporte, com suas magias funcionando para curar os seus combatentes ou manipular o posicionamento dos adversários.
Os Exemplars podem realizar ataques normais ao apertar o seu botão designado e, ao esvaziar a sua barra de ação, é preciso aguardar um pouco para poder atacar novamente. Os seus guerreiros podem ainda usar poderosas habilidades para causar ainda mais dano ou se defender para se manter vivo. Defesa é parte importante do combate, já que um parry preciso pode paralisar o seu inimigo e qualquer ataque sofrido por você irá zerar o seu combo.
Um dos pontos fortes do sistema de combate do jogo é a riqueza de possíveis membros da sua party e o fato de você não ficar preso a nenhuma combinação específica em nenhum momento. Como há sempre a possibilidade de mudar a sua equipe a qualquer momento, o jogo abre um bom rol de opções e experimentação ao jogador que queira se dedicar a aprender e dominar os sistemas presentes aqui.
Todos os elementos do combate acabam se misturando para gerar um resultado até bem estratégico e mais interessante do que o sistema existente nos jogos anteriores. Ele ainda é bastante similar ao que havia sido visto antes, mas as pequenas mudanças tornam ele muito mais divertido e interessante. O único ponto fraco fica pelo quão frequentes os combates se tornam, o que acaba o tornando muito repetitivo e cansativo quando só se quer ver um pouco mais da história.
E a prioridade posta no combate casada com o quão repetitivo ele se torna acaba evitando que a história do jogo alcance aquilo que ela poderia ser. Fallen Legion: Revenants tem uma premissa genuinamente interessante e a ideia das duas fases do jogo é muito pensada. O problema é que ele erra no balanceamento entre as suas sessões e não consegue realmente construir em cima do seu potencial.
Isso não quer dizer que o jogo não seja divertido, já que é bem fácil se entreter com ele, mesmo que não seja um jogo que vá ser muito memorável ou especial. A sensação que se tem é que falta aquele toque mágico e especial que jogos como Valkyrie Profile têm. E, de certa forma, esse parece cada vez mais ser o legado de Fallen Legion. Um enorme potencial, mas a incapacidade de entregar aquilo que tornou as suas inspirações clássicos atemporais.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela NIS America.
Veredito
Fallen Legion: Revenants é um jogo divertido e com ótimas ideias, mas que falha em realmente construir em cima daquilo que os seus conceitos prometem. O combate é o seu principal destaque e é o motivo para se jogar, mas há uma constante sensação de que com pequenos ajustes ele poderia ser mais memorável.
Veredict
Fallen Legion: Revenants is a fun game with great ideas, but it fails to build on what its concepts promise. The combat is its main feature and the reason to play it, but there’s a constant feeling that with small adjustments it could have been much more memorable.